HISTÓRIA DO PROJETO DE LEI ORGÂNICA DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA: "OMBROS E DESABAFOS AMIGOS" - PARTE XLVI (Felipe Genovez)

Por Felipe Genovez | 16/02/2018 | História

 

DATA: 11.11.2016, Por volta das onze horas, estava na minha sala na Corregedoria da Polícia Civil quando fui surpreendido com a chegada do Delegado Carlos Francisco dos Passos ("Carlão"). Na segunda e terça-feira tomei conhecimento que simplesmente não apareceu para trabalhar e sua Escrivã (Adriana Graff) havia confidenciado para Silvane que estava preocupada, pois simplesmente seu chefe tinha desaparecido. Agora estava ali "Carlão" na minha frente, com sinais fantasmagóricos, mas não deixava de ser ele em carne e osso. Era visível que precisava de um amigo para desabafar e logo foi me indagando: "Vem cá, Felipe, a tua aposentadoria vai andar mesmo?" Antes que eu respondesse ele completou: "A minha vai andar, eu resolvi mandar para frente, daqui uns sessenta ou noventa dias ela vai estourar". Procurei ser enfático e fui logo dizendo: "A minha está programada para fevereiro, ou março do ano que vem, vou pegar férias em janeiro...". Dava para perceber que "Carlão" estava ansioso, empalidecido e compulsivo no uso das palavras. Um fato que me chamou a atenção no seu comportamento foi o fato da minha porta estar entreaberta e "Carlão" a cada segundo torcia seu tronco e espiava para a direção do corredor como se temesse que a Delegada Sandra Mara ou alguém passasse para ouvir a nossa conversa. De certa forma procurei relativizar aquele seu comportamento sem externar qualquer resquício de “incomodação”. "Carlão" confidenciou que tinha estado naquela manhã com o Delegado-Geral Nitz para tratar da situação da sua esposa que iria iniciar o exercício como Agente de Polícia e fez o seu relato: "...Tu vê Felipe, eu estive lá conversando com ele, mas sinceramente, ele me disse que minha esposa vai assumir em São João Batista e que é para ela ficar lá um tempo porque depois eles dão um jeito de trazê-la para mais perto, tu acredita que ele teve a coragem de me dizer isso? Eu tive que me controlar, eu acho que ele estava esperando que o convidasse para ir lá em casa comer uma 'paleta de ovelha', sinceramente, eu acho que ele ficou esperando o convite para comer uma 'paleta’, mas eu não disse nada, fiquei sem saber o que dizer. Eu fiquei pensando comigo: 'ele deve estar esperando que eu o convide para ir lá em casa para comer aquela 'paleta de ovelha', mas eu não vou convidar, a não. Eu não acredito nele, é um mol....". Interrompi "Carlão" para fazer um comentário, sem conter meu riso: "Eu não vou externar minha opinião. Bom, tu sabes que eu estou com o projeto da lei orgânica lá com ele, então vou esperar para ver se ele realmente vai brigar por isso, depois farei meu julgamento, mas ainda é muito cedo. Mas, sinceramente, a situação da tua mulher é tão fácil de resolver, é só olhar a Constituição Federal, até a Constituição Estadual, as normas garantes que a família deve ser protegida, tá lá, então não teria nada de mais ele designar a tua esposa para trabalhar numa Delegacia aqui da Capital...". "Carlão" não conseguia permanecer quieto e foi destilando seu fel: "Para mim ele é um f., não decide nada, fica naquele 'nhãnhãnhã, só enrola, não decide nada, Felipe. Eu não aguento mais, tive até que sair um pouco porque isso já está me incomodando de tal maneira... Bom, qualquer coisa eu tenho apartamento ali em Itapema e vou para lá, fica pertinho de São João Batista...". No curso da conversa "Carlão" ainda teceu alguns comentários sobre o Delegado Paulo Koerich que estava na época reivindicando ir trabalhar no "Gaeco" de Blumenau (recém implantado) e, também, sobre a proposta do Delegado Celso Correa (Diretor da Depol/Itajaí) que pediu para que ele assumisse o lugar do Delegado Paulo Koerich na Corregedoria daquele órgão. Interrompi para perguntar: "Ah, sim, é por causa da tua esposa que vai trabalhar em São João Batista?" "Carlão" imediatamente rebateu: "Não, essa conversa com o Celso foi antes. Eu soube hoje que minha mulher vai trabalhar em São João Batista, foi agora de manhã, acabei de sair lá do Nitz". Depois "Carlão" teceu comentário sobre a Delegada Tânia Harada de Joinville que acabou saindo do "Gaeco" daquela cidade e que ele fez um relatório pesado contra a mesma no procedimento do Delegado Farah, e que foi por essa razão que ela teve que sair daquela unidade ministerial de investigações. Comentei que há umas duas semanas estive em Joinville para ouvir a Delegada Tânia que me disse que seu "sonho era trabalhar no Gaeco". "Carlão" me interrompeu meio incrédulo: "O quê? Quando ela te disse isso? Não pode, ela não vai trabalhar mais no Gaeco". Interrompi para comentar que a Delegada Tânia Harada é a substituta do Delegado Akira (DRP/Joinville) e que o Delegado Watanabe tinha assumido a vaga do Gaeco de Joinville. Argumentei que o Delegado Akira estava dando um tratamento especial para os "Delegados Orientais" e que eu achava um absurdo nossos colegas aceitarem esse tipo de "convite", só realmente por conta do "vil metal". Na sequência "Carlão" me perguntou sobre o "inquérito" que a Delegada Sandra Mara me repassou para presidir e me lançou a seguinte questão: "Então, eu fiquei me perguntando: 'Será que o Felipe vai aceitar presidir esse inquérito? Bom, tu tinhas me dito que irias presidir, lembra? Ai eu fiquei depois me perguntando: 'Será mesmo que o Felipe vai cair nessa, oh loco, mas tu vais presidir mesmo?" Respondi que não, tinha encaminhado já um requerimento com uma série de argumentos... "Carlão" se mostrou curioso e eu disse que havia arguido minha suspeição citando que a Corregedoria não detinha função de polícia judiciária. Cerca de um mês atrás "Carlão" estava designado para presidir esse inquérito e havia meses que estava com o material em cima da sua mesa e não dava o recebimento, portando, não se vinculava (isso causou até uma medida extrema por parte da Delegada-Corregedora Sandra Mara que passou a exigir que todos os procedimentos ou documentos fossem recebidos pelos Escrivães, não pelos Delegados). Nessa ocasião "Carlão" pediu a minha opinião sobre como deveria proceder para fugir da presidência daquele inquérito que já tinha passado pelas mãos da "Deic" e do Delegado Rubens Leite que "caíram fora" (arguiram suspeição). Naquela época recomendei que "Carlão" também caísse fora baseado na falta de previsão legal para a Corregedoria instaurar esse tipo de procedimento. Retomando a conversa perguntei para "Carlão" se ele queria que eu mandasse uma cópia do meu requerimento e ele rapidamente respondeu que sim, pois tinha muito interesse em ler o documento. Perguntei se ele preferia papel ou digital e "Carlão" respondeu rapidamente: "Papel, é claro" (acabei lembrando do último encontro que tive com o Delegado Aldo, SSP/Adjunto, quando tratamos do projeto da lei orgânica e ele disse que preferia sempre o modo digital). Aproveitei que estava sentado em frente ao meu computador e fiz o encaminhamento para o e-mail "cefrancisco@pc.sc.gov.br". Também, comentei que havia citado seu nome no meu requerimento de suspeição. Como "Carlão" ficou curioso, emendei: "Nada de mais, citei, você, o Rubens Leite, o Godoi e o Watanabe, tu vais ver, leia!". Depois conversamos sobre o futuro da Corregedoria e "Carlão" argumentou que não existia mais ambiente para que Sandra Mara continuasse no seu  cargo. Aproveitei para dar ciência que saiu a aposentadoria do Delegado Jeferson, mas que ele deveria continuar à frente da Corregedoria-Geral da Segurança Pública, porém, em cargo comissionado. "Carlão" se mostrou surpreso, pois não sabia da aposentadoria do Delegado Jeferson. Nossa  conversa foi interrompida com a chegada da Delegada Maria Carolina Caldas que veio fazer algumas perguntas sobre aposentaria, especificamente, sobre férias, já que seu processo dela estava em andamento, sendo que havia programado para gozá-las em janeiro/2017. Recomendei que Carolina conversasse com a Escrivã Ana Peixoto para que juntasse o contracheque de dezembro/2016 e que mandasse o processo em janeiro para tramitar junto ao Iprev. Pedi para que Carolina interviesse também em meu favor no contato com Ana Peixoto (férias para janeiro/2017 e que juntasse o contracheque de dezembro/2016). Depois que Carolina saiu retomei a conversa com "Carlão" que comentou que a safra de novos Delegados estaria surgindo num futuro próximo, que vão comandar instituição aprender praticar as suas maldades, chegando a citar o Delegado A. Interrompi para comentar: "Sinceramente, 'Carlão', eu sou contra qualquer tipo de 'perseguição', isso não leva a nada, o importante é todo mundo trabalhar. Tu vê, olha o que eu fiz pelo Delegado T., era para ele ter sido....  acabei salvando a pele dele".  "Carlão" me interrompeu: "Ah, tu achas que ele reconhece isso, ele não tá nem aí, nem aí". Continuei: "Tudo bem, depois houve aquela representação lá do juiz e promotor de Joaçaba para que fosse instaurado processo disciplinar contra ele, com uma série denúncias. Lá estava eu novamente, fiz o parecer com a recomendação que não fosse instaurado nada (período do Delegado Jorge Xavier). Lembrei na época que era justamente o aluno......". "Carlão" reiterou seu comentário anterior, só que agora tentando parodiar o Delegado T., com ares de descaso, dizendo: "Ah, eles não tão nem aí para isso, Felipe. Tu achas que eles ligam para isso?" Concordei, porém, argumentei que no ano de 1991 o Delegado T. ainda estava em estado probatório e um processo disciplinar poderia... Concluí dizendo que a perseguição do Delegado T. foi me colocar... Antes de sair procurei aconselhar "Carlão" a ir com calma, cuidar da saúde, não se deixar abalar e esperar um pouco para voltar a carga sobre a situação da sua esposa. Comentei que era preferível ela continuar em São João Batista até o final do ano de 2017, pois poderia mudar o governo e ficaria mais fácil. Reiterei minha opinião de que aquele tratamento que estavam dando no caso da sua esposa não era digno com a sua história profissional. "Carlão" estava de saída e da porta fez um último comentário: "Obrigado. Eu vim aqui porque precisava desabafar. Obrigado por me ouvir".

Por volta de umas dezesseis horas "Carlão" me ligou para dar um retorno sobre a leitura que fez sobre o "requerimento" de suspeição, fazendo o seguinte comentário: "Porra, li o teu requerimento, tu queres derrubar um monte de gente, heim? Ficou bom, foi bom, mas vai incomodar...". Entre risos, terminamos nossa conversa rápida.