História Social de Israel

Por Gilson Lopes da Silva Junior | 04/10/2012 | Religião

INTRODUÇAO.  

A história social de Israel enfoca de forma especial à história de Deus com seu povo não de forma mítica, mas como a história de Deus com seu povo. Sem a história desse povo não se pode entender a história de Deus com este povo. Então, se faz necessário o entendimento de grandezas históricas do antigo Israel como ambiente geográfico, arqueologia e a Bíblia Hebraica que é um valioso documento do antigo Israel. São essas grandezas do povo antigo de Israel que usaremos como pano de fundo para a apresentação de seu contexto histórico, afim, de tentarmos elucidar.

I-Ambiente geográfico: 

 Característico das regiões orientais, as sociedades asiáticas da Antigüidade instalavam-se em regiões semi-áridas, que necessitavam de grandes obras hidráulicas para o cultivo agrícola. Assim, a organização político-social deu-se em torno da terra e dos canais de irrigação. Grupos de pessoas tinham de dedicar-se à abertura de diques ou abertura de valas.  

A vida depende do abastecimento de água e alguns povos como os da região Palestina eram dramaticamente privada dela: país possui poucos rios e a chuva é rara, ocorrendo apenas durante oito meses por ano. Dependência essa, compreendida pelo povo de Israel, pois buscava a construção de sua cidade em função da localização próxima das fontes de água: poços, rios ou cisternas. Nas montanhas cananeias, onde as chuvas de inverno são abundantes, o meio mais prático para se assegurar uma boa quantidade de água consiste em armazenar a que o céu faz cair generosamente.

Uma outra maneira de compreendermos a visão do povo relacionada aos favorecimentos provenientes do ambiente geográfico encontra-se na comparação entre a agricultura irrigada do delta egípcio e a agricultura dependente das chuvas das montanhas cananeias, registrada em Dt 11, 10-11”. 

Porque a terra que vais possuir não é como a terra do Egito, donde saístes, em que semeáveis a vossa   semente e, com o pé, a regáveis como uma horta; mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberás água. 

Não devemos desconsiderar a necessidade da construção de formações organizadas maiores do que as existentes por se tratar de uma terra de montanhas e vales, onde a diversidade de ambientes geográficos seria visível em virtude de suas planícies serem interrompidas por regiões montanhosas. O que, por conseguinte acarretaria o desenvolvimento social contribuindo com a formação de estados. Cidades estas que seriam fortemente influenciadas por outros estados já existentes no contexto, como Egito e mesopotâmia. Na época em que os hebreus estavam se deslocando para Canaã, já existiam importantes cidades, como Jericó, localizada na parte central de Canaã onde havia enormes estruturas urbanas cujo abastecimento de água era essencial, pois o Oriente Médio possuía grandes áreas onde o abastecimento hídrico era escasso. 

 Uma das cidades estados antigas antes da ocupação hebréia foi Jericó, pois a cidade estava a 10 Km do rio jordão estando próximo de uma cadeia de montanhas, formando fontes de abastecimento de águas na região. Dicionário bíblico universal , Buckland editora vida.

A partir dos expostos podemos concluir que o surgimento de estados em Israel e Judá constitui um tipo de formação estatal secundárias. Pois na parte sul já existia cidades-estados autônomas, bem como a presença estatal do Egito.

Um dos registros que contribui com a idéia da existência de formações estatais primaria, são as cartas de Amarna do século XIV, onde tábuas de escrita cuneiforme que faziam parte do arquivo de correspondência do Egito com os seus reis vassalos e governantes de canaã, onde a mesma nos leva a deduzir que tanto na parte sul quanto na parte norte já havia estados ultrapassando os limites de suas cidades. Tanto em Labaya de Siquém quanto Abdihepa de Jerusalém governam sobre estados territorialmente delimitados.

O que nos leva a crer que em Canaã já havia cidades-estados com culturas desenvolvidas muito antes de seu surgimento com formações estatais diferenciadas, onde não podemos escrever uma história de Israel sem levar em conta à influência dessas cidades-estados. 

     Os israelitas não puderam neutralizar o poder das cidades estados cananitas, nos vales  planícies costeiras, conforme se registra no relato bíblico. Entretanto, o desenvolvimento de uma argamassa à prova de água possibilitou a armazenagem eficiente de água, em grandes cisternas subterrâneas, por sua vez, facilitou a abertura de núcleos populacionais, até então esparsamente povoados, nos cimos das colinas. Arthur E. Cundal e Leon Morris, Juizes e Rute  Introdução e comentário.Edições vida nova.

II - Arqueologia.

Busquemos uma formação social através das fontes deixadas como heranças materiais descobertas pela arqueologia. Porém, antes devemos compreender que estas fontes estão expressas no sentido de fontes primárias e fontes secundárias e de que os textos bíblicos fazem parte das fontes secundárias, pois o uso da mesma como fonte para história de Israel é questionado por muitos. A arqueologia ampliou suas perspectivas e falar de “Arqueologia bíblica” hoje é proibido: existe uma arqueologia da Palestina ou uma arqueologia do levante, a construção de uma História de Israel feita somente a partir da arqueologia e dos testemunhos extra bíblicos é uma proposta cada vez mais utilizada. Uma história de Israel que dispense o pressuposto teológico de Israel como “povo de Deus” que sempre a sustentou. Uma história de Israel e dos povos vizinhos parece ser o programa utilizado para os próximos anos.

Já as fontes arqueológicas primárias são datadas de forma relativamente segura segundo critérios arqueológicos e que surgiram durante ou após os eventos narrados. Através dessa definição necessitamos da arqueologia para elucidar as heranças daquelas sociedades que as produziram. Entretanto, os restos arqueológicos sob o interesse especial da história social, têm pesos diferentes. 

Construções monumentais como templo e palácio são importantes pela sua própria existência. Pressupõe um determinado grau de organização social. Em termos histórico-sociais devemos perguntar como foram construídos e sob quais circunstâncias. Mas justamente essa pergunta a arqueologia não conseguirá responder. Por isso em termos histórico-sociais é indiferente se o templo é do tipo longitudinal ou quadrangular ou se o palácio tinha ou não segundo andar. Em termos histórico-sociais, muito mais interessantes são as condições do que as construções monumentais são as construções de cidades inteiras, que permitem tirar conclusão sobre a estrutura social. 

Através da arqueologia, também podemos recorrer aos artefatos gravados com escrita “material epigráfico”. Entretanto, o esse material para o próprio Israel é muito escasso. Deve-se atribuir esta escassez de documentos ao próprio material de escrita. Material esse denominado Ostraka, materiais de escrita comum na antiguidade, onde gravava-se com tinta as escritas em cacos de cerâmica. Essa escassez atribui-se as escavações antigas, onde apagavam involuntariamente as escrituras. Contudo, podemos contar com algumas dessas escrituras, especialmente a ostraka de Samaria encontrada na casa do tesouro real dos reis Israelitas. Estes fragmentos escritos em tinta relatavam receitas de impostos, ano do pagamento do autor, nome, proveniência do autor e o tipo de imposto (vinho ou óleo). Esta ostraka parece datar da época do rei Israelita Jeoacáz filho de Jeú. Outra seria a ostraka de Laquis , encontrada na cidade de Davi, sendo atribuída ao final do período do reino de Judá, onde 18 delas foram encontradas no portão da cidade e três no último extrato Israelita dentro da cidade, perto da parede interna. E na ostraka de Arad, foram encontrados escritos em hebraico e aramaico e um em egípcio. Eles são designados para o fim do reino de Judá e muitas vezes são ordens para o funcionário encarregado de a fortaleza fornecer suprimentos aos soldados dos reis de Judéia. Encontramos relatos da geografia da Palestina sobre as chuvas e os recursos hídricos, caracterizam que os hebreus levaram para a Palestina toda a tecnologia de construções de diques em que os egípcios eram grandes especialistas retirando do Nilo água para o interior das aldeias, no intuito de irrigar as plantações e desenvolver embarcações no que ajudaria os egípcios no transporte.  Canaã era uma região onde algumas áreas eram áridas e outras áreas eram férteis, rio jordão era um importante ícone na hidrografia a região norte da Palestina também havia nascentes pois era uma região serrana e bastante fértil disputada por diversos povos da região.

III-Os Textos da Bíblia Hebraica. 

Entremos na questão das fontes secundárias “os textos bíblicos”, que através de considerações entre o mesmo e m as heranças materiais, devem ser atribuídos como fonte somente em um segundo passo, essa questão tem influência direta à cerca dos critérios de datação e proximidade temporal. Deve-se atribuir o fato de sua história ser interpretada teologicamente, além de, em grande medida serem textos de ficção.

Falemos um pouco sobre essas narrativas ficcionais, um bom exemplo seriam os textos anais, que podem ser identificados nos livros dos Reis. Segundo o texto original e a antiga tradição hebraica, estes dois livros constituiriam uma só obra, que descreve a história da monarquia hebraica desde a subida de Salomão ao E trono até à conquista e destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, em 586 a.C.. A redação dos Livros do Reis não pretende apresentar uma simples e despretensiosa historiografia da monarquia hebraica. Apesar disso, os dados históricos referidos e os seus contextos concordam bem, no geral, com a imagem quer dos dados da Arqueologia quer das numerosas fontes extrabíblicas que hoje se podem aproveitar e comparar. O quadro internacional em que se desenvolve esta História, à sombra da sucessiva hegemonia do Egito, da Assíria e da Babilônia como impérios dominantes e condicionantes, corresponde fielmente à imagem real que a História do Próximo Oriente Antigo nos oferece. No entanto, mantêm-se em aberto alguns complexos problemas de cronologia relativamente aos dois reinos. Os livros dos Reis são parte nuclear de uma das unidades literárias mais influentes na Bíblia, além do Pentateuco: a História Deuteronomista, empreendimento de grande vulto e enorme repercussão em Israel. Por isso, a questão histórica da sua redação fica envolvida na complexidade das hipóteses levantadas e muito discutidas sobre autores, lugares e datas daquela História.
Entre as muitas hipóteses propostas, é consensual considerar-se que os principais momentos de redação dos livros dos Reis se devem situar entre a parte final da monarquia, sobretudo depois do reinado de Josias, e algumas dezenas de anos depois de terminado o Exílio. Em suma, o choque do Exílio e os tempos de cativeiro na Babilônia foram muito marcantes no processo da redação destes livros. Para essa redação foram utilizadas fontes escritas relativas à História dos reis das monarquias hebraicas, nomeadamente a História de Salomão (1º Rs 11,41), a Crônica da Sucessão de David (1º Rs 1-2), o livro dos Anais dos Reis de Israel e de Judá, freqüentemente citados no texto atual, além de outras fontes documentais neles referidas, mas hoje desconhecidas (1º Rs 5,7-8). Outras narrativas, como as de Elias e Eliseu, provavelmente, já existiam também antes de serem integradas na redação deuteronomista. Estes textos contêm informações confiáveis em termos de história de eventos, falam por si mesmo, ainda que não seja uma fonte primária e imediata a geração posterior. Entretanto, através deles podemos identificar pontos valiosos para a tentativa de reconstrução histórico-social do antigo Israel com uma apresentação teologicamente interpretada.

Como podemos ver, alguns textos bíblicos não são relatos históricos, mas narrativas e como tais são ficcionais. Entretanto, narrativas ambientadas em um mundo real, então para nós o mais importante seria o contexto em quais os autores ambientam os personagens e não a historicidade dos personagens da narrativa. 

Abraão e narrado como um rico possuidor de camelos, então os nossos conhecimentos acerca de domesticação deste animal, a qual não ocorreu no primeiro milênio, nos fazem supor um anacronismo neste texto. Gn 24. 

Com isso podemos concluir que independente de quando o narrador narra a sua história, ele esboça um ambiente que teria existido no tempo da narrativa.

Tradicionalmente os textos bíblicos podem ser intencionais ou não intencionais, podemos dizer que os textos narrativos se interessam por acontecimentos e as relações nos quais os acontecimentos se desenrolam são pressupostos como pano de fundo. A história-social está interessada na transmissão não intencional. O texto de Jr 32 demonstra bem essa intenção. 

O narrador descreve como no caso da transação comercial o preço de compra estabelecido é pesado sobre uma balança, um documento de compra é redigido em duas versões - uma vez aberto e outra vez selado - e assinado por duas testemunhas. Sabemos que no inicio do século VI a.C., portanto por ocasião do tempo narrado, não havia moedas, mas o dinheiro não cunhado era pesado. 

Assim a tradição intencional e não intencional tem somente caráter indicativo, mas de modo algum é indicio de segurança para a confiabilidade histórica. 

A tradição oral, era costumeira entre as tribos hebréias no antigo testamento. As leis, costumes e os fatos heróicos eram relatados de pai para filho mantendo durante séculos a cultura hebraica. Por volta de 1000 a.C, os textos bíblicos passam a ter maior confiabilidade, na era monárquica em Israel durante o reinado de Saul, Samuel o sacerdote do Reino de Israel estabelece uma instituição de ensino religioso onde adivinhos e sacerdotes vão ter embasamento histórico, cultural, filosófico e religioso. Esses alunos de Samuel vão editar diversas obras bíblicas tendo como principal obra o livro de juízes onda predominava o mundo político, partidários Saul e Davi lutavam ambicionavam os direitos políticos de ambas as cortes para terem o governo do Reino de Israel. 

“O livro encerra com a reflexão do editor de que a ausência da mão forte de um rei era a principal causa das desordens na terra, nesta época primitiva. Desta forma, o editor que sua própria é de estabilidade e segurança, condições prevalescentes da maior parte do reinado de Davi e na primeira parte do de Salomão; muito provavelmente foi neste período que se completou esta parte da História de Israel”. CUNDALL, Arthur E. & Leon Morris. Juízes e Rute introdução e comentário série cultura bíblica, edições vida nova. 

A partir desse período, surgiram escritores que nortearam o cânon bíblico, os livros proféticos, históricos poéticos foram editados por um conjunto de escritores de uma escola fundada por Samuel, ao longo do Velho Testamento profetas, sacerdotes e intelectuais israelitas, escreveram os livros do Antigo Testamento pondo em ordem não por datas, mas por nomeclaturas proféticas, poéticas, históricas, pentateuco, proféticos.

Conclusão. 

Nesta obra histórica israelita, foram tratados sobre a geografia bíblica onde alguns ambientes geográficos foram delimitados e abordados de maneira onde diversos aspectos foram demonstrados sobre a geografia da região. A arqueologia bíblica tem como norte a principal fonte de informação sobre os hebreus, onde diversas correntes históricas hebraicas foram apresentadas sobre vestígios arqueológicos nos fornecendo embasamento sobre diversos assuntos do Antigo Testamento. Os textos sagrados, foram importantes para por ordem em diversos assuntos onde haveria uma necessidade de divisão dos livros da Escritura Sagrada, assim podemos ter ordem e uma grande classificação dos personagens e livros sagrados.