INCLUSÃO DE PESSOAS COM SURDEZ NO ENSINO REGULAR
Por Homerina Terezinha Pinto | 30/08/2016 | EducaçãoHomerina Terezinha Pinto
Patricia da Silva Batista
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo conhecer a concepção dos professores que trabalham com alunos portadores de deficiência auditiva em sala regular quanto a sua prática cotidiana. O objeto de indagação da pesquisa direcionou sobre qual a concepção de ensino adotada por professores de uma escola pública de Sorriso – MT de como trabalhar com alunos portadores de deficiência auditiva no ensino regular? Para alcançar os objetivos pretendidos, foi formulado um questionário no qual foi aplicado a um grupo de professores que atuam em salas de aulas regulares com alunos com deficiência auditiva. No desenvolvimento do trabalho, foi feito uma reflexão pautada em vários autores que discutem a inclusão de alunos portadores de necessidades educacionais especiais com ênfase deficiência auditivas. E a partir disso se procurou fazer a reflexão da prática pedagógica dos professores vivida no cotidiano no qual se pode perceber que embora procurem trabalhar formas variadas de ensinar essa clientela, acreditam que é preciso que se haja maior formação do ponto de vista pedagógico. Quando falamos em aquisição de conhecimento como condição de formação do ser humano, queremos evidenciar que essa formação não diz respeito apenas à educação e transmissão de conteúdos acadêmicos, mas à formação de um grupo de pessoas que têm o direito de ser respeitado seu jeito diferente de ser.
1- INTRODUÇÃO
Pela prática cotidiana observa-se, que a presença de alunos portadores de deficiência auditiva nas escolas de ensino regular, tem causado grande preocupação aos professores, visto que estes não têm capacitação suficiente para atendê-los e alguns não sabem como tratar o problema. A inclusão é, pois, um motivo para que a escola se modernize e para que professores aperfeiçoem suas práticas e assim, torna-se consequência natural de todo um esforço de atualização e de reestruturação das condições atuais do ensino.
Foi nesse anseio de compreender um pouco mais essa temática de “inclusão de pessoas com surdez no ensino regular” é que se propôs em desenvolver o trabalho de pesquisa.
A pesquisa tem seu início a partir de um problema que faz parte do contexto diário dos professores que trabalham com crianças e que, no entanto ainda é um campo que precisa ser aprofundado por parte de professores, orientadores, coordenadores e sistema educacional no geral. Pois, como trabalhar com alunos portadores de deficiência auditiva no ensino regular?
Dentro de uma perspectiva mais atual, objetivou-se em conhecer a concepção dos professores que trabalham com alunos portadores de deficiência auditiva em sala regular quanto a sua prática cotidiana.
Do ponto de vista profissional, esta pesquisa contribuiu (e contribuirá) significativamente para minha formação. Através de leituras de vários autores que trazem essa temática para o contexto escolar e através da reflexão dos professores entrevistados, fez com que eu pudesse ter uma nova visão quanto ao aluno portador de deficiência auditiva.
A abordagem da pesquisa se fez em três partes dentro de sua estrutura, sendo: fundamentação teórica, análise de dados e considerações finais. Porém, sem perder a sequência de que um relaciona com outro.
Num primeiro momento, apresentar-se-á um breve histórico da Educação dos surdos no que diz respeito aos estudos e comprovações realizadas por muitos estudiosos que dedicaram muitos anos de suas vidas, buscando respostas para tantas incógnitas que envolviam a educação do deficiente auditivo.
No segundo momento faz-se uma reflexão acerca da linguagem, as línguas e a libras, considerando cada uma delas de fundamental importância para o aluno portador de deficiência auditiva.
Na segunda parte do trabalho buscou-se por meio da entrevista tecer comentários a partir das opiniões dos professores sobre sua concepção acerca da deficiência auditiva no contexto escolar. Suas respostas serviram de base para a construção crítica do que veio sendo estudado e analisado.
Por fim, faz-se as considerações finais considerando o que foi previsto nos objetivos da pesquisa, onde se verificou que há a necessidade de uma formação continuada para professores e maior atenção por parte de equipes gestoras e poder público em definir do ponto de vista pedagógico um ensino de maior qualidade aos alunos portadores de necessidades auditivas.
2- ASPECTOS HISTÓRICOS: EDUCAÇÃO DOS SURDOS
Voltando–se um pouco no tempo, pode-se deparar com vários estudos e projetos realizados por pesquisadores e pessoas interessadas em desvendar os caminhos por onde passa a inteligência humana e todo o percurso do desenvolvimento cognitivo. Dentre as várias áreas de estudo vale destacar a psicologia, onde segundo Fernandes (1991 p.54) coloca que: “Durante muito tempo, a psicologia não considerou a linguagem como fator participante da formação dos processos mentais da criança.”
Do ponto de vista histórico, até o século XV não havia uma proposta de ensino para os alunos portadores de deficiência auditiva. Eram descriminados e proibidos de usar a sua língua materna em meio social. No entanto, era oferecida a esse grupo uma língua diferente para que pudessem manter contato com a sociedade.
Ao colocar a linguagem como não fator preponderante para a construção do conhecimento, buscou-se outras formas de compreender como se dá construção do conhecimento pela criança. Alguns autores como Luria e Yudovich (1978, p.12) encontra-se a seguinte afirmação:
Ao nomear os objetos e definir assim suas conexões e relações, o adulto cria novas formas de reflexão da realidade na criança, incomparavelmente mais profundas e complexas que as que poderia formar mediante sua experiência individual. Todo este processo de transmissão do saber e a formação de conceitos, que é o modo básico em que o adulto influi na criança, constituem o processo central do desenvolvimento intelectual infantil.
Por volta de 1.934, Vygotsky apresenta-se como um dos primeiros pesquisadores soviéticos a creditar à linguagem um papel decisivo na formação dos processos mentais e, para provar isso, desenvolveu uma série de experiências que visavam compreender a formação da atenção ativa, os processos de desenvolvimento da memória e outros processos mentais superiores. Essas experiências levaram-no a afirmar que a linguagem tem papel de destaque na formação dos processos mentais. Para Vygotsky, (1984, p. 23):
Não apenas o uso de instrumentos se desenvolve nos primeiros seis meses de vida. Desenvolvem-se também nesse período, os movimentos sistemáticos, a percepção, o cérebro e as mãos. Isso tudo é determinado por estágios do desenvolvimento orgânico e pelo domínio no uso dos instrumentos.
Ainda o autor acima citado afirma que, “Os primeiros esboços de fala inteligente são precedidos pelo raciocínio técnico e este constitui a fase inicial de desenvolvimento cognitivo”.
A linguagem desempenha um papel fundamental na percepção, porque a criança começa a perceber o mundo através dos olhos, mas, também da fala que se desenvolve com a utilização de signos que são produtos das condições específicas do desenvolvimento social. Vygotsky (1989, p.40) ressalta que é durante a infância que surge o uso de instrumentos da fala e apresenta quatro estágios no seu desenvolvimento:
O primeiro caracteriza-se pela fala intelectual e pelo pensamento pré-verbal; O segundo é aquele onde o exercício da inteligência começa a brotar; o terceiro caracteriza-se por signos exteriores que são usados como auxiliares na solução de problemas externos; e o quarto, as operações se interiorizam e passam por uma mudança grande: a fala interior silenciosa.
Assim, antes de controlar o próprio comportamento, a criança começa a controlar o ambiente com a fala.
Quando se trata do deficiente auditivo, a aquisição da linguagem oral é um fator fundamental. De acordo com Góes (1996, p.35):
A deficiência não torna a criança um ser que tem possibilidades a menos; ela tem possibilidades diferentes, uma vez que a linguagem não depende da natureza do meio material que utiliza, mas o que é importante é o uso efetivo de signos, seja qual for a forma de realização, desde que possa assumir o papel correspondente ao da fala.
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