In mare labor mundis
Por Ivan Henrique | 05/08/2022 | CrônicasEra uma vez, a muito, muito tempo, um rapaz de 19 anos. Este rapaz, por não ter uma origem nobre ou abastada, ao chegar nesta idade foi enviado para uma praia que era a porta de entrada do grande mar chamado Labormundis, também conhecido como “ Mar do mundo do trabalho”. Ele mergulhou, um pouco receoso e um tanto assustado, pois este mar é imenso e a única fonte de sustento de todos aqueles que, como ele não tiveram origem nobre ou abastada.
Logo no princípio de sua travessia, mal tendo ultrapassado sua primeira onda, ele percebeu que a tarefa seria difícil e teve vontade de desistir, porém, por não ter origem nobre ou abastada, desistir não seria mais possível. Então ele seguiu em frente.
As primeiras ondas quebraram fortes sob sua cabeça e ele sentiu um desânimo imenso. Todavia desistir estava fora de questão. Pouco a pouco ele percebeu outros nadadores como ele, todos na mesma situação, e sentiu-se um pouco mais forte, pois viu que não estava mais sozinho neste mar imenso, cujo chão se afastava de seus pés. Ao tomar ciência de que as ondas jamais deixaram de chegar, ele aos poucos foi aprendendo como mergulhar antes que elas quebrassem sobre sua cabeça. E a travessia prosseguiu.
O mar não parecia ter fim. Após algum tempo ele virou-se e não mais conseguia enxergar a praia de onde havia partido. Nesta altura sua musculatura ganhara resistência, pois cada vez mais observava que os outros nadadores, muitos mas não todos, pareciam gostar de sua proximidade, e isso o impulsionava mar adentro.
Até o dia em que se aproximou de uma nadadora diferente. Ela não o havia notado, e quando notou nem fez questão de estar perto. De repente o tempo escureceu e as nuvens escuras serviram de motivo para uma aproximação maior com a nadadora diferente. Sabe-se lá o porquê, só sei dizer que em algum momento, eles decidiram nadar juntos pela vida à fora. Aí a travessia ficou diferente, pois tinham um ao outro para renovar o fôlego e revigorar a musculatura.
Desta forma este nadador, que por não ter origem nobre ou abastada, seguiu nadando. E o tempo passava, passava. Depois de muitas ondas e algumas calmarias alguma coisa parece tomar forma no horizonte. “É o outro lado deste mar imenso”, ele pensou. Ainda estava um pouco longe e era preciso manter a perseverança e a paciência. Quando se pensava que as ondas acabariam, elas ressurgiam com formas e intensidades diferentes, porém não deixavam de quebrar sobre as cabeças.
O nadador começou a sentir um pouco de cansaço, mas viu que faltava pouco, pois a terra do outro lado deste mar imenso começava a ficar mais nítida no horizonte. Novos nadadores sempre apareciam, e ele já aprendera bastante como interagir com estes nadadores, era cada vez mais fácil sorrir e sentir afeição e compaixão por eles. Bem, nem todos!
Por fim eis que a praia do início se aproxima. Só que não é mais a mesma praia. Ou será ele que está cansado e não consegue mais perceber?
Num estirão final, com fôlego renovado e com braçadas poderosas as ondas começam a ficar mais calmas. A areia já toca seus pés e num pulo ele sai da arrebentação. Já pode sentar-se na
areia morna, respirar com tranquilidade, enquanto espera pela nadadora, que por ter saído depois ainda precisa dar algumas braçadas a mais antes de sentir a areia firme sob os pés.
Agora ele pode esperar pelo longo pôr do Sol, e sentir a luz que escurece lentamente, até que a Noite chegue e o leve para um outro lugar melhor. (Se possível junto com a nadadora)
Ivan Henrique Roberto
07/12/2016