HISTÓRIA, MEMÓRIA E TRADIÇÃO: A PASSAGEM DE DOM PEDRO II PELA ESTRADA DA ESTRADA DA GRACIOSA EM 1880
Por Leonildo José Figueira | 23/10/2014 | HistóriaHISTÓRIA, MEMÓRIA E TRADIÇÃO: A PASSAGEM DE DOM PEDRO II PELA ESTRADA DA ESTRADA DA GRACIOSA EM 1880
Leonildo José Figueiraleo.hist@gmail.comEm maio de 1880 a província do Paraná, então comandada por Dr. Manoel Dantas Filho, recebeu a visita da família real o Imperador D. Pedro II, acompanhado pela Imperatriz Dna. Tereza Christina, juntamente com toda comitiva.
A província do Paraná era a mais nova província do Império com apenas 27 anos de idade e como não poderia fugir às grandes manifestações populares e grandes eventos - dentro das possibilidades do tesouro provincial - foram enfeitadas as estradas por onde passaria a sua majestade; arcos artísticos foram armados na Estrada do Riachuelo, Estrada das Flores e Estrada da Graciosa (as duas primeiras se referem as atuais ruas “15 de Novembro” e “Barão do Serro Azul”). Á noite as casas tiveram suas fachadas iluminadas, como era de uso nos dias de festa nacional, com lanternas de vidro ou com coloridas lanternas de papel, chamadas lanternas chinesas.[1]
Antes de chegar ao final da jornada, o Imperador, juntamente com os integrantes da comitiva, passou uma noite hospedados no Rio do Meio – hoje atual bairro de Quatro Barras – localizada a margem da Estrada da Graciosa. Parte do relato de tal acontecimento está contido no diário do monarca, publicado no volume XXVII, do Boletim do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense.
“Uma noite tranqüila no Rio do Meio.
Ás 6h:35m cheguei à casa do Rio do Meio, onde dormi. Que diferença de temperatura. O céu parecia prometer geada. No caminho de Antonina até aqui encontrei talvez 50 a 60 carros, como os dos alemães de Petrópolis, conduzindo principal ou mesmo exclusivamente surrões e barricas de mate. Também levam bananas de que vi grandes plantações de grandes cachos, porem de má qualidade. As cores dos habitantes da baixada paranaense pareceram –se, em geral, de quem sofre do fígado. Os carroceiros que desciam tinham boas. Os cachoeiros que nos conduziam eram belos rapazes de família alemã. Pararam diversas vezes para dar água aos cavalos, que alias nada comeram em caminho. Penso que era isso antes para descanso dos animais, pois não há quase lanços horizontais na serra, e se os há muito curtos, e as rampas são um pouco fortes para tão longe extensão de mais de 20 quilômetros. [2]
No mesmo diário ainda lê-se o seguinte:
Esta casa de madeira de pinho da terra, e como que improvisada, ao menos quanto os acessórios para nossa estrada. A dona, viúva, filha de Santa Catarina, tem um penteado de caprichos de cabelos á roda da testa que parece um dos povos da Rússia. Dormi bem no meu quartinho, apesar de algum cheiro de tinta. Acordei antes das 6 e agora vou andar um pouco e almoçar para seguir ás 8h. por muito sono que me fez o andar vagaroso na serra. Nada escrevi na noite de ontem.” [3]
Através dos escritos em seu diário temos uma das mais primarias fontes, onde o imperador descreve a presença de imigrantes instalados na região do Rio do Meio já em 1880, os quais foram gradativamente se estabelecendo as margens da Estrada da Graciosa ao longo do tempo. [4]
No dia 21 de maio, às 8 horas da manhã, o monarca se despedia do Rio do Meio juntamente com a sua comitiva e se a Imperatriz Dona Tereza Christina. Fato este que mereceu mais uma nota do Instituto Histórico, Geográfico e Etnológico Paranaense, o qual publicou mais um trecho do diário do Imperador, relatando a passagem a Companhia Florestal Paranaense.
“Vinte e um de maio – Almoço as 7. Partida as 8. Araucária, erva mate. Colhi ramos. Capurri com boa ponte. Campinho. Volta grande com belos capões e grande abundancia de araucárias cujos os ramos enfileirando-se em planos diferentes, sobretudo por causa da inclinação do terreno, formam degraus de imensa escada. Creio que pertence á Companhia Florestal que possui uma área de 600 braços sobre 150. Tinha visitado antes seu há 5 anos abandonado. Dois empregados estão por pagar há 4. Gastaram 300 contos no material. A primeira promessa de tabua de pinho deu no Rio 2$000 mais por dúzia que o americano. A segunda por falta de cuidado, apodreceu em metade nos lugares onde o deixariam no transito. O deposito de 5.000 tabuas esta metade podre. Pena que não tenha olhado mais para o estabelecimento. Encontrou também no caminho muito joa-bravo, aroeira e arbusto bonito de frutinhas redondas amarelos que parecem as de murici, porem não se comem. Ouvi chamar aos capões aimbrete” [5]
Continuando a sua viagem rumo ao centro da Província do Paraná em Curitiba Dom Pedro II passa pela companhia Florestal Paranaense, que no ano de 1872 havia sido instalada, onde se localiza o atual bairro do Florestal. [6]
Dom Pedro II ficou impressionado com as belezas que a Estrada da Graciosa apresentava especialmente as araucárias; pois na Borda do Campo havia grande quantidade de pinheiro os quais despertavam interesse econômico da Província.
Um acontecimento marcante para a história de Quatro Barras foi o descanso do Imperador e sua comitiva em um pinheiro localizada à margem da Estrada da Graciosa. Tal acontecimento, porém, transformou o local em atrativo turístico, até que o pinheiro teve sua copa atingida por um raio, vindo a apodrecer seu tronco e consequentemente tendo que ser retirado do local. No ano de 1950, o local mereceu um monólito de pedra, colocado pelo Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, com a seguinte inscrição: “Á sombra deste pinheiro, diz a tradição, em 21 de maio de 1880, descansarão o Senhor Dom Pedro II, a família Imperial e a Imperatriz comitiva no seu caminho para Curitiba”
Cronologia
Por onde Dom Pedro II passou em sua visita ao Paraná em 1880:
17 de maio – saída do Rio de Janeiro
18 de maio – chegada a Paranaguá
20 de maio – segue para Antonina
21 de maio – chega a Curitiba
24 de maio – visita Campo Largo
25 de maio – visita Palmeira
26 de maio – ruma para Ponta Grossa
28 de maio – chega a Castro
1 de junho – visita Lapa
2 de junho – passa por Araucária (na época, Tindiquera)
7 de junho – retorna para a Corte
Contudo o município de Quatro Barras enriqueceu sua História, em uma vez honrada com a passagem de Dom Pedro II na mesma; uma cidade, porém, que tem sua historia ligada a importantes momentos da Historia do Paraná.
Referencias Bibliográficas
BALHANA, Altiva; MACHADO, Brasil Pinheiro; WESTPHALEN, Célia Maria. História do Paraná. Curitiba: Grafipar, 1969
BOLETIM, do Instituo Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. Curitiba: IHGEP, vol. XXVII.
FERRARINI, Sebastião. História de Quatro Barras. Curitiba: Educa, 1987.
HABITZREUTER, Rubens R. A Conquista da Serra do Mar. Curitiba: Pinhais, 2000.
MOCELIM, Adriana. Projeto conhecendo nossa História – Quatro Barras. Secretaria municipal de Educação, Cultura e Esporte do município.
MOREIRA, Júlio Estrela. Caminhos das Comarcas de Curitiba e Paranaguá. Curitiba: Imprensa Oficial, 1975.
POMBO, Francisco da Rocha. O Paraná no centenário. Curitiba: Secretaria de Cultura e Esporte do Estado do Paraná; 1980. 2 ed.
PROSSER, Elizabeth Seraphim. Cem anos de Sociedade, Arte e Educação em Curitiba: 1853-1953: da Escola de Belas Artes. Curitiba: Imprensa Oficial, 2004.
REIS, José Carlos. Identidades do Brasil: de Varnhagem à FHC. Rio de Janeiro: FGV, 1999.
RELATÓRIO TÉCNICO. Levantamento e Zoneamento Arqueológico do Caminho do Itupava – Serra do Mar. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMA Programa Pró-atlântica. Curitiba; maio de 2002.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. (1789 – 1853). Viagem pela Comarca de Curitiba. Curitiba: Fundação Cultural, 1995.
[1] Paginas Escolhidas: literatura, vol. I. Edição alusiva dos 150 anos de Criação Política do Paraná. Curitiba: Assembléia Legislativa do Paraná, 2003.
[2] BOLETIM, do Instituo Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. Curitiba: IHGEP, vol. XXVII, p. 189.
[3]BOLETIM. Op. Cit. p. 189.
[4] MOCELIM, Adriana. Projeto Conhecendo Nossa História – Quatro Barras. Secretaria municipal de Educação, Cultura e Esporte, 2004.
[5] IHGEP, vol. XXVII, p. 189.
[6] HABITZREUTER, Rubens R. A Conquista da Serra do Mar. Curitiba: Pinhais, 2000. p. 55