Incentivo à aplicação de aulas dinâmicas

Por Leonardo Freitas Alves | 25/07/2016 | Educação

Frequentemente uso aulas animadas, muito Power Point (de maneira pouco convencional, diga-se de passagem – mas isso é assunto pro futuro), vídeos, músicas e o Narrador de Exercícios (descrito no último artigo), decidi passar uma semana de maneira radical: eliminei tudo isso e ministrei, em todas as turmas, apenas aulas tradicionais, baseadas no que chamo de “triângulo do tédio”: pincel, quadro e voz. Adivinhem qual foi o resultado? Apatia total, indisciplina e reclamação. Muita reclamação! E acreditem…de alunos com os quais eu nem sonhava que puidessem sentir falta de algo na minha aula, ou seja, eu já tinha os atingido a tempos e nem havia percebido! E muito embora esta semana tenha sido proposital, sei que ocorre com muito mais frequência do que se possa imaginar. Seria inverdade dizer que não houve produção. Houve sim. Aprendizado também, mas o caminho foi tortuoso e cheio de pequenos conflitos, parte deles por conta da rotina divertida, cativante e produtiva que já desenvolvo com eles desde o início do ano e repentinamente foi interrompida. De uma hora para a outra, meus alunos passaram a rotular meu horário com algo muito ouvido: “aula chata”.

Então, tenho de agradar 100% meu aluno, da maneira que for possível, num esforço para fazê-lo feliz? Óbvio que não! Mas cá entre nós: ninguém consegue fazer bem algo do qual não goste, muito menos ser feliz com isso. E lidamos todos os dias com seres humanos que, por mais que digam o contrário, estão ávidos por alguém que os cative e mostre o quanto o aprender pode ser divertido! E não pense que não sei do que estou falando: em 16 anos de estrada, apenas há aproximadamente 8 adotei radicalmente a postura de mudar, de planejar e refazer tudo que fosse necessário para tentar atingir a maior quantidade de alunos de minhas turmas. E isso da trabalho, e muito! Só que graças à tecnologia atual, muito desse trabalho pode ser convertido em experiências fantásticas para um professor e suas turminhas. Um exemplo claro são minhas revisões “felizes”: pra que mandar fichas e mais fichas (além de ser tedioso, pode-se incluir aí um debate sobre a sustentabilidade) quando posso montar slides com clipes de músicas (com a legenda subindo, estilo créditos), cenas de filmes legendados, tirinhas, gifs, tudo isso com o conteúdo em questão? Ou mais: outro dia, estudando  adjetivos pátrios, abri o Google Earth e fomos visitando países e cidades e os alunos tinham de ir listando o adjetivo correto. Aproveitei para discutirmos diversos assuntos enquanto íamos nomeando os nativos do globo. A aula literalmente voou e até eu aprendi muita coisa da qual nem sonhava que existia!

Pense comigo: no meu caso, eu e meus alunos estamos no Planalto Central, onde em meses de seca, a umidade atinge 10% (ou menos!). É plausível achar que, apenas nessas condições, um estudante irá sentir-se à vontade e animado a encarar 100 minutos de orações subordinadas substantivas completivas nominais reduzidas do infinitivo da maneira comum? Nos primórdios da minha “mudança”, por assim dizer, assisti a uma palestra dada por um P.h.d. A dita cuja foi tão chata que me fez sentir desespero de estar ali. E mexia no celular, conversava, desenhava, lia e nada do evento acabar! E é assim que nossos alunos se sentem. Até mesmo para resolver problemas disciplinares pode-se apelar para soluções criativas, que causem menos desgaste na relação com os pupilos. Um exemplo clássico disso é quando o estudante não atende aos apelos e simplesmente, “toca o terror”. Vou confidenciar com vocês: nessas horas, sempre me via num dilema muito grande, já que, por mais que esteja incomodando, não é direito dele estar ali? Porém, por mais que tenhamos paciência, chega uma hora que até a turma exige que o sujeito em questão pare…ou saia! O que fazer então? Bolei uma maneira para atender a gregos e troianos. Todos os dias, ao início de cada aula, separo um cantinho do quadro e coloco 3 temas. Geralmente são coisas surreais ou que fogem ao cotidiano: “doenças cardíacas em ornitorrincos”, “pratos típicos do Uzbequistão”, “componentes químicos da casca do cacau e por aí vai”. Ao chegar no limiar da paciência, o aluno é convidado carinhosamente a  sair, para construir um texto sobre esses assuntos, na biblioteca. Há vantagens nisso? Vejamos: é uma forma suave de retirá-lo de sala, obriga-o a produzir e ainda é interdisciplinar, já que posso misturar outros assuntos ao gênero textual em que eu estiver trabalhando. E até os que são convidados a produzir um texto assim o vão numa boa, sabendo que não estão sendo “castigados”, mas sim cumprindo uma sanção por algo que fizeram e que não estava de acordo com as normas.

Talvez os estimados leitores sintam uma suave diferença neste artigo, já que propositalmente evitei citar muitas fórmulas, por assim dizer, do que seja uma aula “chata” ou não. Particularmente não gosto muito desse termo. Isso varia muito e como profissional da educação, sei que há centenas, talvez milhares de contextos para os quais pode-se aplicar ou não essa denominação. Trabalhar com gente é difícil! Mas como sempre, fica a sugestão de acima de tuda, não se deixar abater. Vivemos numa era de conhecimento e velocidade, e muitas vezes o que falta numa aula é afeto, compreensão e disposição. No fundo, nossos alunos esperam de nós que sejamos alguém que os entenda, escute e conduza-os neste caminho árduo que é a vida. Por muitas vezes, fazemos papel de pais, convivendo e cuidando deles mais até que os próprios genitores. E a nós, o que sobra? Trabalho. Muito mesmo. Eleve-se. Busque ser o que ninguém mais é. E tenha certeza que há maneiras de sobra para fazê-lo. E nunca se esqueça que a tecnologia está aí. Hoje, esta é gratuita, acessível e farta. Um pequeno relato para servir de estímulo: ano passado fui convidado a ser padrinho de casamento dum casal de ex-alunos, que foram meus pupilos de 2007 a 2009. Ele, advogado. Ela, famacêutica. Jovens, recém-casados, recém-formados, cheios de sonhos. Me vi naquele local, com pessoas tão novas e tão obstinadas na vida. Me olhavam com o carinho de sempre. Receio dizer que até com admiração. Ao fim, a noiva (agora mulher casada) veio falar comigo, dos planos futuros e cheia de paixão. Paixão pela vida, pelo marido e pelo futuro. Saí de lá renovado. Às vezes, tudo que precisamos na vida é uma injeçãozinha de ânimo, de paixão. Afinal de contas, pior que uma “aula chata”, imagino eu, deve ser uma “vida chata”.