Ideal Lazer na Educação para a Vida - A verdadeira Crise
Por André Martins Cunha Guimarães | 23/10/2012 | CrônicasO lazer do ponto de visto sociológico, constitui-se num espaço e tempo que permite o combate à rotina. São atividades que podem ser puramente ou simplesmente sociáveis ou atividades de jogo (miméticas).
Enfatizo de certo modo as atividades que promovam a correta transmissão de valores onde as partes integrantes poderão estabelecer uma relação social com base na troca de experiências, debate, transmissão de conhecimento. Falo essencialmente num ideal lazer cada vez mais esquecido nos recônditos do lixo social: a relação das crianças com os idosos.
São as crianças muitas vezes esquecidas mesmo que solicitadas todos os dias pelos pais, abandonadas mesmo que possuam um teto para morar, ou seja, não são orientadas nem atendidas da melhor forma para serem um exemplo no futuro.
"Abandonamos alguém quando limitamos o acesso dessa pessoa à arte de pensar".
Apesar de tudo são elas que carregam o futuro nas mãos, onde deveria estar concentrada a maior parte da atenção dos nossos atos, preferimos no entanto, entrar numa corrida desenfreada na obtenção de "status" económico e social vazios e limitados...
A Educação de valores sairia muito beneficiada se se promovesse a inter-relação entre extremidades do ciclo de vida (crianças, idosos) de forma ótima e produtiva. São fases de vida onde a inocência e a experiência jogam de forma genial para ambos os lados. Os idosos são detentores de um conhecimento de vida inerente à experiência arrecadada ao longo de muitos anos e eles mais do que os adultos têm em si o dom de decifrar certos códigos da inteligência como é o caso do altruísmo para com a criança.
São exímios na ajuda da criação do "eu" das crianças e jovens, compreendem da melhor forma, como lidar com os seus comportamentos, porém a sociedade criou um rótulo social. que fez com que atualmente estes idosos sejam muitas vezes esquecidos e abandonados. Em tempos eram eles os sábios, Hoje em dia eles são vistos por muitos indivíduos como “fardos”, que condicionam a vida dos seus descendentes principalmente quando alguma doença os afecta. Principalmente para aqueles indivíduos, os tais “espertinhos” que se preocupam muito com o seu bem-estar económico, com o seu estatuto, os idosos atrapalham. A própria “sociedade” que no fundo somos todos nós também não valoriza o idoso e a criança e os jovens vêem isto, são socializados numa cultura que não atribui grande importância ao idoso. Se ela criança vê os seus progenitores e todas as pessoas que a rodeiam a não prestar atenção ao idoso o que é que ela vai pensar, que tal é normal e como tal vai reproduzir o que vê.
Preparam pessoas apenas para trabalhar, serem máquinas e não seres humanos exímios na arte de viver. Os idosos sabem que antes de um bom licenciado numa determinada ciência, é preciso procurar doutorar-se dia após dia neste interessante teatro existencial, que é a vida.
Há um conhecimento paralelo àquele que encontramos nas páginas de um livro, aquele que se escreve nas entrelinhas da vida e nos caminhos infinitos da reflexão.
Afinal quem melhor que os idosos para nos fazer refletir?
Que vida escolheram, que caminhos percorreram, que dificuldades atravessaram, como as solucionaram, quando ganharam, quando perderam, o que aprenderam?
O código da arte da dúvida pode ser devidamente decifrado com a reflexão sobre a vida de um idoso.
A criança é à partida estimulada a cumprir ordens, a alcançar "status" académico e social, mas não é estimulada a formar o seu "eu" enquanto gestor do seu intelecto, a desenvolver a arte da dúvida, e poucas vezes são estimuladas a desenvolver o código do altruísmo.
É num ecrã vazio de um computador que as crianças de hoje encontram companhia para as suas brincadeiras, é na televisão "não supervisionada" a horas tardias que encontram perguntas sem resposta.
"Uma mudança geracional prestes a disparar os alarmes da sanidade"
É confrontada diariamente com a sede de competição, com a necessidade de "tirar" ao outro para ter mais, e por vezes assiste à intolerância face ao "negro" ao "branco" e ao "pobre".
Vê, assiste e conclui sozinha desenvolvendo esse tipo de processos cognitivos limitados pela conclusão óbvia inerente à sua infantilidade.
Como não poderia resultar que as crianças de ontem, hoje dariam grandes gestores empresas mas péssimos gestores de si mesmos e consequentemente deixaram que o mundo desabasse a nível financeiro mas essencialmente a nível moral?
Pergunto se de facto a essência daquilo a que se chama "desenvolvimento" está apenas no avanço tecnológico e científico?
Se o facto de hoje possuirmos telemóveis bastante funcionais e computadores versáteis nesse sentido, faz de nós uma sociedade altamente "artilhada"?
Procura-se hoje em dia tapar os buracos emocionais desta forma?
Descobrem-se curas para todas as doenças, melhoram-se métodos de construção de edifícios, mas não se criam e estimulam métodos e comportamentos para evitar conflitos do fórum psicológico e desabamentos dos pilares das nossas emoções.
Neste sentido torna-se crucial apelar ás entidades capazes de intervir neste campo, na relação (criança-idoso), no sentido de educar e formar a alma das crianças, sendo este método aquele que considero ser o mais viável do ponto de vista sociológico, - O confronto entre Gerações - .
Por maior crise que o mundo atravesse do ponto de vista económico, enquanto a sociedade e entidades governamentais não concluírem que a mesma resultou de uma crise de valores, continuaremos a tapar o buraco com lixo social e não com inteligência emocional.
Percorramos a 1ª etapa - As crianças, serão elas os adultos de amanhã.