IDENTIDADE CULTURAL NA PÓS-MODERNIDADE
Por Paula Marsolla | 16/12/2009 | PsicologiaO autor inicia o livro explanando sobre como as identidades eram sólidas e fixas que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, e atualmente estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e assim fragmentando o sujeito, antes visto como sujeito unificado. Essa fragmentação é chamada de crise de identidade, essa é vista devido um processo de mudança mais amplo que está deslocando as estruturas e processos centrais abalando os quadros de referência (entende-se como papéis socialmente definidos) que davam aos indivíduos ancoragem estável. Ou seja, se antes o sujeito era visto como unificado apoiando e apoiado pela estabilidade do mundo social, tendo um centro como referência, atualmente ele não é visto nem como unificado, e sim fragmentado, bem como foi deslocado do seu centro.
Um dos objetivos do livro é avaliar se existe uma "crise de identidade", e se existe, em que ela consiste e em que direção ela está indo.
Há alguns teóricos que acreditam que as identidades estão entrando em colapso. O argumento se baseia no fato que um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas, esta mudança fragmenta as paisagens culturais (no sentido de modelo) de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade que antes tinham fornecido sólidas localizações.
Essas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, balançando a estrutura da idéia que tínhamos de sujeito integrado. Essa perda de sentido, de referência é o que podemos chamar de descentração do sujeito.
Todos esses processos de mudança em conjunto, representam um processo de transformação tão amplo, é nesse ponto que o autor questiona: "Se não é a própria modernidade que está sendo transformada?".
Hall segue sua argumentação a partir desse ponto, e ainda afirma: "Naquilo que é descrito, algumas vezes, como no nosso mundo pós-moderno, nós também somos 'pós' relativamente a qualquer concepção essencialista ou fixa de identidade".
Para explorar melhor esta afirmação, Hall define as identidades e o caráter da mudança na modernidade tardia.
Três concepções de identidade:
1)Sujeito do Iluminismo
O sujeito do iluminismo baseava-se numa concepção de indivíduo unificado, totalmente centrado, dotado de capacidades de razão, de consciência e de ação e o seu centro consistia no núcleo interior, ou seja, o centro essencial do eu era a identidade da pessoa. Concepção esta que o autor define como individualista, do nosso ponto de vista, talvez reducionista.
2) Sujeito sociológico
Essa noção refletia a complexidade do mundo moderno e a consciência de que existe um núcleo interior, mas este não era autônomo nem auto-suficiente, mas era formado da relação com as outras pessoas, ou seja, mediada pelas relações sociais. Uma concepção interacionista do sujeito (G.H. Mead, C.H. Cooley). Atente para o fato que o sujeito ainda tem um núcleo e/ou essência, contudo, este é formado e modificado num diálogo contínuo com a cultura as relações que esta proporciona. Essa visão preenche o espaço entre o mundo "interior" e o exterior, e como se a identidade costurasse o sujeito a estrutura.
"[...] as identidades que compunham as paisagens sociais 'lá fora' e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as 'necessidades' objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais".
3) Sujeito pós-moderno
O sujeito pós-moderno deriva desse processo de mudança na concepção, e este não tem uma identidade fixa, essencial e permanente. A identidade que antes era assim, agora é móvel. Ele também, a partir dessa concepção, pode assumir identidades diferentes em diferentes momentos, e ainda, identidades que não são unificadas dentro de um "eu" coerente, pois dento de nós há identidades contraditórias.
O caráter da mudança na modernidade tardia
É preciso ter em mente o contexto do processo conhecido como globalização e seu impacto sobre a identidade cultural. As sociedades modernas são, portanto, por definição, sociedades de mudança constante, rápida e permanente. Esta é a principal distinção entre sociedades tradicionais e modernas.
Em contraste, a modernidade, não é definida apenas pela mudança rápida, ampla e contínua, mas é a uma forma altamente reflexiva de vida:
"as práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz das informações recebidas sobre aquelas próprias práticas, alterando, assim, constitutivamente seu caráter"
Descontinuidades
Quando uma estrutura é deslocada, ou seja, é aquela cujo seu centro é deslocado, esse "vazio" não é preenchido por outro centro, mas sim por uma pluralidade de centros, centros de poder. Este, por sua vez, não tem nenhum princípio articulador ou organizador único e não se desenvolvem de acordo com o desdobramento de uma única causa. E está constantemente sendo descentrada ou melhor deslocada por forças fora de si mesma.
A partir desse conceito, Hall, explica que as sociedades na modernidade tardia são caracterizadas pela diferença, elas são atravessadas por diferentes divisões e antagonismos sociais que produzem uma variabilidade de posições do sujeito, ou seja, identidades para os indivíduos.
Entretanto isso nos levaria a perguntar: A possibilidade de deslocamento das posições dos sujeitos em diferentes momentos coloca o sujeito numa posição privilegiada? Afirma Laclau apud Hall, que isso não deveria nos desencorajar, pois o deslocamento tem características positivas, ele desarticula as identidades estáveis do passado, e também abre novas articulações.