Humanização da Assistência ao Parto Normal...

Por MARCIA CRISTINA CONDE VENEZIANI | 28/02/2017 | Saúde

Humanização da Assistência ao Parto Normal: amenização da dor

 

Humanization of the Assistance to the Natural Childbirth: alleviation of the pain

 

Humanización de la Atención en el parto normal: el alivio del dolor

 

Márcia Veneziani

 

RESUMO

As parturientes experimentam no trabalho de parto e parto dores visceral e somática, além de serem submetidas no processo de hospitalização a diversas intervenções e rotinas que aumentam a dor e o desconforto. Em face de tais constatações objetivou-se revisar na literatura a atuação do especialista em Enfermagem Obstétrica na amenização da dor no trabalho de parto e parto normal humanizado. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, de caráter descritivo, nas bases de dados LILACS, SCIELO e BDENF no período de 2006 a 2016. Considera-se o especialista em enfermagem obstétrica como componente fundamental na assistência humanizada ao parto normal por adotar tecnologias leves, de acolhimento, que se resumem basicamente em suporte contínuo, banho de chuveiro e de imersão; participação do acompanhante; técnicas de respiração e relaxamento muscular; massagem de conforto; bola suíça ou de nascimento; deambulação e mobilidade materna; possibilidade de ingerir líquido; estimulação elétrica transcutânea; e crioterapia. Tais intervenções visam o alívio da dor da parturiente substituindo assim os analgésicos durante o trabalho de parto e o parto.

Descritores: Parto Normal; Humanização da Assistência; Dor; Especialista em Enfermagem Obstétrica.

 

ABSTRACT

Parturients experience labor and delivery visceral and somatic pain, in addition to being submitted in the hospitalization process to various interventions and routines that increase pain and discomfort. In view of these findings, the objective was to review in the literature the performance of the specialist in Obstetric Nursing in the alleviation of pain in labor and normal humanized delivery. To do so, a descriptive bibliographic research was carried out in the LILACS, SCIELO and BDENF databases from 2006 to 2016. The obstetric nursing specialist is considered to be a fundamental component in the humanized assistance to normal delivery for adopting technologies Lightweight, welcoming, basically consisting of continuous support, shower and immersion; Participation of the companion; Breathing techniques and muscle relaxation; Massage of comfort; Swiss or birth ball; Ambulation and maternal mobility; Possibility of ingesting liquid; Transcutaneous electrical stimulation; And cryotherapy. Such interventions are aimed at relieving the pain of the mother in labor, thus replacing analgesics during labor and delivery.

Descriptors: Normal Birth; Humanization of Assistance; Ache; Specialist in Obstetric Nursing.

 

RESUMEN

Las mujeres embarazadas experimentan durante el parto el dolor visceral y somático, y se sometieron al proceso de hospitalización las distintas intervenciones y rutinas que aumentan el dolor y el malestar. A la vista de estos hallazgos encaminadas a revisar la literatura especializada que actúa en el dolor obstétrico facilitar el trabajo de parto y parto normal humanizado. Por lo tanto, hubo una investigación bibliográfica, descriptivo, en las bases de datos LILACS, SciELO y BDENF, de 2006 a 2016. Se considera el experto en obstetricia como un componente clave en la asistencia humanizada al parto normal por las tecnologías que adoptan la luz, el anfitrión, que se pueden resumir los calentadores de apoyo, ducha y de inmersión básicamente continuos; la participación del compañero; técnicas de relajación muscular y la respiración; masaje de la comodidad; pelota o el nacimiento en Suiza; la deambulación y la movilidad materna; posibilidad de ingestión de líquido; estimulación eléctrica transcutánea; y crioterapia. Estas intervenciones están dirigidas a aliviar el dolor de la madre sustituyendo así a los analgésicos durante el parto.

Descriptores: Parto Normal; Humanización de la Atención; Dolor; Especialista en Obstetricia.

 

 


INTRODUÇÃO

Na atualidade, considera-se a dor o quinto sinal vital, sendo descrita como tão importante quanto a pressão arterial, o pulso, a temperatura corpórea e a respiração, devendo sempre ser avaliada num ambiente clínico, a fim de se implantar um tratamento ou conduta terapêutica(1).

A Associação Internacional para o Estudo da Dor (“International Association for the Study of Pain Task Force on Taxonomy”), no ano de 1994, definiu dor como sendo uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada à lesão tissular real ou potencial, ou descrita em termos de tal dano, sendo sempre subjetiva, o que significa que depende da percepção de cada indivíduo frente ao quadro doloroso. Nessa definição encontram-se presentes o componente sensitivo (lesão visceral, somática visceral, somática musculoesquelética e neuropatias), o componente emocional (raiva, tristeza, medo, frustração, ansiedade, depressão) e o componente cognitivo e avaliativo(2).

Classifica-se a dor como nociceptiva: somática, visceral; neuropática: nervos periféricos, Sistema Nervoso Central, raiz nervosa; e psicossomática. Especificamente no trabalho de parto a dor visceral é causada por estímulos ao nível periférico sensitivo. Portanto, a dor local resulta de dores viscerais causados por estiramentos excessivos, lacerações e isquemia do músculo uterino, em virtude do alongamento e micro lacerações do colo do útero; estiramento do segmento inferior do útero; estiramento dos ligamentos e dos órgãos tubo-ováricos; compressão dos nervos do plexo lombo-sacral; compressão das articulações da pélvis; e isquemia do músculo uterino devido à acidose metabólica, hiperatividade uterina ou espasmo uterino. Já no período expulsivo tem-se a dor somática de transmissão rápida, localizada pontualmente, não referida, com distensão perineal e acompanhada do desejo de dar à luz(3).

Além das dores visceral e somática é oportuno lembrar que a hospitalização do parto submeteu em um passado não muito distante as parturientes a diversas intervenções e rotinas como, por exemplo, a administração de ocitocina endovenosa para indução e controle das contrações uterinas e a episiotomia, consideradas hoje desnecessárias, por contribuírem para aumentar a dor e o desconforto das mulheres em trabalho de parto, além de proporcionarem condições favoráveis ao surgimento de complicações como as distócias funcionais e feto-anexiais(4).

Diante do reconhecimento da dor como quinto sinal a ser considerado na prática assistencial e da proposta de humanização no trabalho de parto, a qual defende o oferecimento de um ambiente mais agradável e acolhedor privilegiando o conforto e a maior participação da mulher, surgiu o interesse em recorrer à pesquisa científica no intuito de evidenciar os recursos terapêuticos empregados para a amenização da dor no decorrer do trabalho de parto, decorrente das contrações que ocasionam a dilatação do colo uterino e forçam a saída do feto pelo canal vaginal.

Intenciona-se buscar resposta ao seguinte questionamento: Quais estratégias não farmacológicas vêm sendo recomendadas aos especialistas em Enfermagem Obstétrica para o alívio da dor na fase ativa do trabalho de parto humanizado?

 

METODOLOGIA

De acordo com os seus objetivos, o presente estudo classifica-se como uma pesquisa bibliográfica, de caráter descritivo, realizada por meio de buscas informatizadas de artigos científicos indexados na base de dados LILACS (Literatura Latinoamericano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde) e SCIELO (Scientific Electronic Library Online), utilizando os seguintes descritores: dor do parto, humanização de assistência ao parto, estratégias não farmacológicas, enfermagem.

Visando refinar as buscas foram adotados os seguintes critérios de inclusão: estudos publicados entre os anos de 2006 a 2016, disponíveis em língua portuguesa e contendo evidências sobre a atuação do especialista em Enfermagem Obstétrica na utilização de estratégias não farmacológicas na amenização da dor no trabalho de parto humanizado.

 

REVISÃO DE LITERATURA

O não controle da dor no processo de parturição pode causar uma série de alterações na fisiologia materna, as quais associadas àquelas que a própria gestação gera, podem resultar em efeitos colaterais indesejáveis no feto e na mãe, entre os quais se destacam a hiperventilação, o aumento do consumo de oxigênio, o aumento das concentrações plasmáticas de betaendorfinas e catecolaminas que diminuem o fluxo sanguíneo placentário, bem como o aumento de renina (estimulante da produção de angiotensina I e II) e das concentrações de ácidos graxos livres, entre outras alterações. Logo, a amenização do desconforto da parturiente torna-se de extrema importância para a parturiente(5).

Embora fisiológico, para algumas mulheres o trabalho de parto é percebido como algo doloroso, extremamente assustador, chegando algumas a percebê-lo como um enfrentamento da morte, configurando-se assim como a pior experiência de suas vidas, uma vez que as contrações uterinas correspondem a um processo complexo por compreender interações de mecanismos centrais, periféricos e intercâmbio contínuo de informações por vias ascendentes e descendentes de nociceptores(6).

Por essa razão, propõe-se o parto humanizado que se traduz em um conjunto de condutas e procedimentos que tem por finalidade a promoção do parto e nascimento saudáveis e a prevenção da morbidade e mortalidade materna e perinatal. Como profissional responsável por sua condução, o especialista em enfermagem obstétrica respeita os aspectos fisiológicos, para que não intervenha desnecessariamente, reconhecendo os aspectos sociais e culturais nessa vivência, e oferecendo suporte emocional à mulher e sua família(7).

A proposta de humanização do parto normal tornou as estratégias não farmacológicas prioridades para os enfermeiros na abordagem das parturientes, objetivando assim aliviar a dor no trabalho de parto e proporcionar conforto físico e apoio emocional. Por essa razão, foi possível constatar na literatura um grande interesse dos estudiosos da área de Enfermagem sobre a aplicação e os efeitos terapêuticos de tais técnicas tecnologias leves, de acolhimento, que podem ser aplicadas de forma combinada ou isolada e serão apresentadas a seguir.

Banho com Água Morna

O banho de chuveiro e de imersão representam estratégias que exercem uma influência positiva sobre a dor no trabalho de parto e parto(7,8).

Estudo conduzido com o objetivo foi avaliar a efetividade do banho de chuveiro para o alívio da dor de parturientes na fase ativa do trabalho de parto, compreendendo na amostra 100 parturientes, demonstrou alívio significativo da dor durante a aplicação do banho de chuveiro, sendo efetivo na amenização da dor das parturientes do estudo em trabalho de parto na sua fase ativa. Na pesquisa a parturiente era orientada e convidada ao banho, permanecendo debaixo do chuveiro com água em temperatura ambiente nos momentos de contrações uterinas. Quando a parturiente solicitava o término do banho, a mesma era envolvida em uma toalha ou tecido. Após esse momento vestia a camisola e voltava ao seu ambiente de pré-parto. Aplicava-se a técnica nos oito e nove centímetros de dilatação do colo uterino na fase ativa do trabalho de parto. A duração da técnica ficava a critério da parturiente, a qual permanecia debaixo do chuveiro quanto tempo assim o considerasse agradável(7).

Em relação ao banho de imersão, em um ensaio clínico experimental, controlado, randomizado, realizado com 108 mulheres em trabalho de parto no Centro de Parto Normal do Amparo Maternal, os autores avaliaram a eficácia terapêutica desse método sobre a dor no primeiro estágio do trabalho de parto, bem como analisar sua influência na duração do primeiro estágio, frequência e duração das contrações no decorrer do trabalho de parto. As evidências obtidas apontaram que o banho de imersão não influenciou na duração do trabalho de parto que foi similar entre os grupos analisados. Sobre a magnitude da dor, na terceira avaliação, o grupo experimental apresentou médias significativamente inferiores que o grupo controle, tanto na escala numérica quanto no índice comportamental. Não houve diferença estatística na frequência, contudo, a duração das contrações foi estatisticamente menor no grupo experimental, concluindo os autores que o banho de imersão constitui uma alternativa para o conforto da parturiente, aliviando a dor sem comprometer a progressão do trabalho de parto(8).

As evidências resultantes dos estudos citados confirmaram que a água aquecida desencadeia a vasodilatação periférica e redistribuição do fluxo sanguíneo, gerando relaxamento muscular.  O mecanismo de alívio da dor por este método é a redução da liberação de catecolaminas e elevação das endorfinas, amenizando a ansiedade e promovendo a satisfação da parturiente(7,8).

 

Presença do Acompanhante

A participação do acompanhante representa uma tecnologia leve de acolhimento citada por vários estudos, cujas evidências mostraram que a presença do acompanhante no processo de parturição e puerpério proporciona vários benefícios, como, por exemplo, minimização do sentimento de solidão e da dor, conforto e encorajamento às mulheres, que passam a se apresentarem mais tranquilas e seguras, reduzindo a incidência de complicações, o uso de analgesia e ocitocina e diminuindo, consequentemente, o tempo de trabalho de parto, depressão do recém-nascido no quinto minuto de vida e o número elevado de cesáreas. No pós-parto contribui para a redução do risco de depressão, além de favorecer auxílio nas tarefas básicas com o bebê, no período de reabilitação da mãe(9,10,11).

Para a parturiente o acompanhante significa alguém bastante íntimo que se preocupa com os seus sentimentos diante da dor e do sofrimento do trabalho de parto e a acolhe por meio de palavras tranquilizantes e encorajadoras, e a conforta fisicamente através do toque, do carinho, da massagem, o que não é possível pelos profissionais da equipe de saúde em virtude da dinâmica de trabalho e a preocupação em garantir um desfecho favorável do processo de parturição(10,11).

Assim, nos momentos mais difíceis, o acompanhante é capaz de transmitir conforto, encorajamento, escuta e segurança. A sua presença permite ainda a redução da necessidade de medicação para o alívio da dor, da realização do parto operatório e redução na duração do trabalho de parto e parto, bem como a diminuição dos casos de depressão pós-parto. Trata-se de uma prática útil que deve ser estimulada(12).

Na literatura as ações desempenhadas pelos acompanhantes são descritas como tão importantes durante o trabalho de parto e o parto quanto os cuidados obstétricos oferecidos pelos profissionais da equipe de saúde. Evidências recentes confirmam que medidas de conforto físico e emocional auxiliam no desencadeamento do parto, diminuindo-lhe a duração e a necessidade de intervenções(9-11).

 

Técnicas de Respiração e Relaxamento Muscular

As técnicas de respiração e o relaxamento muscular no trabalho de parto também são mencionados em diversos estudos, cujos resultados elucidam que estas intervenções possuem como objetivo amenizar a sensação dolorosa, melhorar os níveis de saturação sanguínea materna de oxigênio, favorecer relaxamento e reduzir a ansiedade(6,7,9,13).

Os achados na literatura revelam que o efeito desta estratégia respiratória no alívio da dor durante o trabalho de parto no momento das contrações uterinas, adotando o padrão respiratório diafragmático executado de modo lento e profundo, diminui a intensidade dolorosa e eleva a saturação de oxigênio durante e no intervalo das contrações(9,14).

Já os exercícios de relaxamento são executados com a finalidade de ajudar a parturiente a reconhecer partes do seu corpo, no intuito de mostrar as diferenças entre relaxamento e contração, em razão de melhorar o tônus muscular e, dessa maneira, facilitar a evolução do trabalho de parto. Os estudos que investigaram os efeitos terapêuticos dessa estratégia não farmacológica confirmaram o potencial em reduzir a dor e amenizar a ansiedade entre as parturientes(10,14,15).

 

Massagem de Conforto

Convém ressaltar que entre as estratégias não farmacológicas, os estudos apontam a massagem de conforto como um método de estimulação sensorial realizado por meio do toque sistêmico e da manipulação dos tecidos, com a finalidade de promover alívio de dor, relaxamento, maior contato físico com a parturiente e amenização do estresse emocional, por ter o potencial de melhorar o fluxo sanguíneo e a oxigenação dos tecidos(7,9,13,15).

Os estudiosos que avaliaram os efeitos terapêuticos dessa estratégia não farmacológica constataram que durante as contrações uterinas nas três fases da dilatação cervical (primeira - três a quatro centímetros; segunda - cinco a sete centímetros; e terceira - oito a dez centímetros), a massagem proporcionou redução efetiva da intensidade da dor nas duas primeiras fases da dilatação avaliadas(6,15).

As técnicas propostas podem ser de deslizamento superficial e profundo, amassamento, pinçamento, fricção ou pressão em pequenos círculos, desde que executada de forma direcional razoavelmente firme e rítmica. Pode ser aplicada no abdome, cabeça, sacro, ombros, pés, membros e dorso, ou seja, nos locais onde a parturiente mencionar desconforto. Os autores elucidam que na maioria dos casos aplica-se a massagem na região lombar nos momentos de contrações uterinas e em outras áreas como panturrilhas e trapézios nos intervalos entre as contrações, por serem regiões que possuem grande tensão muscular no trabalho de parto(9).

A massagem aumenta os níveis sanguíneos de ocitocina e diminui os de hormônios adrenocorticotrófico e beta-endorfina. Uma revisão da Cochrane evidenciou que as mulheres nas quais foram realizadas massagens mencionaram menos dor e ansiedade durante o parto quando comparadas com mulheres que receberam cuidados habituais. Os autores concluíram que a massagem pode ter um papel relevante na amenização da dor, melhorando a experiência das parturientes(16).

 

Bola Suíça

A bola Suíça constitui outra intervenção usada com a finalidade de facilitar a adoção de postura vertical pela parturiente de forma confortável. Para alguns, corresponde a um instrumento lúdico que proporciona distração à parturiente, tornando o trabalho de parto mais tranquilo. Para outros, representa um sistema de apoio e suporte para outras técnicas como, por exemplo, a massagem e o banho de chuveiro, como também para a realização de alongamentos e exercícios ativos de circundução, anteversão e retroversão pélvica, dentre outros. Entretanto, deve sempre ser realizada sob a supervisão de um profissional qualificado(4,6,9,17).

A bola suíça estimula a posição vertical, permite liberdade na adoção de diferentes posições, permite o exercício do balanço pélvico por sua característica de objeto lúdico que traz benefícios psicológicos, além de ter baixo custo financeiro. Os autores ressaltam ainda que entre os principais benefícios estão a correção da postura, o relaxamento e alongamento e o fortalecimento da musculatura. A movimentação suave da pelve proporciona o relaxamento da musculatura, que associada à ampliação da pelve facilita a descida da apresentação fetal no canal de parto(17).

 

Liberdade de Posições e Movimentação

O estímulo às posições não supinas e à liberdade de posição e movimento durante o trabalho do parto são intervenções comprovadamente úteis e que devem ser promovidas pelos enfermeiros obstetras. A Organização Mundial da Saúde recomenda que tanto no primeiro quanto no segundo período do parto as mulheres adotem a posição de sua preferência, desde que evitem longos períodos em decúbito dorsal. Os profissionais devem estimular a posição verticalizada que causa menos desconforto e dificuldade de puxos, menos dor durante o trabalho de parto e menos traumatismo vaginal ou perineal no expulsivo(16).

Uma revisão sistemática da Biblioteca Cochrane compreendendo na amostra 5.218 parturientes resumiu os achados de 25 estudos sobre posições maternas e deambulação durante o primeiro período do parto. Os resultados confirmaram evidências relevâncias de que a deambulação e as posições verticais na fase de dilatação reduzem a duração do trabalho de parto, o risco de cesariana, a necessidade de analgesia epidural, e isso parece não estar associado ao aumento dos efeitos negativos sobre mães e bebês. É recomendado que, se possível, as mulheres sejam encorajadas e apoiadas para deambular e usar as posições verticais de sua escolha, pois isso pode melhorar o progresso do trabalho de parto e levar a melhores resultados materno-fetais(18).

Estudos conduzidos nos últimos anos vêm apontando a mudança de postura materna durante o trabalho de parto como uma intervenção com eficácia comprovada para aumentar a velocidade da dilatação cervical, promover o alívio da dor durante as contrações e facilitar a descida fetal. As parturientes são motivadas a adotarem posturas alternadas, variando de sentada no leito, cadeira, banqueta, decúbito lateral, ajoelhada, agachada, quatro apoios, em pé com inclinação de tronco, dentre outras, em conformidade com as habilidades motoras de cada mulher(4,6,9,15).

Recomenda-se a alternância contínua de posturas, sendo estimuladas durante o trabalho de parto as verticais (posições com o tronco a favor da linha da gravidade), mas sob a supervisão do enfermeiro, para melhor adequação postural(9).

 

Eletroestimulação Nervosa Transcutânea

Por sua vez, a eletroestimulação nervosa transcutânea é descrita como método coadjuvante de analgesia de parto por desencadear emissão de impulsos ou estímulos elétricos de baixa frequência, assimétricos, de correntes bifásicas por meio de eletrodos superficiais lisos aplicados sobre a região dolorosa, no intuito de amenizar a dor na fase ativa do trabalho de parto, sem efeitos danosos à parturiente ou ao feto. São recomendadas frequências altas (80 a 100 Hz), menor duração de pulso (75 a 100 µs) e intensidade conforme a sensibilidade da parturiente. Os eletrodos de 5,0 x 9,0 cm são fixados nas regiões paravertebrais, altura de T10-L1 e na região lombossacral entre S2 e S4(6,9,14).

Esta intervenção estimula o sistema opioide endógeno que permite a redução do uso de medicamentos analgésicos e anestésicos durante o trabalho de parto. No entanto, os autores demonstraram que o uso dos eletrodos durante o trabalho de parto provoca desconforto e incômodo a algumas parturientes(6).

Na eletroestimulação nervosa transcutânea os eletrodos são fixados nas regiões dos paravertebrais na altura de T10-L1 e S2-S4 com frequência de 80 Hz e largura de pulso 275 µs. A aplicação se inicia quando começa a fase ativa do trabalho de parto, sendo finalizada quando a parturiente atinge dilatação total. Os resultados mostram alívio de dor e satisfação com o uso do recurso(9).

 

Crioterapia

Em relação à crioterapia, estudo mostrou que esta estratégia proporciona o relaxamento geral das parturientes, permitindo a algumas dormirem profundamente em plena fase ativa do trabalho de parto. Não foram evidenciados efeitos indesejados sobre o perfil biofísico do feto, pois todos os recém-nascidos alcançaram APGAR superior a sete no primeiro e quinto minutos de vida. Os autores constataram a eficácia da crioterapia na obtenção de alivio da dor em parturientes. Uma observação importante é que mesmo fazendo uso de solução analgésica as parturientes continuavam a referir dor forte enquanto que a crioterapia proporcionou-lhes alívio ou melhores condições de suportar a dor(19).

Nunes(20) avaliou os efeitos da crioterapia no alívio da dor das parturientes. O autor partiu do princípio que os mecanismos de ação do gelo para alívio da dor propiciam o decréscimo da transmissão das fibras de dor, a diminuição da excitabilidade nas terminações livres, a redução no metabolismo tecidual aumentando o limiar das fibras de dor e a liberação de endorfinas. Baseou-se ainda nos princípios da desmedicalização e do emprego de tecnologias não invasivas de cuidado de enfermagem obstétrica. Assim sendo, o gelo foi aplicado, utilizando-se para tal uma bolsa-cinta ajustável à região tóraco-lombar de 36 gestantes. A bolsa/cinta é descartável, de tecido TNT, com abertura na parte superior para introdução de gelo picado envolto em plástico. As aplicações se deram aos cinco centímetros de dilatação do colo uterino; e/ou aos sete centímetros de dilatação do colo uterino; e/ou aos nove centímetros de dilatação uterina, totalizando ao final das três aplicações um tempo de sessenta minutos, que corresponde ao somatório de 20 minutos para cada uma. Os resultados evidenciaram que a crioterapia produziu extinção ou alívio da dor quando aplicada na região tóraco-lombar das parturientes aos cinco, sete ou nove centímetros de dilatação do colo uterino, dando-lhes maiores condições de vivenciar o seu trabalho de parto; produziu um relaxamento geral e local (na região lombar) das parturientes; não interferiu na dinâmica uterina e, não causou dano ao binômio mãe-filho. O autor concluiu que a crioterapia pode ser considerada uma tecnologia não invasiva de cuidado de enfermagem obstétrica para alivio da dor no trabalho de parto.

Outro estudo investigou o uso da crioterapia no alívio da dor durante a fase ativa do período de dilatação. Este método foi utilizado por meio de compressas de gelo, aplicadas sobre a região lombar, em decúbito lateral esquerdo, por um período de tempo de vinte minutos. A terapêutica não influenciou na qualidade da dinâmica uterina e promoveu alívio da dor, significativamente, para as parturientes, demonstrando que 85,71% referiram a melhora das condições de suportar as contrações, assim como alívio da dor. Dessa forma, o tratamento com a aplicação tópica de gelo tem ação contra irritante e capacidade de promover a liberação de endorfinas(6)

A crioterapia se apresenta como uma alternativa distinta às outras para o alívio da dor no trabalho de parto. Estudos mostram que a maioria das parturientes submetidas a compressas de gelo relata aumento da tolerância à dor, permitindo a observação do baixo uso de soluções analgésicas e anestesia peridural(6,19,20).

 

CONCLUSÃO

O parto é um evento natural que não necessita de controle, mas sim de cuidados específicos. Por essa razão, as estratégias não farmacológicas ajudam a diminuir a dor, evitando intervenções invasivas, além de proporcionar conforto à parturiente em um momento de extremo sofrimento e expectativa pelo nascimento do seu filho.

Neste contexto, o especialista em enfermagem obstétrica viabiliza o abandono das rotinas e intervenções obstétricas consideradas como desnecessárias, tornando assim o parto como um evento fisiológico. Seguindo as diretrizes atuais de humanização, cria um espaço acolhedor tanto para a parturiente quanto para os seus familiares, tendo a sua disposição várias estratégias eficazes para o alívio da dor no trabalho e trabalho e parto. Esta dinâmica de trabalho proporciona conforto físico e também suporte emocional, que se traduz em bem-estar e segurança.

Os achados na literatura mostraram que na atuação do especialista em enfermagem  obstétrica a amenização da dor no processo de parturição é uma prioridade em virtude da política de humanização, sendo realizadas várias intervenções de relaxamento, como a bola obstétrica e a deambulação, as quais favorecem a descida e o encaixe do bebê na pelve; a banheira e o chuveiro que diminuem a dor e promovem o relaxamento; a respiração, que desvia a atenção da dor e visa ao bem estar físico próprio e do feto; e a massagem, que ao ser realizada traz sensação de alívio.

 

 

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