(In)Disciplina na Escola: algumas considerações

Por ALINE DE PAIVA MORALES | 03/07/2017 | Educação

Barbosa, Fernanda Loiola. Disciplina e indisciplina na escola: compreender o passado para transformar o presente.

Silva, Nelson Pedro. A passagem de um modelo de sociedade adultocentrico para um modelo centrado nas demandas das crianças e dos adolescentes.

Vasconcellos, Celso. O desafio da (in) disciplina em sala de aula e na escola.

Aquino, Julio Groppa. A indisciplina e a escola atual.

 

Este trabalho busca promover uma reflexão a respeito do binômio disciplina/indisciplina no movimento histórico, analisando conceito e mecanismo de controle do passado e suas influências sobre as práticas disciplinares das nossas escolas nos dias de hoje.

Barbosa, no texto Disciplina e indisciplina na escola: compreender o passado para transformar o presente traz a indisciplina escolar como um importante obstáculo do processo ensino-aprendizagem, prejudicando o exercício da função docente e o aproveitamento dos conhecimentos ministrados por parte dos alunos envolvidos.

A visão acerca da indisciplina esta intimamente relacionada às concepções que alguns educadores têm de disciplina: (1) regime de ordem imposta ou mesmo consentida; (2) ordem que convém ao bom funcionamento de uma organização; (3) relação de subordinação do aluno ao mestre; (4) submissão a um regulamento.

Oficialmente a historia da educação no Brasil tem seu inicio no ano de 1949, com a chegada dos jesuítas sob a liderança de Manuel de Nóbrega com o objetivo de converter os gentios à fé católica o que implicou na criação de escolas, colégios e seminários em todo o território nacional.

O ensino estava pautado em uma pedagogia da opressão, visto que estabelecia mecanismos de coersão, o trabalho mecânico, solitário e permanente classificação dos estudantes. O esquadrinhamento das condutas dos alunos constituía a principal tarefa docente. Neste contexto a inadequação ao regimento, a comunicação entre os pares, a movimentação, os questionamentos, a reposição de necessidades individuais eram atitudes compreendidas como manifestações de indisciplina..

No século XIX, surgiu o método monitorial ou mútuo, em substituição à instrução individualizado para suprir as necessidades de  se entender a educação a todas as classes sociais conforme as ideia iluministas em evidência naquele tempo. Utilizando-se o método de monitoramento, um único docente conseguia instituir um grande número de crianças e conseguia-se manter a disciplina.

 Para aqueles que descumprissem as regras estabelecidas eram conferidas sansões.

No final do século XIX e início do século XX, surgiu a Escola Nova com uma nova concepção de infância. No escolanovismo, o professor era visto como um mediador da aprendizagem que promovia um ambiente no qual o conhecimento seria construído por meio da participação efetiva dos estudantes.No Brasil essa teoria não foi bem interpretada, sendo, portanto, extinta.

Segundo o referido autor, a disciplina não é um conceito negativo, ela permite, autoriza, facilita, possibilita. Ser disciplinado não é obedecer cegamente, é colocar a si próprio regras de conduta em função de valores e objetivos que se quer alcançar.

A sociedade se modernizou, porém, as práticas disciplinares parecem não ter sofrido alterações em pleno século XXI, permanecendo ainda práticas disciplinares arcaicas com as quais convivemos e inconscientemente reproduzimos.

A (in) disciplina vem se destacando como um grande desafio para a escola, nesse sentido, Vasconcellos e Silva concordam ao dizer que as principais queixas dos educadores é o desinteresse por parte dos alunos decorrentes da tecnologia fora da escola, o que torna o processo educativo desinteressante. Sobre isso, Aquino em seu texto A Indisciplina e a Escola Atual, diz que a saída seria a modernização, recursos didáticos mais atraentes e assuntos mais atuais nas aulas. Outros agravantes são a influência negativa dos meios de comunicação e o não cumprimento do papel familiar.

A disciplina é um dos principais aspectos do processo educacional, no entanto, o professor se vê impossibilitado de agir quando não acredita na proposta escolar ou quando não vê condições para fazer (VASCONCELLOS, 1998). A partir de uma breve análise da realidade, Vasconcellos constata que é preciso compreender as profundas mudanças a escola, sociedade e suas relações passaram.

Nesse sentido, Silva relata em seu texto que a indisciplina está relacionada com a situação política e econômica do país. Antigamente as pessoas viviam sob um regime de ditadura, onde a valorização e o respeito se davam sob o medo da punição. Já no mundo atual a democracia é confundida com libertinagem. Segundo Piaget, citado por Silva, devemos buscar sempre ampliar nossos conhecimentos sem deixar de lado a própria identidade, conviver um com o outro, respeitando cada um seus valores.

Vasconcellos destaca a  falta de sentido para o estudo por parte dos alunos como a mais difícil crise de se enfrentar na escola, uma vez que os alunos não veem sentido em estudar já que existe hoje uma parcela significativamente grande de pessoas formadas, porém, desempregadas, além do mais, não encontram sentido nas práticas de sala de aula.

Entretanto, a crise dos limites vai além do ambiente escolar. A família, principalmente, é vítima da falta de disciplina em função da falta de tempo junto aos filhos, o consumismo exacerbado, mais necessidades de recursos, mais trabalho, culpa, menos limites etc.

Segundo Vasconcellos, existem alguns obstáculos epistemológicos que podem dificultar a construção de novas perspectivas de ação de educadores frente ao problema da indisciplina que são: a espera da “receita mágica”, a idealização das alternativas e a sensação de “não-poder”. Sendo assim, o maior desafio é o resgate do professor como sujeito de transformação.

Como forma de resgatar a disciplina na sala de aula e consequentemente na escola, Vasconcellos ressalta a construção coletiva das normas da escola, o resgate do diálogo, a superação da punição autoritária, estabelecimento de limites, desenvolvimento de  metodologias participativas em sala de aula, comprometimento, respeito às necessidades dos alunos, interação entre família e escola etc. Ainda nesse sentido, Aquino, ressalta que a grande tarefa dos educadores brasileiros é fazer com que os alunos permaneçam e progridam nas escolas, visto que poucos permanecem até o Ensino Médio ou chegam à universidade. É tarefa de todos garantir uma escola de qualidade.

É preciso ter em mente que muitos fatores interferem na construção de uma nova disciplina, é, no entanto, algo muito complexo e que não se dá de uma só vez. Trata-se de um processo em que é preciso valorizar os pequenos passos e quanto mais participativo for o processo, maior a possibilidade de dar certo.

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