In Nomine Dei
Por Bruno Azevedo | 13/12/2010 | Filosofia"Entre o homem, com a sua razão, e os animais, com o seu instinto, quem , afinal, estará mais bem dotado para o governo da vida? Se os cães tivessem inventado um deus, brigariam por diferenças de opinião quanto ao nome a dar-lhe, Perdigueiro fosse, ou Lobo-d?Alsácia? E, no caso de estarem de acordo quanto ao apelativo, andariam, gerações após gerações, a morder-se mutuamente por causa da forma das orelhas ou do tufado da cauda do seu canino deus?"(SARAMAGO,1993:9)
A obra mencionada, retrata um determinado conflito entre católicos e protestantes. Fica a pergunta do por que? Pois a intolerância, tende a prevalecer e muitos massacres continuam a ser produzidos, em nome de algo que serve-nos de parâmetro para realizarmos conflitos.
O exemplo mencionado é rico, a analogia canina é deveras pertinente, entretanto, pode-se pensar em outras esferas, como ao lançarmos nosso olhar sobre um contexto de guerras realizadas com intuito político e econômico, não que as religiosas não o sejam, mas me refiro as que perderam o ideal metafísico e ganharam o argumento de uma outra abstração, como é o caso do que chamamos "nação".
Assim, seguimos com nossa matança, impulsionados ao combate, como diversos pensadores já mencionaram a serventia bélica, mas costuma permanecer uma pergunta em aberto a este respeito, quando me proponho uma crítica, por que as "sujeitos" se envolvem nestes conflitos, sendo que as "pessoas" que cito são a grande massa que compõe as batalhas, mas que costumam não ser os que se beneficiam de tal ato?
Alguns mencionam o poder ideológico, que exercido sobre o chamado "povo", remete homens a matarem-se uns aos outros ou a acatarem ordens que vão contra seus princípios. Será que tais ordens são de fato contrárias aos princípios da maioria? Por que em épocas que ainda não existiam ideologias, o "povo", sendo que também o conceito de povo não existia, também era influenciado?
Será que as palavras de Nietzsche continuam expressando um fato, fazendo analogia ao que chama de "rebanho", pois parece que tendo um "pastor", o dito rebanho o segue, mesmo que seja rumo ao despenhadeiro. E quanto ao senso crítico destas pessoas? Como se processa a questão da mentalidade e se constrói um imaginário que corrobora uma ação? Muitas perguntas que cabem e de uma complexa análise.
Realmente, existe senso crítico, suprimido por circunstâncias, mas ainda existente, aguardando o dia em que seremos massas críticas, levando em consideração o sentido crítico aqui abordado, que seria uma reflexão em relação a si, consciência e responsabilidade de ato, pois é justamente o oprimido que alimenta o poder do opressor.
Enquanto isso, seguimos nossas disputas pelos restos de um lixo perdido ou algum osso que avistamos e faz-nos contemplados.
Referência Bibliográfica:
SARAMAGO, José. In Nomine Dei: teatro. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.