HISTÓRIA DO PROJETO DE LEI ORGÂNICA DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA: "TOCANDO UM PROJETO" - PARTE XXVI (Felipe Genovez)
Por Felipe Genovez | 14/02/2018 | HistóriaData: 19.08.2016, por volta das treze horas cheguei em Curitibanos e fui direto para o restaurante de sempre almoçar com o Delegado Toninho, conforme já tínhamos acertado antes da minha saída durante o período da manhã (tinha realizado a ouvida do Delegado Saroldi - Delegado de Polícia de Catanduvas -, na Delegacia da Comarca de Joaçaba). Logo que entrei encontrei o Delegado Toninho acompanhado do seu pupilo (um estagiário que sempre se faz presente na Diretoria de Polícia do Interior - Dpoi - Curitibanos, cujos salários eram pagos com recursos pessoais do próprio diretor - "Toninho"). Fiz um relato sobre meu pedido de aposentadoria e o Diretor do Dpoi discretamente me indagou se realmente eu era para valer a entrada no meu processo. Respondi na lata que havia mais de dois meses que já estava em tramitação. Toninho dava a impressão que não acreditava nessa minha decisão e comentou que fez os cálculos e caso viesse a se aposentar perderia cerca de quatro ou cinco mil reais nos seus subsídios. De quebra, aconselhou-me para refletir e que era para eu pensar melhor. Insisti que não tinha retorno diante dos fatos ocorridos naquele ano. Relatei que havia ficado bastante chateado com Delegado-Geral Nitz e com os Delegados Ghizoni e Izzopo (Assistente Jurídico - DGPC) em razão da determinação do Secretário de Segurança Cesar Grubba para que fosse apurado pelo "modo adequado" a conduta da comissão disciplinar presidida por mim no processo que presidi apara apurar fatos imputados ao Delegado Carlos Dirceu (comentei que em razão da cadência dos fatos na verdade foi uma pretextização e retaliação em razão do meu artigo “Maquiavel no Inferno” publicado alguns dias antes dessa determinação). Critiquei a cúpula da Polícia Civil que teria distorcido a decisão do Secretário de Segurança e mandaram instaurar sindicância, quando essa não foi a determinação do Titular da Pasta, e que fizeram isso só para agradá-lo ou por medo. Toninho depois de ouvir meus argumentos logo foi dizendo com contida acidez nas palavras: "O Nitz é um c... Ele tem medo, só quer ficar no cargo". Interrompi: "Mas eu acho que se o Aldo assumir como Secretário de Segurança com a saída do Grubba é bem provável que ele deixe o cargo de Delegado-Geral, não achas?" Toninho imediatamente rebateu: "O quê? Tu não conheces ele, duvido. Ele é doido pelo poder. Ele gosta de mandar. Se o Aldo assumir ele permanece lá. Ele só faz esse jogo de que não quer, mas é tudo mentira. Ele quer muito, sim, quer muito permanecer no cargo, podes ter certeza disso". Como Toninho já atuou com Nitz não pude deixar de dar crédito as suas observações e aproveitei para dizer que houve uma época em que acreditava no Nitz, mas depois daquela sua decisão de acatar a manifestação do seu assistente jurídico (conterrâneo de Academia do Delegado Ghizoni) de instaurar sindicância, minha opinião mudou radicalmente. A partir desse momento passei a ver ele como um Delegado-Geral "fraco", uma pessoa sujeita a manipulações políticas, bem talvez dentro daquela adjetivação anterior vaticinada pelo Diretor de Polícia do Interior. Toninho discordou do meu raciocínio dizendo que o Delegado Nitz gostava mesmo era do poder e fazia jogo de cena, mas também concordou comigo quando disse que o Delegado-Geral queria somente se dar bem no cargo. Aproveitei para emendar: "Bom, mas também pudera, ele recebe salários de Secretário de Estado e, também diárias...". Relatei que fiz um pedido de reconsideração para o Nitz sobre o fato de mandar instaurar sindicância, já que não foi isso que foi mandado ser feito, mas ele não decidiu nada e mandou para o Secretário de Segurança. Depois disso, mudamos de assunto e aproveitei para fazer um relato sobre o projeto da Lei Orgânica e Toninho me surpreendeu com certo ar de ironia: "Mas tu ainda estais tocando esse projeto?" Respondi imediatamente que sim e que queria consultá-lo sobre o encaminhamento da matéria. Relatei que na minha ideia deveríamos entregar o projeto para o Delegado-Geral, para a Adepol (Associação dos Delegados - SC) e Sinpol (Sindicato dos Policiais Civis - SC). Mencionei ainda que a minha intenção era que a exposição de motivos fosse assinada por um grupo de Delegados que nós convidássemos especificamente para esse objetivo. Comentei que tinha vindo de Chapecó e havia conversado com o Delegado Wagner sobre o assunto. Toninho imediatamente rebateu: "O Wagner não. O Nitz tá muito chateado com ele por causa do Aden (Diretor de Polícia de Fronteira- Chapecó) que é protegido do Merísio (Deputado Estadual e ex-Presidente da Assembleia Legislativa - SC). Então, tem que deixar ele de fora que o Nitz não tá gostando nada dele lá em Chapecó. Ele vai acabar dançando por causa do Aden". Interrompi: "Sim, eu conversei com o Wagner sobre o assunto, dei uns conselhos para ele. Eu percebi que ele está meio cego, não tá conseguindo enxergar a verdade, não está vendo que como Delegado Regional ele tem que pensar grande, tem que pensar profissionalmente, espero que ele pense seriamente sobre o assunto e acerte as arestas com Aden e com os dois Delegados lá". Toninho me interrompeu: "É, mas ele pisou feio na bola, foi arranjar briga com o Aden que é protegido do Merísio, tudo por causa de dois Delegados que ele queria tirar de lá. Ele veio conversar comigo sobre o assunto". Interrompi: "Sei, sei, ele me contou o que tu orientasses para não bater de frente com esses dois Delegados e com o Aden". Toninho que antes parecia ser fã do Delegado Wagner (inclusive foi responsável por colocá-lo no cargo de Delegado Regional de Canoinhas e na sua transferência para a DRP de Chapecó), conforme me deixou ver na nossa última conversa ali naquele mesmo restaurante. Há tempos atrás, quando tratamos do projeto da lei orgânica Toninho havia me dito que o Delegado Wagner "era o melhor de todos", a grande promessa e naquele encontro veio me dizer que ele havia virado o "patinho feio da história" só porque bateu de frente politicamente com o Diretor de Polícia da Fronteira. No curso da conversa, ainda falando sobre a lei orgânica citei que convidaria ele, os Delegados Aden e mais alguns outros (Bermudez, Fragelli, Darolt...) para assinarem o documento, isso depois de lerem e discutirem o anteprojeto. Aproveitei para perguntar sobre o Delegado Celso (Diretor de Polícia do Litoral - DPL) e Toninho comentou: "Bom, se vai assinar o Diretor de Polícia do interior, o Diretor de Fronteira, o certo é também assinar o Diretor de Polícia do Litoral, não achas? É o que eu penso". Concordei com o raciocínio, mas aproveitei para comentar que na última conversa que tive dias atrás com o Delegado Celso, na Rua Felipe Schmidt, centro de Florianópolis, o mesmo tinha acabado de sair de uma reunião de diretores na Delegacia-Geral para tratar sobre "audiência de custódia" o que eu achei estranho. Relatei que essa reunião havia ocorrido logo depois que publiquei meu artigo na rede (Maquiável no Inferno), com questionamentos ácidos ao Titular da Pasta da SSP e a cúpula da Polícia Civil sobre a presença de presos em Delegacias de Polícia (uma realidade injusta com os policiais civis e total desvio de função). Aproveitei para comentar que ficou acertado que competia à Polícia Civil levar os presos em flagrante primeiramente à presença do Juiz de Direito e, logo em seguida, teriam que correr atrás de uma vaga no sistema prisional e eu que já fui Diretor da Penitenciária de Florianópolis conhecia muito bem como funciona o sistema, ou seja, quanto mais presos em DPs menos problemas no Sistema Penitenciário. Comentei que o Delegado Celso depois de ouvir minhas considerações arrematou com certo ar de desentendido e descompromissado: "...isso tinha sido debatido na reunião e que era uma medida muito boa e correta..". Comentei que fiquei pasmo diante dos argumentos do Diretor da DPL e a impressão era que haviam combinado na tal reunião com o Delegado-Geral Nitz esse tipo de resposta ou argumento a qualquer indagação de nossos pares. Relatei mais, que fiquei olhando fixo, incréduto e sem jeito para o Delegado Celso, sem querer acreditar no que ele estava me dizendo, e que mais parecia coisa de "robô teleguiado" (uma decepção para quem conhecia um outro Delegado Celso de outros tempos...). Toninho que também participou dessa reunião me surpreendeu após ouvir meu relato, afirmando "com convicção" que essa atribuição à Polícia Civil não iria se sustentar e que brevemente seria alterada, sob argumento de seria revogada por falta de efetivo para fazer esse serviço (pensei comigo: "como um Delegado experiente e antigo como Toninho poderia acreditar em papai noel..."). Fiquei mais perplexo ainda com a argumentação de Toninho que mais parecia que também estava noutro mundo ao invocar uma saída rápida para uma questão tão preocupante: "houve um acordo de Secretário de Estado e tudo já estava decidido nos bastidores e foi por isso que a resolução havia sido publicada". Com a temperatura mais alta diante do calor da conversa Toninho insistiu em querer saber meu roteiro depois que eu disse que chegaria na Capital e ainda iria para São Francisco do Sul durante à noite (era sexta-feira). Tentei mostrar para ele o itinerário, mas ficava aquela impressão de que não queria entender como iria chegar no trevo de Jaraguá do Sul, onde pela BR 101 você tem que convergir rumo a São Francisco do Sul. Expliquei umas três vezes o viaduto (Jaraguá do Sul/BR 101) e a conversão à direita, mas... Toninho parecia não acreditar que depois de chegar em Florianópolis eu ainda iria deixar a viatura na Corregedoria e pegar meu carro para me deslocar até o norte do Estado, porém, era a pura verdade, e foi o que realmente ocorreu (fiquei pensando: "será que ele está pensando que eu seria capaz de utilizar a viatura oficial para ir para minha residência em São Francisco, como muitos diretores e apadrinhados podem estar acostumado a fazerem?
Para amenizar um pouco o rumo da nossa conversa, fiz um relato da espetacular viagem que fizemos em dois carros à Mendonza (Argentina) no mês de julho... Toninho quis saber detalhes, tipo com que carro viajamos e relatei que foi com meu Honda e meu irmão num Citroen Lounge (pensei comigo: "seria Toninho realmente um interssado em viagens...?Em razão de nossa longa amizade, quiz acreditar que sim... Recomendei que quando ele resolvesse fazer essa viagem que antes conversasse comigo e que o Argentina e seu povo me surpreenderam imensamente.