Frente a imensidão do que se tem de falar não é sempre que se consegue a proesa tão emanadora de encontrar as perfeitas e sublimes palavras para descrever ao que foge à propria limitação do termo, plenitude - essa palavra talvez seja impassível de ser compreendida e ter seu significado compartilhado. Perder-se no limiar absoluto onde tudo encontra lá sua derrisão, talvez se aproxime da "essência" radical de todas as coisas, contudo não a toca, não a exprime. Plenitude, vejo-me tão redutivamente anulado pela insuficiência da expressão que me define - aí nesse indizível tudo torna-se defnitivamente nada - a vida esvai-se junto ao paradoxo que sempre permaneceu em seus meandros e seu curso. Quem sabe a vida, na sua essência, se esta houver, não seja algo limítrofe ao paradoxo?
Colher verbos num mar de pseudo-essências fora sempre um empreendimento frustrante para designar o ser a seu próprio termo! Insuficiência, tão modesto quanto heróico, eu me abstenho em tentar inferir qualquer definição ao que seu nome não é capaz de manifestar - incognoscível. Assim me parece a morte e eu não tenho o que dizer a respeito, mas a partir dela posso falar sobre algo não-pleno e muito mais-valoroso: "falarei do que amei"¹. A morte que em sua potência me mostrou importância de quem nela foi absorvido para me oferecer seu valor integral. Escrevo nessa ocasião lado a lado com o filósofo - falarei do que amei. Falarei de meu saudoso pai cujo desaparecimento revalida o mérito verdadeiro do afeto que em vida lhe conferi e logrei demonstrar do modo como pude. Meu pai, cuja carne misturou-se à terra junto à sua alma, solo de minha peculiaridade. Meu pai em cuja vida devotei respeito leal e jamais subserviência, qual nunca me fora requisitada. Seu deixar-de-ser elevou seu fico, um modo meu de conferir enternidade de sua existência em minha própria alma: ele totalizou-se sua história e eu não compreendo tal absoluto. A instância etérea de sua figura está já inscrita na alma: minha escrituração o testemunha - escrevo aqui sobre aquilo que amei, meu Pai.
FELLIPE KNOPP
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1 - Debord, Guy. PANEGÍRICO (p12). Conrad Editora do Brasil, 2002. São Paulo, SP.