HISTÓRIA DO PROJETO DE LEI ORGÂNICA DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA: "SENA E AS CARTAS" (PARTE XV) (Felipe Genovez)

Por Felipe Genovez | 08/02/2018 | História

Data: 26.02.2016, por volta das nove horas e quinze minutos, estava na minha sala na Corregedoria da Polícia Civil (centro de Florianópolis) quando a recepcionista me ligou avisando que o Delegado Eduardo Sena Estava querendo uma "palavra" comigo. Imediatamente avisei que ele poderia subir. Quando Sena entrou na minha sala, parecendo meio que "fantasmagórico" foi vaticinando: "Posso te pagar um café, mas tem que ser fora daqui e agora". Fui tomando de súbito, ainda mais que ele repetiu a frase umas três vezes e pressenti que alguma coisa grave havia acontecido.

Horário: nove horas e vinte minutos estávamos já numa cafeteria próximo da Corregedoria, mas no caminho Sena com ares apocalípticos já havia comentado que soube pelo Delegado Alfredo que na semana que vem estarei em Joinville para ouvi-lo e que deveria ser sobre o seu caso. Sena afirmou que iria relatar uma situação que causaria muita indignação pelo tamanho da maldade que querem fazer com ele. Fiquei curioso, pois no nosso último encontro ele estava na Deic e parecia bem ambientado com o Delegado Rafael na Delegacia de Defraudações. Após sentarmos numa mesinha no canto do recinto, sem ninguém no momento, Sena começou a relatar que a Delegada Alexsandra Colpani estava presidindo uma sindicância preliminar sobre uma viagem que fez para Dubai durante umas férias e que não tinha sido dado baixa no sistema, isso ainda na época do Delegado Alfredo quando estava atuando no "Cope" (Comando de Operações Policiais Especiais, acho que é isso), cuja unidade foi fechada por determinação do Delegado-Geral Adjunto (Delegado Marcos Ghizzoni). Sena relatou que a Delegada Alexsandra foi muito profissional com o mesmo e que o Advogado Robson do Sinpol estava lhe defendendo. Fiquei intrigado porque segundo Sena no relatório final a Delegada Corregedora Alexsandra sugeriu o arquivamento do feito, mas a Delegada Sandra Mara Pereira não havia concordado com o relatório e pediu que fossem feitas diligências complementares sobre anotações e gozo de férias que remontavam desde 2008. Sena disse que seu estado emocional estava muito afetado e que sua esposa ficou muito nervosa e chegou a bater o carro, afirmando que ficou muito indignado porque num documento constava que houve uma denúncia anônima contra o mesmo e que isso certamente que teria partido de colegas do "Saer", onde trabalhou anteriormente ao "Cope". Perguntei para Sena se ele sabia que teria sido o autor da denúncia e ele respondeu que imagina quem possa ter sido o autor. Pedi que ele não me desse os nomes, mas só mencionasse se sabia e se eram colegas. Sena disse que um está aposentado (pensei no Delegado Jonas...) e que o outro continua ainda trabalhando (pensei no Delegado Djalma...). Sena relatou que esteve no gabinete do Delegado-Geral para conversar e depois de aguardar cinco minutos percebeu a chegada do Delegado Ghizoni, quando então foi convidado a entrar no gabinete do Chefe de Polícia. Relatou que na conversa com Nitz e Ghizoni ambos foram categóricos em dizer que a denúncia teria vindo da Secretaria de Administração, inclusive, a informação sobre uma possível improbidade administrativa por não ter dado baixa quanto as suas férias gozadas. Relatei que a decisão de solicitar mais diligências deve ter partido mesmo da Delegada Sandra, mencionando o caso do Delegado Cláudio Monteiro e as denúncias de que teria se apropriado de três celulares, cujo relatório final foi pelo arquivamento, só que a Delegada Sandra e a direção da Polícia Civil haviam entendido que deveria ser instaurado Processo Disciplinar. Em razão disso argumentei que as decisões da Delegada Sandra não eram isoladas, ou seja, sempre se harmonizam com o gabinete (leia-se: Delegado Ghizoni...). Lamentei esse fato porque tinha o Delegado Ghizoni em boa conta, além de gostar do mesmo (a exemplo do Delegado Sena), só que o achava muito inexperiente para estar onde estava. Sena interrompeu meus pensamentos para dizer que não reconhecia mais o Delegado Nitz que para ele era outra pessoa, havia mudado radicalmente sem comportamento, sendo que antes era um "gentleman" com os colegas e agora... Argumentei que tudo passava pelo gabinete quando a questões disciplinares, que passava pelas mãos do Delegado Ghizoni e do Nitz que geralmente acatava as posições do seu adjunto. Procurei não pegar pesado com a cúpula, relatando que por três vezes havia sido convidado para trabalhar com eles, mas optei em permanecer na Corregedoria da Polícia Civil, mesmo tendo que me desdobrar para dar conta dos procedimentos, do projeto da lei orgânica... Argumentei que não aceitei trabalhar na Delegacia-Geral, mas que às vezes me perguntava se não teria sido melhor estar lá com eles para formar opinião. Falei um pouco do projeto da lei orgânica, mas sem entrar em detalhes ou no mérito, apenas que estava trabalhando para ajudar a direção da Polícia Civil em algo que acreditava que pudesse ser uma esperança. Sena fez um comentário que resultou na minha velada comiseração quando disse: "Genovez, eu ingressei na Polícia Civil em 1994, mas tu sabes que até hoje eu sinto que não é o meu lugar, eu sinto que não sou daqui". Interrompi para fazer um breve relato sobre o concurso que fiz para Delegado e Juiz no nosso Estado, isso no ano de 1984. Na narrativa disse que soube que tinha sido aprovado no concurso para Delegado em primeiro lugar e que no concurso da magistratura havia vinte e duas vagas e na fase em que estava somente doze tinham sido aprovados pelo relator da comissão (Des. Nelson Konrad), sendo que eu estava em sexto lugar. Afirmei que foi um concurso polêmico e que seguraram o resultado por mais de trinta dias... porque a cúpula do Tribunal de Justiça não concordava com o resultado e com as sobras de tantas vagas..., sendo que havia ainda fases a serem vencidas e o número poderia ainda ser mais reduzido.  Relatei para Sena que fui até o Tribunal de Justiça e conversei sobre o concurso (com o Desembargador Geraldo Gama Salles, depois Presidente) e me disseram que sabiam do meu conhecimento, porém, o resultado seria mudado e que eu deveria ir até o Governador Amin ou ao Presidente da Assembleia Legislativa (Epitácio Bittencourt) para pedir que meu nome fosse avalizado... Relatei que quando recebi aquela orientação fiquei muito indignado e argumentei que não aceitaria ser juiz de direito naquelas condições e que então assumiria como Delegado de Polícia.  Afirmei que o Desembargador chegou a se desdobrar quase que suplicando que eu fosse pedir o tal "apadrinhamento", pois já estava com os pés dentro..., era só acertar aqueles detalhes, porém, me mantive irredutível e deixei o gabinete do futuro Presidente do TJ afundado na sua poltrona incrédulo e triste com a minha decisão. Diante desse relato afirmei que poderia hoje estar no TJ como Desembargador, podendo chegar a presidência  e perguntei para Sena: "Estão tu vê, hoje eu me pergunto se fiz a coisa certa. Vejo hoje a Maria do Rocio, o Abreu, a Eloisa, muitos que estudaram na minha época na Federal...e eu estou aqui na Polícia Civil. Eu sei que fiz muitas coisas pela instituição e perante a minha consciência acho que fiz o que era certo, mas pensando no melhor para minha vida pessoal chego a me perguntar se será que fiz o melhor para mim?" Sena depois de escutar atentamente meu relato e balançar a cabeça meio que indignado deu a entender que concordava com meu raciocínio, porém, sem se posicionar o que teria feito se estivesse na minha pele. Sena já parecendo mais tranquilo por poder conversar comigo e saber que minha viagem para Joinville não tinha nada haver com o seu caso (o Delegado Alfredo teria comentado no telefone que seria ouvido e que poderia ser sobre a sua sindicância...). Sena desabafou que a Polícia Civil hoje mais parece uma "Gestapo" referindo-se logicamente à  época dos nazistas e que esse era o ambiente que nós respirávamos na Polícia Civil com a cúpula... Interrompi para dizer que instituição alguma vai conseguir se fortalecer com "covardia", "maquiavelismo", "perseguições", "inquisições", "fofocas"... e que estava assistindo a série "The Games of Thrones". Sena interrompeu para dizer que já assistiu essa séria e que agora estava assistindo uma melhor: "House of Cards" e recomendou que eu parasse de assistir "Games" e passasse para "House". Interrompi para perguntar qual a época ambientada e Senna respondeu que era a atual. Argumentei que a Polícia Civil mais parecia na Idade Média, como mostrada na "Games". Recomendei a Sena que tivesse muita calma naquela hora, conversasse com sua esposa e fizesse sua defesa da melhor forma, pois tudo iria passar, pois não a maldade que perdure para o todo e sempre. Sena mais calmo pareceu que havia entendido meu conselho, agradecendo por tê-lo ouvido e eu pedi que o mesmo procurasse se empenhar da melhor forma para que possamos melhorar nossa instituição. Sena argumentou que estava procurando conduzir bem seus procedimentos na Deic, quando eu interrompi para dizer: "Sena, todos nós temos que conduzir bem nossos procedimentos, mas além disso existe o lado institucional, temos que nos dedicar aos assuntos institucionais...". Sena fez um comentário sobre a Adepol e que o Presidente Ulisses parecia muito educado no trato com os colegas, lhe atendia bem, mas... Concordei dizendo que meu tempo na Adepol estava contado, pois desde o início não concordei com a forma  como tudo foi conduzido, sem entrar em detalhes. Ao final da conversa reiterei para que Sena tivesse muita calma, esqueçesse o ódio, qualquer desejo de vingança, apenas se defendesse, lamentando que se tivesse conversado comigo antes teria indicado o Advogado Ademar Rezende (Adepol) para defendê-lo, muito embora o Advogado Robson (Sinpol) não deixasse nada a desejar.