HUMANO, DEMASIADO HUMANO.
Por Cristiano Candido | 14/01/2011 | FilosofiaNIETZSCHE ? INIMIGOS INTERIORES
(Adaptado da obra Humano, Demasiado Humano.)
O Cristianismo prega que o homem é concebido e nascido no pecado. Portanto, o maior pecado do homem é ter nascido. Podemos compreender que para as religiões sectárias e pessimistas, o ato de procriação é considerado como mau em si mesmo, representando uma imoralidade a ser contida e combatida.
Durante muito tempo, teve-se como necessário que a sensualidade fosse declarada perniciosa e herética, sendo que o perigo da condenação eterna fosse tão estreitamente ligado à idéia da sensualidade que, muito provavelmente, durante muitos séculos os cristãos exerceram a sexualidade somente com muito remorso e com o fim precípuo de gerarem filhos.
Os pessimistas cristãos deturparam a natureza humana, associando ao elemento natural a idéia de inimigo interior. Criou-se uma guerra interna e uma constante alternância da vitória e da derrota. Para tanto, precisaram de um adversário, encontrando-o no inimigo interior, criando assim, na mente humana a idéia de pecado.
Empédocles, filósofo grego, não via nada de vergonhoso ou de diabólico nas coisas eróticas, pelo contrário, via em Afrodite a garantia que a discórdia não reinaria eternamente, mas que ela um dia iria entregar o cetro a uma divindade mais indulgente.
Entretanto, os pessimistas cristãos desejavam que outra opinião fosse dominante, povoando a solidão e o deserto espiritual da vida humana com um inimigo sempre vivo e universalmente conhecido, travando uma eterna luta e mantendo-se em constante penitência para combatê-lo e subjugá-lo, sempre sob as ordens da igreja.
Deve-se reconhecer como os homens se tornam piores por designarem como mau o que é inevitavelmente natural. Tal é o procedimento da igreja e dos metafísicos patrísticos que queriam que o homem se reconhecesse como mau e pecador por natureza, sendo necessárias forças sobrenaturais para livrá-lo do fardo do pecado. A intenção não era tornar o homem mais moral e redimido, mas que ele se sentisse o mais possível pecador, afim de que ele fosse mantido sob o domínio e julgo da Igreja.
Portanto, Nietzsche abriu os olhos do homem para visualizar o natural com um elemento simples e sem mistificação, retirando a idéia de pecado e de pessimismo de seu DNA genealógico. Deus, suprema bondade, que tudo criou para a harmonia humana, não fez da relação afetiva algo pecaminoso. A libertação de conceitos sectários e pessimistas plantados na mente humana, durante longos séculos, se faz necessária, visando à evolução plena do homem integral, voltado às verdades intangíveis da vida.