Histórias que VoVô contava nem sempre na sala de jantar

Por Alberto Silva | 11/06/2018 | Educação


    Em algum momento da história vai se jogar a toalha e a verdade oculta por trás das bandeiras sujas de mentiras e sangue inocente, principalmente do sangue do trabalhador derramado no suor que lava a cara, vai ter que ser contada sem mensuração ou magia, sem paixão vitimizada por pessoas de má índole que ferem de morte a verdade. Quado se fraciona a cidadania, enfraquece-se uma sociedade, que nos tempos modernos se edifica em cada um de seus indivíduos.
    Vô Inocêncio na sala de jantar, sentado na cadeira de cipó de Vime, apoiado na bengala de mogno, vaticinava sobre suas leituras nas  tardes chuvosas dos três primeiros meses do ano. Erámos três netos. Foi ele que nos ensinou contar histórias, despertou-nos para a história da velha  Grécia e da Roma antiga. Nos ensinou que o mundo não é mundo sem uma bela história, mesmo que triste. 
    Acredito na teoria da teia, e na dependências dos sistemas de construção em qualquer organismo, principalmente no organismo social. São os corte e recortes que importam, pois esse mosaico se forma  sempre no bolsão de miséria não importa o século, e ou os elementos estruturais deste ou daquele organismo. Cada vez que uma parte comete o desparate de seccionar a outra, logo uma terceira formação se organiza para compensar a perda, mesmo que o arranjo seja fisiológico no corpo social. A visão de estado do meu avô, era cirúrgico, embora democrático.  Sempre a parte mais fraca será afetada na mudança e na reorganização social, a teia é curativa não é justa. Ao perceber a perda a teia se forma a partir do organismo mais fraco para reabilitar o mais forte dos tecidos sociais.
    Foi neste estágio de nostálgico de uma tarde deste abril chuvoso onde  o balunçar dos rios na cheia cruel que se forma veio memória as histórias de fim de tarde que embalaram minha infância e minha juventude. Era tem po que tinha E.C.A. Estatuto da Criança e do Adolescente, época em que a hierarquia familiar era uma realidade.Tempo em que um idoso era respeitado como avô, e uma ordem dada não era questionada, pois todos cuidavam das crianças. Tempos que as palmadas não traumatizavam, corrijiam e respeito pelo outro não era babaquice.
    Foi numa desta tarde de estórias contadas e debatidas que  vi meu avô falar pela ultima vez de como nasceu o Amazonas das estradas de águas e de negros livres e de uma tal de escravidão. Dizia vô Inocêncio, falar de escravidão, é falar de tutelamento de gente, do ente humano, e deve-se buscar a verdade, que não raro nos chega no vagar do pensamento d’outrém, que dependendo de seu tempo mistifica ou filosofa em profundidade incompreensível. 
    A escravidão não foi só Negra se seguirmos a etmologia da palavra escravo; vide que nos diz M.M Santiago Almeida no seu minidicionário da língua   Portuguesa HEDRA ed 2011 SP: es.cra.vo adj. 1 . Que não tem liberdade, ou está sujeito a um senhor, como propriedade dele. 2 . POR EXT . Que está submetido a alguém ou a alguma coisa; s.m. 3 .Pessoa que está sujeita a um senhor, como propriedadedele. 4 . FIG . Criado, servo, serviçal. 5 . FIG . Pessoa que trabalha excessivamente, ou vive exclusivamente para o trabalho. Definido o termo escravo, vamos entender tutelado. 
    Socorrido novamente por SANTIAGO ALMEIDA,  tutelado é aquele que está sob tutela, segundo ele; tu.te.la h é i s.f. Encargo de cuidar de um menor ou de uma pessoa impedida ou incapaz de exercer seus direitos civis, através de uma decisão judiciária. Esclarecido estes ponto seguimos no nosso objetivo de entender o motivo pelo qual se fragmentou a cidadania neste ultimos anos e as feridas sociais causadas impunemente  por imposição de um ou outro dono da verdade, controlador de mídias.
    O pertencimento retirado, o entendimento prejudicado por ideias  pífias controladoras, usou-se a mídia atual para exercer o domínio remoto, o cabestro virtual a perversidade pautada na imoralidade de atos esboçada em leis promíscuas, e decisões judiciais prostituídas carente de cidadania e de apreciação do Direito como balanceador da sociedade. A dama cega não percebe o justo da decisão pois sente o prazer que o cobre pode proporcionar-lhe nas horas vagas, que não são solitárias.
    Foi falado da escravidão da fé, da cegueira da alma e do alejão do espírito que meu vô se socorreu de LIENHARD e discorreu:
Em 1524-1525 aconteceu a rebelião dos camponeses e trabalhadores, a qual ameaçava as estruturas da sociedade na Alemanha,posto que exigia liberdade,invocando o Evangelho. Sobretudo, tendo  por base as proposições do manifesto À Nobreza Cristã da Nação Alemã, acerca da Melhoria do Estamento Cristão, escrito em 1520, Lutero, teceu crítica severa ao luxo da rica nobreza e do clero corrompido. “Concretamente, isso significava para os camponeses despojar o clero de suas riquezase, por conseguinte, secularizar os territórios e as propriedades eclesiásticas, ainda que pela força” (LIENHARD, 1998, p.116).
    
    A teia armada pela tecetura da armadeira liga-se na precisão da natureza que se reedifica e se aperfeiçoa. O entendimento das partes estão no tempo e espaço. Esboçar a história é infinitamente complexo, mas mediá-la com isenção é um desafio  que vale à pena tentar, mas não sem tentar reconstruir os domínios adversos e os diversos nós de amarração exposto no que se entende por cidadania.  A trilhar por esse viés devemos ir ao início, quando o dominador chegou ao Brasil nos idos de 1500, no dia 22 de Abril. Lá estava a igreja e o poder da Santa Cruz, trazendo ao natural o seu peso explorador e sua força escravizadora. 
    Não esquecer, que as tribos mais fortes escravizavam e comiam seus adversários. Quem é santo nesta viagem? O conquistador impiedoso, civilizador, catequizador? O natural dito gentil que resistiu a otorga de um rei que não era o seu? Um ei que sugava-lhes a alma impiedosamente gentil. Logo escravizar é um ato humano antes de ser Branco,Negro e ou Índio, a barbarie está nas nossas necessidades, condená-la é retrato da nossa mediocridade e hipocrisia.
    Dizia sêo Inocêncio, é a força da Igreja, no braço servil e escravizador do soldado de Cristo que pela palavra e pelo conhecimento, tornara o índio escravo de si.  A força do domínio a serviço d’el Rey de España para levar o nome do Cristo aos gentis passava pelo rompimento com velhas tradições; para tanto foi necessário o aldeiamento, e o hábito cinza disfarsado na proteção de uma inquisição reformulada e traiçoeira presa pelos dominicanos aos hábitos perversos trazidos de Roma,  o escravagismo velado, o enriqueciemento da Santa Madre Igreja no escanercer do fim da indulgência combatida por Lutero, que só queria uma Igreja sincera. 
    A impiedosa inquisição dominicana. A máscara do poder de muitas famílias pelos séculos dos séculos. O feito real do ser humano desde a pré-história quando, o homem fica de pé e descobre o fogo e com ele o poder de mando, a transformação dos metais a força das armas, que ergueram os Impérios e as formas de relacionamento dos que mandam e dos que obedecem. 
    A força dá poder, a riqueza dá o poder, mas a pior força de dominação é aquela, que vem do terror imposto pelo fragelo moral do semelhante. O desterro da falta de ética e de estética nos caráteres dos pretensos mandante para o constragimento do mandado e sua subserviência.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       Quem vence o combate pela liderança no mundo animal, submete a seu domínio o vencido. Essa prática construiu Impérios, ergueu muralhas visíveis e invisíveis através dos século, sempre marcando na carne o que foi submetido, mas nada comparado ao que fica no espírito. Quem vence o combate pela liderança no mundo animal, submete a seu domínio o vencido. Essa prática construiu Impérios, ergueu muralhas visíveis e invisíveis através dos século, sempre marcando na carne o que foi submetido, mas nada comparado ao que fica no espírito. que se vangloriam nos percauços O  usurpar da liberdade, desde que o mundo é mundo, aflora no homem a saga do poder corrumpido e imposto de preferência pela força da negligência.
    Contava meu avô, que o Rei português marcou o índio, com o tutelamento miserável que transpôs os séculos, ficou aos cuidados dos Jesuítasa, feriu a alma do natural. Que chegou a hipocrisia socialista de proteção e do chancelamento, enquanto só cupinchas fazem a moto serra gritar em clareiras sujas de sangue e mentiras. Violentou o negro arrastado desde os confins do continente africano, impossibilitando perceber onde começa o servidão e, ou inicia o tutelamento, que vai terminar com exterminação de algumas tribos de antropofagos e outras não tão submissas, quanto as que se curvaram aos jesuítas e suas santas missões. Caro preços das missangras e dos espelhos  prendedores de almas pagãs.
    Era essa correlação com os dias  presentes que, os meus ouvidos inocentes se apegaram à história de mundos, contando o tempo, refletindo os mementos. Foram 234 anos de imposição eurocentrica a terrorizaqção dos novos cristãos pela inquisição dominicana e com doutrinação católica apostólica romana, jesuítica no Ratio Studiorium, mas a laicidade pombalina trouxe o quê?. Quem era escravo, quem era o Senhor? Não esquecer a pobreza cultural imposta pela metropole portuguesa, bem com a incompetência administrativa de D.joão VI, o comedor de frango, que tinha por esposa Carlota Joaquina a devoradora de escravos, e o país ficou mais analfabeto, mais católico, mais dominado, e muito mais pervertido.
    O domínio do ritual da igreja  Católica era escravizador, pois o controle do que saber, do que fazer, do como fazer está sempre entre o mando e na fé está a ignorância. O pecado edificado no tudo proíbido, no nada pode e no tudo faz se Deus permitir, sob a mão cruel dos dominicanos, o problema é que Deus te deu livre arbítrio. Nada pode mais que o poder da escolha, pois é ela que te traz a consequência, os cristãos novos e a crueldade luso espanhola, no meio da história dizia meu avô, leia e  vide o que nos diz este autor:

Considerados como uma nação, de certo modo, à parte, os hebreus portugueses eram regidos por um direito público e, em muitos casos, por um direito civil especiais, ao começar o último quartel do século XV. A jurisprudência então em vigor que particularmente lhes era aplicável achava-se compilada no nosso primeiro código regular de leis pátrias, a Ordenação Afonsina. Viviam os judeus dentro das povoações em bairros apartados, conhecidos pelo nome de judarias ou judearias, constituindo aí uma espécie de concelhos, chamados, em tempos mais remotos, comunidades e, depois, comunas. Por analogia com o sistema de governo respectivo às populações cristãs, as comunas regiam-se por vereadores e por arrabis, juízes municipais privativos, e por outros oficiais judeus. Acima destas magistraturas locais havia o arrabi-mor, alto funcionário da coroa e magistrado imediato ao rei, por cuja intervenção subiam até este os negócios da gente hebréia e que nomeava tantos ouvidores quantas eram as comarcas do reino, os quais julgavam em segunda instância as causas começadas perante osmagistrados comunais. O arrabi mor, tendo por assessor um letrado judeu, que era seu ouvidor especial, exercia superintendência, não só sobre a administração da justiça, mas também sobre a administração e fazenda das comunas.

    Na religião, o domínio da promiscuidade limitadora, o ensinamento para melhor dominar a mulher e o pobre o espírito, a rima e o sentimento, o credo e acima de tudo o lucro. Levou ao de encontro a uma reformulação da igreja, e de seus conceitos maiores na reforma provocada por Martinho Lutero lá em 1449 e sua visão que, libertou o crente da escuridão da ignorância e ofertou a luz do saber, o homem viu Deus com os olhos da alma. Pode ir para além de seus limites…Esse  foi um dos maiores exemplo do mito da caverna de Platão. O tempo vai mostrar que não evoluiu muito, pois hoje  todos estão cegos pela ignorância esclarecida do poder, da ambição e do egoísmo.
    Livrou-se o homem da escravidão da fé de uma igreja rica e castradoura, aprendeu falar direto com o criador, descobriu que a indulgência era extorsão, encaminhou-se para prosperidade da Burguesia dividindo os bens e o fruto do trabalho de forma injusta, mas dividindo a produção libertou o comercio, nascendo a idade moderna, novos tempo; a escravidão mudou de forma, tornou-se salário. O servo no Velho mundo veio como senhor ao novo mundo. A igreja nascida na  ambição do Ambicioso Imperador Clemente, que tinha no Cristo a salvação do Imperio Romano, fracassou novamente.
     A luz dos seguidores de Martinho Lutero  ruiram os luxos das igrejas e a voz do desespero atiçou os dominicanos e a Santa Inquisição. O poder pelo poder. A força do clero pela inquisição e dos nobres pelas proximidades ao Rei. A Sua Majestade Manuel I ( Nascido em Alcochete 31 de Maio de 1469 – Morre em 13 de dezembro de 1521 - Lisboa), apelidado de "o Afortunado" e "o Bem-Aventurado", foi o Rei de Portugal e Algarves de 1495 até à sua morte. Era o filho mais novo do infante Fernando, Duque de Viseu neto do Rei Duarte I , e sua esposa a infanta Beatriz de Portugal, neta do rei João I. Manuel ascendeu ao trono após a morte de seu primo o rei João II, que não tinha herdeiros legítimos e o nomeou como seu sucessor. 
    Após discorrer sobre a obra de Lutero e suas consequências no velho mundo, com as mãos sobre postas no punho da bengala fez as seguintes considerações:- Na realidade, foi o único a subir ao trono sem ser parente em primeiro grau ou descendente do antecessor. Para a sua coroação beneficiou da morte de todos os seis pretendentes que sobre ele teriam prioridade, inclusive do filho do Rei de Portugal. 
    Afirmou vou inocêncio naquela tarde de chuvas torrencial: Vocês verão professores afirmarem que ele, o Afortunado, prosseguiu as navegações exploradoras iniciadas pelos seus antecessores, o que levou à descoberta do caminho marítimo para as Indias, do Brasil e das ambicionadas, ilhas das especiarias, especiarias levadas para europa pelo Italiano Marco Polo, as Molucas, determinantes para a expansão do Império português. 
-Ele fez leis para isso não Vovô? Questionou meu primo Fausto. Ao que ele respondeu:- Foi o primeiro rei a assumir o título de Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia. Em 1521, promulgou uma revisão da legislação conhecida como Ordenações Manuelinas, que divulgou com ajuda da Imprensa recém criada por Gutenberg, em alguns lugares está máquina de imprimir pensamentos em grande escala será inimiga da Igreja. No seu reinado, instalou-se a inquisição nas terras portuguesas. A perseguição imposta pelo tratado de casamento com o Reino de Espanha. 
-Por que casamento com Reino de Espanha. Questionou Vera Lúcia, que ouvia dissimuladamente brincando com uma bruxa de palha que leva de um lado para outro.
    Vovô sorriu, virou-se para onde estava brincando a prima Vera, e respondeu:- Dizia-se que os reinos casavam-se, pois quando um principe e uma princesa da linha direta de sucessão casavam-se, pois ambos iriam governar juntos, logo era um casamento arranjado como negócio de estado. Entendeu?
-Sim, entendi. Deveria ser muito ruim,pois quando se gostam as pessoas se matam quando casam.
-Verdade minnha neta, mas vamos voltar para Portugal? Posso continuar?A promover essa indústria, facultou por Alvará de 29 de março de 1549 D. João III, o resgate à custa dos colonos senhores de engenhos e a introdução de escravos africanos de Guiné e Ilha de São Tomé, em número de 120 a cada senhor de engenho montado em estado de funcionar, mão de obra gratuíta, pois não passavam de peças de força e tração, mediante o favor da redução dos direitos. Também concedeu por mercês especiais a diversos o resgatarem à sua custa determinado número de escravos, Essa caça tentou escravizar o índio que resistiu, e o negro tornou-se o principal na engrenagem dessa máquina de enrequecimento colonial, não precisaram pagar direito algum.
                                                                                                                        
“De 1575 a 1591 só de Angola tinham saído mais de cinquenta mil (negros) para o reino, para o Brasil e para as índias castelanas; e na primeira metade do século XVII a exportação anual atingia quase mil peças da Índia, dando ao Tesouro a receita de duzentos e cinquenta contos, com que se cobriam os gastos da feitoria e transporte para Pernambuco”. ( Oliveira Martius, 1887, págs. 54 e 55)

    Construir essa colônia passa por admitir, que estrangeiros vieram de além mar e aqui impuseram pela força da fé e do poder das armas suas vontades, e enriqueceram extorquindo dilapidando, matando os naturais e outros que, contra suas vontades vieram para cá no ínicio da colonização.  Os portugueses, que já se beneficiavam do conhecimento da rota das Índias a leste, se seguiram aos espanhóis no intuito de também se beneficiarem de tão rendosa descoberta e chegaram ao Brasil com Cabral em 1500. 
    Não lograram encontrar metais preciosos, como alimentavam em seus sonhos, mas tão somente uma  exuberante terra, e assim, novamente voltaram sua atenção à Índia e à rentável comercialização de seus artigos e especiarias. A cerca de trinta anos depois, ao verem as novas terras ameaçadas pelas invasões cada vez mais frequentes de ingleses e franceses na costa brasileira é que, os portugueses, finalmente decidiram tomar posse efetivamente da terra.
     
    Onerosa para uma nação tão pequena e com recursos escassos para tal empreitada Portugal vai buscar solução para manter seus domínios será na otorga das Capitanias Hereditárias. 
- O quê eram as Capitanias Hereditárias Vovô? 
-Fica calmo menino, logo, logo chegaremos lá. Antes é preciso entender como se deu. Foi assim que se implantou o modelo de ocupação que os portugueses já haviam experimentado com êxito na Ilha da Madeira, a produção de açúcar, que devido ao seu alto valor, geraria recursos para a manutenção da posse da Colônia. 
    Esse modelo estava baseado em largas extensões de terra, mão de obra escrava e uso extensivo dos recursos naturais existentes, como madeira e água, imprescindíveis para a produção de açúcar com a tecnologia disponível na época.      Oficialmente, foi Martim Affonso de Souza que em 1532 trouxe a primeira muda de cana ao Brasil e iniciou seu cultivo na Capitania de São Vicente. Lá ele próprio construiu o primeiro engenho de açúcar, denominado de Governador, depois São Jorge dos Erasmos. 
    Foi efetivamente no Nordeste do Brasil, principalmente nas Capitanias de Pernambuco e da Bahia que os engenhos de açúcar se multiplicaram.  Era o início da monocultura, e essa indústria que encontrou no Brasil de forma experimental, mais tarde se tornaria produtoras de ponta, o campo mais fértil para uma rápida expansão e perpetuação por quase quinhentos anos sem interrupção da produção do açúcar.

No primeiro momento de bem simples solução deve parecer o problema das procedências africanas dos Negros brasileiros. Nos arquivos do tráfico Negreiro, os registros aduaneiros da mercadoria humana deveriam trazer inscritas as suas procedências da Costa d’África. Mas de bem ilusória aparência é essa facilidade. Sem levar em conta a falta ou total carência de estatística para certas épocas e a sua insuficiência em outras, ainda quando nos manifestos dos navios negreiros houvessem positivas indicações dos portos de embarque na África, naturalmente nesses documentos não se diria das redes da caça humana pela guerra ou pela fraude, nem mesmo dos mercados centrais onde escravos de procedências vizinhas ou remotas eram tidos a resgate. (Perdigão Malheiros 1867).


    A sabor destes esclarecimentos se poderia apurar, nas estatísticas da imigração preta, a nacionalidade dos Negros que entravam no Brasil pelo tráfico. Bem pequeno é assim o subsídio que as estatísticas aduaneiras podem prestar à solução do problema que é conhecer  nossa história os vestígios da escravidão, fazendo consumir pelo fogo documentos em que se continha aquela verdade  histórica a que, a mais de um respeito, nenhum povo se pode furtar, nem é lícito procurar iludir os que vem depois, a história é a garantia de acertos e correções, ajustamentos e estruturações.
-Não entendo a escravidão. Observou Fausto.
-Ora, escravidão é crueldade, é possessão. Não é verdade Vô, gritou Militão.
    Nos seus quase dois metros de altura, Vô Inocêncio levantou-se, apoiou-se na bengala, caminho até a moringa, tomou um gole d’água, abriu aquele sorriso largo e assentiu com a cabeça, tomou outro gole de água, moveu a bengala na direção da cadeira de balanço, sentou-se e foi lá atrás, e afirmou. : - Roma construiu-se em sete século de escravidão. Sempre foi assim o forte escravizando o fraco, o rico escravizando o pobre. Se o fogo a que se mandou entregar o arquivo da escravidão não é capaz de amenizar os efeitos da história impressa, mais impotente há de ser para esgotar o sangue africano que, nas veias do nosso povo, estará a atestar tamanha desobediência legal, na sua emigração da terra natal.
     Ações hão eivado re reações, que se compensam e as lutas da abolição podem bem ter resgatado o crime de ter aceitado e promovido a escravidão, é natural do homem escravizar o homem, afirmou Vô Inocêncio, prosseguiu.
- Pode-se observar que todo socialista fala em direitos sociais, mas não produz nada para sustentar suas bondades apoia-se em leis cruéis para garantir o poder, reduz direitos disfarçando de conquistas, retringe liberdades falanado de igualdades, mas o partido e os que dele se acercam tem regalias, e a morte os acompanha, são assim as comunas. Enquanto dizem que o trabalho remumerado é exploração, e no assistencialismo te tiram a dignidade humana, e o direito de escolha, vide essa mentira histórica. Vamos voltar a Colônia, pediu Militão.
Certamente no decreto 15 que a ordenou não havia de estar essa intenção de uma piedosa, mas ingênua, mentira histórica. Esteve, porém, nos seus efeitos a destruição englobada de todos os documentos relativos à imigração da Raça Negra, que deviam existir nas repartições aduaneiras. Pelo menos na Alfândega deste Estado não existe mais nenhum. Vamos entender o que é emigrante-e.mi.grar v.i. 1 . Sair de seu país para se estabelecerem outro. 2 . Mudar de uma região para outra dentro de um mesmo país. Escravos não emigraram, foram capturados torturados subjulgados e trazidos a ferro nos porões dos navios vindos de África.(LAURA DE MELLO E SOUZA 1988)

    Vô sorriu e retomou ao período colonial. Antes de descutirmos posse e servidão, tutelamento e escravidão é bom saber que, quando Pedro Álvares Cabral e seus homens chegaram à costa da Terra de Vera Cruz, atual Bahia em 1500, não havia, obviamente, nem Brasil nem brasileiros. Dizem alguns que lá não estiveram, mas que como eu contam história, que outros tenham andado por ali antes dos portugueses, mas disso não ficou registro consistente, e foram Pero Vaz de Caminha e Mestre João os autores das primeiras narrativas sobre a nova terra e seu céu: Mestre João tomou posse dele para os portugueses e realizou a primeira descrição europeia exata do Cruzeiro do Sul, a “...mais famosa constelação de todos os novos céus..” como disse a Patricia Seed uma contadaora de história- Essa ideia de  socializar a história contando coisas que não tem fundamento teórico escrito na época envereda no achismo,a história é escrita, a história é registro, e vide estes registros:

[...]A essa destruição de documentos escaparam aqueles manifestos que a imprensa do começo do século XIX registrou. Na Idade de Ouro, primeiro jornal publicado na Bahia, dava- se notícia exata do movimento comercial deste porto; aí figuram o número e nome das embarcações entradas, a sua procedência e carga e nesta se especificava sempre o número dos escravos importados da África, mencionando até o dos que haviam sucumbido na travessia. Embora abranja poucos anos, de 1812 a 1820, a estatística que com  esses dados formulei é instrutiva e concludente. África Setentrional Castelo da Mina, Costa da Mina, Ajudá, Bissau, Oorin, Calabar, Cameron 1812 a 1820. [...]Navios de importação dos Negros super equatoriais para a Bahia era muito superior à dos Negros bantus. Comparados em absoluto, temos para os oito anos considerados 17.691 negros sudaneses para 20.811 bantus. Mas é preciso atender a que, a datar de 1816, o comércio de escravos, até então lícito, sob a pressão dos ingleses, passou a converter-se em tráfico. Pelos tratados de Paris (1817). O que levou os Ingleses a pressionarem o fim do comercio de escravos e a libertação, nada mais que a necessidade de consumidores dos seus produtos. O nome Brasil- Vera Cruz, Terra dos papagaios e Santa Cruz foram usados para batizar a terra descoberta. Brasil triunfou, após muita polêmica, agradando ao mercado.(LAURA DE MELLO E SOUZA 1988 op. cit).

    A ideia geral sobre o espaço físico era então vaga, falha nos detalhes, e os portugueses se empenharam em suplantar essa indefinição por décadas, o que os ocupou bem mais do que o aproveitamento econômico da terra. As expedições de exploração da costa, enviadas desde 1501 e durante os vinte primeiros anos, deram nome a acidentes geográficos e mediram as latitudes de norte a sul, trazendo contribuições decisivas para reforçar a ideia de que se tratava de um continente no nascer do século XVI; E verdadeiramente o Brasil é um país continental. Como conquistá-lo sem verter sangue escravo em uma sociedade embrionária, invadida por costumes diferentes. Onde o ócio digno era desprovido de saberes, mas trazia a fuga da fé e os castigos do Rei para além mar. Vô fez uma pausa, e perguntou: Alguém conhece Castro Alves? 
    Fez-se silêncio, e ele prosseguiu: - Vou a CASTRO ALVES vaticinando nas noites pelas tavernas, e declanou:

[...]Depois, o areal extenso... 
Depois, o oceano de pó. 
Depois no horizonte imenso 
Desertos... desertos só... 
E a fome, o cansaço, a sede... 
Ai! quanto infeliz que cede, 
E cai p'ra não mais s'erguer!... 
Vaga um lugar na cadeia, 
Mas o chacal sobre a areia 
Acha um corpo que roer. 
Ontem a Serra Leoa, 
A guerra, a caça ao leão, 
O sono dormido à toa 
Sob as tendas d'amplidão! 
Hoje... o porão negro, fundo, 
Infecto, apertado, imundo, 
Tendo a peste por jaguar... 
E o sono sempre cortado 
Pelo arranco de um finado, 
E o baque de um corpo ao mar... 
Ontem plena liberdade, 
A vontade por poder... 
Hoje... cúm'lo de maldade, 
Nem são livres p'ra morrer. . 
Prende-os a mesma corrente 
— Férrea, lúgubre serpente — 
Nas roscas da escravidão. 
E assim zombando da morte, 
Dança a lúgubre coorte 
Ao som do açoute... Irrisão!... 
Senhor Deus dos desgraçados! 
Dizei-me vós, Senhor Deus, 
Se eu deliro... ou se é verdade 
Tanto horror perante os céus?!... 
Ó mar, por que não apagas 
Co'a esponja de tuas vagas 
Do teu manto este borrão? 
Astros! noites! Tempestades![…]
(CASTRO ALVES Op. Cit.) 

- Os negros morriam nos porões, mas muito eram mortos, outrs pelo ódio resistiam. Não esqueçam, pelo ódio Ben-Ur resistiu as minas de sal,o remo nas Galés e ao Naufrágio. Pelo ódio muitos negros resistiram e resistiram muito.
- Vô o senhor já falou uma vez, que muitos morriam durante a viagem através do oceano Atlântico, vítimas de doenças, de maus tratos e da fome.Quanto tempo era essa viagem?
    Vô sorriu, passou a mão gigantesca na cabeça de Fausto e seguiu a história: - A mudança dos escravos para o continente americano acontecia em tumbeiros ou navios negreiros e duravam cerca de 30 à 45 dias. Logo após chegarem no Brasil desgastados pela longa viagem e pelas péssimas condições das embarcações, os escravos eram  levados inicialmente para as lavouras canavieiras do nordeste açucareiro, servindo com o mão de obra farta e barata, ou levados  também para váraias  partes do novo mundo, sendo vendidos com lucro para os traficantes de escravos como mercadorias.eswcravo era peça.
    A chuva continuava torrencial, o vento frio cortava a varanda e entra sem ser convidado na sala. Vôvô ajeitou-se na cadeira. Militão colocou-lhe a manta peruana que el tanto gostava sobre seus ombros. E perguntou, vô o senhor quer um café freco?
-Quero meu neto, o café, o fresco você dispensa. Deu aquela gargalhada estrodosa, e continuou a história. - A escravidão na América durou quase quatro séculos. Assim foi na terra da Santa Cruz, de joelhos à Vera Cruz, mas foi o pau de tingir roupas que venceu.

Por curto tempo, ocorreu uma denominação que não vingou, adotada nas cartas de Pero Vaz de Caminha e de Mestre João, ambas de 1o de maio de 1500: Vera Cruz ; usada, é verdade, por alguns italianos nos primeiros anos após as viagens de Cabral e de Américo Vespúcio. Depois, durante os trinta anos seguintes, pelo menos três denominações se sucederam nos mapas e nos escritos sobre o novo achado do rei de Portugal. Ainda entre os italianos, após 1501, quando chegou do Oriente a armada de Cabral, a terra foi referida como Terra dos papagaios, como aparece no globo de Schöner em 1520 e no de Ptolomeu, de 1522. Quando D. Manuel enviou aos sogros, os Reis Católicos, uma carta narrando o achamento, em 1501, foi o nome de Santa Cruz que utilizou e, desde então, outros fizeram o mesmo. Por fim, em 1512, começou a surgir o termo Brasil para designar em âmbito oficial a América portuguesa, tornando-se cada vez mais frequente daí em diante e consagrando-se oficialmente entre 1516, quando D. Manuel investiu Cristóvão Jaques das funções de “governador das partes do Brasil”, e 1530, quando D. João III designou Martim Afonso de Sousa governador da terra: “Martim Afonso de Sousa do meu conselho capitão-mor da armada que envio à terra do Brasil.”..[...]Certa flutuação de nomenclatura, contudo, continuou a existir, seja em escritos, seja em mapas. No mapa do Visconde de Maiolo, de 1527, aparecem as duas designações, combinadas numa fórmula só: “Terra Sante Crusis de lo Brasil e del Portugal. ” O aspecto mais curioso dessa indefinição inicial é a “disputa” que dividiu humanistas e comerciantes, a partir de meados do século XVI, e que teria vida longa. Apesar de intuída pelo historiador português Antônio Baião, essa disputa nunca foi estudada, e o fato de ter-se estendido no tempo atesta sua importância e interesse. Como não podia deixar de ser em uma época em que o plano espiritual e o temporal se apresentavam de forma indistinta, e numa conjuntura histórica marcada pelas reformas e perseguições religiosas, era também religiosa a linguagem e a forma de abordar o assunto.(GHRAM 1988)

    VoVô caminhou até  a janela, ficou sentindo a brisa entrando pela janela do quintal, a chuva  castigava intensa. Vô comentou, deve estar passaado de 20 milimetros de chuva, é nesta hora que, os capins de beira de barranco teem seu valor. É o capiim que segura toda essa água que corre desenfreada.
- O meu avô, Seo Inocêncio ficou cego num acidente de caldeira de navio, quando perdeu a visão ficou entristecido  uns  dois meses,  até que decidiu ter uma outra postura  e lá se vão uns  quinze anos contando história, nos seus metro e noventa centímetros. Era um negro de porte atlético de cinquenta e cinco anos de idade.
    Tomou duas xícaras de café, fechou a janela, sentou-se na preguiçosa, e perguntou : - Ainda estão aí?
-Sim respondeu Vera Lúcia. Tá faltando só o Fausto que foi ao banheiro.
- Tá certo, vamos continuar.
Pigarriou e prosseguiu - Se a cruz erguida naquele lugar durou algum tempo, o demônio logo começou a agir para derrubá-la, negando-se a perder o domínio sobre a nova terra acionou os contrabandistas de toda europa vieram confirmar a riqueza do novo continente, valendo-se do fato que carregamentos cada vez maiores de pau- brasil chegavam a Portugal, trabalhou para que o nome da madeira comercializada dominasse o do lenho no qual morrera Jesus, vulgarizando-o na boca do povo. O pau de tingir panos findou sendo o nome da terra descoberta.
    Condenando o apego excessivo à atividade comercial, João de Barros clamava contra o triunfo de princípios seculares sobre os religiosos, não conseguia ver o ganho da igreja, querendo corrigir tanto o rumo tomado pela expansão portuguesa, quanto a destruição efetuada pelo invasor. As considerações de João de Barros sobre a viagem de Cabral e sobre o Brasil encontram-se na primeira Década, publicada em 1552. O primeiro governo geral.

Dois anos depois, Fernão Lopes de Castanheda sintetizaria a mesma ideia na sua História da Índia, e, em 1556, Damião de Góis também se estenderia sobre a questão na Crônica de D. Manuel, repetindo a superioridade do nome de Santa Cruz sobre o de Brasil. Na mesma época, D. Jerônimo Osorio frisou que Cabral desejou celebrar a Santa Cruz ao nomear a nova terra, que acabou por se chamar Brasil. Todas essas evidências revelam que os humanistas portugueses, preocupados com o problema da expansão, acabavam discorrendo sobre a nomenclatura da terra brasílica, o que parece ter sido decisivo na fixação definitiva deles no território. João de Barros recebeu em 1535 duas capitanias na nova terra: a do Maranhão, em sociedade com Aires da Cunha, e uma para si, a do Rio Grande do Norte.( Apud. LAURA DE MELLO E SOUZA 1988)

    Tudo indica que nunca esteve nelas nem em qualquer outra parte da América, ao contrário de um outro humanista, Pero de Magalhães Gândavo, que teria permanecido cerca de seis anos em Salvador como provedor da Fazenda e que, em 1575. Gândavo propunha que se restituísse à terra o nome antigo.
- Província de Santa Cruz. Aos ouvidos cristãos, concluía, soava melhor o nome de um pau em que se obrou o mistério de nossa redenção que o doutro, que não serve de mais que de tingir panos ou cousas semelhantes. Gândavo foi um propagandista. Lembra que o nome de Santa Cruz, dado inicialmente por Cabral, fazia sentido não apenas em razão da primeira missa ter sido rezada no dia 3 de maio, data da comemoração do Lenho Sagrado, mas porque as terras descobertas por portugueses cabiam à Ordem de Cristo, cujos cavaleiros traziam no peito a cruz por insígnia. Não havia, pois, como negar à colonização o seu caráter sagrado, que deveria se refletir no nome da terra a colonizar.

Houve, porém, homens religiosos que, à época, ficaram fora dessa discussão. Importantes textos jesuíticos da segunda metade do século XVI ignoraram a questão e não hesitaram em abraçar a nomenclatura que se ia consagrando, ou seja, a referida ao pau-de-tinta. Para Manuel da Nóbrega, o Brasil ainda era plural: “A informação que destas partes do Brasil vos posso dar...”, escrevia na Informação das Terras do Brasil, de 1549. José de Anchieta teria atitude semelhante, anos depois. Na Informação do Brasil e de suas capitanias, de 1584, resolve o problema de forma direta e sem delongas: “Os primeiros portugueses que vieram ao Brasil [no singular] foram Pedro Álvares Cabral com alguma gente em uma nau que ia para a Índia Oriental no ano de 1500 [...]. E toda a província ao princípio se chamava Santa Cruz; depois prevaleceu o nome de Brasil por causa do pau que nela há que serve para tintas”. Naquele momento, a guerra dos nomes não era assunto de padres catequistas, para quem as lutas entre Deus e o Diabo tinham um sentido bem mais concreto, encarnando-se no esforço cotidiano – e cada vez mais estéril... – de converter almas para as vinhas do Senhor(LAURA DE MELLO E SOUZA 1988).


- Tudo que foi escrito sob a conquista se perdeu ou foi alterado. Só o que interessava à igreja era liberado, o clero era mor em censura, principalmente se o escrito ferisse seus interesses o lucro e o poder. O padre Fernão Cardim, também adotou sem problemas a designação de Brasil nos seus textos, ignorando a questão da nomenclatura anterior. Falando do clima e terra do Brasil e de algumas cousas notáveis que se acham assim na terra como no mar, tratou-se também do princípio e origem dos índios do Brasil e de seus costumes, adoração e cerimônias devem ter sido escritos por volta de 1585, relatos públicados na Europa e quarenta anos do início da colonização propriamente dita, numa coletânea do inglês Samuel Purchas, denominada Pilgrimages. 

Na Notícia do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa, obra de 1587 e considerada a mais importante do século XVI, a referência à nomenclatura dupla aparece pela primeira vez numa perspectiva distinta, secular e histórica. O relato do descobrimento é factual e objetivo, explicando-se o nome de Santa Cruz, sob o qual a província foi nomeada por “muitos anos”, devido à cruz erguida no local quando da primeira missa rezada a mando de Cabral. Nada se diz de diabos, luta entre o Bem e o Mal, entre o sacrifício de Cristo e o vil comércio. Quase quarenta anos depois, em 1618, o Diálogo das Grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão, apresentaria posição análoga, acrescentando mais um elemento – a identificação da terra com o continente, retomada apenas no século seguinte.  Mas a nomenclatura comercial não suplantaria de imediato a mística. Ambas conviveram por longo tempo, tanto nos despachos dos Conselhos reais quanto nas páginas dos livros que nos letrados da época escreveram sobre a nova terra. E assim se chega à primeira História do Brasil digna do nome, escrita pelo franciscano (frei Vicente do Salvador, em 1627). 

    Percebe-se que, frei Vicente filia-se à tradição fundada por João de Barros, segundo a qual o Diabo conseguira substituir a Santa Cruz pelo pau-de-tinta. Há, porém, duas diferenças substanciais no texto do franciscano: a perda do controle demoníaco sobre os homens não valia para a nova descoberta, onde os habitantes eram ainda gentios e, nessa condição, sujeitos potenciais do Diabo; por isso, a catequese era necessária, transformando gentios em fiéis e fortalecendo a Igreja. 
    Se o tema era repetido, o contexto histórico fazia com que ele mudasse de significado, e entre João de Barros e frei Vicente o processo de colonização lançara raízes. Ganhou sua Majestade e a Santa Madre Igreja. As contabilidades nunca batem os arquivos destruidos sempre serão a lacuna histórica.Os diários de bordo nunca serão encontrados.
    Embora fossem doadas, as capitanias não eram propriedades privadas, eram unidades administrativas da colônia. O que o capitão-donatário recebia e legava a seus herdeiros era uma parte do poder de governo, cedida pela Coroa portuguesa, e o comando militar, o direito de exercer a justiça, de arrecadar taxas e administrar, de modo geral era realizado em nome do rei. 
- Nunca esquecer que, o donatário era um governador, subordinado às normas, à orientação e ao controle da administração portuguesa, que também colocava alguns funcionários seus na capitania e reservava para si algumas taxas, monopólios e a mais alta instância judiciária. 
    Militão perguntou: - Quanto às terras da capitania, o donatário deveria distribuí-las gratuitamente? 
- Sim, eram destribuidas em sesmarias, aos que tivessem condições de cultivá-las, e reservar determinada área para uso seu e dos futuros titulares da donataria. Na realidade, as SESMARIAS eram doadas aos poderosos, que nem sempre as cultivavam, daí o grande número de fracassos.
- Posso continuar contando a história? 
- A metropole exegia que para exercer o poder e cobrar as taxas era preciso dar existência real à capitania, isto é, conquistar e colonizar o território até então ocupado pelos índios. E isto deveria ser realizado pelo donatário, às suas custas, com os recursos materiais e humanos que conseguisse obter. Vasco Fernandes não hesitou, em poucos meses organizou uma expedição à capitania. Vendeu bens, inclusive a quinta em Alenquer, e renunciou à pensão que recebia do governo, em troca dos recursos necessários, incluindo um navio, a caravela Glória, e reuniu cerca de 60 pessoas dispostas a acompanhá-lo, entre as quais dois fidalgos. Um antigo companheiro da Índia, D. Jorge de Menezes, e Simão de Castelo Branco, ambos condenados ao degredo por crimes cometidos  e dois funcionários da Coroa.
    Depois de um longo, suspiro, vô tomou uma copo de água e prosseguiu: - No dia 23 de maio de 1535, a expedição chegou à baía que seria inicialmente conhecida como do Espírito Santo, desembarcando junto a um monte Moreno à esquerda de sua entrada. Os índios não entregavam  fácil sua terra, os portugueses eram recebidos por índios armados, dispostos a defender sua terra, e tiveram de usar os canhões para contê-los. Esse episódio prenuncia as dificuldades que os aguardavam. Os invasores vieram para construir fortificações, casas, capela, instalar um embrião do serviço público e distribuir sesmarias eram tarefas urgentes, enquanto buscavam atrair os índios e conseguir sua colaboração na execução dessas tarefas, na obtenção dos recursos naturais necessários e na extração do pau-brasil, a mercadoria que podia ser obtida mais rapidamente.
-Muitos de nós chegaram nos tumbeiros que vieram da África no primeiro Governo Geral. Era preciso também iniciar o cultivo da terra, plantar cana e construir engenhos, pois o açúcar era o produto agrícola adequado para a exportação. E como branco não trabalhava, via o ócio digno. 
- O pequeno grupo de portugueses foi reforçado com a chegada de um poderoso colaborador, Duarte de Lemos, fidalgo rico, empreendedor e ambicioso que se fixara inicialmente na Vasco Fernandes Coutinho da Bahia e trouxe consigo alguns auxiliares e criados. A ele, Vasco Fernandes doou a vasta ilha de Santo Antonio, hoje, ilha de Vitória. Receberam também o auxílio do donatário da capitania vizinha, pelo lado do sul, Pero de Góis, com quem Vasco fez um acordo sobre os limites entre as respectivas capitanias.
- Os escravos já estavam com o primeiro governador? Perguntou Vera Lúcia.
- Sim, mas o importante foi a ação da Igreja na educação, e para compreensão dos traços da nossa cultura, quando olhamos do ponto de vista eurocentrista, a final o domínio dos padres Jesuítas, em muito enriqueceu a igreja Católica Apostólica Romana: o grande respaldo dado às escolas comandadas por denominações religiosas e a predominância da fé católica em nosso país. 
- Quem mantinha a igreja?
- Além de contar com o apoio financeiro da Igreja de Roma, os jesuítas também utilizavam da mão de obra indígena no desenvolvimento de atividades agrícolas. Isso fez com que a Companhia de Jesus acumulasse um expressivo montante de bens no Brasil. 
- Vamos entender o Tratado de Tordesilhas de 7 de junho de 1494, assinado entre D. João II de Portugal e os reis católicos Fernando e Isabel.
- Eles dividiram o novo mundo. Gritou Fausto.
- Vai mais além, tem um significado muito mais vasto do que a simples delimitação de áreas de influência divididas entre os dois reinos. Estavam envolvidos interesses de particulares, especialmente os dos mercadores andaluzes, habituados ao comércio secreto da Guiné sem pagamento ao erário real castelhano, pelo que de facto não lhes agradou a política dos reis católicos no sentido de afirmarem o seu direito tradicional à conquista das partes de Africa e da Guiné.
-Então o comprar e vender escravos já era lucrativo.Questionou Militão.
- Mas estavam sobretudo em causa os interesses políticos de dois Estados em expansão. Em 1479, o Tratado de Alcáçovas, depois confirmado pelo de Toledo, reconhecera já os direitos portugueses à costa africana e ilhas atlânticas, deixando de fora as Canárias, de resto também objecto de rivalidades antigas. Mas a viagem de Cristóvão Colombo. começada em Palas a 3 de Agosto de 1492, colocou em evidência o Atlântico Ocidental e a questão de saber se o Tratado de 1479 abrangia a área.
- Mas ainda não havia sido criada a Companhia de Jesus do Ignácio de Loyola!?
- É verdade, isso acontecerá mais tarde, bem mais tarde. Afirmou Vera Lúcia, e pediu: - Deixa o Vô continuar.
- Bem, depois de negociações várias, o Tratado de Tordesilhas foi assinado em 7 de Junho de 1494, e as esferas de influência ficaram definidas: pertenceriam a Castela as terras descobertas para além do meridiano que passava a 370 léguas a ocidente de Cabo Verde, limite encurtado para 200 léguas no que tocava aos descobrimentos que Colombo pudesse fazer na segunda viagem que entretanto iniciava. 
- Será que D. João sabia do Brasil.?
- As razões secretas da escolha da linha divisória, sendo a questão mais debatida a de saber se D. João II tinha já nessa data conhecimento da existência do Brasil. A intervenção da Santa Sé foi extremamente activa, como veremos.  Não foi por acaso que Cabral veio para estas terras, a caixa preta da Santa Sé não iria patrocinar um tratado entre as duas nações mais católicas se não houvesse ganhos para as bolsas papais. Comentou  Militão.
    O Vô soria quando haviam essas intervenções; se não fosse para corrigir, permitia-nos as  interrupições. Concluídas os apartes, vô prosseguiu.    
- Era março de 1534 o Rei de Portugal, Dom João III, dividiu a costa do país em Capitanias Hereditárias. Eram quinze lotes que formavam doze capitanias, que iam da Ilha de Marajó, a norte, até o sul do Estado de Santa Catarina. Foram definidas como faixas lineares de terra, que ignoravam os acidentes geográficos, e iam do litoral da costa do Brasil até o Tratado de Tordesilhas. Portanto, inicialmente apenas 20% da América do Sul pertenciam a Portugal por este Tratado, que determinava como espanholas as terras situadas além de 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde sendo uma légua o equivalente a 5,9 km.
- A linha do Tratado de Tordesilhas era muito grossa? Perguntou Marquinho, filho de Dona Tereza, que vez enquando ia brincar lá em casa. Todos riram, menos vovô,que pegando-o no colo, disse:
- Não, minha criança esta é uma linha imaginária, que coincide com o meridiano a 46º 37‟ longitude oeste, o qual passa pela atual cidade de São Paulo. Cada Capitania tinha mais ou menos uns 300 km de largura na  costa, mas os dados divergem em relação à exatidão da extensão de cada Capitania, e algumas delas eram maiores que outras.
- O senhor falou que não tinham registro precisos?
- Sim não existem registros precisos dos primeiros escravos negros que chegaram ao Brasil, mas há hipoteses e sendo assim há tese, e mais aceita é a de que em 1538, Jorge Lopes Bixorda, arrendatário de pau brasil, teria traficado para a Bahia os primeiros escravos africanos. Eles eram capturados nas terras onde viviam na África e trazidos à força para a América, em grandes navios, em condições miseráveis e desumanas.
- Nos dias atuais não nos caçam. Hoje matam nos gestos de beneficiência das  filas Virtuais, mudou-se a forma de matar os escravos de baixa renda brancos e negros, os pobres combalidos, chicote cortante e impiedoso da miséria espalhados.
    Voltemos até as entradas promovidas pelos capitães hereditários.
- Registros indicam que quando se deu, mais tarde, a busca por minérios e intensificaram-se os movimentos exploratórios ao interior do país, os limites do Tratado não foram respeitados, a preocupação maior era iniciar o ciclo da mineração no Brasil. Também não havia exatidão na demarcação da linha do Tratado de Tordesilhas porque na época, devido aos escassos instrumentos disponíveis, era medido grosseiramente , movia-se  conforme interesses. 
    Há quem diga, que os soldados da companhia de Jesus eram o braço espanhol na colônia portuguesa. Afirmou Fausto, e Vera Lúcia gracejou, até parece que sabe. Vovô apressou-se a interferir antes que abriga começasse.
- Os primeiros jesuítas chegaram ao território brasileiro em março de 1549 juntamente com o primeiro governador-geral, Tome de Souza. Eram comandados pelo padre Manuel da Nóbrega, e edificaram a primeira escola elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, que tinha apenas 21 anos. O objetivo era tornar a terra invadida em território da igreja católica, ou seja catequizar os gentis.
- A experiência que os portugueses tinham acumulado plantando cana de açúcar em algumas ilhas do Atlântico. Os investimentos holandeses nos engenhos, no refino e comercialização do açúcar na Europa.
- A cana de açúcar é originária das regiões tropicais do Sul e do Sudeste da Ásia. Comentou Militão. Sendo a Saccharum barberi originária da Índia e a S. officinarum na Nova Guiné.
- Muito bem, Como poderiam usar os nativos ao trabalho na cana de açúcar, além do que os portugueses tinham outros interesses, vide que diz  Pero Vaz de Caminha na sua carta a S.A.R.
Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma. Também andava lá outra mulher, nova, com um menino ou menina, atado com um pano aos peitos, de modo que não se lhe viam senão as perninhas. Mas nas pernas da mãe, e no resto, não havia pano algum. Em seguida o Capitão foi subindo ao longo do rio, que corre rente à praia. E ali esperou por um velho que trazia na mão uma pá de almadia. Falou, enquanto o Capitão estava com ele, na presença de todos nós; mas ninguém o entendia, nem ele a nós, por mais coisas que a gente lhe perguntava com respeito a ouro, porque desejávamos saber se o havia na terra.( VAZ DE CAMINHA)

- Se olharmos os índios tutelados a degeneração e a degração foi o primeiro ato português nesta terra, a prostituição acatada com espelhos e ferramentas, e a missigenação associada. Comentou Vera Lúcia. Enxugando os cabelos rebeldes, e prosseguiu.
- Os primeiros jesuítas chegaram ao território brasileiro em março de 1549,  juntamente com o primeiro Governador Geral, Tome de Souza. Exatos nove anos depois da criação da Companhia de Jesus. Eram comandados pelo padre Manuel da Nóbrega, e edificaram a primeira escola elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, que tinha apenas 21 anos. Não é isso vovô?
- Isso mesmo, os índio eram vistos como iguais pelos europeus segundo Roma:
 
O Papa Paulo III ratificava, em 1537, através da Bula Veritas Ipsa, aquilo que ninguém mais poderia contestar ou duvidar: os autóctones eram reconhecidamente humanos e semelhantes aos europeus, capazes de fé cristã e, como tais, senhores de seus bens e de sua liberdade, mesmo quando ainda não convertidos, podendo, portanto, responder legalmente por seus atos. Sendo incorporados ao sistema jurídico português, os ameríndios ficavam suscetíveis às penalidades previstas no mesmo e, embora o Papa determinasse que estes deveriam ser atraídos à Fé cristã pela “pregação da Palavra de Deus e o exemplo de boa vida”,as punições – refiro-me às terrenas e às divinas – muitas vezes serviram para “sujeitar” – nas palavras de Nóbrega – aqueles que insistiam em se afastar da Verdade dos cristãos e da Civilização oferecida pelos missionários em seus Aldeamentos. Assim, se por um lado, o ameríndio não podia ser comparado, nem por sua aparência exterior – seu corpo – nem por seus feitos – sua cultura – com os padrões já conhecidos pela cristandade, embora a mesma reconhecesse a sua humanidade e, conseqüentemente, a sua semelhança com o europeu, por outro, cabia principalmente aos missionários a missão de trazê-lo para a civilização, incorporando-o a estes padrões culturais, afastando-o da natureza e apagando os traços presentes da animalidade, visíveis em seu corpo, entendido como lugar de inscrição dos pecados, que o deformavam e que deveriam ser combatidos com a aplicação de regras estritas de comportamento, as quais freariam a voracidade típica das espécies selvagens.  É justamente neste ponto que incide nosso principal foco de análise deste artigo, isto é, no estudo das práticas, dos mecanismos, das crenças e dos discursos inerentes ao processo de doutrinação do corpo indígena e do seu enquadramento aos moldes culturais europeus.(Karina K. Bellotti e Mairon Escorsi Valério). 
 
- Foi esse olhar condecendente do Papa vai trazer os  soldados da companhia de Jesus que vão se enveredar pelos sertões, e vão abrir caminhos doutrinários pelas veredas até as Minas Gerais, vão construir a igreja, as missões.
-Venderam o aldeamento como uma saída humana para catequisar os gentios. O lucro, tudo que importa, os Outóctones são peças  neste tabuleiro de interesses e de exploração.
-- O que é outóctone?
- O outóctone é adjetivo e substantivo de dois gêneros, que ou quem é natural do país ou da região em que habita e descende das raças que ali sempre viveram; aborígene, indígena. Foram a estes perguntar o que eles acharam das alterações e perveresões sofreram, então a opinião de da vítima teria que ser ouvida, o bem só é bem se agradar ao que recebe, Nobrega era um herói ou um maluco com mania de querer salvar o indio. 
    Mamãe entrou na sala e avisou;- A  chuva passou, vamos jantar cedo que amanhã tem aula com chuva ou com sol, e mais não quero ninguém na mesa sem estar de banho tomado.
    Vô pigarreou, ordenou:- Primeiro as meninas, podem ir para o banho. Vera resmungou, mas foi tomar banho. Vô sorriu e continuou:- Padre Manuel da Nóbrega nasceu 1517 e morreu em 1570, o Padre jesuíta nasceu em Portugal, na região do Minho. Em 1544 entrou na Companhia de Jesus, recebendo a incumbência de chefiar a primeira missão jesuítica ao Brasil em 1549 e neste mesmo ano chegou à Bahia junto com o primeiro governador geral Tomé de Souza, colaborando na fundação de Salvador.  Iniciou o trabalho de catequização dos índios, adaptando a conversão aos hábitos e costumes indígenas. 
- Seu trabalho gerou insatisfações aos colonos que queriam tão somente escravizá-los para facilitar suas vidas no novo mundo. Por Carta pediu ao Rei D. João III a criação de um bispado para dar maior ênfase ao trabalho religioso com os indígenas.  
    Ao tempo em que atuavam junto aos nativos, os jesuítas fundaram as primeiras instituições de ensino do Brasil Colonial. Os principais centros de exploração colonial contavam com colégios administrados dentro da colônia. 
- Dessa forma, todo acesso ao conhecimento laico da época era controlado pela Igreja, o controle do que é ensinado é a forma de moldagem mais cruel ao ser humano dizem os socialistas, mas quando estes mesmos socialistas no poder moldam a sociedade para o crime e para a incredulidade, para o descontrole,  pois a liberdade do saber dá ao ente humano a capacidade de escolha, compreensão crítica do direito do outro. Voltemos ao passado. Insistiu Fausto. - Já passamos por esse período. Vovô já comentou.
- A condição imposta pela coroa de Portugal era de que o donatário apenas receberia o lote de terra se ele mesmo arcasse como os gastos da colonização. Muitos dos importantes nobres portugueses não se interessaram na oferta por motivos óbvios: a única riqueza existente realmente comprovada nessas extensas terras era o Pau Brasil, produto este reservado à exploração da coroa.
- Aos donatários cabia a responsabilidade de povoar e desenvolver a terra à própria custa. O regime de capitania hereditárias, desse modo, transferia para a iniciativa particular a tarefa de colonizar, e conquistar o Brasil. Afirmou Militão, provocando o irmão, que vez em quando,                                                             atrapalhava a narração do avô.
- Ao longo dos primeiros anos da Capitania do Espírito Santo, o conflito com os indígenas se aguçara na medida em que, os portugueses passaram a escravizá-los. Mas isso continuaremos depois do jantar.
    Vovô Inocêncio caminhou até ajanela e ficou ali, sentindo o vento soprar  e trazer para si o cheiro de merda de boi. Era triste seu olhar perdido no horizonte, nunca ninguém sabia o que ele estava a vivênciar. Era hora do jantar. Todos tinham que estar à mesa o bater da bengala nos móveis buscam a direção do assento à mesa. Sentiu o cheiro do guisado de carne; e lembrou a muito não se tinha um jantar para gula.
- Todos os dias o Senhor comete gula. Comentou Mamãe. Todos riram. Vovô fez uma piada aradeceu pela refeição  jantou e foi dormir.
    Foi uma longa noite o frio doía nas costas, apagaram-se os candieiros, as lamparinas e os ventos continuaram a esvoaçar as palhas no telhado. Vovô era Marinheiro Mercante,mecânico de caldeira.Uma explosão acidental cegou-lhe, mas não matou seu espírito, nem sua  inteligênca reduziu. A visão ampliou-se, a solidão e a escuridão tornaram-no mais sensível. Tivemos uma avô que poucos tiveram. Cego enxergava a luz da sabedoria e trazia no peito a compaixão.
    Na manhã seguinte caminhamos pelo pomar, vô Inocêncio desceu a escada, seguiu o barulho que fazíamos brincando de barra bandeira. Militão pegou-o pela mão fez com que sentasse na cadeira preguiçosa. Acendeu um cigarro, deu uma baforadas, assim que nos aproximamos, ele apagou o cigarro e avisou, não quero ninguém fumando. Só a verdade dos livros nos liberta.
-Que livros vovô?
- Todos os livros Militão. Querem ouvir a história?
-Simmmm.!!! Sentamos em volta do vô Inocêncio.
- Falamos das Capitanias Hereditárias, pois bem. - Na ausência do donatário, que permaneceu sete anos em Portugal, os goitacáses empreenderam um fulminante ataque aos portugueses. A obra a tanto custo realizada foi destruída. Entre os mortos estava D. Jorge de Menezes, que não conseguira impor sua autoridade sobre os colonos, desunidos na ocasião do ataque. Ao regressar de Portugal, Vasco Coutinho encontrou a capitania em ruínas, os índios fortalecidos e os portugueses desanimados. Mas era preciso reconstruir e reforçar a defesa.
- Com essa intenção, a sede da capitania foi transferida para a ilha de Santo Antônio, naturalmente protegida pelo mar. A nova vila recebeu o nome de Vitória. No mesmo ano, 1550, esteve no Espírito Santo uma missão enviada pelo primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, que assumira o cargo no ano anterior. 
-O sistema de capitanias autônomas entregues à iniciativa privada fracassara; elas eram fracas demais para enfrentar as enormes dificuldades do empreendimento colonial, e a Coroa decidira criar um Governo-Geral, encarregado de coordenar a administração, dando-lhe um mínimo de centralização, de aumentar o controle sobre as capitanias e apoiar efetivamente aquelas que estivessem em dificuldades. Tomé de Souza trouxe uma recomendação especial para socorrer o Espírito Santo e com essa finalidade enviou a missão, cuja ação foi decisiva para a continuidade da colonização. 
- O Tomé de Souza, era o governador da Bahia?
- Não, foi primeiro governadaor Geral do Brasil. Posso continuar, Dona Vera?
- Foi reorganizada a administração pública, foram fornecidos armamentos e reestruturada a defesa. Com o governador geral chegaram também os primeiros jesuítas, encarregados de converter os índios e promover sua integração à civilização cristã. Pouco depois o donatário voltou a Portugal  com um carregamento de pau brasil, deixando à frente da capitania Bernardo Sanches Pimenta, um dos colonos influentes, que tinha melhor relação com os índios.
- A relação com os naturais continuava tão precária que, em 1553..?
- O Governador Geral foi inspecionar pessoalmente as capitanias, Tomé de Souza. Depois comunicou ao rei que a Capitania do Espírito Santo estava tão perdida como o capitão del  rei e pediu que enviasse um capitão ou Vasco Fernandes voltasse com brevidade. Muito bem disse vovô a Vera Lúcia, que mesmo sentada à distância, fazia apartes interessantes.
    Raramente vovô corrigia as colocações de Vera Lucia. Sempre partia das intervenções dela.
- Novamente o governador geral forneceu armamentos, desta vez fortalecendo o poder privado dos senhores de engenho, que receberam artilharia para suas propriedades, a ser paga dentro de um ano. Em sua viagem de volta, no ano seguinte, o donatário velho, pobre e cansado, nas palavras do governador geral, D. Duarte da Costa, sofreu uma humilhação pública por parte do bispo Pero Fernandes Sardinha, na escala que fez em Pernambuco.
- Esse é o Bispo que foi comido no maraqnhão?
- Sim Militão. O bispo, que defendia uma posição de radical recusa a qualquer elemento da cultura indígena, tendo entrado em choque com os jesuítas por esse motivo, e que enfrentava as autoridades coloniais, como foi o caso do segundo governador geral, D. Duarte da Costa, negou a Vasco Fernandes um lugar de honra na igreja, ao qual tinha direito como donatário, e o excomungou, junto com homens baixos, por adotar um costume dos indígenas: fumar. O donatário era um fumante inveterado, a ponto de dizer que sem fumo não tinha vida. Pouco tempo depois temos notícia de que estava “resgatando índios, ou seja, comprando-os como escravos, num ponto do litoral, quando foi surpreendido e quase aprisionado por um navio francês. 
    O permanente conflito com os indígenas não impediu os portugueses de perseguirem seu grande sonho: ouro e pedras preciosas.Colocou Fausto um tanto receioso, pois quase sempre suas manfiestações eram contestadas.
- Isso mesmo, você percebeu o a cerne da questão. Vasco Coutinho enviou uma “entrada” ao sertão, que trouxe a notícia de havê-los encontrado, o que deu novo ânimo aos colonos. Mas outro levante dos índios logo os trouxe à dura realidade. 
- Quando tomou posse, o terceiro governador-geral, Mem de Sá, recebeu um desesperado pedido de socorro de Vasco Coutinho, cercado pelos índios na vila de Vitória, com muitos mortos e feridos. O governador enviou seu filho Fernão de Sá à frente de uma força de cerca de 200 homens, em seis navios.
- Vera lúcia continuou. Ao invés de se dirigirem a Vitória, porém, entraram pelo rio Cricaré (São Mateus) e atacaram fortificações nas quais havia grande concentração de indígenas, matando e sobretudo aprisionando grande número deles. O interesse pelas presas era tal que abandonaram Fernão de Sá com um pequeno grupo enfrentando as forças indígenas na praia e se recolheram com os prisioneiros às embarcações, causando a morte do capitão.
- Foi então que, então rumaram para Vitória, onde conseguiram impor outra derrota aos índios. Mem de Sá dirá ao soberano: Fica  a capitania agora muito pacífica e seu gentio tão castigado: mortos tantose tão principais chefes que parece que não levantarão a cabeça tão cedo. E os portugueses ficaram abarrotados de escravos.
- Vasco Fernandes, que nunca tivera grande capacidade de liderança, via sua autoridade desgastada pelos insucessos e pelo envelhecimento. Reinava a discórdia no meio dos colonos e entre estes e o donatário. Um jesuíta relata que Vasco convocou, então, uma reunião dos colonos na qual estes apresentavam críticas à atuação do donatário que, “com boas palavras e mostras de sentimento, pediu a todos perdão, prometendo que se a alguém havia prejudicado, o satisfaria e dali em diante queria estar bem com todos”.
-Esse episódio, considerado pelo jesuíta como “um grande milagre”, um extraordinário exemplo de humildade cristã, parece ter tido pouca eficácia junto àqueles homens violentos e ambiciosos, acostumados a viver sem lei nos trópicos selvagens. Observaram mutuamente Fausto e Militão.
- O fato é que pouco depois o donatário escreveu uma melancólica carta a Mem de Sá, dizendo-se velho e cercado de doenças, desrespeitado pelos colonos, fracassado como dirigente da capitania. Comunica estar de partida para Portugal onde espera encontrar alguém que compre a capitania ou se encarregue de colonizá-la, pois ele não tem mais forças para a pesada tarefa.
-Quando isso aconteceu ? Foi quando Mem de Sá visitou o Espírito Santo, em 1560 não foi vovô, questionou já respondendo Vera Lúcia.
- Sim, Vera posso continuar?
-Pode. Cala boca Vera!!!! fizeram  coro Fausto, e Militão.
- O donatário continuava ausente e os colonos, ameaçados pelos índios e franceses instalados no Rio de Janeiro, ainda não haviam conseguido recuperar seus engenhos e viviam com extrema dificuldade. Vasco Coutinho enviara uma carta ao ouvidor apresentando a sua renúncia e os moradores pediam ao Governador que tomasse conta da capitania em nome do rei ou os levasse dali.
- Foi então que o Mem de Sá aceitou a renúncia dele, e  nomeou Belchior de Azeredo capitão mor do Espírito Santo. Muito bem Militão. Você lembrou.
-Belchior ocupara vários cargos da administração real na capitania e era muito ligado aos jesuítas, que o consideravam um homem nobre, virtuoso e enérgico. Vasco Fernandes regressou ao Espírito Santo, mas o restante de sua vida e a época de sua morte ainda não estão esclarecidos. Os historiadores afirmam que ele faleceu pouco depois da renúncia, em 1561.
- A miséria mata, e não é pouco vovô. Gritou Fausto.
- Ao longo desses primeiros anos, o conflito com os indígenas se aguçara, na medida em que os portugueses passaram a escravizá-los. Na ausência do donatário, que permaneceu sete anos em Portugal, os goitacás empreenderam um fulminante ataque aos portugueses. A obra a tanto custo realizada foi destruída. Não há quem suporte vê seu trabalho destruído.
-Entre os mortos estava D. Jorge de Menezes, que não conseguira impor sua autoridade sobre os colonos, desunidos na ocasião do ataque. Ao regressar, Vasco Coutinho encontrou a capitania em ruínas, os índios fortalecidos e os portugueses desanimados. Mas era preciso reconstruir e reforçar a defesa. 
-Com essa intenção, a sede da capitania foi transferida para a ilha de Santo Antônio, naturalmente protegida pelo mar. A nova vila recebeu o nome de Vitória. No mesmo ano, 1550, esteve no Espírito Santo uma missão enviada pelo primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, que assumira o cargo no ano anterior. 
- Os comunista diriam que o capitalismo fracassou. Observou Vera. O Vô deu aquela gargalhada, que só Vera conseguia dele.
-O sistema de capitanias autônomas entregues à iniciativa privada fracassara; elas eram fracas demais para enfrentar as enormes dificuldades do empreendimento colonial. Lembram, já falamos  disso. 
-A Coroa decidira criar um Governo-Geral, encarregado de coordenar a administração, dando-lhe um mínimo de centralização, de aumentar o controle sobre as capitanias e apoiar efetivamente aquelas que estivessem em dificuldades. Tomé de Souza trouxe uma recomendação especial para socorrer o Espírito Santo e com essa finalidade enviou a missão, cuja ação foi decisiva para a continuidade da colonização. Foi reorganizada a administração pública, foram fornecidos armamentos e reestruturada a defesa. 
-Com o governador-geral chegaram também os primeiros jesuítas, encarregados de converter os índios e promover sua integração à civilização cristã. Pouco depois o donatário voltou a Portugal com um carregamento de pau-brasil 
– deixando à frente da capitania Bernardo Sanches Pimenta, um dos colonos influentes, que tinha melhor relação com os índios. Entenderam agora.
-Sim!!!
-Mas a situação continuava tão precária que, em 1553, depois de inspecionar pessoalmente as capitanias, Tomé de Souza comunicava ao rei que a do Espírito Santo estava tão perdida como o capitão dela e pediu que enviasse um capitão ou Vasco Fernandes voltasse com brevidade.
    A noite sempre abrevia as histórias de vovô, pois por ser cego, não percebia a luz do dia findar, o cansaço o levava a dormir e acordar, e essa percepção era de uma precisão. Tal qual um relógio inglês. Foram suas histórias que levaram-me a me tornar professor, acordaram-me curioso, e todos nós que ouvíamos nos tornarmos leitores compusivos.
    O grito de minha mãe ordenando a hora de almoçar , ou jantar. A bagunça para tornar banho antes das refeições e a olhada na orelha e nas unhas. Quando não respondiam as espectativas, aquele tapa seguro no pé do ouvido seguido da ordem: Vai se lavar direito, ou vai ficar sem comer, aí do que estiver de orelha sua. Certamente se a orelha estivesse suja, ficava sem comer. Apesar da rigidez nenhum de nós ficou traumatizado, nenhum virou ladrão ou fugiu de casa por causa da rigidez. Todos até hoje amamos nossa mãe. Respeitamos nossa família e todos somos amigos. Respeitamos os idosos e as crianças. Hoje, tudo traumatiza, trabalhar é proíbido, enfim, ser bandido é a moda, coisas dos novos tempos. Eu tive avô, ou melhor, o melhor avô do mundo.
    Acordados pelo sol e indo para as tarefas diárias ficávamos ao dues dará depois de concluídas as obrigações. Naquela dia, o Vô não estava bem, já passava das dez e ele ainda estava dormindo. Vi quando mamãe passou para o quarto com uma xícara de chá. Militão, aproximou-se e avisou:
-Vô não está bem. Está suando muito, mas não se queixa.Parece sentir dor.
    Fomos todos para o quarto do vô, mas minha mãe nos barrou a entrada. Lá de dentro ecoou o vozerão do velho Inocêncio:-Munda, deixa meus netos. O Vô chamava minha Mãe de Munda, abreviação de Raimunda.
-Iniciam-se as entradas em busca de recursos a serem explorados, e de mão de obra para escravizar. QUAL A DIFERENÇA ENTRE ENTRADAS E BANDEIRAS,  Entradas eram expedições militares oficiais organizadas pelo governo, cujo objetivo era: reconhecer o interior do Brasil e procurar metais preciosos. Dona Raimunda saiu, foi indo, e Vera Lúcia falando das Entradas e Bandeiras.
- As Entradas não ultrapassavam o tratado de Tordesilhas. Afirmou Militão. Vera Lúcia continuou, As Bandeiras eram particulares e genuinamente paulistas e não respeitavam limites.
- Verdade, colocou-se Fausto na discussão. Tinham o objetivo de reconhecer o interior do Brasil; Procurar metais preciosos;Caçar índios para escravizar e destruir os quilombos ou mocambos. As bandeiras ultrapassavam o Tratado de Tordesilhas precisavam dar lucro ao organizador e Partiam sempre de São Vicente, hoje São Paulo, a terra dos Bandeirantes.
    Vovô só ouvia, e sorria. Mãe entrou com o almoço do vovô e ordenou todo mundo se lavar para almoçar, depois volta para fazer companhia com o vovô! E juízo vovô está doente. Visou. Almoçamos fomos para sesta obrigatória, já passava das quatorze horas quando retornamos para o quarto do vovô, quando chegamos Vera Lúcia falava sobre as Capitanias, discorria com um precisão.Ficamos ouvindo. 
- Alguém sabe quantas e quais era as Capitanias?
    Fausto meio inseguro responde:- As doze capitanias foram distribuídas a capitães-donatários que eram da pequena nobreza, sendo que quatro deles nunca vieram ao Brasil tomar posse de suas terras.
-Quais foram as primeiras divisões de lote?
- Eu sei respondeu Vera Lúcia.
-Ele errar você fala.
- Então quais foram? Quetionou vovô. Responda Fausto.
- As primeiras divisões dos lotes de terras doadas foram (de norte a sul) denominadas: Capitania de João de Barros e Aires da Cunha, Primeiro Quinhão –Maranhão / Capitania de Fernão Álvares de Andrade -Maranhão / Capitania de António Cardoso de Barros -Ceará / Capitania de João de Barros e Aires da Cunha, Segundo Quinhão -Rio Grande / Capitania de Pero Lopes de Souza, Terceiro Quinhão-Itamaracá /Capitania de Duarte Coelho -Pernambuco/ Capitania de Francisco Pereira Coutinho -Bahia / Capitania de Jorge Figueiredo Correa -Ilhéus / Capitania de Pero do Campo Tourinho -Porto Seguro / Capitania de Vasco Fernandes Coutinho -Espírito Santo / Capitania de Pero de Goés -São Tomé / Capitania de Martim Afonso de Sousa, Segundo Quinhão-Rio de Janeiro / Capitania de Pero Lopes de Souza, Primeiro Quinhão -Santo Amaro / Capitania de Martim Afonso de Sousa, Primeiro Quinhão -São Vicente/ Capitania de Pero Lopes de Souza, Segundo Quinhão -Santana.
    Vô Inocêncio delirou de felicidade, o Fausto não errou uma sequer. Abraçou O Fausto e perguntou, posso continuar a história que estou contando?
- Pode!!!!!
- Dessa forma foi organizada a economia e as relações de trabalho na América portuguesa. Entre as principais características da colonização implantada no Brasil, pode-se citar em primeiro lugar, a mesma forma que a colonização espanhola, no Brasil também se utilizou o “Pacto Colonial”. Através dessa relação desigual entre colônia e metrópole assegurava-se o exclusivismo comercial, ou seja, Portugal tinha o monopólio da compra da produção colonial e, igualmente da venda de mercadorias na América portuguesa.
    Novamente o governador geral forneceu armamentos, desta vez fortalecendo o poder privado dos senhores de engenho, que receberam artilharia para suas propriedades, a ser paga dentro de um ano. Em sua viagem de volta, no ano seguinte, o donatário – “velho, pobre e cansado”, nas palavras do governador-geral, D. Duarte da Costa – sofreu uma humilhação pública por parte do bispo Pero Fernandes Sardinha, na escala que fez em Pernambuco. O bispo, que defendia uma posição de radical recusa a qualquer elemento da cultura indígena, tendo entrado em choque com os jesuítas por esse motivo, e que enfrentava as autoridades coloniais, como foi o caso do segundo governador geral, D. Duarte da Costa.
    Fausto brincou: - Vô quem comeu o Sardinha, foram os Caetés ou os Goitazes? Militão arrematou, muito perverso o Bispo Sardinha.Vô Inocêncio sorriu e concordou:- Vamos seguir com a história deste Bispo e suas crueldade. Negou a Vasco Fernandes um lugar de honra na igreja, ao qual tinha direito como donatário, e o excomungou, junto com homens baixos, por adotar um costume dos indígenas: fumar. O donatário era um fumante inveterado, a ponto de dizer que sem fumo não tinha vida.  Pouco tempo depois temos notícia de que estava resgatando índios, ou seja, comprando-os como escravos, num ponto do litoral, quando foi surpreendido e quase aprisionado por um navio francês. 
- O permanente conflito com os indígenas não impediu os portugueses de perseguirem seu grande sonho de encontrar ouro e pedras preciosas. Vasco Coutinho enviou uma entrada ao sertão, que trouxe a notícia de havê-los encontrado, o que deu novo ânimo aos colonos. Mas outro levante dos índios logo os trouxe à dura realidade. Quando tomou posse, o terceiro governador-geral, Mem de Sá, recebeu um desesperado pedido de socorro de Vasco Coutinho, cercado pelos índios na vila de Vitória, com muitos mortos e feridos.
-O governador enviou seu filho Fernão de Sá à frente de uma força de cerca de 200 homens, em seis navios. Ao invés de se dirigirem a Vitória, porém, entraram pelo rio Cricaré  e atacaram fortificações nas quais havia grande concentração de indígenas, matando e sobretudo aprisionando grande número deles. O interesse pelas presas era tal que abandonaram Fernão de Sá com um pequeno grupo enfrentando as forças indígenas na praia e se recolheram com os prisioneiros às embarcações, causando a morte do capitão. 
- Só então rumaram para Vitória, onde conseguiram impor outra derrota aos índios. Narrando os fatos, Mem de Sá dirá ao soberano: Fica a capitania agora muito pacífica e seu gentio tão castigado: mortos tantos e tão principais chefes que parece que não levantarão a cabeça tão cedo. E os portugueses ficaram abarrotados de escravos.
-Como  esse Vasco Fernandes ficava no comando?                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                
- Realmente era estranho,Vasco Fernandes, que nunca tivera grande capacidade de liderança, via sua autoridade desgastada pelos insucessos e pelo envelhecimento. Reinava a discórdia no meio dos colonos e entre estes e o donatário. Um jesuíta relata que Vasco convocou, então, uma reunião dos colonos na qual estes apresentavam críticas à atuação do donatário que, com boas palavras e mostras de sentimento, pediu a todos perdão, prometendo que se a alguém havia prejudicado, o satisfaria e dali em diante queria estar bem com todos.
    Esse episódio, considerado pelo jesuíta como um grande milagre, um extraordinário exemplo de humildade cristã, parece tertido pouca eficácia junto àqueles homens violentos e ambiciosos, acostumados a viver sem lei nos trópicos selvagens.
- O fato é que pouco depois o donatário escreveu uma melancólica carta a Mem de Sá, dizendo-se velho e cercado de doenças, desrespeitado pelos colonos, fracassado como dirigente da capitania. Comunica estar de partida para Portugal onde espera encontrar alguém que compre a capitania ou se encarregue de colonizá-la, pois ele não tem mais forças para a pesada tarefa.
    Quando Mem de Sá visitou o Espírito Santo, em 1560, o donatário continuava ausente e os colonos, ameaçados pelos índios e franceses instalados no Rio de Janeiro, ainda não haviam conseguido recuperar seus engenhos e viviam com extrema dificuldade. 
- Vô o donatário Vasco Coutinho enviou uma carta ao ouvidor apresentando a sua renúncia e os moradores pediam ao Governador que tomasse conta da capitania em nome do rei ou os levasse dali.
- Sim, Mem de Sá aceitou a renúncia e nomeou Belchior de Azeredo capitão mor do Espírito Santo. Belchior ocupara vários cargos da administração real na capitania e era muito ligado aos jesuítas, que o consideravam um homem nobre, virtuoso e enérgico. 
-Vasco Fernandes regressou ao Espírito Santo, mas o restante de sua vida e a época de sua morte ainda não estão esclarecidos. 
- Os jesuítas, que haviam defendido a política de sujeição dos índios, implementada por Mem de Sá, como forma de conseguir sua integração ao cristianismo, viam-se agora impotentes para deter a violência dos colonos, mesmo em relação aos maracajás da aldeia da Conceição, que se haviam colocado sob sua autoridade e proteção.
- Superior desta Aldeia era o padre Manoel da Nóbrega, partira meses antes para São Vicente, desanimado com os empecilhos criados ao trabalho de catequese pelo bispo, D. Pero Fernandes Sardinha, esse sim era canalha, se opunha a diversas práticas adotadas pelos jesuítas, tais como a confissão com o uso de intérprete geralmente um menino da Casa a presença de índios pagãos à missa, a construção de capelas nas aldeias dos índios convertidos, e o uso de elementos culturais indígenas nas pregações e cerimônias religiosas: música, dança, adereços, maneira de pregar etc.pasmem até corte de cabelo dos meninos da Casa à moda indígena parecia reprovável ao bispo. -Quem era esse Bispo Sardinha? PerguntouMilitão.
- Foi o Primeiro bispo do Brasil, nascido em Évora ou Setúbal, nomeado (1551) aos 55 anos, o primeiro bispo do Brasil, Pero Sardinha, que veio de Portugal para São Salvador da Bahia, para converter os indígenas à doutrina católica. Estudou em Paris, Salamanca e Coimbra e, após ser vigário-geral de Goa, foi designado bispo da Bahia por D. João III. Chegou ao Brasil (1552) com uma comitiva de clérigos para o trabalho de catequese e inaugurou a diocese ainda sob o governo de Tomé de Sousa. Autoritário e impaciente com os nativos e adepto de métodos duros na conversão, entrou em conflito com Manoel da Nóbrega e outros jesuítas por achar que eles eram muito complacentes com os costumes indígenas. Também entrou em choque com Duarte da Costa em razão de uma reprimenda que fez ao filho do novo governador. 
- Foi então que Renunciou ao cargo (1556) e pouco mais de um mês depois, embarcou para Lisboa. Comentou Fausto.
- Sim o fofoqueiro embarcou para Lisboa, a fim de queixar-se ao monarca, porém o navio em que viajava naufragou na foz do rio Coruripe, na costa alagoana. Sobrevivente do naufrágio, foi aprisionado juntamente com cerca de outras cem pessoas, pelos índios caetés (1556). Despidos e atados com cordas pelos caetés, foram todos trucidados e comidos um a um ao longo daquele ano, segundo o relato do historiador frei Vicente do Salvador.
-Na verdade não existe um relato preciso sobre seu martírio nas mãos dos caetés, nem mesmo certeza se foram os próprios caetés, pois os tupinambás também viviam próximos à foz do Rio São Francisco. Observou Vera Lúcia. - Foi sucedido na Sé Primacial do Brasil por Dom Pedro Leitão (1519-1573) .
    Enquanto os jesuítas procuravam se apropriar de elementos da cultura indígena, que não eram, em si, antagônicos ao cristianismo, introduzindo-os no contexto da cultura européia, como meio de facilitar a aproximação e a catequese, o bispo julgava necessário eliminar todo e qualquer traço cultural indígena para conseguir a aculturação. Por seu lado, os jesuítas condenavam a tolerância do bispo em relação a certos abusos na escravização dos índios e o sistema por ele adotado de cobrar multas dos fiéis em pecado, em lugar de impor penitências, ou recusar a absolvição, como faziam os inacianos. Ambas as práticas desmoralizariam o clero e os próprios jesuítas perante os índios, no primeiro caso, e os colonos, no segundo, dificultando o trabalho da Companhia.
- Lembram do pacto colonial, pois bem. A produção era destinada ao mercado externo. Tal qual na América espanhola, o colonização portuguesa tinha um caráter de complementaridade, ou seja, os recursos oriundos da exploração se destinavam ao mercado externo, complementando a economia metropolitana. Como o objetivo era lucrar, os portugueses desenvolveram culturas em larga escala e com baixo custo produtivo, ou seja, se utilizaram dos chamados latifúndios, grandes extensões de terras, com o desenvolvimento da monocultura.
     Ao optar pela monocultura, a coroa portuguesa inviabilizou em grande parte o desenvolvimento de um mercado interno que tivesse como base as pequenas e médias propriedades. Utilização preponderante da mão de obra escava africana, negócio altamente lucrativo. Por fim, altamente nocivo ao desenvolvimento colonial, à metrópole adotou a proibição em relação à instalação de manufaturas, com exceção da atividade manufatureira que envolvia a produção da cana de açúcar. O objetivo era garantir, através do Pacto Colonial a venda de mercadorias sem qualquer tipo de concorrência por parte dos colonos. 
    Desde o nascimento da Colônia é visível que, só a diversidade de produção os baixos impostos e a liberdade de mercado é capaz de libertar, mas este país nasce ferrando quem trabalha, e dando vida fácil aos que estão no poder. Desde nossa fundação fomos doutrinados a sustentar desocupados, no princípio eram os das Cortes del Rey, hoje, os cânceres em Brasília e nas Assembleias e Câmaras. Todos bandidos viviciados em matar pobres e trabalhadores. 
-Voltemos a expedição de Martim Afonso de Souza, que tinha como um de seus principais objetivos, verificar a possibilidade do cultivo da cana de açúcar. O açúcar se tornou a base econômica da colonização do Brasil. Entre os fatores que favoreceram a adoção da produção açucareira, pode-se destacar: O alto valor que o açúcar alcança na Europa. A adaptação da cana de açúcar ao clima e ao solo do nordeste brasileiro, em especial na região de Salvador e Olinda. A ausência de concorrentes.
- Chegamos onde queríamos vovô. O Negro africano.
-A Costa dos Escravos Antes de os portugueses começarem a comercializar no Golfo do Benim não havia grandes reinos africanos em regiões florestais. A exuberante floresta tropical dificultava a penetração comercial nessas terras. O reino do Benim foi uma exceção. Nos últimos anos do século XV, uma expedição portuguesa foi à capital do reino e lá se deparou com uma grande cidade com ruas largas e compridas e muitas casas.
    No Benim o controle comercial era do rei que comprava e vendia sal, peixe seco, noz de cola, couros, tecidos e cobre. Cientes de que o monopólio sobre o comércio garantia ao rei do Benim uma considerável força política, os portugueses tentaram convertê-lo ao catolicismo. Era uma forma de aproximar aquele reino africano do lusitano. A forma Islâmica de escraviza, o comércio lucrativo, a exploração do servo.
    Ao rei do Benim não interessava ter compromissos exclusivamente com Portugal, como era  intenção da coroa lusitana, pois, já que outros europeus também  estavam cobiça-lo. vão integrar-se ao esquema comercial do lugar. Franceses, ingleses e holandeses também lhes propuseram acordos mercantis. A atitude do rei do Benim deixa claro que os termos desses acordos comerciais não dependiam apenas da habilidade dos europeus, também estavam a mercê dos interesses dos diferentes povos africanos. Cantando a África o poeta dos escravos viaja nos vagalhões do mares do Atlântico. Nessa vaga da história viaja-se na poesia de Castro Alves-Antônio Frederico de Castro Alves (Curralinho, 14 de março de 1847 — Salvador- Vítimado por tuberculose),  cantava qual ciriema:-

Ontem a Serra Leoa, A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toaSob as tendas d’amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo, Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...E o sono sempre cortado Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar… Ontem plena liberdade,A vontade por poder...
Hoje... cúm’lo de maldade, Nem são livres p’ra morrer… Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade Tanto horror perante os céus?!...Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas Do teu manto este borrão?
Astros! noites! Tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!...(CASTRO ALVES)

- Nas suas cartas ao Rei Nóbrega solicitava escravos para desempenhar seu trabalho. Em 1552, Manuel Nóbrega desentende-se com o bispo e deixa Salvador partindo para São Vicente, onde em 1553 funda o Colégio São Paulo na aldeia de Piratininga, lançando as a bases para a futura cidade de São Paulo. Prosseguiu seu trabalho de catequese, aproveitando sua influência sobre os índios para ajudar Mem de Sá na expulsão dos franceses que haviam se estabelecido no Rio de Janeiro em 1555. Embora conseguindo a expulsão  dos invasores da ilha onde tinham-se estabelecido, na Baía de Guanabara, os franceses embrenharam-se nas matas, aliando-se aos tamoios. 
-Em abril de 1563 Nóbrega e Anchieta iniciam o trabalho de pacificação dos tamoios, que retiraram seu apoio aos invasores franceses, sendo estes finalmente derrotados. Estácio de Sá fora encarregado de fundar uma cidade, São  Sebastião do Rio de Janeiro, construindo um colégio de jesuítas, do qual Nóbrega participara na fundação. Morreu na cidade do Rio de Janeiro em 18 de outubro de 1570. Filho do desembargador Baltasar da Nóbrega, estudou humanidades no Porto e frequentou como bolseiro régio as faculdades de Cânones de Salamanca e Coimbra, onde obteve o grau de bacharel em 1541. Entrou na Companhia de Jesus, já sacerdote, em 1544, tendo efetuado missões pastorais na Beira e no Minho. 
-Na sua estada em São Vicente, percebendo aonde essa onda de violência poderia dar e os erros de negociações da coroa, o padre Manuel da Nóbrega resolve tomar as rédeas para apaziguar os ânimos e convoca como reforço José de Anchieta. Os dois chegaram na tribo de Iperoig, em 1563 e tentaram conversar com o chefe que mandou mensagem para todos os chefes das tribos aliadas para reunirem-se com os jesuítas.
- Os índios eram violentos, os índios não queriam apenas a saída dos portugueses, também queriam que os chefes Tupis fossem entregues para que eles pudessem executá-los. Comentou Militão. Vô falou disso na semana passada.
-A Confederação dos Tamoios aconteceu entre 1554 e 1567 e envolveu os portugueses, os franceses e as tribos indígenas dos Tupinambás, Guaianazes, Aimorés e Termiminós. João Ramalho, amigo de Brás Cubas, governador da Capitania de São Vicente,, casou-se com a filha do cacique da tribo dos Guaianazes, o Tibiriça. 
- Os índios acreditavam que um homem ao se casar com um membro indígena passava a fazer parte da mesma tribo, o que colaborou para uma aliança entre os portugueses e os índios da tribo guaianazes contra as outras nações indígenas. Nesta época os colonizadores procuravam mãos de obra escrava para trabalharem nas primeiras plantações de cana de açúcar, e junto com a nova aliança deram inicio a uma ação violenta contra os Tupinambás. Além do grande número de mortes, muitos índios foram presos por ordens de Brás Cubas, entre eles o chefe da tribo, Kairuçu e o seu filho Aimberê.
-Brás Cubas era aquele bandeirante? Perguntou Fausto.
-Sim. Respondeu Militão. - Aproveitando o enterro de seu pai, morto por maus tratos sofridos no cativeiro, Aimberê conseguiu fugir tornando-se o novo líder dos Tupinambás.
- Ele  reuniu-se com os chefes de outras tribos que ocupavam uma área litorânea que ia desde Bertioga em São Paulo  até Cabo Frio no Rio de Janeiro, e juntos deram inicio a Confederação dos Tamuya.. Esta aliança tinha como principal objetivo combater os portugueses e todos que os apoiassem, entre eles Tibiriça.
    Vô ficou observando, atento as colocações, e complementou.
-Nesta mesma época, em 1555, desembarcaram no Rio de Janeiro os franceses, liderados por Nicolau Durand de Villegaignon, que logo se aliaram aos Tamoios contra os lusitanos oferecendo a estes armas em troca da permanência em terras brasileiras. 
-Os franceses queriam fundar a França Antártica, um território para todos que eram perseguidos em seu país. Seria o paraíso dos corsários.Comentou Vera Lúcia.
- Cunhambebe, era o chefe da Confederação dos Tamoios, líder de uma aldeia próxima de Angra dos Reis. Conhecido por ser valente e destemido, marcou história devido a suas grandes batalhas contra os portugueses. Faleceu após um surto de doenças contraído pelo contato com os brancos, foi então que Aimberê ocupou o seu lugar e conseguiu apoio de Tibiriça contra os portugueses que aceitou lutar lado a lado durante três luas.
- Quando se encontraram, Tibiriça mostrou que continuava fiel aos colonizadores lusitanos e iniciou uma luta entre guaianazes e tamoios. Os tamoios ganharam a batalha com a morte de Tibiriça.
-Depois de uma longa negociação de paz entre portugueses e tamoios, os jesuítas conseguiram convencer os índios que resolveram ir para São Vicente para fechar um tratado de paz. Fuasto lembrou, que preocupado quanto as negociações, Pe. Nóbrega resolveu ir junto. Aimberê consegue a libertação dos índios aprisionados, entre eles a sua noiva Igaraçu.É verdade, disse Militão e comento:- Essa lua de mel vai durar um ano, os franceses que resolveram morar com os índios desenvolveram a criação de bovinos e a produção de tecidos em teares manuais nas tribos. 
-Depois deste período os índios voltaram a ser escravizados, já que os portugueses aproveitaram este ano para aumentarem. Temendo a liberdade e sabendo da grande desigualdade, os Tamoios não se intimidaram e resolveram lutar até a morte. É certos que morreriam escravos os índios vão lutar.Vô Inocêncio, sorriu, perguntou: E Os franceses, o que acontece.Quem sabe?
    Vera Lúcia afobada gritava: - Eu sei. Os franceses desembarcaram em Cabo Frio e sabendo do ocorrido reuniram forças com os Tamoios. Porém, os portugueses destruíram os naus franceses e queimaram as tribos. A guerra se estendeu por um ano, até que o governador geral do Brasil, Mem de Sá, vem reforçar o exército de seu sobrinho Estácio de Sá. No dia 20 de janeiro de 1567, os índios perderam a luta com a morte do grande guerreiro Aimberê.
     Vovô comentou:- Não vamos esquecer. Nóbrega defendeu a liberdade dos índios; favoreceu os aldeamentos, em estreita colaboração com o governador; cultivou a música como auxiliar da evangelização; promoveu o ensino primário através das escolas de ler e escrever e fundou pessoalmente os colégios de Salvador, de Pernambuco, de São Paulo, origem da futura cidade, e do Rio de Janeiro, onde exerceu o cargo de reitor. Ajudou a expulsar os estrangeiros da baía da Guanabara, contribuindo para o robustecimento do poder central e para a unificação política do território.
- O seu pensamento encontra-se expresso nas Cartas, nos Apontamentos e sobretudo no Diálogo sobre a Conversão do Gentio. Vou valer-me de  Marisa de Araujo Dias, que trata esta questão do poder jesuítico um carinho invejável.

[...] trata da influência da Companhia de Jesus na América Portuguesa. A Ordem foi de fundamental importância para a Coroa portuguesa dando legitimidade às conquistas e submetendo os índios aos costumes europeus e às leis do reino português. Percorremos como foi o percurso dos inacianos em um território completamente diferente do que estavam habituados, o trabalho missionário, as dificuldades enfrentadas e o ajuste às condições da colônia, sobretudo no que concerne ao uso do trabalho escravo e à maneira como pensavam esse tipo de trabalho. [...]seguinte aborda o modo como pensavam a relação entre senhores e escravos no dia a dia da colônia. As obrigações dos senhores para com seus cativos foram expostas na obra de Antonil e Jorge Bencie, por meio delas, analisamos o pensamento da Companhia aliado às informações que a historiografia nos oferece sobre a vida que girava em torno da fabricação do açúcar e seus derivados.
Se o modo como os senhores deviam se portar diante do sistema escravista é o objeto do nosso segundo capítulo, no  terceiro procuramos, sobretudo na obra de Antonio Vieira, verificar a parte que compete ao escravo. [...] a travessia do Atlântico, a sua condição de cativo e cumprir com suas obrigações para com seus senhores, é alvo da reflexão de Antonio Vieira em seus sermões pregados à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, composta na sua grande maioria por escravos. Visto quais são as obrigações dos senhores e escravos, como deveriam se comportar um diante do outro, procuramos ver como isso se dava na prática nos engenhos, fazendas e demais propriedades dos inacianos. Utilizando como subsídios informações sobre as propriedades contidas na obra de Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil, e os dados do Livro de Contas do Engenho Sergipe do Conde, pretendemos nos aproximar um pouco do como poderia ter sido a atuação dos jesuítas enquantosenhores de escravos. (DIAS 2012)

- É dessa sorte que começamos a ver a crueldade da igreja conivente com seus interesses, afinal o clero era basicamente de filhos abastados de pais abastados.
- Observai o que pede Manoel da Nóbrega em carta enviada da Bahia em julho de 1552 a Simão Rodrigues, o representante Provincial de Portugal, clamado ao Rei a conviniência de favorecer a Companhia de Jesus com certos Mimos.  “..Se o Rei favorecer este e lhe fizer igrejas e casas, e mandar escravos” contidas em Cartas de Manoel de Nóbrega pg. 123. Nóbrega já tinha escravos a sua disposição quando chegou ao Brasil, escravos de Guiné.
-Os soldados do Cristo vestiam algão cinza mais suas almas reluziam, a prostituição da fé, o doutrinamento do Outóctone. A visão de meu avô, nos ensinando história tinha algum, ou total fundamento.As cartas de Nóbrega não deixam de sustentar a realidade.Vide ALBUQUERQUE:

Os europeus levavam sal para uns, arroz, tecidos de lã e panos de algodão para outros e, em contrapartida, recebiam ouro e escravos, que, por sua vez, eram trocados por outros produtos, a exemplo da pimenta Percebe-se que antes do  Europeu chegar à África o escravo já existia, já era moeda de troca pelo próprio africano.  Estima-se que, entre 1500 e 1535, os portugueses levaram para o castelo de São Jorge entre dez e doze mil escravos. Muitos deles foram entregues pelos mandingas, e muitos outros adquiridos no Golfo do Benim, onde as caravelas portuguesas passaram a navegar com mais freqüência a partir do final do século XV. Em 1479, por exemplo, numa só viagem quatrocentos cativos vindo do Golfo do Benim foram trocados por ouro no castelo de São Jorge.(ALBURQUERQUE 2006 pg.25)   

    Lembra meu avô contando a história: -Vamos entender o surgimento da Companhia de Jesus, poderosa ordem que vai forte contra a reforma luterana, mas com a sutileza esmagadora da estratégia.  A Igreja Católica enfreaquecida  Só se pode falar de Jesuítas se falarmos de Inácio de Loyola  que nasceu provavelmente nasceu em 1491, no castelo de Loyola em povoação  de GUIpúzcoa, perto dos Pirineos. Filho de Don Bertrán,  Senhor de oficiais de loyola chefe de uma família mais antigas e nobres da região, tão ilustre era a família de sua mãe Dona Marina Sáenz de Licona y Balba. 
    Vovô era apaixonado pela história da companhia de Jesus, ainda ouço a voz dele falando de Inácio de Loyola:- Inácio lutou contra os franceses no foi ferido  em combate defendendo o Castelo de Pamplona em 1521 no dia vinte de maio. Convalecendo Inácio encontrou o caminho de fé foi fazer uma peregrinação pela cidade de Jerusalém.  Abandonou a a vida mundana e dedicou-se ao serviço de próximo e da caridade, visitado pela Virgem Maria Inácio renunciou a sua vida a bastada tornando peregrino.
     Entregue a oração e  a total pobreza, criou a Companhia de Jesus para defender o Evangelo do Cristo. Saiu Castillo, purificou-se  em Montserrat e seus irmão habitaram em todas as cortes ensinando e aprendendo o Evangelho. As Capitanias hereditárias foi um sistema de administração territorial criado pelo rei de Portugal, D. João III, em 1534. Este sistema consistia em dividir o território brasileiro em grandes faixas e entregar a administração para particulares, diga-se que os nobres com relações com a Coroa Portuguesa. 
    Este sistema foi criado pelo rei de Portugal com o objetivo de colonizar o Brasil, evitando assim invasões estrangeiras. Ganharam o nome de Capitanias Hereditárias, pois eram transmitidas de pai para filho, de forma hereditária. Estas pessoas que recebiam a concessão de uma capitania eram conhecidas como donatários. Tinham como missão colonizar, proteger e administrar o território. Por outro lado, tinham o direito de explorar os recursos naturais madeira, animais, minérios. O sistema não funcionou muito bem. 
    Em 1540 Inácio criou a ordem dos Soldados de Cristo, a Companhia de Jesus. Não esquecer que o próprio Inácio de Loyola pedia tolerância com a diferença estes homens vão garantir a terra do rei e as almas de Deus. Apenas as capitanias de São Vicente e Pernambuco deram certo. Podemos citar como motivos do fracasso: a grande extensão territorial para administrar (e suas obrigações), falta de recursos econômicos e os constantes ataques indígenas. O sistema de Capitanias Hereditárias vigorou até o ano de 1759, quando foi extinto pelo Marquês de Pombal. 
    Era necessário conter os cristão novos, era necessário contornar a inquisição, era necessário a mão de obra escrava, era necessário dar retorno à metrópole os índios, os ditos autoctones estavam protegidos pela bula papal. Restava o negro para cumprir a função produtiva, então, por falarem variações do mesmo idioma, adorarem a alguns deuses em comum, compartilharem a mesma origem mítica e ocuparem o mesmo território (entre o sudoeste da Nigéria e o sudeste da república de Benim) vários reinos, a exemplo de Queto, Egba, Oió e Ijexá, passaram a ser denominados pelos missionários europeus de iorubás.
- Vamos olhar o perfil do fundador da Companhia de Jesus, o Santo Ignácio de Loyola, que perceberemos de onde vem a força da caridade, doação e da renuncia, o que talvez tenha atraído José de Anchieta (1534-1597) nasceu em San Cristóbal de La Laguna, em Tenerife, nas ilhas Canárias, pertencente à Espanha, no dia 19 de março de 1534. Filho de João Lopez de Anchieta, fidalgo basco, e Mência Dias de Clavijo y Lerena, descendente dos conquistadores de Tenerife. Aprendeu as primeiras letras em casa, ingressou na escola dos dominicanos. Aos 14 anos, em companhia de seu irmão mais velho vai para Coimbra. Ingressa no Real Colégio das Artes, onde estuda humanidades e filosofia. Observava os detalhes.
- Anchieta vovô? Perguntou Vera Lúcia. Cópia do velho Inocêncio, sempre perguntava o que já havia lido, como que testando os demais o tempo todo.
    O velho cega sorria aos questionamentos, e sempre afagava os cabelos da neta querida:-Em 1550, Anchieta candidata-se ao Colégio da Companhia de Jesus, em Coimbra, e em 1551 é rescebido como noviço. Em 1553 é escolhido para as missões em terras brasileiras. Com um grupo de religiosos, integra a frota de Duarte da Costa, segundo Governador-Geral do Brasil, enfrentando 65 dias de viagem, chefiados pelo Padre Luís de Grã.     Ao descer na Capitania de São Vicente, Anchieta teve seu primeiro contato com os índios.
     A ação dos jesuítas na catequese dos índios se estendia de São Vicente até os campos de Piratininga. Temos noticias que o Alemão, que tinha andado por esse Brasil lá pelos idos de 1520. José de Anchieta, junto com outros religiosos, com o objetivo de catequizar os índios carijós, sobe a Serra do Mar, rumo ao Planalto, onde se instala e funda o Colégio Jesuíta.
- Reza a lenda, que Hans Staden nasceu em Homberg, na província de Hesse-Nassau, na Prússia, por volta de 1520. Participou de duas viagens ao Brasil como controlador da artilharia de guerra. Aprimeira começou em Kampen, na Holanda, em 29 de março de 1547, de onde rumou para Lisboa. Atravessou o Atlântico em um navio português e participou de batalhas contra os franceses na altura de Pernambuco, voltando a Lisboa em 8 de outubro de 1548. Um ano antes de Thomé de Souza trazer Manaoel de Nóbrega ao Brasil.
- Então a coroa portuguesa tinha controle do que ocorria aqui no Brasil?
- De cderta forma sim. A segunda viagem teve início dois anos depois, e Staden dirigia-se ao Rio da Prata, atraído pelos rumores da existência de ouro na região. Embarcado em navio espanhol, o alemão naufragou junto com a tripulação no litoral de Itanhaém, em São Vicente (atual estado de São Paulo). Salvo, ele lutaria na guerra dos portugueses contra os tupinambás, pois sabia manejar canhões. 
- Certo dia, em busca de caça na floresta, Hans Staden foi capturado pelo grupo indígena inimigo. Os guerreiros logo arrancaram suas roupas e o levaram para a aldeia. Começava, então, a saga de Hans Staden entre os canibais. Honra dos que se destacavam em combate, comiam suas vítimas mais bravas para obterem de suas carnes o sustento do guerreiro, e acumularem vigor nas batalhas.
-Quando vão fundar São Paulo? Perguntou Militão.
-No dia 24 de janeiro de 1554, dia da conversão do Apóstolo São Paulo, celebra uma missa, em homenagem ao Santo. Era o início da fundação da cidade de São Paulo. Logo se formou um pequeno povoado. José de Anchieta aprendeu a língua tupi, o que mais tarde lhe permitiu escrever a Gramática tupi, que seria usada em todas as missões dos jesuítas. 
O ritual de antropofagia era um costume corrente entre os ameríndios no Brasil, geralmente nas festas, para comemorar vitórias de guerra contra etnias contrárias, em que se comiam os índios capturados da outra tribo. Esse costume, porém, não foi visto com bons olhos pelos portugueses, que tentaram suprimir esta prática de todas as maneiras, utilizando inclusive a força para esta meta. O governador Mem de Sáfoi quem de forma mais incisiva combateu este costume. Ver Pompa, Religião com tradução ( Cartas de Anchieta).
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- José de Anchieta participou da luta para expulsão dos franceses ao lado de Manoel da Nóbrega no Segundo Governo Geral, que em 1555, haviam invadido o Rio de Janeiro e conquistado os índios tamoios .Em 1577, com 43 anos e 24 passados no Brasil, Anchieta é designado provincial, o mais alto cargo da Companhia de Jesus no Brasil. 
- Com a função de administrar os Colégios Jesuítas do país, viaja para várias cidades, entre elas, Olinda, Reritiba (hoje Anchieta) no Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santos e São Paulo. Foram 10 anos de visitas. Em abril de 1563 parte de São Vicente com a missão de paz junto aos tamoios. Na longa missão que durou sete meses a paz havia sido restaurada. Depois de várias lutas, finalmente os franceses foram expulsos no dia 18 de janeiro de 1567. Em 1597, o padre José de Anchieta, já doente vai para Reritiba, aldeia que fundou no Espírito Santo, onde passa seus últimos dias, falecendo no dia 9 de junho de 1597.
- Então como entra Antonio Vieira nessa história? Observou Fausto.
- Antônio Vieira foi nomeado embaixador para negociar a paz com a Holanda, que recusava todas as propostas para retirar-se de Pernambuco. Viaja para Paris e em seguida para Holanda. De volta ao Brasil, segue para o Maranhão com o objetivo de libertar os índios injustamente cativos.     
Antônio Vieira (1608-1697) nasceu em Lisboa, na Rua do Cônego, próximo a Sé, no dia 6 de fevereiro de 1608. Filho de Cristóvão Vieira Ravasco e Maria de Azevedo. Seu pai era escrivão da inquisição e foi nomeado para o cargo de escrivão em Salvador e só em 1614 sua família veio para o Brasil. Antônio Viera tinha 6 anos na época.

- Em 1661 foi expulso do Maranhão, pelos senhores de escravos que não aceitavam suas ideias. Voltou para Lisboa onde foi preso pela inquisição, que o acusou de heresia. Anistiado em 1669, viajou para Roma, quando foi absolvido pelo Papa em 1675.
-Então foi vítima da inquisição?
- Sim, o Padre Antônio Vieira abandonou definitivamente a Corte, voltou para Bahia, onde entre os anos de 1681 e 1694 dedicou-se a ordenar seus sermões para transformá-los em livros. Doente e quase cego, fez suas últimas pregações. Antônio Vieira deixou mais de 200 sermões e 700 cartas. Padre Antônio Vieira morreu em Salvador, Bahia, no dia 17 de junho de 1697.
    Recorrendo a Pero Vaz de Caminha na sua carta ao Rei de Portugal, num trecho de sua Carta à  S.A.R el Rei de Portugal:
E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.(VAZ DE CAMINHA).
    
    Antônio Vieira, de noviço passou a estudante de teologia. Fez curso de lógica, física, economia e matemática. Em 1627 começou a dar aulas de retórica em Olinda. Em 1633 começou suas pregações, visitando as aldeias indígenas, próximas da cidade. No ano seguinte se ordena sacerdote e em 1638, passou a dar aulas de teologia. Como pregador em cima de um púlpito, sua fama se espalhou, defende a colônia, se rebela contra a escravidão e clama pela expulsão dos holandeses em Pernambuco.
    Em 1640, em Portugal, D João IV sobe ao trono, restaurando a monarquia, depois de sessenta anos de subordinação ao trono espanhol. Em fevereiro de 1641, Antônio Vieira parte para Lisboa. Em 1642 seus sermões já haviam conquistado o rei e a rainha D. Luísa. Torna-se o guardião da Coroa. Em seus sermões procura apoio para o rei diante de uma reunião com os representantes do povo, a nobreza e o clero, onde se votariam os tributos para a continuação da guerra com a Espanha. Esta passagem pela Corte rendeu os frutos desejados pelo Padre Vieira. D.João IV publicou uma lei sobre a questão indígena – a provisão de 09 de abril de 1655 -. João Francisco Lisboa esclarece sobre esta provisão: Com essa lei [...] e com o novo regimento dado então aos governadores do estado conseguiu Antonio Vieira para a Companhia de Jesus o exclusivo das missões que ele próprio foi declarado chefe ou superior com um poder quase ilimitado, pois lhe ficou competindo marcar o tempo, lugar e número delas, para cujas entradas se lhe daria uma guarda militar com cabo quase da sua escolha, além de diversas outras disposições sobre a repartição, serviço e salário dos índios, com intervenção constante dos missionários (LISBOA,1948, p. 316).
    Inicia-se em Portugal nessa época, uma disputa entre jesuítas e dominicanos. Os jesuítas propagavam a fé através da catequese, enquanto os dominicanos se propunham a defendê-la organizando os tribunais da Inquisição. Meu avô era um erudito, tinha a hermenêutica a fina flor dos olhos que lhe privavam da luz do dia, mas abundava à luz do conhecimento. Era um amante da história e da Companhia de Jesus.
- António Vieira propõe anistia aos judeus e a volta deles para Portugal, uma vez que a maioria era comerciante e seria de grande valor para o reino. Sugere a criação de companhias mercantis, uma Oriental e outra Ocidental.
-Então a inquisição prejudicou o desenvolvimento de Portugal?
- Sim, filho. De potência comercial, os eventos da Guerra dos Sete Anos fizeram da Companhia das Índias Orientais uma potência militar e territorial. É nessa época que foram fincados os fundamentos do Império Britânico no Oriente. As ações da Companhia ascenderam a 263 libras esterlinas e os dividendos eram distribuídos à taxa de 12,5%. Mas a Companhia viu então surgir um novo inimigo, não mais sob a forma de sociedades rivais, mas sob a de ministros rivais e de uma nação rival. Alegava-se que o território da Companhia havia sido conquistado com a ajuda da frota britânica e dos exércitos britânicos, e que nenhum sujeito britânico poderia deter a soberania territorial independente da Corôa. 
    Os Ministros de então e a nação reclamaram sua parte dos fabulosos tesouros que a Companhia supostamente detinha graças às últimas conquiestas. A companhia só mantinha sua existência devido a um acordo obtido em 1767 em virtude do qual ela deveria destinar anualmente 400.000 libras esterlinas ao Tesouro. Mas a Companhia das Índias Orientais, em lugar de cumprir seu compromisso, em lugar de pagar um tributo à nação inglesa, encontrava-se prisioneira de dificuldades financeiras, fazendo um apelo ao Parlamento para dele obter uma ajuda pecuniária. A consequência desse encaminhamento foram sérias modificações na Carta.
- Os negócios da Companhia não melhoraram a despeito de sua nova condição, e para a nação inglesa, tendo ao mesmo tempo perdido suas colônias na América do Norte, fez-se sentir mais e mais universalmente a necessidade de conquistar em outros lugares um vasto império colonial.
-O célebre Fox acreditava vindo o momento, em 1783, para baixar seu famoso bill sobre a Índia, que propunha abolir os Conselhos de Diretores e dos acionistas, e concentrar todo o governo da Índia nas mãos de sete comissários nomeados pelo Parlamento. 
-Por quê é importante entender a política inglesa vovô? Fausto perguntou baixinho.
-Para de fazer pergunta! Explodiu Vera , só ela se achava no direito de fazer perguntas.
- Parem de brigar, senão paro de contar histórias. Bem, Portugal tinha  negócio com a Inlaterra.Posso continuar?
- Pode!!!!
- Graças à influência pessoal de um rei imbecil George III sobre a Câmara dos Lordes, o projeto de Fox foi rejeitado, o que permitiu derrubar o gabinete de coalizão de Fox e de lord North, então no poder, e de colocar o famoso Pitt à testa do Governo. Pittfez, em 1784, adotar pelas duas Câmaras um projeto de lei, visando à criação do Bureau de controle, composto de seis membros do Conselho privado, encarregados de "verificar, observar e controlar todos os atos, operações e negócios de algum modo relativos à adminstração civil e militar, ou às receitas de territórios e possessões da Companhia das Índias Orientais.
    Por isso, não se pode entender a prosperidade do tráfico de escravos sem levar em consideração a combinação de interesses entre europeus e africanos. É bem verdade que as nações européias tentaram manter o controle sobre as regiões produtoras de escravos, mas o tráfico africano era um negócio complexo e envolvia a participação e cooperação de uma cadeia extensa de participantes especializados, que incluía chefes políticos, grandes e pequenos comerciantes africanos; e o fato que desde que mundo é mundo que o vencido se submete ao vencedor.
    Fui bauscar em LUCIANO apoio às inhas memórias, e olha o que ele nos diz:

A semente do sertanismo estava inscrita nestas alianças em dois sentidos importantes.Primeiro, as lideranças indígenas buscavam aliados portugueses para aumentar seu prestígio e seu poder de fogo em guerras contra outros grupos, que envolviam expedições para capturar inimigos e perpetuar a vingança. Em segundo lugar, as uniões entre portugueses e índias produziram filhos mestiços, os chamados mamelucos. Muitos destes se valeram de suas raízes nativas e de suas habilidades linguísticas para se tornarem sertanistas especializados, alimentando a crescente demanda de seus parentes brancos por escravos. Já as filhas mestiças se casaram com portugueses, dando início a genealogias que instalavam uma “nobreza da terra” ao mesmo tempo em que apagavam o passado indígena. Na capitania de São Vicente, a principal aliança deste tipo se deu por meio da relação entre o náufrago português João Ramalho e Mbcy (ou Bartira), filha do chefe tupi Tibiriçá. Com a fundação da Vila de São Vicente em 1532 e a introdução da produção açucareira pouco depois, as guerras entre grupos indígenas passaram a produzir um número crescentede braços para a nascente economia colonial. No final da década de 1540, segundo um relato da época, existiam três mil escravos índios no litoral vicentino, ocupados nos seis engenhos e   nas outras propriedades dos europeus.(LUCIANO 2013 Op. Cit.).

    Escravizar sempre  esteve dentro do homem, e o mundo era mundo de barbarie, nos que se sentiam superiores, os vencedores subjulgavam seus submetidos. O motivo sempre é o lucro fácil, a necessidade de mostrar e sustentar poder de uns sobre os outros. Para entender a presença da Ordem dos Soldados de Cristo no Brasil precisamos retornar ao  ano de 1750, quando um acordo estabelecido entre Portugal e Espanha, dava direito de posse aos portugueses sobre o aldeamento jesuíta de Sete Povos das Missões. Nesse mesmo tratado ficava acordado que os jesuítas deveriam ceder as terras à administração colonial portuguesa e as populações indígenas deveriam se transferir para o Vice-Reinado do Rio Prata. 
    Vô Inocêncio sentado na cadeira de embalo, Militão querendo colo, Fausto Buscando a outra perna, enquanto Vera Lúcia chegava toda cacheada, descia o braço em todos e todos acabvam sentados no chão em volta do velho Inocêncio. Vera adorava quando a história tinha índios. Era quando as interrupções  era bem menores.
- Os índios resistiram à ocupação, pois não queriam integrar a força de trabalho da colonização espanhola; e os jesuítas não admitiam perder as terras por eles cultivadas.
-Os naturais resistiam, mantinham-se livres na sua terra não se permitiam ser escravos, não se aquedavam ao trabalho extenuante, não eram afeitos ao trabalho como os negros.
    A sociedade sofria quando grande número de pessoas estão descontentes com a sua sorte. Além disto, clero, príncipes e camponeses estavam igualmente insatisfeitos. Os bispos eram mundanos, desfrutando ricos benefícios, vendendo a salvação ao passo que, sacerdotes ignorantes e acossados pela pobreza abundavam como miseráveis clericais. Os mosteiros, igualmente, ressentiam-se da interferência e das exações dos bispos; e, por sua vez, eram de frouxa observância, com consequentes dissensões internas.
- Então tinha muito interesse em meio a este espaço. Oh! Como tinha. Militão observou.
-Por isto, muitos membros do clero, tanto diocesano como regular, estavam prontos para jogar fora as suas batinas e para seguir o ainda mais atenuado Evangelho de Lutero. Entre os pequenos príncipes alemães reinava o ciúme e a anarquia, e êles estavam mais do que prontos para as guerras de religião que em breve deviam seguir-se. Os camponeses, espezinhados e miseráveis, pensavam também poder ganhar muito com a revolução protestante, embora na realidade viessem a achar-se logrados e trucidados. 
- Então o Brasil nasce no fim da idade média, no início da idade moderna? No período foi tradicionalmente delimitado com ênfase em eventos políticos?
- Colocado nesses termos temos que esclarecer o que é idade média.
- A idade media teria se iniciado com a desintegração do Império Romano do Ocidente, no século V (476 d.C.), e terminado com o fim do Império Romano do Oriente, com a Queda de Constantinopla, no século XV (1453 d.C.) Periodo em que Martinho Lutero começa sua luta para  a reforma da Sacra Santa Igreja Católica Apostólica Romana. A inquisição ferrenha perseguidora chega às Américas pelo braço espanhol.
- Muitos autores alegam falta de mão de obra para fomentar desenvolvimento da colônia como motivo exploração da mão de obra escrava negra na terra de  Santa Cruz, de Vera Cruz, o Brasil, que acima de tudo à época era terras da coroa Portuguesa. Nas falas de encontrada nas Manuelinas; A escravidão pode ser definida como o sistema de trabalho no qual a peça (o escravo) é propriedade de outro, podendo ser vendido, doado, emprestado, alugado, hipotecado, confiscado. Legalmente, o escravo não tem direitos: não podia possuir ou doar bens e nem iniciar processos judiciais, mas podia ser castigado e punido. Vide as Ordenações manuelinas, afonsinas e filipinas.
-Essas Ordenações são a base do direito Brasileiro?
- Sim. A organização social na Idade Moderna registra-se inicialmente que uma das características deste período é o surgimento dos Estados Nacionais, o fortalecimento da burguesia e a expansão marítimo comercial.
- Os Estados Nacionais referem-se à aliança entre o rei e a crescente burguesia, no qual o primeiro deixa de ser simplesmente um grande nobre, passando a centralizar o poder político de mando sobre vários feudos. Com isso, as inúmeras leis existentes de acordo com cada feudo são substituídas por leis nacionais, válidas para todos os que habitavam o território de seu domínio. 
-Este fato contribuiu para viabilizar e  potencializar o desenvolvimento do comércio, pois, para transitar de um feudo para outro os mercadores, a burguesia comercial não necessitavam mais ficar pagando tarifas alfandegárias aos senhores feudais. Trata-se de um processo e, portanto, apesar de que, nos século XV e  XVI, ocorrem intensas transformações, muitos camponeses deslocam-se para as cidades, a esmagadora maioria dos europeus continua a viver do trabalho de cultivo do campo. 
    O entendimento de erudito, a hermenêutica, a que meu avô se  dispunha a ofertar foi conseguida nas noite em alto mar,livros e livros lidos, e quando o escuro dos olhos lhe privaram da beleza dos dias, o conhecimento absorvido e adquerido, tornou-se a luz a debelar a ignorância dos netos. Sempre lembrava, que foi necessário perder a luz dos olhos para clarear a escuridão dos netos.
- Continuavam submetidos às obrigações feudais enquanto ocorria a fuga do homem do campo e se desenvolvia a urbanização e industrialização. Os Estados Nacionais e a centralização política incentivou o mercantilismo que predominou entre os séculos XV e XVIII, caracterizado como um conjunto de ideias e práticas econômicas benéficas ao Rei e a burguesia comercial. A união entre os  interesses da burguesia mercantil, aliada aos interesses do rei em expandir os seus territórios e da religião em conquistar novos fiéis impulsionou as grandes navegações iniciada no século XV, que contornou a África, alcançou o oriente e aportou na América. 
-Os novos cristãos, sob o hábito da inquisição dominicana, que haviam até então respeitado neles os afetos domésticos, e deixavam ao amor paterno consolar-se com as carícias da prole infantil. D. João II despedaçou-lhes essa última fibra do coração que ficara intacta. Os filhos menores dos judeus cativos foram tirados aos pais e transferidos para a ilha de S. Tomé, começada a povoar pouco antes, lá foram feitos teste de produção açucareira.
- As providências tomadas acerca dos foragidos serviam pelo contrário a azedar os ânimos. Era justamente aos ricos e aos oficiais mecânicos, ao menos a certos, que fora concedida a faculdade de se estabelecerem no reino; isto é, às duas classes de judeus mais odiosas pelos motivos que anteriormente vimos, as quais engrossavam em número com a acessão de novos membros, ampliando-se, assim, as probabilidades do aumento de vexames, da parte de uma, e de corrupção, da parte de outra. 
- O exemplo de Castela mostrava que era possível dispensar os capitais, a atividade e a indústria dessa gente no meneio da fazenda pública e nos serviços comuns da vida, em contrário do que o rei afirmara nas cortes de 1490. Além disso, vendo-se e ouvindo-se por toda a parte e da boca dos próprios foragidos a história das perseguições de que eram vítimas, o povo habituava-se à idéia de se repetirem em Portugal cenas análogas, em nome da religião ofendida. Tal era a situação dos judeus e o estado moral do país em relação a eles nos anos que precederam imediatamente a morte de D. João II. Este sucesso, ocorrido nos fins de 1495, elevou ao trono o duque de Beja, D. Manuel, primo do rei falecido. 
- Membro de uma família perseguida, o novo monarca aprendera nos dias da adversidade a ser humano, se não é que a própria índole o inclinava à indulgência, ensino ou propensão que a fortuna e o hábito de reinar haviam de ir obliterando como decurso do tempo. Um dos primeiros atos de D. Manuel foi dar a liberdade ao grande número de judeus que tinham sido reduzidos à condição de servos.Na ilha de São Tomé.
- O açúcar  foi  fortalecer Pernambuco,  e assim trouxe o ouro nas idas e vindas das entradas. A mineração, essa mudança de fundo no caráter do escravismo brasileiro apenas se acentuou. A instituição se difundiu social e espacialmente, com a disseminação da posse de escravos pelo tecido social e a criação de hierarquias étnicas e culturais bastante complexas. Antigas áreas de plantação, como a Zona da Mata pernambucana e o Recôncavo Baiano, mesmo mantendo a produção escravista açucareira, verificaram igualmente essas transformações.
- A necessidade de responder às espectativas do rei de portugal provocava o sonho de encontrar ouro, pedras preciosas e escravos índios, não raro confrontavam com mocambos e somavam riquezas com a prisão dos negros fujões.
-Como foi a construção do Norte? Pergúntou Vera Lúcia.
-Foram os espanhóis que conquistaram. Argumentou Fausto.
    Militão questionou ao vô Inocêncio:- Essa parte do Brasil eram Terras da Capitania do Maranhão.Ou não?
      O Vô Inocêncio sentou na cadeira de balanço e comentou: - O Brasil não era somente sul e sudeste tinha terras ao norte que, precisavam marcar o domínio português, assim construiram fortaleza de São José do rio Negro, esta foi construída pelo colonizador português para assegurar o controle da confluência do rio Negro com o rio Amazonas e controlar o portão de entrada da Amazônia ocidental, que pertencia à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas. 
- Não tinha aparência de uma fortaleza, mas sim com pequeno forte com formato quadrangular e muros baixos, com quatro canhões de pequeno calibre, em 1669, foi construída a Fortaleza de São José do Rio Negro, sob a inspiração do Cabo de tropas Pedro da Costa Favela. Os construtores foram o capitão Francisco da Mota Falcão e seu filho Manuel da Mota Siqueira os portugueses fundaram o forte de São José do Rio Negro. Em 1695, Barcelos era sede da comarca.
- Os Jesuítas eram os responsáveis pelas almas das Capitania, Carvajal era jesuíta?
- Carvajal Era da expedição espanhola.Observou Militão.
    Vô sorriu, e comentou: - Nesse caso foram os carmelitas ergueram a primeira capela em homenagem a Nossa Senhora de Conceição. Surgiu, assim, o primeiro povoado de Manaus, a princípio um aldeamento de índios descidos do Japurá, os barés; do Japurá/Içá, os passes; do rio Negro, os banibas e os temidos Manaus. Não iludamo-nos com a calma, os índios resistiram ao aldeamento sem temor lutaram, morrertam antes de  se entregarem.
- A partir de fim do século XVII, o sistema escravista brasileiro passou a escorar-se em uma estreita articulação entre tráfico transatlântico de escravos bastante volumoso e número constante de alforrias. Na década de 1670, ainda no curso da Guerra dos Palmares, as autoridades coloniais portuguesas e os representantes imperiais brasileiros não tinham em suas mentes negociar com revoltosos e mocambeiros.
    Militão fez um comentário com base numa manchete de jornal: - A história do garimpo no Brasil, desde o seu surgimento, foi profundamente marcada pelas flutuações e ambigüidades do estatuto institucional a ele imposto pelo Estado.
- Sim, Lembrando a história do Alferes Mineiro. Vô toda história teem vários ângulos. Afirmou Vera Lúcia. Vários autores reconstruindo a trajetória histórica desses empreendimentos de mineração, podem-se encontrar vários momentos em que a atividade garimpeira seria intensamente perseguida pelos órgãos fiscais como um trabalho ilegal.
- Em outros, no entanto, a atividade seria tolerada e até mesmo estimulada como geradora de riquezas e emprego. Estas instabilidades definiram, já em sua constituição, a estrutura organizacional do garimpo, bem como as representações sobre o tipo social do garimpeiro? Observou Fausto.
- A busca por ouro e pedras preciosas no Brasil se inicia desde o descobrimento. Já nos séculos XVI e XVII, inúmeras expedições de pesquisa mineral (as Entradas) foram promovidas diretamente pela metrópole ou por seus prepostos.
- À margem destes movimentos de penetração, coexistiu também o aventureirismo:- indivíduos, que por sua conta e risco, enfrentavam os perigos dos sertões em busca de riqueza e sustento próprio.
-O ouro foi encontrado quase simultaneamente em diversas regiões correspondentes à atual Minas Gerais, por diferentes grupos paulistas. Com estas descobertas e a abertura das minas, no final do século XVII, a região, antes praticamente deserta, vai sendo gradativamente povoada.
-  O desenvolvimento da mineração determinou os ritmos e os modelos de povoamento, fixando os trabalhadores e incentivando o comércio e a agricultura. Esta crescente urbanização foi incentivada pelo Estado, visando à consolidação de seu poder. Este fato pode ser percebido na carta de nomeação de Antônio de Albuquerque como administrador colonial, em 9 de novembro de 1709, em que um de seus itens era a alusão à normalização e à necessidade de fundar cidades. 
- Os objetivos básicos desta política de urbanização eram estabelecer a ordem e permitir maior controle sobre a população flutuante dos mineradores, facilitando o controle fiscal da extração por parte da Coroa.
-Por volta de 1720, mais de 120 mil habitantes espalhavam-se por Minas Gerais, fazendo crescer as cidades do ouro os caminhos é estabelecidos na região das minas, a partir de 1697, dá-se rapidamente a substituição da mão de obra indígena pela africana. Entre outras razões, a troca se dava pela prática da extração já adquirida na África pelos negros. Comentou Fausto fundamentado na obra que vô Inocêncio pediu que lesse.
-Este fato, somado ao rápido aumento da escala de produção, fez com que o preço dos escravos subisse a níveis então nunca vistos. Minas Gerais passou a contar com o maior contingente de escravos do Brasil. Na metade do século XVI, os franceses eram perigosos rivais dos portugueses na Costa da Pimenta e na Costa do Ouro. 
    A cada conversa e discussão sobre a história ficava patente, o bem estar de poucos está sempre associada a miséria de muitos, mas outros tantos não se aventuram para uma causa, esperam que outr;em pague por seus desejos e realizações, este buscam os caminho mais fácieis para a fortuna, sempre com desonestidade. As vezes via meu avô provocanado as facilidades.
    Vovô interrompeu minhas reflexões, e continuou a narrativa: - Ao que parece eles exportavam para a África muito mais mantimentos do que os portugueses, o que se revelou particularmente prejudicial aos interesses destes últimos, na região de Elmina. Foi assim que, em 1556, os franceses e os ingleses levaram tamanha quantidade de mantimentos e os venderam a preços tão irrisórios que, em Elmina, o agente português ficou incapacitado de comprar o ouro. Entretanto, trata­‐se, aqui, de um caso excepcional e, em seguida, os portugueses repararam a situação. 
    A expansão francesa foi, sem dúvida, um pouco contida na época das guerras de religião, mas essa é uma hipótese que deve ser confirmada. Parece que haviam sido vendidas armas de fogo aos soberanos locais das costas do Camarões. Entretanto, foi no Senegal que os franceses encontravam­‐se mais solidamente implantados; lá, eles cooperavam frequentemente com os tangomãos, emigrados das ilhas de Cabo­‐Verde e mulatos, em sua maioria. Eles expulsaram os portugueses do estuário do Senegal e da Gâmbia, mas se viram, por sua vez, obrigados a ceder o lugar aos ingleses, no fim do século XVI. Na África, a penetração destes últimos, no século XVI, é análoga aquela dos franceses. 
    Eles começaram a travar sólidas relações econômicas com o Marrocos, a partir de 1541, ano em que os portugueses foram expulsos de grande parte dos portos que possuíam no Atlântico, os quais, a partir de então, abriram­‐se aos navios de outros países europeus. Por volta de 1550 a 1565, as companhias comerciais inglesas promoveram várias expedições cuja narrativa foi preservada. Exploravam as costas do Atlântico do Oeste até o Golfo de Benin, onde compravam, sobretudo, ouro, peles e um pequeno número de escravos. 
    Vera Lúcia posicionou-se na conversa, observando: -As narrativas portuguesas mostram que, no fim do século XVI, os ingleses mantiveram contato com a população da Costa do Ouro, ainda que pouco se interessassem pelo tráfico de escravos. Sabe­‐se que, em 1623, Richard Jobson recusou­‐se a comprar escravos negros na baixa Gâmbia, ao passo que, na mesma época e África do século XVI ao XVIII mesma região, os portugueses eram muito ativos nesse campo, cooperando comos traficantes africanos 26 . Pouco se sabe a respeito da penetração inglesa em outras regiões da África Ocidental. Todavia, no fim do século XVI, a presença dos ingleses era muito forte nos confins da Senegâmbia, de onde eles conseguiram expulsar não só os portugueses, mas também os franceses.
-Sim Luis de Camões vai tratar de forma muito especial em Os Lusíadas. Comentou Fausto. O comentário fez o velho Inocêncio sorrir.
-E você leu os Lusíadas? Meu neto,
-Sim, muito gostoso a poesia de Camões. 
    Vovô sorriu e prosseguiu com a narração: - Em 1588 foi criada a primeira companhia inglesa de comércio com a “Guiné”, principalmente, a partir da iniciativa de mercadores de Londres e de Exeter, que já participaram ativamente das expedições comerciais no estuário da Gâmbia. 
-Entretanto vovô, isso não permite afirmar que, esta companhia tenha se desenvolvido muito. Talvez, os ingleses pensassem, no fim do século XVI, que a pilhagem dos navios castelhanos, nas águas do Atlântico, lhes renderia mais do que o comércio com a África.Ledo engano. Enfatizou Militão.
-Foi precisamente nesta época que os Holandeses apareceram no litoral da África. Vera sorriu e comentou:- Fausto eles vão dominar a África do sul.
- Não sei não, mas o vovô deve saber.
- Posso voltar ao racínio, ou vão ficar saindo do foco da conversa. Eles estavam, então, em guerra com a Espanha e se recusavam a respeitar a partilha do Atlântico, decretada pelo papa. Eles tratavam Portugal, nesta ocasião governado por Felipe II, como inimigo. Os enormes capitais acumulados por seus negociantes e a potência de sua frota permitiram­‐lhes penetrar mais profundamente na Índia e na África do que os ingleses e os franceses.
    Vera Lúcia recostou-se no travesseiro, deitou a cabeça no colo do vô e afirmou:- Os holandeses vieram a Gorée em 1594 e 1595 e, alguns anos mais tarde, atingiram o cabo de Benin onde compraram tecidos de algodão e cauris, que seriam trocados, na  Costa do Ouro, por ouro e prata. Em 1611, construíram o porto de Nassau, em Morée, na Costa do Ouro; será esta a primeira feitoria fortificada dos holandeses, na Costa Ocidental da África.
-Em minas razoavelmente grandes, a exploração era feita de forma organizada, reunindo-se, sob uma única direção, numerosos trabalhadores, geralmente escravos, que utilizavam instrumentos especializados.
- As lavras menores, com baixa perspectiva de produção, bem como aquelas abandonadas após estarem praticamente esgotadas, eram exploradas individualmente, com recursos e instrumentos precários.
-Vamos direto a mineração no Brasil. Observou Fausto.
- Verdade, concordou Vera Lúcia e Militão.
- Pois bem, admitiu vovô: - No início, estes instrumentos consistiam em pratos de estanho. Coube aos negros, logo em seguida, o ensino do uso de bateia espécie de bacia de madeira, redonda e achatada, de 2 a 3 palmos de diâmetro com a qual se encontrou ouro no Tripuí em 1696. Em 1700, chegam a Minas Gerais quatro mineradores do Rei no que, juntamente com mineradores paulistas, desenvolvem, em 1707, a técnica de “desmontar as terras com água superior aos tabuleiros altos.. Em 1711, foram desenvolvidas por um clérigo, Frei Vicente do Salvador em seu livro quarto da História do Brasil, escrito em 1583.
- Vô, há muitos anos que  a fama de haver minas de ouro pairava, e de outros metais na terra da capitania de São Vicente, que el-rei d. João o Terceiro doou a Martim Afonso de Souza, e já por algumas partes voava com asas douradas, e havia mostras de ouro; o que visto pelo governador D. Francisco de Souza, avisou a Sua Majestade oferecendo-se para esta empresa, e ele lha encarregou.
- Era um currupto português esse D. Francisco, veio para colônia ávido de riquezas.
-Por 200 anos, minha neta, mais do que uma obsessão, o ouro ou a ausência dele, fora uma maldição para os portugueses que viviam no Brasil. - Mas foi a ilusão do ouro que fundou o Paraná. Observou Militão. 
- Sim. Concordou Vera Lúcia. Embora desencadeador do ciclo do ouro brasileiro, o Paraná pouco contribuiu para abarrotar as burras da casa real lusitana ou inglesa.
- O Tratado de Methuen, prosseguiu Militão:- assinado em 1703, fez com que o minério brasileiro fosse parar diretamente na Inglaterra e financiasse toda a revolução industrial com o dito precioso metal.
    Vovô ficou olhando por alguns instante na linha do horizonte podia-se perceber a saudade e a tristeza degladiando dentro do peito do marinheiro. Vera Lúcia abraçou-o e perguntou:- Vô era bonito o lugar?
- Sim minha neta, era o melhor lugar do mundo.Mas vamos continuar com a história.
    Nestes ultimos dias vovô estava ficando distante, o singrar das águas da saudade, quebrava o espírito do marinheiro, os portos pareciam estar alí, bem na frente de seus olhos brilhantes mesmo na escuridão da cegueira. Os olhos só escurecem quando a alma não conseguem ver a luz, era assim que vô nos lembrava, que ler é asa que leva longe para além do horizonte. Ficamos alí olhando a distância sem conseguir medí-la na sua integridade. Vô respirou fundo, passou a mão na cabeça de Vera e prosseguiu a história que estava contando.
- A geração seguinte de estadistas portugueses, Sebastião Francisco de Melo e Alexandre Gusmão endossaram as críticas de D. Luís da Cunha ao Tratado de Methuen, ainda que, envoltos à trama conjuntural das décadas de 1730 e 1740, e preocupados em demarcar posicionamento acerca da melhor estratégia de política externa do reino frente a rivalidade anglo-francesa no sistema político europeu.
- Enviado a Londres em oito de outubro de 1738, a imediata responsabilidade de Sebastião Francisco de Melo, consistia insistir junto a Robert Walpole, primeiro ministro de Jorge II  (1727-1760), por assistência militar da marinha britânica ao Estado da Índia, sob ataque de marathas e bonsulós. Alegava que o auxílio militar fora prometido pelos Tratados de Aliança Ofensiva e Defensiva de 1703, enquanto, defensivamente,o monarca inglês recusava a prestação do serviço justificando de que nada poderia fazer sem o consentimento da Companhia das Índias Orientais. 
-Em contrapartida ao desenvolvimento econômico da Inglaterra, Portugal enfrentava enormes dificuldades econômicas e financeiras com a perda de seus domínios no Oriente e na África, após 60 anos de domínio espanhol durante a União Ibérica (1580-1640).        
    Os Reis portugueses eram ruins de negócio. Fausto sempre fazia comentários nesse sentido.
Impunham suas vontades sempre que desejavam. 
- Dos vários tratados que comprovam a crescente dependência portuguesa em relação à Inglaterra, destaca-se o Tratado de Methuem (Panos e Vinhos) em 1703, pelo qual Portugal é obrigado a adquirir os tecidos da Inglaterra e essa, os vinhos portugueses.
- Para Portugal, esse acordo liquidou com as manufaturas e agravou o acentuado déficit na balança comercial, onde o valor das importações (tecidos ingleses) irá superar o das exportações (vinhos).
- Nessa os portugueses perderam muito dinheiro? Perguntou Vera Lúcia.
- Sim, É importante salientar que o Tratado de Methuem ocorreu alguns anos depois da descoberta das primeiras grandes jazidas de ouro em Minas Gerais, e que bem antes de sua assinatura as importações inglesas já arruinavam as manufaturas portuguesas.
- Então por quê Portugal fez esse tratado? Questionou Militão.
- O tratado, deve ser considerado assim, bem mais um ponto de chegada do que de começo, em relação ao domínio econômico inglês sobre Portugal. Nesse mesmo período, em que na América espanhola o esgotamento das minas irá provocar uma forte elevação no preço dos produtos, o Brasil assistia a passagem da economia açucareira para mineradora, que ao contrário da agricultura e de outras atividades, como a pecuária, foi submetida a uma rigorosa disciplina e fiscalização por parte da metrópole.
-Já por ocasião do escasso e pobre ouro de lavagem achado desde o século XVI em São Vicente, tinha-se promulgado um longo regulamento estabelecendo-se a livre exploração, embora submetida a uma rígida fiscalização, onde a coroa reservava-se no direito ao quinto, a quinta parte de todo ouro extraído.
- Esse quinto não é a derrama? Interrompeu Fausto.                                                                     
- Sim, vamos chegar lá. Com as descobertas feitas em Minas Gerais na região de Vila Rica, a antiga lei é substituída pelo Regimento dos Superintendentes, Guardas-mores e Oficiais Deputados para as Minas de Ouro, datada de 1702. Esse regimento se manteria até o término do período colonial, apenas com algumas modificações.
-Como funcionava, não entendi! Questionou Vera Lúcia.
- O sistema estabelecido era o seguinte: - Para fiscalizar dirigir e cobrar o quinto nas áreas de mineração criava-se a Intendência de Minas, sob a direção de um superintendente em cada capitania em que se descobrisse ouro, subordinado diretamente ao poder metropolitano.
- Avisavam o Intendente, que vinha buscar a parte do Rei?
- Deixa o vô contar.!!!
- O descobrimento das jazidas era obrigatoriamente comunicado ao superintendente da capitania que requisitava os funcionários ,guarda-mores, para que fosse feita a demarcação das datas, lotes que seriam posteriormente distribuídos entre os mineradores presentes. O minerador que havia descoberto a jazida tinha o direito de escolher as duas primeiras datas, enquanto que o guarda-mor escolhia uma outra para a Fazenda Real, que depois a vendia em leilão. A distribuição dos lotes era proporcional ao número de escravos que o minerador possuísse. Aqueles que tivessem mais de 12 escravos recebiam uma "data inteira", que correspondia a cerca de 3 mil metros quadrados. Já os que tinham menos de doze escravos recebiam apenas uma pequena parte de uma data. Os demais lotes eram sorteados entre os interessados que deviam dar início à exploração no prazo de quarenta dias, sob pena de perder a posse da terra.
-Vô , o quê era uma data?
-Era uma medida de terra adotada por Portugal igual a 3.000m2  (três mil metros quadros). A venda de uma data era somente autorizada, na hipótese devidamente comprovada da perda de todos os escravos. 
- O quê acontecia com o dono data?
- Neste caso o minerador só podia receber uma nova data quando obtivesse outros trabalhadores. A reincidência porém, resultaria na perda definitiva do direito de receber outro terreno. A cobrança do quinto sempre foi vista pelos mineradores como um abuso fiscal, o que resultava em freqüentes tentativas de sonegação, fazendo com que a metrópole criasse novas formas de cobrança.
- A partir de 1690 são criadas as Casas de Fundição, estabelecimentos controlados pela Fazenda Real, que recebiam todo ouro extraído, transformando-o em barras timbradas e devidamente quintadas, para somente depois, devolve-las ao proprietário. A tentativa de utilizar o ouro sob outra forma em pó, em pepitas ou em barras não marcadas era rigorosamente punida, com penas que iam do confisco dos bens do infrator, até seu degredo perpétuo para as colônias portuguesas na África.
- Os portugueses tentavam enganar o Rei mesmo assim?
-Claro Fausto, quem é que gosta de pagar imposto para não receber nada de volta.
-Muito bem Vera Lúcia. Como o ouro era facilmente escondido graças ao seu alto valor em pequenos volumes, criou-se a finta, um pagamento anual fixo de 30 arrobas, cerca de 450 quilos de ouro que o quinto deveria necessariamente atingir, sob pena de ser decretada a derrama, isto é, o confisco dos bens do devedor para que a soma de 100 arrobas fosse completada. Posteriormente ainda foi criada a taxa de capitação , um imposto fixo, cobrado por cada escravo que o minerador possuísse.
    Para o historiador Caio Prado Júnior, "cada vez que se decretava uma derrama, a capitania, atingida entrava em polvorosa.                                                           
- Portugal cobrava caro. Vô Inocêncio sempre comparava os tempos, e mostrava-nos como pouca coisa havia mudado. A força armada se mobilizava, a população vivia sobre o terror; casas particulares eram violadas a qualquer hora do dia ou da noite, as prisões se multiplicavam. Isto durava não raro muitos meses, durante os quais desaparecia toda e qualquer garantia pessoal.
- O  que são garantias pessoais, Militão?
-Não sei, pergunta do vô!
 - Quando o Estado deixa-lhe desprotegido diante do instrumento de habeas-corpus e rudo pode te acontecer. Todo mundo estava sujeito a perder de uma hora para outra seus bens, sua liberdade, quando não sua vida. Aliás as derramas tomavam caráter de violência tão grande e subversão tão grave da ordem, que somente nos dias áureos da mineração se lançou mão deles. Quando começa a decadência, eles se tornam cada vez mais espaçasos, embora nunca mais depois de 1762 o quinto atingisse as 100 arrobas fixadas. 
- Enquanto isso aqui no norte, os portugueses de adonavam da terra. Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês do Pombal, assumiu a responsabilidade de definir as áreas de fronteiras na Amazônia entre Portugal e Espanha, estabelecida pelo Tratado de Madri 1750.
-O governador chefiou as equipes técnicas demarcadoras e criou as condições para a infraestrutura.
    Os dias de marquês de Pombal foram demaisiadamente conturbados, em 1808 com a vinda da família real para o Brasil,mudaram os costumes e a colonia queria uma pouco mais. No norte as configurações do poder se redesenhavam, buscavam novas formas para o desespero do Grão Pará.
-Para acomodar a equipe técnica demarcadora, mandou construir casas e estabelecimentos militares em Mariuá, fundada em 1728 pelo frei carmelita Matias de São Boa Aventura. 
-Mariuá, hoje Barcelos, passou a ser a sede da Capitania de São José do Rio Negro, fundada por Mendonça Furtado, até 1791, período em que Manuel da Gama Lobo D’Almada transferiu-a para o Lugar da Barra, hoje Manaus. Vera Lúcia lembrou da fundação.
-Na Barra, D’Almada dinamizou a economia, construiu o Palácio do Governador, o hospital de São Vicente, um quartel, a cadeia pública, o depósito de pólvora, etc. Reergueu a pequena matriz e instalou pequenas indústrias. Ainda estava presente a coleta de drogas do sertão: o breu, a piaçaba, o cravo, a salsaparrilha, o cacau selvagem. Em 1757, ocorreu uma rebelião dos índios do rio Negro que destruiu as aldeias dos caboquenas, bararoás e lama longas, e apavorou os moradores da Barra.
-Vô. Questionou Vera Lúcia:- No governo de Lobo D’Almada, ocorreram algumas rebeliões, tais como as dos muras e mundurucus. O retorno da sede a Mariuá ocorreu em1799, a partir da Carta Régia de 22 de agosto de 1798, assinada pela Coroa portuguesa sob a influência de Francisco de Souza Coutinho que, na época, era governador do Pará. 
-A reinstalação do governo no Lugar da Barra ocorreu em 29 de março de 1808. Nesse período, o governador da Capitania de São José do Rio Negro era o senhor José Joaquim Vitório da Costa. O genro do governador, Francisco Ricardo Zany, foi o responsável pela destruição de Barcelos.
    Fausto do alto de sua inconviniência sempre atrapalhava o raciocínio, paciente Vô sempre abria um parênteses e respondia:- Mas o jesuítas, o que aconteceu com eles, como ele foram expulsos sem causa? 
    Vô sorriu e respondeu:- Tudo tem causa e efeito, nada é por acaso Fausto, o sol não nasce por acaso 
- Os interesses não atendidos de índios e Jesuítas deram início das Guerras Guaraníticas. Os espanhóis e portugueses enfrentaram as missões, contando com melhores condições, venceram os índios e jesuítas no conflito que se deflagrou entre 1754 e 1760. 
- Encerrado conflito, o ministro português Marques de Pombal ordenou a saída dos jesuítas do Brasil, bem como de todas as colonias portuguesas.
- A ação fazia parte de um conjunto de medidas que visavam ampliar o controle da Coroa Portuguesa sob suas posses ao redor do mundo. Vô fez uma pausa e refrescou-nos a memória.
- Não esquecer que é nesse ano, que O Marquês de Pombal vai expulsar os Jesuítas das Colônias portuguesas no mundo 1762. O laicismo português trouxe a escola de péssima qualidade, pois quem podia pagar tinha o mestre escola em casa os demais, bem que tivesse a sorte de aprender um ofício, tempos dificies aqueles. 
- Daí a revolta crecente, última vez que se projetou uma derrama, a derrama era nome dado a taxa cobra por Portugal aos colonos, em 1788, ela teve de ser suspensa à última hora, pois chegaram ao conhecimento das autoridades notícias seguras de um levante geral em Minas Gerais, coisa de um certo Coronel Joaquim Silvérios dos Reis um safado delator, destes que entregam a mãe para comer o pai, marcado para o momento em que fosse iniciada a cobrança , falamos da Inconfidência Mineira, a conspiração de Tiradente pautada em divergências que vão do sonho de uma República  até o livre transito do brasileiro. 
-Falavam a boca pequena, que as divergências não se limitaram ao atendimento individual de interesses dos conspiradores. Há a hipótese, levantada por vários autores, de uma disputa de poder entre os representantes de algumas localidades. 
- O quê vocês sabem sobre os conspiradores residentes em Vila Rica? Questionou vovô.
- Era o centro urbano da capitania, porém economicamente prejudicada pela queda na extração do ouro, tinham discordâncias  pontuais com os conspiradores sediados na Comarca do Rio das Mortes, região de maior prosperidade econômica na época em que os planos sediciosos foram elaborados. 
- Não esquecer Militão, que a hipótese da disputa de poder local faz crer na possibilidade de fortalecimento político dos sediciosos da Comarca de Rio das Mortes, isso pelo fato da importância econômica adquirida. Era uma região de grande prosperidade agrícola, cujos representantes mais destacados eram os padre Carlos Correia de Toledo e Melo, Inácio  José de Alvarenga Peixoto e o medidor de terras Francisco de Oliveira Lopes.
-Quero mais nomes, já leram sobre o assunto. Vera Lúcia que me diz? 
- Da capital da capitania de Minas Gerais, destacam-se o advogado Cláudio Manuel da  Costa, o ouvidor Tomás Antônio Gonzaga, Francisco de Paula Freire de Andrade, todos ligados a atividades burocrático-administrativas. Não eram devedores do Erário Real, mas se empenharam na manutenção e recuperação de privilégios.
    Os interesses eram múltiplos, assim como os estratos sociais que se fizeram presente nos planos conspiratórios. 
- Há que se considerar a participação dos clérigos no ensaio de sedição. Tinham eles também interesses. Segundo José Geraldo Vidigal de Carvalho, muitos clérigos abraçaram  o estado eclesiástico apenas para atingir um estado de vida, cujos privilégios lhes facilitariam satisfazer à ambição que os movia.
- Abraçados por um lado ao estado eclesiástico, eles abraçaram, por outro lado, práticas do mundo laico, como contrabando, mineração, atividades ligadas ao campo e relacionamentos amorosos. 
- Atrelados às práticas laicas, os padres faziam  parte da classe principal. Eles se igualavam aos outros elementos do grupo dominante, na luta pela riqueza, que sobrepunham a tudo mais. A consubstanciação do público e do privado sempre esteve presente na colonização brasileira. Desde a concessão das Capitanias aos Donatários,
- o Estado Português buscou  transferir parte da tarefa colonizadora à iniciativa privada. Me corrija vovô, complementou Vera.
-Em sentido inverso, a Coroa sempre controlou e regrou a sociedade colonial, invadindo invariavelmente o espaço privado. Tal prática foi tão rotineira, que desde cedo esteve presente no imaginário coletivo o Estado tentacular, que a tudo e todos provia. 
- A coleta do imposto era feita mas não retornava na prática nada. A intervenção das autoridades servia para tentar mediar diversos atritos causados pelas tensões que se acumulavam no relacionamento entre vizinhos, esposas, filhos, autoridades, padres,etc. 
- Veja bem, desde lá até hoje, quem tem amigos tudo, quem tem dinheiro tem muito mais. Vô sempre fazia esse feedback temporal. Trazía-nos pelas barreiras do tempo. Após suas analogias prosseguiu. - Frequêntemente eram os próprios moradores que enviavam petições, chegando até aos Governadores, ou mesmo ao Conselho Ultramarino, reafirmando a idéia de que tudo estava sob a alçada do Estado.
- Nelas pediam que fossem resolvidas as questões mais simples. São inúmeros os casos: em 1788, Francisco José Pinto, empregado na Real Extração dos Diamantes no Arraial do Tijuco, pediu ao Visconde de Barbacena Governador das Minas Gerais, que ordenasse a devolução de um escravo seu que tinha vendido ao Padre Manoel Caetano Ferreira, por não ter sido pago, no que foi atendido.
- Essa proximidade da autoridade dava ao colonos a nítida presença do Rei. Afirmou Militão. E coisas mais urgentes ficavam sem providências. O quê aconteceu com o Padre?
- Foi investigado. O inventário do padre revelou que era um homem pobre, sem bens imóveis ou escravos, apenas alguns pertences pessoais, dinheiro, livros e bilhetes da Real Extração, demonstrando mesmo os homens mais simples recorriam ao Estado para resolver pequenas pendências. No mesmo ano, Manoel José Teixeira de Souza pediu que lhe fosse entregue uma morada de casas, fazendo despejar a Jeronimo Alvarez. 
- O papel do governador era muito confundido com de Juiz.
- Assim, Joaquim José de Carvalho, que havia vendido sua loja de fazenda no arraial do Tijuco, requereu que o Governador obrigasse os compradores a saldar suas dívidas e Silvestre de Almeida que fizesse com que Manoel Simplício o deixasse passar um rego de agua pelos fundos de seu quintal visto lhe não causar prejuizo.Essa causa corriqueira levada ao Governador.
- E o Governador aceitava essas demandas. Questionou Fausto.
- Era o El Reu respostando a seus súditos.                                              
-Jose Martins Pena foi obrigado, sob pena de prisão por ordem de Rodrigo José de Meneses, a derrubar um muro que construíra de sua casa ao meio de uma praça chamada Cavalhada Velha. - -As rixas entre moradores às vezes chegavam a ter conseqüências graves; Fabiano Luis de Abreu foi preso por ordem do mesmo Governador, acusado de colocar fogo na casa de um mercador em  Curunatahy. 
- As rusgas entre marido e mulher, ou as infidelidades matrimoniais também foram motivo de reprimendas; sobretudo expressiva da moral e elucidativa dos bons costumes pelos quais os moradores deveriam se pautar. José de Oliveira e Ângela Ferreira foram arrolados entre os réus devassados na Visita Episcopal de 1777, no arraial dos Córregos por viverem amancebados e causarem escândalo público, dando-se pancadaria entre os dois.
- O Rei repesentado, cuidava da vida particular, mas o que realmente importava para colônia de verdade tipo escola, saúde e justiça; isso realmente não tinha importância.
- Um tal Rodrigo Jose de Meneses enviou D. Jacinta Bernarda, casada com o Ajudante Jose de Figueiredo, com suas duas filhas para o recolhimento de Minas Novas, também por escândalo público, pois queria  evitá-los, e dar um exemplo público da severidade de costumes. Luís da Cunha  Meneses ordenou a expulsão de Josêfa Maria da Costa Neves da Demarcação Diamantina, por viver em conflito com  Antonio Jose Monteiro, no Arrayal do Tijuco. E o tenente Ezequiel e o Alferes João Carlos Brandão foram presos por manterem concubinas, teúdas e manteúdas, presos sob ordens do Governador Pedro Ataíde e Mello, foram enviados do Tijuco para cumprir pena em Vila Rica. Vide como era importante o trabalho do governador.
- A sociedade colonial se organizou em torno da administração, garantindo seu sustento e mesmo certa acumulação entre os membros da classe dominante. Isto não foi uma exceção ocorrida apenas no período pombalino, mas marcou toda a relação entre o estado metropolitano e a sociedade colonial. O primeiro não podia prescindir que grande parte da população local passasse a viver das benesses e cargos que a administração provia. 
- O grande problema era fazer com que seus interesses fossem coincidentes, pois frequentemente enorme descontrole marcava a atuação das autoridades. Observou Vera Lúcia.
- Ao multiplicar o número de cargos e funções, a Coroa criava na Colônia, especialmente nas Minas, uma corte de privilegiados e garantia também o sustento de uma grande parcela da população, claro que de origem portugbuesa, mesmo em seus escalões inferiores, tornando a vida intimamente ligada a sua própria existência os cargos vitalícios nascem assim, privilégios eternos. 
- Como Vôvô? perguntou Militão. -Existem cargos vitalícios?
- Sim, respondeu o Vô. Eles vêm desde a colônia muito coisa é fala, mas o tipo de gente que veio de portugal para erguer esse colonia não recomendava. Mas,  vamos continuar. 
-Nada impediu que encastelada na administração, a classe dominante usufruísse de seus privilégios para aumentar seus ganhos, burlando a lei e, com isto, prejudicando os interesses de quem lhes investira tal poder. 
-Desde o princípio os conchavos eivam a política brasileira. Por outro lado, abria um espaço de que as camadas inferiores também se aproveitavam, explica que todo bandido político abre precedente para o bandido  pé de chinelo,pois são necessários, quando a repressão endurecia eram estes os chinfrins, os primeiros a ser apanhados, enchendo os cárceres da Capitania, já que os poderosos dispunham de muitos mecanismos para se proteger. O Alferes Joaquim da Silva Xavier é um exemplo desta rotina judicial. Observou Fausto, numa relação passado presente.
- Quando deparava-se com uma injustiça histórica, vô inocêncio, parava fazia suas considerações com profundo grau de revolta. Era momemto de não questionar nada, pois a quantidade de impropérios era de amargar.
    A realidade política vivida no momento irritava meu avô, vivíamos os anos ferrenhos da revolução Militar de trinta e um de março de 1964. Foram as bandidagens dos políticos e suas canalhices que forçaqram aquela situação. Qualquer relação com injustiças irritava meu avô. Acalmou-se, deitou a bengala atravessada de uma braço ao outro da cadeira sobre ela pousou os antebraços, e prosseguiu.
- A camada dominante, ao se apoderar de cargos estratégicos na administração, passou a utilizá-la para defender seus interesses inclusive se envolvendo em atividades ilegais o contrabando e a sonegação de tributos, como forma de resistência à espoliação, que era intentada pela Metrópole.
- Como em qualquer outra região colonial, privilégios foram fartamente distribuídos e disputados pelos diferentes grupos. Mais do que altamente repressora, a Administração Colonial se caracterizou por ser incapaz de controlar a população local. 
- Ao contrário, seus funcionários contribuíram para que esta encontrasse meios, legais ou não, de fugir ao controle, seja distribuindo privilégios, ou mesmo protegendo indivíduos ligados ao extravio das riquezas coloniais. 
- Uma forma de resistência ao poder da metropole que privilegiava os portugueses e massacrava os  nativos.
- A utilização dos homens bons em todos os níveis da administração, desde as Câmaras, até as Juntas da Real Fazenda e de Justiça fez com que os interesses metropolitanos e da camada dominante local estivessem permanentemente ligados.
- Mas era comum o envolvimento de funcionários nos extravios e nos contrabandos?
- Sim, os seus interesses pessoais, colocados acima das obrigações de sua função, entravam em choque com a Metrópole. Era a resistência velada.
-Mudanças drásticas alcançam a capitania de Minas Gerais durante a década de 1780, especialmente com novas orientações da administração régia e a difusão das ideias críticas do iluminismo.
-Vô os iluminista vão escurecer na verdade o Brasil.
- Depende de como é olhado o momento. Sob as ordens de Dona Maria I, em 1788, o governador Luís Antônio Furtado de Castro do Rio de Mendonça, Visconde de Barbacena, confronta a elite local assentada no controle do poder na região.
-A intensificação do controle sobre o comércio, as cobranças das dívidas dos contratos atrasadas, a ameaça de mais uma derrama, a saber, cobrança de imposto, incendeiam os ânimos. 
-Os pobres vão pagar pelos ricos?
- Não, é o berço da brasilidade se formando, pois, inicialmente organizado pelos senhores de escravos e gado, grandes comerciantes e mineradores, o movimento conspiratório passou a agrupar diversos outros grupos, principalmente os que tinham funções letradas, como advogados, dentistas, clérigos e funcionários régios servidores públicos pagos pela coroa.
-Os revoltosos queriam o quê? Perguntou Militão.
- O que queremos até os dias de hoje, pagar me4nos impostos.
- É mais ou menos isso. Apesar de reunidos e organizados, não apresentavam coesão em todas as suas ideias e propostas. Pregavam o comércio e o livre extrativismo, redirecionamento dos tributos diretamente para melhorias na colônia, mudança na organização do poder e na administração interna de Minas.
-É na prisão feita nessa revolta que a justiça portuguesa se evidencia. É nessa revolta que o Alferes é morto? Questionou Fausto.
-Sim, lembra que o vô disse que chegaríamos lá. Pois bem parece que chegamos.
- Podemos continuar?
-Antes de ter início o movimento rebelde, que previa a expulsão do governador para Portugal, o Visconde de Barbacena recebe uma denúncia da conspiração em curso e suspende a derrama, que serviria como deflagrador da Inconfidência. Tem início a fase de perseguição e da Devassa que levam a prisão e degredo diversos condenados. 
-O alferes e propagandista do movimento era Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, segue para as masmorras no Rio de Janeiro ao lado de outros. 
-Era o 1791, o julgamento foi presidido pelo próprio Vice-Rei, condenando à morte 11 envolvidos e ao degredo outros sete. Porém, a rainha fazendo segredo até 18 de abril de 1792 concedeu perdão aos condenados à morte, exceto Tiradentes o Alferes brasileiro. Três dias depois o alferes foi enforcado e esquartejado em praça pública e seu corpo espalhado pelas estradas e praças de Minas Gerais.
-Não entendi, como eles começaram a lutar, se um não tinha nada com o outro? Bravejou Fausto; Militão adiantou-se e comentou:- Quem começou não foi o Alferes, mas ele foi exemplo, meu avô sorriu e disse:
- Vamos lá, esse briga começa longe daqui, lembra que tudo tem uma causa e toda causa uma consequência, pois é, essa inconfidência  começa longe daqui.
-Onde vovô?
-No norte das Américas. Um certo Jefferson, o autor da Declaração de Independência dos Estados Unidos, sucedera a Benjamin Franklin em 1785 como emissário americano em Paris. 
- Não vejo como vovô!
-Calma Vera Lúcia, vou contar em detalhes. Quatro anos depois de sua chegada em Paris, em 15 de junho de 1789, em Vila Rica, capital da Capitania de Minas Gerais, aqui no Brasil, durante seu interrogatório, o coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes afirmou que o Dr. Domingos Vidal de Barbosa lhe falara de uma carta escrita para o ministro da América Inglesa em Paris por um estudante da Universidade de Montpellier.
    Em outubro de 1786, Thomas Jefferson recebeu em Paris uma carta assinada com o pseudónimo de Vendek. A missiva fora enviada por meio do professor Joseph Vigarous, da Universidade de Montpellier. 
    Joseph Vigarous era um proeminente maçom com ligações em Paris. Em sua carta a Jefferson, Vendek escreveu, em francês, que tinha um assunto de grande importância para comunicar, mas, como era um estrangeiro na França, queria que Jefferson lhe indicasse um canal seguro para correspondência. 
    Sr. Jefferson atendeu seu pedido. Numa segunda carta, Vendek declarou ser brasileiro. Ele informou a Jefferson que a escravidão na qual seu país vivia estava cada dia mais insuportável, desde a época de vossa gloriosa Independência. 
    Fizemos uma parada para merenda, o suco de goiaba da minha mãe era indispensável mesmo quando estávamos ouvindo história contada pelo vô Inocêncio. E o pão de milho feito no fogão de lenha, ensopado na manteiga de garrafa. Priviléios da minha infância. Terminada a merenda, vô tornou a história do Alferes.
-Os brasileiros estavam resolvidos a seguir o exemplo dos norte americanos, quebrando as correntes que os ligavam a Portugal. Solicitar a ajuda dos Estados Unidos era o objetivo de sua visita à França. A natureza nos fez habitantes do mesmo continente, dizia Vendek a Jefferson, que, em consequência disso, até certo ponto compatriotas;  o brasileiro disse a Jefferson que:
-Os portugueses no Brasil são pouco numerosos, em sua maior parte casados ali e esquecidos de sua mãe pátria [...] e estão dispostos a se tornarem independentes [...]. Há vinte mil homens nas tropas regulares; originalmente eram portugueses, que já morreram e foram substituídos por nativos que constituem, presentemente, a maior parte das forças e ficarão ao lado do país em que nasceram. Os oficiais são em parte portugueses e em parte brasileiros [...]. Os homens de letras são os mais inclinados à revolução [...]. Na verdade, em se tratando de revolução, há um só pensamento no país. O que se precisava, disse Vendek a Jefferson, era do apoio de uma nação poderosa. Jefferson, escrevendo de Marselha em 4 de maio de 1787 para John Jay, secretário das Relações Exteriores da Confederação, relatou de forma minuciosa sua conversa com Vendek: Eles consideram a Revolução norte americana como um precedente para a sua [...]. Pensam que os Estados Unidos é que poderiam dar-lhes um apoio honesto, e, por vários motivos, simpatizam connosco.» Ao que parecia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia iriam fornecer o levante, e as outras capitanias deviam seguir-lhes o exemplo: A receita real do quinto e dos diamantes, assim como o resto da produção de ouro poderá ser usada... Eles têm muita cavalaria... Querem canhões, munição, navios, marinheiros, soldados e oficiais e por isto recorrem aos Estados Unidos, estando entendido que todos os serviços e armas serão bem pagos... De nós, eles sempre poderão precisar de trigo e peixe salgado [...]. Portugal sem exército nem marinha de Guerra não poderá tentar uma invasão por uma dúzia de meses (considerando os recursos com que conta, provavelmente nunca faria uma segunda tentativa). De facto, intercetada esta sua fonte de riqueza, mal seriam capazes de fazer o primeiro esforço... 

- As minas de ouro estão entre montanhas, inacessíveis a qualquer exército, e o Rio de Janeiro é considerado o mais forte porto do mundo depois de Gibraltar. No caso de uma revolução vitoriosa, um governo republicano único seria instalado. O nome verdadeiro de Vendek era José Joaquim Maia e Barbalho.
-Era falso esse nome Vendek,pelo menos foi que Vera falou.
- Era um pseudonimo. Ele nascera no Rio de Janeiro, onde seu pai, que tinha contatos em Bordéus, era um grande comerciante. Maia e Barbalho se matriculara em 1783 na Universidade de Coimbra, onde estudou matemática, e entrou na Faculdade de Medicina de Montpellier em 1786. Parece ter sido incumbido por comerciantes do Rio de Janeiro a entrar em contato com Jefferson. 
    Este convenceu Maia e Barbalho de que não tinha autoridade para estabelecer nenhum acordo oficial e que só podia falar em seu próprio nome. Ele lhe disse que os Estados Unidos não tinham condições de arriscar-se a uma guerra naquele momento. 
    Os Estados Unidos desejavam cultivar a amizade de Portugal, com quem mantinham um comércio vantajoso. Mas uma revolução bem sucedida no Brasil obviamente não seria desinteressante para os Estados Unidos, e a perspetiva de lucros poderia, talvez, atrair um certo número de pessoas a sua causa, e motivos mais elevados atrairiam oficiais; em seu país os cidadãos eram livres para deixar o próprio país sem licença dos governos e também tinham liberdade para ir para qualquer outro país. 
-Mas o senhor Jay entregou a carta não?
- Sim, John Jay entregou a carta de Jefferson ao presidente do Congresso, mas não parece ter havido nenhuma outra iniciativa nos Estados Unidos. Maia e Barbalho sofria de tuberculose. Morreu em Coimbra, antes que pudesse retornar ao Brasil. 
-Político é só interesse, afinal todos lucrariam, mas só um foi morto.Comentou Vera Lúcia.
-Não mudou muito de lá para cá. Os políticos continuam canalhas.
-Posso continuar Vera?
- Pode Vô, mas que político é canalha é verdade.
-Posso continuar.
-Pode!!!
- Um relato preciso dos comentários que Jefferson lhe fizera chegou a Minas por meio de Vidal de Barbosa e José Álvares Maciel. Domingos Vidal de Barbosa, que se havia graduado em Medicina em Bordéus, disse que Maia e Barbalho  queria fazer-se outro Franklin a respeito da América Portuguesa. Vidal de Barbosa era mineiro, proprietário de terras em Juiz de Fora. Essa e outras influências inspiradoras da inconfidência mineira vão encontrar uma terra legada a exploração e a pobreza.
     O Brasil era uma fonte potencial de algodão cru para as novas fiações de algodão, e um mercado para seus produtos manufaturados, proibidos pelos termos do Tratado de Methuen, pelo qual Portugal se comprometia a importar tecidos de lã apenas da Inglaterra. Álvares Maciel conheceu Vidal de Barbosa em Portugal, quando voltou da Inglaterra. 
    O colonizador foi estendendo seus domínios sobre o miracanguera dos antepassados dos manauenses, o grande cemitério indígena que cobria o grande largo da Trincheira. No lugar, abriram as ruas Deus Padre, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Eram ruas estreitas, tortuosas e lamacentas, onde estava à matriz, a casa do vigário, do comandante e de outras praças.     
     As casas eram humildes, feitas de taipa, chão batido, cobertas e cercadas de palha. A mão-de-obra indígena garantia a produção de anil, algodão, arroz, café, castanha, salsa e tabaco. Em 1743, o cientista francês Charles-Marie de La Condamine viajou pelo rio Marañon e todo o rio Amazonas  de Jaén, Peru, a Belém e registrou os contrastes existentes entre a prosperidade das missões portuguesas, que ele visitou ao longo de sua viagem, e a de Belém. 
    Ao retornar a Minas, foi nomeado precetor dos filhos do visconde de Barbacena, que chegara à capitania com a família em julho de 1788. Vidal de Barbosa e Álvares Maciel, este com 27 anos à época, como muitos outros envolvidos na conspiração de Minas, tinham posição de liderança na sociedade colonial. Assim como os líderes da luta norte americana, eram senhores de terras e de escravos, oficiais da Milícia e do Exército, magistrados e advogados, banqueiros e especuladores. 
-Na realidade todos queriam se livrar dos impostos portugueses, mas ninguém queria pagar a conta.
-Não Militão, você vai ver que todos queriam poder.
-Na realidade a Vera tem razão Fausto,tinha muito sonho envolvido.Pouca realidade.
-Toda revolução meninos é um misto de realidade e sonhos. Vejam, Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e o cônego Luís Vieira – todos eram homens que tinham ascendência sobre os espíritos dos povos, disse o comandante dos Dragões de Minas, nascido no Brasil tenente coronel Freire de Andrade, que era cunhado de Álvares Maciel, ao coronel Alvarenga Peixoto, em 1788. 
    Todos esses homens eram bem informados sobre os acontecimentos e possuíam boas bibliotecas. Livros e informações lhes chegavam mais rapidamente do que despachos oficiais enviados através da vagarosa burocracia de Lisboa. A coleção de livros do cônego Vieira continha a Histoire de l’Amérique, de Robertson, a Encyclopédie, além de obras de Bielfeld, Voltaire e Condillac. Cláudio Manuel da Costa era conhecido como tradutor de A Riqueza das Nações. Além do Recueil, eles também possuíam comentários de autoria do abade Raynal e do abade Mably sobre as experiências constitucionais americanas, inclusive as Observations sur le gouvernement des États-Unis de l’Amérique, de Mably.
     Em seu interrogatório em 8 de julho de 1789, conduzido pelos magistrados da Devassa de Minas, Vidal de Barbosa admitiu sua participação numa discussão com o primo, o coronel Oliveira Lopes, havia três ou quatro meses, quando ele elogiou a riqueza de Minas e falou da sublevação da América Inglesa e do papel de Benjamin Franklin.  Ele lembrou a atuação de Maia e Barbalho, também em Montpellier, onde se encontrara com Thomas Jefferson. 
-Só morreu o Tiradentes.
-Sim Vera Lúcia.Deixa o vô contar a história.
- O visconde de Barbacena foi o primeiro secretário da Academia de Ciências de Lisboa. Foi aluno do Colégio dos Nobres e estudante de ciências naturais em Coimbra, tendo como orientador o professor Domingos Vandelli, proeminente pesquisador italiano trazido a Portugal pelo marquês de Pombal para aumentar o nível educacional da nobreza portuguesa.
    Ele se casara com uma filha do marquês de Sabugosa e era protegido do duque de Lafões, fundador da Academia de Ciências de Lisboa em 1779, e do abade Corrêa da Serra, naturalista português que estudara na Itália. 
    Mas quando o abade Corrêa da Serra, que sucedera Barbacena como secretário da Academia, foi forçado ao exílio devido às maquinações do chefe da polícia secreta de Lisboa, Barbacena foi apoiado por Martinho de Melo e Castro, primo de sua esposa. 
    De toda sorte, a Inconfidência mineira sufocada, todos levaram alguma punição. A semente da revolta foi plantada. Exaurido o ouro, o pó do café e o açúcar atravessavam as gerações. A coroa continuava extorquindo e o povo buscando como pagar. Os movimentos e revoltas ao trilhar pelos labirintos da historiografia amazônica, com intuito de estender e tecer os fios e rastros indiciários concernentes à Guerra da Cabanagem, ou seja, escovar a história. 
- Os acontecimentos da Revolução Cabana, fundamentados na tímida pretensão de rediscutir os acontecimentos mais incisivos deste movimento contestatório do período oitocentista. Perguntou Fausto.
-As revoluções açucareiras, que sustentavam a Espanha.
-Isso destoa da nossa necessidade agora. Vera Lúcia precisa entender mais da nossa história.
- O Militão também precisa entender mais sobre as revoltas e expansão interna do Brasil. O Vô poderia falar da revolução oitocentista nas Américas.
- No contexto de expansão territorial, O norte é muito interessante de estudar; como forma de consolidar o domínio português a Oeste do Tratado de Tordesilhas, a Província do Grão Pará foi erguida pela Coroa Portuguesa para ocupar espaços vazios, demarcar o território, estreitar relações com os indígenas e assim catequizá-los e promover a política de fundação de Vilas. 
    O Grão Pará colonial, a província que, a partir do início do século XIX, passou a protagonizar diferentes acontecimentos políticos e sociais que modificaram o cenário de relações entre sujeitos e destes com a natureza. 
-Nas três primeiras décadas do período oitocentista, a Província do Grão-Pará passou por muitos conflitos políticos, os quais geraram momentos de tensão e instabilidade, semelhante a uma panela de pressão, aquecendo e aumentando seus agouros até a eclosão da mesma na década de 30 do mesmo século. A observação de Vera Lúcia foi reforçada pelo questionamento de Fausto.
-Não foi em mil oitocentos e oito, que chegou a família real ao Brasil?
-Nesse momento que o vô começa a narração Já Reino Unido Brasil e protugal, não?
-É sim. Sabido que as heranças coloniais do Pará e as formas administrativas pelas quais foi governado, impôs maneiras singulares de organização social conforme a questão racial. As chamadas raças puras brancos, índios e negros estavam imbuídas num sistema onde negros se enquadravam num estado de escravidão e a minoria branca se autodenominava de civilizada e representante do poder político o que na prática reduzia ambos a condição de servos e senhores. 
- Raças puras?
-Pode parar Vera! Deixa o Vô continuar, tu interrompe demais.
-Sim, mas eu também queria entender raças puras.
-Vô raça puras eram cada uma das raças que chegaram íntegras, ou seja, o Branco Europeu, o Índio natural e o Negro trazido à força.
- Muito bem, posso prosseguir?
- Bem, Já os indígenas, que eram a maioria, protagonizavam uma dubiedade de tratamento, embora gozassem de mais direitos que os negros e fossem comparados a brancos no quesito liberdade, no entanto, também eram subservientes aos interesses brancos. 

A Cabanagem no Baixo Amazonas, principalmente em Cuipiranga. É este autor que, trabalhando na linha da antropologia histórica, discorre sobre os acontecimentos do cotidiano cabano, a demografia das vilas e as relações de poder construídas em tempos de guerra entre cabanos e anticabanos. Seguindo essa linha tênue dos estudos sobre a Cabanagem no interior do Grão-Pará (BARRIGA 2007; LIMA 2008 Op. cit) 

- O colonizador foi estendendo seus domínios sobre o miracanguera dos antepassados dos manauenses, o grande cemitério indígena que cobria o grande largo da Trincheira.
- O quê era Miracanguera..?
- Li algo Fausto, segundo o relato. Em 1870, numa de suas andanças pelo interior da Amazônia, o explorador, João Barbosa Rodrigues descobriu uma grande necrópole indígena contendo uma vasta gama de peças em cerâmica de incrível perfeição, que teria sido construída por uma civilização até então desconhecida em nosso país.
- É uma civilização perdida, que antecede os Manaós?
- Veraq você que leu, que descobriu esse pesquisador?
- Utilizando a fonética usual dos índios da região, ele denominou o sitio de Miracanguera. A atenção do pesquisador foi atraída primeiramente por uma curiosa vasilha de cerâmica, propriedade de um viajante. 
    Um mestiço, residente na Vila do Serpa atual Itacoatiara, que dispunha de diversas peças, as quais teria recolhido na  Várzea de Matari, situada a poucos quilômetros da vila. Barbosa Rodrigues suspeitou que poderia se tratar de um sítio arqueológico de uma cultura totalmente diferente das já identificadas na Amazônia.
- Tá bom, deixa o vô prosseguir com a história dele.!!
- Onde eu parei?
-Nas casas humildes!!
- Bem, as casas eram humildes, feitas de taipa, chão batido, cobertas e cercadas de palha. A mão de obra indígena garantia a produção de anil, algodão, arroz, café, castanha, salsa e tabaco.
-Teve um casal que desceu o Amazonas, acho que eram amigos de alguém do Reino. Comentou Fausto.
-Em 1743, o cientista francês Charles-Marie de La Condamine viajou pelo rio Marañon e todo o rio Amazonas  de Jaén, Peru, a Belém e registrou os contrastes existentes entre a prosperidade das missões portuguesas, que ele visitou ao longo de sua viagem, e a de Belém. 
-Mas conte a história do irmão do Marquês de Pombal.
- Sim,Francisco Xavier de Mendonça Furtado, era irmão do Marquês do Pombal, assumiu a responsabilidade de definir as áreas de fronteiras na Amazônia entre Portugal e Espanha, estabelecida pelo Tratado de Madri 1750. 
- O governador chefiou as equipes técnicas demarcadoras e criou as condições para a infraestrutura.Para acomodar a equipe técnica demarcadora, mandou construir casas e estabelecimentos militares em Mariuá, fundada em 1728 pelo frei carmelita Matias de São Boa Aventura. Mariuá, Barcelos, passou a ser a sede da Capitania de São José do Rio Negro, fundada por Mendonça Furtado, até 1791, período em que Manuel da Gama Lobo D’Almada transferiu-a para o Lugar da Barra. 
    Na Barra, D’Almada dinamizou a economia, construiu o Palácio do Governador, o hospital de São Vicente, um quartel, a cadeia pública, o depósito de pólvora, etc. Reergueu a pequena matriz e instalou pequenas indústrias. Ainda estava presente a coleta de drogas do sertão: o breu, a piaçaba, o cravo, a salsaparrilha, o cacau selvagem. 
- Mas nem tudo eram rosas, os índios resistiam. Lembrou Vera Lúcia.
-Verdade. Em 1757, ocorreu uma rebelião dos índios do rio Negro que destruiu as aldeias dos caboquenas, bararoás e lama longas, e apavorou os moradores da Barra. No governo de Lobo D’Almada, ocorreram algumas rebeliões, tais como as dos muras e mundurucus. 
    O retorno da sede a Mariuá ocorreu em1799, a partir da Carta Régia de 22 de agosto de 1798, assinada pela Coroa portuguesa sob a influência de Francisco de Souza Coutinho que, na época, era governador do Pará. A reinstalação do governo no Lugar da Barra ocorreu em 29 de março de 1808. Nesse período, o governador da Capitania de São José do Rio Negro era o senhor José Joaquim Vitório da Costa. O genro do governador, Francisco Ricardo Zany, foi o responsável pela destruição de Barcelos.
    O período de maior combate foram nos anos finais da guerra 1837-40 já na região do Baixo Amazonas. Passado um ano de resistência em Belém, as tropas da Coroa, auxiliadas por contingentes de soldados e/ou ajuda financeira de outras províncias como Ceará, Pernambuco e Rio de Janeiro, chegam à Capital Paraense e iniciam o processo de repressão dos revoltosos.
-Então eles fugiram, foram esconder-se aonde.
 -Era preciso reorganizar. Diante da impossibilidade de permanência na Capital, de vitórias e derrotas nas batalhas entre tropas cabanas e anticabanas, os correligionários paraenses decidem migrar para o interior da Província, especificamente para o Baixo Amazonas.
    Os cabanos migram para o Vale Amazônico devido à sua condição geográfica estratégica e a quantidade de pessoas insatisfeitas dispostas a apoiar o movimento com o governo dos caramurus. O movimento tinha como principal finalidade reorganizar as tropas para tomarem novamente o poder na Capital e instaurar um governo cabano autônomo, o que nunca ocorreu.
-Ao chegarem à região do Baixo Amazonas, os cabanos encontram dificulda des em tomar algumas Vilas e freguesias, pois, ainda em 1836, Santarém e Óbidos fundam a Liga de Defesa do Baixo Amazonas na pretensão de defender a região dos possíveis ataques de tropas cabanas. No entanto, devido às frequentes incursões e estratégias guerrilheiras, as vilas, freguesias e cidades do Baixo Amazonas passam a ser tomadas pelos cabanos que se organizaram rapidamente no controle das respectivas localidades. 
-E numa  infiltração desagregadora, começaram a atingir as vilas cobiçadas, não em operações militares imediatas, mas pela circulação de notícias tendenciosas, boatos alarmantes, que começavam a quebrar, se não a harmonia das populações, mas o espírito de reação. 
- Os receios de que não pudessem vencer, e talvez fosse melhor abrir as portas da casa aos cabanos que propriamente resistir-lhes sem perspectivas de êxito, entrou a frutificar.
-Dentro do estudo da Cabanagem na Mesorregião do Baixo Amazonas, há de se destacar o nível de resistência que os cabanos tiveram na microrregião do Baixo Tapajós. 
- A partir da queda de Santarém, os cabanos operacionalizaram as tomadas de Vilas e Freguesias pelos Rios Tapajós, Arapiuns e seus afluentes, criando Pontos Cabanos que serviam como interpostos de abastecimentos e outros mais importantes serviam de Forte e/ou depósito de armamentos bélicos, é o caso de Pinhel, Franca, Arimum, Ponta do Macaco etc.
-Foi nessa época que elevaram o Amazonas à categoria de província?
- sim, o Amazonas era subordinado ao Pará, e no dia 5 de setembro do ano de 1850, após um longo período de luta se tornou independente politicamente. Os anos de 1800 se iniciam com a transferência definitiva da sede da Capitania de São José do Rio Negro,Amazonas, de Mariuá , Barcelos, para o Lugar da Barra (Manaus), em 1804.
    Quase trinta anos depois, em 1832, com a criação da Comarca do Alto Amazonas, o Lugar da Barra é elevado à categoria de vila, com o nome de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro.
    A vila não passava de uma aldeia rural, imprensada entre o igarapé de São Raimundo e o Largo dos Remédios. Em 1848, a Vila da barra é elevada à Categoria de Cidade, ainda com o nome de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro.
    Com a elevação do Amazonas à Categoria de Província, em 1850, a Cidade da Barra, capital da nova Província, começa a mudar de feição. Dados da época indicam a existência de uma praça, dezesseis ruas, 243 casas e cerca de três mil habitantes. 
    O progresso começa a chegar a partir da implantação da navegação comercial a vapor, inicialmente restrito a navios brasileiros e das repúblicas vizinhas. O marco desse processo foi a viagem do vapor Marajó, de propriedade da Companhia de Navegação do Amazonas do Barão de Mauá, em 1º de janeiro de 1853. Tratava-se de uma linha regular entre a cidade da Barra e Belém que durava apenas 10 dias.
-Eram muito lentos. Estes eram os gaiolas?
-Vera, tu és chata.
-Verdade, pense numa menina que pergunta.
-Quem pergunta quer saber,quem responde quer ensinar e quem ouve quer aprender!
    Vovô levantou, caminhou até a janela, como se tivesse vendo a cena a sua frentde.Pigarreou chamando-nos a atenção; e prosseguiu com a história.
-No dia 29 de setembro de 1821, o governador Manuel Joaquim do Paço foi deposto por se recusar a jurar a Constituição do Porto de 1820. A população, em resposta, destruiu as principais obras públicas realizadas pelo governador deposto, entre as quais podemos citar: a capela de Nossa Senhora dos Remédios e o passeio público, arborizado com tamarindeiros. 
-As  lutas pela autonomia, o quê o senhor quer dizer?
- Foram  os embates por todo o período colonial até os primeiros anos do império.
-Isso atrapalhou a administração.
-O governo passou a ser exercido por sucessivas juntas provisórias. A luta pela autonomia do rio Negro tinha forte conotação nativista, favorecendo a propagação do movimento pró-independência do Brasil.
-Tudo era muito lento, Vovô, a notícia da proclamação da Independência do Brasil chegou à Barra do Rio Negro com mais de um ano de atraso, em novembro de 1823; no mesmo dia, foi proclamada a adesão do Rio Negro à Independência.
-Na noite de 12 de abril de 1832, o soldado Joaquim Pedro da Silva liderou um levante no quartel da Barra, motivado pela falta de pagamento do soldo aos praças. 
-Esse foi o confloto das lages?
- Sim, dois meses depois, no dia 22 de junho, houve uma memorável demonstração de civismo: o povo rebelou-se contra a subordinação política do Rio Negro ao Grão-Pará, e foi proclamada a Província do Rio Negro.
-Quem organizou esse movimento? Vera Lúcia deve saber ela leu ontem sobre isso. 
-Os grandes articuladores do movimento foram: frei José dos Santos Inocentes, frei Joaquim de Santa Luzia e frei Inácio Guilherme da Costa.
- As vilas de Serpa e Barcelos aderiram à Província do Rio Negro, mas Borba recusou-se, guardando fidelidade ao foi governo do Grão-Pará.
- Os rebeldes entrincheiraram-se em Lages e nos sítios de Bonfim, com um contingente de mil homens e 30 peças de artilharias vindas do forte Tabatinga, enfrentando as forças legalistas designadas pelo governo da Província do Pará.
-Quem comandou a expedição, vovô. Perguntou Fausto.
-Essa expedição foi comandada pelo coronel Domingos Simões da Cunha Bahiana, saiu de Belém no dia 5 de maio, com 50 soldados, a canhoneira de guerra Independência, recebendo o reforço de mais dois navios durante o percurso: o “Patagônia”, em Cametá, e Andorinha, em Santarém.
-Era a resistência cabana?
- Frei José dos Inocentes, ao ser enviado à Corte como representante da Província do Rio Negro, teve seu navio interceptado no Mato Grosso e foi obrigado a regressar à Barra.
-Muito bem Vera Lúcia você leu mesmo o livro que lhe dei.
- O governo regencial instituiu o Código do Processo Criminal, em 1832, instrumento jurídico que tinha por finalidade unificar a legislação no território brasileiro. Observou Fausto.
- No dia 25 de junho de 1833, o governo da Província do Pará baixou um decreto que dividiu a Província em três Comarcas: a do Grão-Pará, a do Alto Amazonas e a do Baixo Amazonas.
-Sim meninos, A criação da Comarca do Alto Amazonas, em substituição à antiga Capitania de São José do Rio Negro, reduzia o território do outeiro de Maracá-Açu até a Serra de Parintins e contrariava as aspirações autonomistas. 
- O decreto paraense também elevava o Lugar da Barra à condição de Vila de Manaus e ganhava a prerrogativa de sede da Comarca do Alto Amazonas.
-Ao termo de Manaus ficavam subordinadas as seguintes freguesias: Saracá (Silves), Serpa (Itacoatiara) e Santo Elias do Jaú (Airão) e as povoações de Amatari, Jatapu e Uatumã. A população total era de 15.775 habitantes.
- Mas a Assembléia Provincial do Pará editou a Lei n.° 147, de 24 de outubro de 1848, elevando a Vila de Manaus à categoria de Cidade da Barra de São José do Rio Negro, fazendo retornar a antiga denominação do povoado que havia começado em 1669. Em 4 de setembro de 1856, a cidade receberia a sua denominação definitiva de Manaus.
-A Lei n.° 582 de 5 de setembro de 1850 criou a Província do Amazonas, propiciando a sua emancipação política com relação ao Pará. 
- O território da Província seria o mesmo da antiga Capitania de São José do Rio Negro, e a sede seria a Cidade da Barra. A província surgiu a partir da necessidade da ocupação definitiva do Alto Amazonas e para impedir a expansão do Peru que, apoiado nos EUA, desejava internacionalizar o rio Amazonas, que se encontrava fechado às navegações internacionais desde o tratado de Madri.
-Reivindicava-se a posse da margem esquerda do rio Solimões entre Japurá, Tabatinga e os territórios ao sul do Amazonas e Acre.
-O Brasil conseguiu neutralizar essas pretensões em 23 de outubro de 1851, quando foi assinado um tratado com o Peru, que cedia a região pretendida no Solimões e concordava em manter o rio Amazonas fechado à navegação estrangeira. 
-E, para reforçar as posições conseguidas no sentido de proteger o nosso território, o Império apressou-se em instalar a Província do Amazonas, empossando como primeiro presidente João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, que viajou para Manaus no Vapor Guapiaçu e instalou a província, em 1 de janeiro de 1852.
Economicamente, as atividades da província eram inexpressivas. Dois anos após sua instalação, os principais produtos de exportação eram a piaçava, a borracha, a salsaparrilha, o pirarucu, o café, o tabaco, a manteiga de ovos de tartaruga, o peixe-boi, o cacau, etc.
    

    O desenho da cidade levantado em 1893, apresentava a regularização do traçado sobre a área do igarapé de São Vicente e do Espírito Santo, sugerindo que os cursos d’água haviam sido aterrados ou fornecia uma visão antecipada da realização do projeto de aterramento da área.
    Em 29 de julho de 1893, a Lei no 36 322 autorizou o governador a desapropriar os prédios situados à margem do rio Negro, entre a praça Tenreiro Aranha e a praça Quinze de Novembro. Essa área estava delimitada pelas ruas Tenreiro Aranha, Governador Victorio e rua do Tesouro e, posteriormente, foi loteada e vendida em hasta pública para a construção de edifícios particulares.      Através do parágrafo 8o, do artigo 48 da Constituição Política do Estado do Amazonas, promulgada em 23 de julho de 1892, o governador poderia autorizar desapropriações por necessidade de utilidade pública, de acordo com a lei.187 Esse trecho da cidade mantinha um traçado irregular e provavelmente ainda guardava muitas referências da época em que se constituiu o primeiro centro administrativo, político e religioso na capital amazonense.  
    Seu traçado original era delimitado pelas construções oficiais mais antigas da história local, ainda que, naquele momento, já se encontrassem em ruínas. O conjunto de edificações era composto pela fortaleza de São José da Barra do Rio Negro, pelo primeiro palácio dos Governadores construído por Lobo D’Almada, pela primeira igreja Matriz, pelo cemitério da Conceição e pelo antigo Seminário dos Carmelitas.
    A regularização e o loteamento dessa área localizada estrategicamente no litoral, juntamente com o aterramento do igarapé da Ribeira, modificaram drasticamente o visual da cidade, anunciando uma era de grandes mudanças espaciais. 
    A realização de tais obras apagava, em definitivo, não apenas os vestígios das primeiras construções históricas, mas extinguia praticamente todas as referências ao traçado urbano mais tradicional da cidade. Também sob a justificativa de atender exigências do Plano de Embelezamento, em 1895, o governador solicitava a desapropriação e loteamento de uma área localizada entre a rua Municipal e a rua Henrique Martins, para alargar as ruas da Matriz e Itamaracá. 
    Compreende-se que o traçado irregular e tímido dessas ruas já não estava de acordo com as novas necessidades da cidade. Esse trecho, em torno da igreja Matriz mantinha ainda a irregularidade do traçado original. Seu sentido não foi modificado, mas regularizado, reforçando o sentido Norte Sul. No lado Leste estava sendo executado o prolongamento da estrada Epaminondas, que se estendia em direção ao Norte e era uma das alternativas viáveis para a expansão dos domínios da cidade. 
    O alargamento dessas vias reforça o sentido orientador da nova concepção da urbe, reservando-se para ela,num futuro próximo, um papel relevante, não somente como contato com os Atual avenida Sete de Setembro. Atual rua Joaquim Sarmento. Atualmente av. Constantino Nery. E arrabaldes, mas como promessa de expandir os projetos da área urbana naquela direção. Pretendia-se construir uma ponte de ferro sobre o igarapé da Cachoeira Grande, tornando possível avançar os limites da cidade em direção ao Norte. 
    Os argumentos do governador para justificar essas obras eram a conveniência de facilitar o trânsito dos habitantes da Colônia João Alfredo, localizada naquela área. Ele previa que essa realização estimularia a ocupação dos arrabaldes de Manaus. No lado Oeste, o governador mandou nivelar a rua Sete de Dezembro, e sua extensão denominada Estrada Corrêa de Miranda, até o ponto localizado na
praça de Nazareth, de forma que essa via também reforçava a valorização do crescimento da cidade no sentido Norte. Na planta de 1879, esta via marcava o limite extremo do lado Oeste da cidade. Todavia, com a ampliação do mapa, esta via ficou localizada praticamente na área central da cidade.
    A partir da teoria de Poète e Lavedan, procuramos demonstrar que a reforma urbana de Manaus eliminou alguns dos elementos mais significativos de suas referências originais, que poderiam comprovar a permanência da cidade. Além das mudanças processadas na topografia, através do aterramento de igarapés e do nivelamento de colinas, destaca-se o desenho de um novo mapa, definido a partir do traçado de linhas amplas e regulares. Esse novo plano indica o deslocamento do eixo de desenvolvimento da cidade, redefinindo o traçado de algumas das ruas e mudando a toponímia da maioria delas.
    A reforma urbana provocou uma drástica mudança na visualidade da cidade, mas não eliminou algumas referências, como o próprio traçado da rua Brasileira, que, posteriormente, seria denominada de rua Municipal. Apesar da reformulação do espaço, resistiram alguns elementos de outros tempos da Ponte de ferro da Constantino Nery. Atual avenida Joaquim Nabuco. Atual praça Santos Dumont  cidade, muito embora esses elementos fossem ressignificados e ganhassem novo sentido dentro da novaidade que se apresentava.
    Dentre as referências de outras épocas, pode-se apontar a persistência de algumas edificações como a Matriz, o Mercado de Ferro, o Lyceu e o novo Palácio Provincial. Contudo, ressalta-se que todas essas obras eram de construção relativamente recentes. A Matriz fora concluída no final da década de 1870, enquanto as demais o foram na década de 1880. Acreditamos que a construção dessas obras sinalizava para o processo de refundação, cuja realização se tornaria mais contundente na década seguinte.
    O sol acordou-nos naquela manhã de setembro de 1970,  com os pássaros fazendoum coral diversificado de sons,havia um cheiro de rosas exalando do jardim da minha mãe, e no pomar que era nosso quintal na avenida Waupés, hoje Presidente Castelo Branco n. 1827. Resplandecente o brilho do sol, não vi uma manhã tão linda quanto aquela. De repente. Um grito rompeu. Era minha mãe.
    Corremos para ver o que era, lá estava dormindo para eternidade vovô Inocêncio. Não ouvirámos mais as histórias. A sala de jantar não ficaria repleta, o barulho da bengala não marcaria mais sua caminhada, a voz grosso cadenciada estava calada. Não houve choro, mas um silencioso profundo, que ecoava além de todo o nosso universo. Vera Lúcia baixou olhou para nós e balbuciou:
 - O contador de história foi embora embarcou como fazia antigamente, só que não vai voltar. Vô não vai voltar.
- Ele dormiu pra sempre… Vô, Vô volta… Fausto começou a chorar baixinho.
    Enquanto Militão começou a cantar:...Qual cisne branco que em oite de lua.. Vai deslizando no mar azul… O meu navio também flutua, nos verdes mares de norte a sul, linda galera em que noite apagada vai navegando no mar imenso, sinto saudade da terra amada da minha pátria em quem tanto penso...
    Assim ele se foi, vestido com sua farda Branca da Marinha Mercante, com o quepe deitado ao peito, carregado pelos poucos amigos, mas sinceros, deixando um buraco nunca ocupado por outrém em nosso peito. 

Referencias:


ABREU, C. Capítulos da história colonial [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de PesquisaSocial, 2009. 195 p. ISBN 978-85-7982-071-7 . Available from SciELO Book .
Albuquerque, Wlamyra R. de  Uma história do negro no Brasil / Wlamyra R. de Albuquerque, Walter Fraga Filho. _Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.
Batista, Felipe de Alvarenga Os Tratados de Methuen de 1703: guerra, portos, panos e vinho /Felipe de Alvarenga Batista 2014.
Cabanal (1835-1837): A Supressão e Violação dos Direitos Fundamentais do Homem no Grão-Pará Regencial. 2015. 57 f. Monografia (Especialização em Direitos Humanos), Cajazeiras, Universidade Federal de Campina Grande, 2015. 


CASTRO ALVES, Antônio. -Do livro: "Poetas Românticos Brasileiros", vol. I, Editora Lumen, SP, s/ano 
Coleção de Leis do Estado do Amazonas – 1892. Manáos: Livraria e Typographia Palais Royal, 1901. p.5. 321
DIAS,Mariza de Araujo.MARIZA DE ARAÚJO DIAS OS JESUÍTAS E A ESCRAVIDÃO AFRICANA NO BRASIL COLONIAL: um estudo sobre os escritos de Antonio Vieira, André João Antonil e Jorge Benci (sécs. XVII e XVIII) Assis 2012.
História do Brasil para ocupados: os mais importantes historiadores apresentam de um jeito original os episódios decisivos e os personagens fascinantes que fizeram o nosso país. / organização Luciano Figueiredo. 1. ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013
Innocentini, Thaís Cristina- Capitanias Hereditárias: Herança colonial sobre desigualdade e instituições. / Thaís Cristina Innocentini - 2009. 57f.
Oliveira Martius, O Brasil e as colônias portuguesas, 3a ed., 1887, págs. 54 e 55
Organização: Karina K. Bellotti e Mairon Escorsi Valério-SSN 1981-1225 Dossiê Religião N.4 – abril 2007/julho 2007 
Para uma história do negro no Brasil. — Rio de Janeiro : Biblioteca Nacional, 1988. 64 p. ; il. ; 20cm. Catálogo da exposição realizada na Biblioteca Nacional de 9 de maio a 30 de junho de 1988.
Perdigão Malheiros, A escravidão no Brasil, Parte III, “Africanos”, 1867, págs. 6 e 7.
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Raffaelli, Marcelo
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VAINFAS, Ronaldo. História das mentalidades e história cultural. In: CARDOSO, Ciro Flamarion & Vainfas, Ronaldo (orgs.). Domínios da História. Ensaios de teoria emetodologia.