Historia de Tabatinga - Amazonas
Por Ronaldo Ramires Mafra | 02/12/2010 | HistóriaUNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE TABATINGA
TABATINGA? AM ? BRASIL
EVOLUÇÃO HISTÓRICO-GEOGRÁFICA DE TABATINGA
RONALDO RAMIRES MAFRA
VALDEMIR NILO SIQUEIRA
rrmafra@hotmail.com; e nvaldemir@hotmail.com
Resumo: Este artigo resgata a Evolução histórico-geográfica de Tabatinga, descrevendo a formação dos bairros e explicando a razão dos nomes que receberam. O trabalho se deu através de pesquisas bibliográficas, coletas de informações em instituições religiosas e militares consultando seus acervos, como também extraindo relatos de moradores mais antigos. Os resultados que merecem destaque esta no que se refere ao primeiros habitantes de Tabatinga, em duas área distintas, o Marco - area ocupada pela popuação civil, e a área militar, esta última denominava-se Tabatinga. Desta forma depreende-se que Tabatinga, para alcançar a atual formação, foi sendo modelada ao longo de um processo histórico, com as primeiras expansões urbanas e pela ocupação portuguesa através de construção fortes militares e pelos primeiros seringueiros vindos do vale do rio Javari.
Palavras-chave: evolução histórico-geográfica, Tabatinga, expansões urbanas.
1 INTRODUÇÃO
A evolução histórico-geográfica de uma cidade pode-se dizer que é uma conseqüência de práticas humanas em um determinado espaço de tempo, que se inicia pelas primeiras aglomerações urbanas, recebendo nomes de vilas que vão sendo modeladas ao longo de um processo histórico e se materializando de forma igual ou diferenciada em função de determinantes históricas específicas, assim como também das suas funcionalidades sociais e as relações econômicas existentes deste lugar.
Quanto à origem das primeiras cidades no mundo, destaca que,
Há dificuldades de se precisar o momento da origem das primeiras cidades. Contudo os autores são unânimes em apontar que terá sido provavelmente perto de 3500a.C., seu aparecimento na Mesopotâmia (área compreendida pelos rios Tigre e Eufrates), tendo surgido no vale do Rio Nilo (3100a. C.). (SPÓSITO, 1994, p. 18).
Percebe-se que sempre haverá necessidade de se estudar e conhecer como ocorreu o processo evolutivo das cidades e, conhecer a evolução histórica-geográfica de Tabatinga não deve ficar isolado desta área de investigação.
A investigação sobre a história-geográfica de Tabatinga ainda é pouco explorada, não há fontes bibliográficas suficientes e específicas nesta área de pesquisa, apenas relato de alguns viajantes que passaram por aqui em meados de 1847, como por exemplo, o seguinte,
Tabatinga, ou mais propriamente Tauatinga, é um posto fortificado que data de 1776. Sua criação deve-se aos alferes Francisco Coelho, que na época comandava a aldeia de São José do Javari, fundada pelos carmelitas portugueses na foz do Javari e povoada com índios Ticunas. Essa aldeia havia sido elevada à vila por decreto do governador-geral do Pará Fernando da Costa de Ataíde Teive e provida de uma respeitável guarnição porque se destinava a substituir a Ilha da Ronda, abandonada havia alguns anos (a ilha fora abandonada pela localização desvantajosa, pois era facilmente acessível a partir da margem direita do rio, mas estava demasiado afastada da margem esquerda para podê-la controlar) (PAUL MARCOY tradução de ANTONIO PORRO, 2001, p. 47).
Todavia, todo resgate de informações históricas requer uma pesquisa minuciosa e detalhada, pois desta forma haverá mais exatidão e fundamento nas análises dos dados coletados.
Este trabalho teve como objetivo resgatar a Evolução histórico-geográfica de Tabatinga e, para alcançar os objetivos acima expostos, utilizamos o método dialético qualitativo, realizamos entrevistas com moradores antigos da cidade, assim como também coleta de dados nas instituições religiosas, militares.
Desta forma conclui-se que ao estudar o processo evolutivo de Tabatinga e a razão pela qual ela veio existir, foi por se tratar de uma área de fronteira, pois Portugal queria garantir a posse da terra através da uti possidetis vista que essa área era disputada entre Portugal e Espanha no inicio do século XVIII. Daí deu-se início e expansão urbana de Tabatinga, que após um longo período sobre domínio Militar emancipou-se politicamente, desenvolvendo seus bairros, cuja cada bairro possui suas histórias quanto sua origem e formação.
Em relação a emancipação do município de Tabatinga, um dos moradores, o Senhor Luiz Ataíde, falando sobre sua história de vida na cidade e conhecedor da história do município, teve grande participação na criação do mesmo. (texto completo do depoimento em apêndice pág. 23-24)
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Fundação das primeiras cidades e dos aldeamentos missionários na Amazônia
Santa Maria de Belém do Grão-Pará foi a primeira cidade e sua criação demarca a defesa e a conquista do território como ponto de apoio para a interiorização da região, até atingir, no século XVIII, a Vila de São Francisco Xavier de Tabatinga, a cerca de 3.000 quilômetros para oeste. Durante o governo do Marquês de Pombal (1750-17770), na metade do século XVIII, Portugal adotou medidas que modificaram o processo de colonização da Amazônia, tendo sido criados a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, a Capitania de São José do Rio Negro (1755) e o Directório dos Índios, o que trouxe como conseqüência à elevação de 46 aldeamentos à condição de vila em pouco mais de cinco anos. (JOSÉ ADEMIR, 2000, p. 56).
2.2 Cidades amazônicas no período colonial
Quando os europeus iniciaram o processo de colonização da Amazônia, a região não era um grande vazio demográfico, não estando, portanto, desocupada. A ocupação dos séculos XVII a XIX significou:
Uma forma peculiar de colonização que, longe de acrescentar novos contingentes humanos a área, sangrava-os ininterruptamente em suas populações indígenas (JOSÉ ADEMIR, 2000, apud MOREIRA Neto, s.d: 17).
José Ademir destaca que a garantia de posse de terra na Amazônia através de implantação de fortes militares e missões religiosas, era de grande importância para os colonizadores portugueses no inicio do século XVIII, mesmo que essa ocupação fosse iniciada primeiramente em áreas litorâneas brasileiras,
Na perspectiva do colonizador, a ocupação teve inicio no século XVIII e se limitou à parte litorânea, não se estendendo para o interior da região amazônica, que praticamente não sofreu a ação da "ocupação" portuguesa no seiscentos. A "ocupação" portuguesa na Amazônia deu-se por meio de fortes militares e das missões religiosas, que mais tarde se transformaram em povoações, algumas das quais foram posteriormente elevadas à condição de vilas. (JOSÉ ADEMIR, 2003 p. 56).
2.3 Fatores de contribuição ao processo de povoamento da Amazônia entre 1835-1850
Vários fatores contribuíram para o processo de povoamento da Amazônia em meados da década de 1835 e 1850, entre eles destaca-se,
Em meados do século XIX, vários acontecimentos contribuíram para a modificação da paisagem da região e determinaram, em linhas gerais, o que viria a ser a malha urbana da Amazônia. Dentre eles, destaca-se o movimento revolucionário dos cabanos (1835-1840), a elevação do Amazonas à categoria de Província (1850), a introdução da navegação a vapor (1853) e a exploração extensiva dos seringais. (JOSÉ ADEMIR, 2000, p. 58)
2.4 O que é urbanizaçao
Ao se tratar de urbanização, de inicio se imagina que este processo seja o mesmo relacionado a crescimento urbano, no entanto é necessário que se faça uma análise conceitual,
O desenvolvimento urbano é um processo de emergência de um mundo dominado pelas sociedades e pelos valores urbanos. É importante, todavia assinalar uma distinção clara e firme entre os dois processos principais de desenvolvimento urbano: o crescimento urbano e a urbanização. O crescimento urbano é processo parcial e demográfico e refere-se a importância crescente das cidades como locais de concentrações da população numa economia ou sociedade particular [...]. A urbanização, por outro lado, é um processo social e não espacial que se refere às mudanças nas relações comportamentais e sociais que ocorrem na sociedade, como resultados de pessoas morando nas cidades. (CLARK, 1991 p. 61-62).
2.5 Geografia urbana
Clark (1991, p. 18) referindo-se aos geógrafos urbanos tendo como objetivo compreender as dimensões espaciais, identificar e explicar a distribuição de cidades, e as semelhanças e contrastes que ocorrem dentro e entre elas, assim como o processo histórico relata que "Eles estão interessados no estudo do padrão urbano contemporâneo e nas maneiras como as distribuições e os arranjos internos das cidades se modificam ao longo do tempo".
Ainda abordando a Geografia Urbana, Clark (1991, p. 18) afirma que: "O foco, em Geografia Urbana, dirigi-se à compreensão daqueles processos sociais, econômicos e ambientais que determinam a localização, o arranjo espacial e a evolução dos lugares urbanos" [...].
2.6 Geógrafo urbano e estudos de civilizações antigas
O geógrafo urbano procurando explicar os assentamentos de civilizações antigas e comparando-as com a cidade moderna, identifica que tais assentamentos considerados na época como cidades, seriam nada mais do que pequenos lugares ligeiramente dispersos,
A cidade moderna é produto de um processo de desenvolvimento extremamente longo. Pesquisadores interessados nos estudos das civilizações antigas identificaram um certo número de assentamentos, já no quinto século a.C., aos quais eles concedem o titulo de cidade, muito embora esses lugares tenham sido invariavelmente pequenos, ligeiramente dispersos e facilmente reversíveis ao status de aldeias ou de pequenas vilas[...]. (CLARK, 1991, p. 17).
2.7 Processo de urbanização
Assim como Clark há outros autores que ao procurar explicar os processos urbanos através de estudos de civilizações, mas neste caso as contemporâneas, deixam evidente que, para compreendermos estas organizações espaciais, sempre haverá necessidade, de voltarmos ao passado para podermos identificar tais formações,
A urbanização como processo, e a cidade, forma concretizada deste processo, marcam tão profundamente a civilização contemporânea, que é muitas vezes difícil pensar que em algum período da Historia as cidades não existiram, ou tiveram um papel insignificante.
Entender a cidade de hoje, aprender quais processos dão conformação à complexidade de sua organização e explicam a extensão da urbanização neste século, exige uma volta às origens e a tentativa de reconstruir ainda que de forma sintética, a sua trajetória.
Desta forma entendemos que o espaço é a historia e nesta perspectiva, a cidade de hoje, é o resultado cumulativo de todas as outras cidades de antes, transformadas, destruídas, reconstruídas, enfim produzidas pelas transformações sociais ocorridas através dos tempos, engendradas pelas relações que promovem essas transformações. Lewis Mumford em seu livro a cidade na história chama atenção para esta necessidade de se voltar ao passado, ao ressaltar o seguinte: "se quisermos identificar as cidades, devemos seguir a trilha para trás, partindo das mais completa estruturas e funções urbanas conhecias para seus componentes originais por mais remoto que se a presente no tempo no espaço e na cultura [...] (SPÓSITO, 1994, p. 11)".
2.8 O espaço urbano.
O espaço urbano é uma abstração do espaço social, que é o espaço total. Atribui-se, ao termo urbano, o que se considera próprio das cidades. Não se deve fazer referência ao urbano apenas pelo espaço físico das cidades, mas também pela sua organização social, política e econômica e também pelo modo de vida típico das cidades. Assim, o espaço urbano extrapola os limites físicos das cidades, pois essas características também são encontradas em parcelas do espaço rural. É um dos elementos de estudo do planejamento urbano e do paisagismo.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Para a elaboração do presente trabalho foram utilizados os seguintes materiais e métodos:
? Pesquisa bibliográfica em bibliotecas e internet, periódicos para análise do assunto e aprofundamento científico sobre o tema;
? Com a finalidade de obter as dimensões de cada bairro, foi utilizada uma planta do projeto do Plano Diretor Municipal com escala de 1:3000, onde estão representados os sistemas viários da cidade. A partir desta planta, delimitamos os bairros o que nos possibilitou dimensionar todos os bairros;
? Para resgatar a história evolutiva da cidade, consultamos o acervo da Diocese do Alto Solimões, CFSOL / 8º BIS, e a partir dos seus registros nos possibilitou fazer análises com os depoimentos ou história de vida dos moradores mais antigos. Tais depoimentos foram gravados com um dispositivo portátil de armazenamento de dados (MP4), e a partir desta análise compreendermos o processo evolutivo da cidade.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Campo de Observação
A cidade de Tabatinga-Am com uma população estimada de 43.974 hab, (Estimativa IBGE-2005), localizada na região oeste do estado do Amazonas, às margens do Rio Solimões, na divisa do Brasil com a Colômbia e o Peru. Distante cerca de 1607 km por via fluvial de Manaus, tem as seguintes coordenadas: Latitude: -4º 15' 1" S / Longitude: -69º 56' 14" W.
Figura 01: Localização de Tabatinga
Fonte: Adaptação, MAFRA, Ronaldo e SIQUEIRA, Valdemir, 2007.
4.1 Histórico do povoamento
Falar da cidade de Tabatinga é fazer uma viagem no tempo. A história de Tabatinga se confunde com a História do Amazonas e remonta a acupação portuguesa e a disputa de terras entre Portugal e Espanha. A cidade de Tabatinga teve sua origem com a construção de um forte construído na segunda metade do século XVIII no atual bairro da Comara. Pois sua posição estratégica favorecia o controle e fiscalização dos que adentravam ou saiam do Perú e Colômbia, para tanto foi construída uma pequena fortificação,
O forte, instalado em 1776 pelo major português Domingos Francos, tomou para si as funções militar e fiscal inicialmente exercida pelo Forte de São e do Rio Javari, alguns quilômetros do rio do Mesmo nome por ser mais estratégicas sua confluência dos rios Javari e Solimões. Embora a intenção na construção do forte fosse a repressão ao contrabando e, primordialmente assegurar a posse do território às vésperas da assinatura do tratado de Santo Idelfonso (1777), o equipamento militar ali presente era sem expressão, constituindo-se de poucas canhonetas e muito antiga ? duas das quais foram recentemente recuperadas do Rio Solimões e hoje ornamentam o quartel do Comando de Fronteira do Exercito. Sem duvida que a função militar foi mais simbólica que efetiva, fazendo parte maior dos portugueses de marcar presença e reforçar o principio do uti possidetis pela construção de uma linha de fortificações nos confins ocidentais da colônia do Brasil (MACHADO 1987 apud Caderno do Concurso Público de Tabatinga, 2006, p.1) .
Ainda com relação à formação urbana de Tabatinga através de construção de fortes, Moraes descreve,
Tabatinga é uma Vila de fronteira entre o Brasil e o Perú. Deve a essa circunstância a honra de ser um posto militar; mas quando se olha para os dois ou três pequenos canhões em bateria sobre o rio, a casa de taipa que constitui o posto e ao cinco ou seis soldados preguiçosamente deitados à sua sombra, tem-se bem o direito de não considerar essa fortificação como formidável. A Vila, esta situada sobre uma barranca de aluvião profundamente escavada e fendida em múltiplas direções, se compõe de uma dúzia de casas em ruínas em volta de uma praça central. (MORAES, 2001, p. 82-83).
Figura 02: Vista parcial deTabatinga
Fonte: Retrato de Poul Marcoy, 1820
4.2 Primeiras formações urbanas de Tabatinga
As primeiras formações urbanas da cidade de Tabatinga se devem aos primeiros seringueiros vindo do vale do rio Javari em virtude da queda nos preços da Borracha, ou seja, no primeiro ciclo da borracha (1879/1912). Vale ressaltar que antes de chegarem a Tabatinga fixavam moradia nas comunidades pertencentes atualmente ao município, como, por exemplo, Ilha do Aramáça, e também de municípios circunvizinhos, como Benjamin Constant, Santo Antonio do Içá, entre outros. Estes migrantes vinham à procura de emprego, mais em função de Letícia, pois Tabatinga não possuía um desenvolvimento econômico para tais atividades. Mas também sua formação urbana se deve a construção de um forte militar em meados do ano de 1776, como já foi citado anteriormente por Machado.
4.3 As primeiras ocupações e posterior formação dos bairros
1915 (Bairro São Francisco)
1º Bairro
O primeiro bairro, o atual bairro de São Francisco, na verdade se resumia a atual Rua Marechal Rondon que tinha seu início no atual porto do bispo (Vila Guadalupe), antigamente porto do Senhor Cirilo, pois este tinha uma casa flutuante onde comercializava estivas em geral, sendo assim um dos primeiros comerciante de Tabatinga.
Figura 03: Entrada porto do bispo pela Vila Guadalupe
Fonte: Valdemir Nilo Siqueira, junho 2007.
Na margem direita do Igarapé Santo Antonio (Vila Guadalupe), tinha uma pequena feira (1ª feira de Tabatinga).
A rua Marechal Rondon é a rua mais antiga de Tabatinga, esta tinha seu inicio no atual porto do bispo e se estendia até o cemitério, que na época era uma propriedade do Sr. Valdemiro Taita. Este com a queda do segundo ciclo da borracha deslocou-se do Rio Javari na década de 40 para morar no Marco, pois Tabatinga na época se resumia apenas ao Quartel Militar que se estendia do bairro Brilhante para a atual Vila Militar, vale relembrar que a primeira ocupação militar em Tabatinga se deu no atual bairro da Comara, isso foi na época das fortificações na Amazônia. Uma expressão que se utilizava na década de 40 era: "Olha vou lá em Tabatinga". Isto significava o seguinte: - locomoção de pessoas do Marco ao quartel, ou seja, da área civil (Marco) para área militar (quartel). Para locomoção de um lugar para outro, ou seja, Marco a Tabatinga e vice-versa, os meios de transporte utilizados pelos moradores eram barcos ou canoas.
A partir da rua Marechal Rondon a cidade foi se expandindo. Vale ressaltar que tal expansão nesta rua, se devia a insistência dos moradores que relutavam em ocupar a área do Marco. E por várias vezes foram expulsos pelos comandantes do Exército de Tabatinga. Porém na troca de comandantes os moradores voltavam. Pois era uma área de limite territorial. Mas estes moradores foram fazendo roças, outros comandantes pouco se importavam com a presença civil nesta área e deixavam os moradores construírem casas, e a partir de um certo tempo surgiu o atual bairro de São Francisco.
Uma curiosidade do Marco era quanto a sua divisão, este se dividia em três pequenos lugares denominados bairros para aquela época: "o cipoal", "o pupunhal" e "a baixa grande".
Figura 04: Bairro do Marco
Fonte: Adaptação, MAFRA, Ronaldo e SIQUEIRA, Valdemir, 2007.
O cipoal estendia-se da esquina da Avenida da amizade com a Marechal Rondon, a partir do Supermercado Papão até o cemitério, o ultimo morador era o Senhor Taita.
O pupunhal começava na Avenida da amizade até o caminho que vai para Letícia, este caminho sai próximo a planta de Letícia, ou próximo a bomba d?água.
E a baixa grande iniciava no caminho que vai para Letícia até a casa do bispo estendendo-se até a Vila Guadalupe.
Nestes "bairros" as residências existentes, eram dispersas ao longo do caminho, sempre respeitando uma distancia considerável entre elas. Estas residências eram construídas em madeira rústicas, porém, de boa qualidade, a cobertura eram de palha ou de zinco, o piso era de madeira ou mesmo de terra batida. As poucas casas com cobertura de zinco, na verdade num total de duas, pertenciam a famílias que dispunha de melhor poder aquisitivo, que compravam material de construção do país vizinho (Perú).
Daquele período resta uma única casa que resistindo ao tempo ainda mantém as caracteriscas da época, cercada de madeira, listão de madeira roliça com coberturas oxidadas, face ao intemperismo.
Figura 05: casa construída possivelmente na década de 40.
Fonte: Valdemir Nilo Siqueira, junho 2007.
1936 (Bairro D. Pedro I)
2º Bairro
O Bairro D. Pedro surgiu devido ao canavial do Senhor Pedro Gomes, vulgo Pedro I, (pai do Senhor Oscar 1º Prefeito eleito do município de Tabatinga), pois os trabalhadores construíam suas casas próximas ao canavial, que se estendia onde é atualmente a Casa Gregório até a Rua Marechal Mallet, ultrapassando os imites da atual Avenida da Amizade, neste local estabeleu-se o primeiro campo de futebol pertencente ao Penharol Futebol Clube.
O nome deste bairro é em homenagem ao Imperador D. Pedro I.
1956 (Bairro Brilhante)
3º Bairro
O Brilhante é terceiro bairro que surgiu em função dos militares, que não tinha como morar no quartel, devido ao contingente militar passaram a ocupar as terras situadas nas proximidades da atual Vila Militar. O nome do bairro se dá em função do Igarapé do Brilhante. Nesta época a Companhia de Saneamento do Amazonas ? COSAMA fazia uso deste igarapé como fonte de distribuição de água para a população.
1958 (Bairro Comara)
4º Bairro
Embora sua ocupação remonta o período colonial em 1776, esta é a área onde foi implantado o primeiro posto militar.
Figura 06: Fortinho de São Francisco Xavier
Fonte: Revista católica Poliantéia, 1949.
Mas foi a partir da construção do Aeroporto Internacional de Tabatinga, que se concretizou como bairro. Pois os trabalhadores deste aeroporto optaram por residir nesta área devido as proximidades de seu local de trabalho. A propósito, em relação à construção do aeroporto, a sua primeira construção não deu certo, saiu em direção ao quartel e tiveram que refazer outro no ano de 1963.
O primeiro nome do Bairro da Comara era sapotal em razão da abundância de árvores de Sapota (Achras sapota), e se tornou Comara em função da Comissão de Aeroportos da Região Amazônica responsável pela construção do Aeroporto de Tabatinga. Neste local também tinha uma feira, que foi levada rio abaixo em função da queda do barranco. Todavia vale registrar que parte da Comara antiga já não existe devido a um fenômeno bastante comum nas margens do rio Solimões, conhecido como terras caídas.
Em relação a este fato o Padre Raimundo Nonato Pinheiro, relatou:
Dos trabalhos do tempo do império e posteriormente não existe mais nada: o rio levou tudo. Interessante era o antigo quartel do tempo de império com escudo da monarquia em relevo na frente; o fortinho, a guarita, a casa do comando, a imponente escadaria de cimento para subir o barranco, a igrejinha do forte dedicada a são Francisco Xavier, os canhões de bronze, etc. Tudo engoliu o rio [...]. (Revista Polianteia, 1949, p. 42)
Figura 07: Quartel do tempo do império
Fonte: Revista católica Poliantéia, 1949.
1968 (Bairro Ibirapuera)
5º Bairro
As primeiras ocupações do atual Bairro de Ibirapuera data-se de 1968, o motivo de sua formação foi ocasionado pela proximidade do quartel, levando os militares a fixar moradia neste local. Portanto, inicialmente formado por militares. Na área do atual Grêmio Recreativo do Alto Solimões ? GRASOL, só existia uma casa que pertencia ao CB Farias, sendo este o primeiro morador do referido bairro.
1973 (Bairro Tancredo Neves)
6º Bairro
Tancredo Neves teve sua formação devido à migração dos habitantes das comunidades rurais em 1973, em busca de uma melhor qualidade de vida. As famílias traziam seus filhos para estudar e procurar trabalho. Deve-se este nome em homenagem a um ex- presidente do Brasil.
É um bairro que possui duas etapas de formação, sendo a ultima a partir de 1999 com a expansão resultante de um loteamento no sentido oeste/leste da cidade, obtendo desta forma a sua atual configuração.
1975 (Bairro Portobrás)
7º Bairro
Portobrás teve suas primeiras ocupações em meados da década de 50, com uma concentração de poucas residências num local denominado goiabal, na atual Capitania dos Portos, que se estendia até as mediações do porto flutuante. Nesta área notava-se a existência de um pequeno comércio, o qual pertencia ao Senhor Mário José. Mas se tornou bairro definitivamente em 1976. Seu nome é em função do porto que era ministrado pela Empresa Brasileira de Portos S.A - PORTOBRÁS. Portanto primeiro se chamou goiabal, depois São Thomé e atualmente Portobrás.
1975 (Bairro Comunicações)
8º Bairro
O Bairro das Comunicações teve sua formação a partir de 1975, deve-se este nome em função da instalação da torre da Empresa Brasileira de Telecomunicações ? Embratel, que fora erguida neste bairro. Inicialmente discutiu-se o nome de São José, em homenagem ao Seminário São José, localizado a leste deste, o que evidentemente não aconteceu. A partir de 1982 passou a se chamar Bairro das Comunicações.
1986 (Bairro Nova Esperança)
9º Bairro
A grande cheia de 1986 contribuiu para a ampliação da cidade de Tabatinga, que culminou na formação do Bairro Nova Esperança. As maiorias dos moradores eram na época oriundo da Comunidade de Sapotal.
Tem este nome em função dos moradores almejarem uma esperança de futuro melhor, portanto uma "nova esperança".
1986 (Bairro GM3)
10º Bairro
O bairro de GM3 foi uma divisão do bairro São Francisco em 1986, e teve este nome em função da construção da Escola Estadual Conceição Xavier de Alencar, mas conhecida como GM3, uma alusão ao terceiro mandato do governador Gilberto Mestrinho.
1997 (Bairro Santa Rosa)
11º Bairro
Santa Rosa teve seu inicio com a moradia do seringueiro Valdemiro Taita em1939, que possuía uma grande propriedade, atual cemitério Municipal, pois ele deixava enterrar os anjos neste terreno. E também pela falta de estrutura viária na área do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, para escoar a produção dos colonos. Pois estes venderam seus lotes e vieram morar neste bairro, que foi uma divisão do bairro Tancredo Neves em 1997.
1997 ? (Bairro Rui Barbosa)
12º Bairro
Este bairro originou-se da divisão do bairro Tancredo Neves em 1997. Seu nome é em homenagem a um dos maiores advogados do Brasil e estudioso da língua portuguesa assim como presidente da Academia Brasileira de Letras e jornalista (Rui Barbosa).
1997 (Bairro Bom Jesus)
13º Bairro
A exemplo do bairro Rui Barbosa originou-se da divisão do bairro Tancredo Neves no ano de1997.
2003 (Bairro Nobre)
14 º Bairro
Surgiu a partir de um loteamento, realizado pela Prefeitura de Tabatinga, quando tornou público a venda dos lotes.
2004 (Bairro Paraíso)
15º Bairro
Surgiu a partir de loteamentos executado pelo executivo municipal, com fins de serem doados a população carente em 2004.
2006 (Bairro Vila Verde)
16º Bairro
É o mais novo bairro de Tabatinga, por se tratar de um bairro recente possui poucas habitações.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ocupação portuguesa através de fortificação na Amazônia teve grande contribuição na formação da cidade de Tabatinga. Desta forma depreende-se que Tabatinga para alcançar a atual formação, foi sendo modelada ao longo de um processo histórico, com as primeiras expansões urbanas através de ocupação portuguesa por meio de construção fortes militares e pelos primeiros seringueiros vindos do vale do rio Javari. Após um longo período sobre domínio Militar emancipou-se politicamente, vindo a desenvolver suas estruturas político-administrativa.
Portanto, a cidade de Tabatinga teve sua expansão urbana desenvolvida inicialmente por militares no periodo colonial. Com finalidades de nacionalizar as fronteiras do País criar e fixar núcleo de população e promover o desenvolvimento e manter a segurança da área pela vigilância permanente.
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, José Aldemir, Cidades na selva, Manaus: Valer, 2000.
MORAES, Raymundo. À margem do livro de Agassiz. 2ª Edição, Manaus, Governo do Estado do Amazonas, 2001.
CORREA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo, Ed. Atica, 1989.
SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Capitalismo e Urbanização. 6ª ed. ? São Paulo: Contexto, 1994. ? (Repensando a Geografia).
DAVID CLARK: Tradução de GERARDI, Lucia Helena de Oliveira e PINTAUDI, Maria Silvana. Introdução à geografia urbana. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand Brasil, 1991.
SANTOS, Milton. Manual de geografia Urbana. Editora Hucitec. 2ª Ed.
Caderno do concurso publico de Tabatinga 2006.
APÊNDICE A ? Entrevista com o Morador Sr. Luiz Ataíde
Depoimento do senhor Luiz Ataíde em 04/04/2007, sobre a criação do Município de Tabatinga, (Adaptação de texto: MAFRA, Ronaldo. e SIQUEIRA, Valdemir)
O senhor Luis Ataíde de forma direta contribuiu com a criação do Município de Tabatinga, fez uma viagem a Manaus por conta própria. Comprou uma passagem na "Cruzeiro", (empresa de transporte aéreo), pagou na época esta passagem em 10 vezes e viajou a Manaus durante sua férias. Levando consigo um abaixo assinado com assinaturas de cidadãos tabatinguenses, para ser entregue ao governador.
Chegando a Manaus procurou o governador em seu gabinete e levou um chá de cadeira das 09h10min às 17h10min, para poder falar com o governador.
Segundo o senhor Ataíde os militares não queriam que Tabatinga se tornasse município.
O governador na época (1980) era José Lindoso, este numa viagem a Tabatinga, foi "seqüestrado" pelo senhor Ataíde então na época presidente do Conselho Comunitário de Tabatinga (Marco) e o senhor Tinoco funcionário público.
Então levaram o governador até o Marco para mostrar a realidade local e da importância de se tornar município.
O senhor Ataíde por algumas vezes escapou de ser preso pelo Coronel Borba, pois o senhor Ataíde realizava reuniões periódicas com fins de discutir a importância da criação do Município de Tabatinga, ele liderava um movimento chamado Pró-municipio.
Ao entrar no gabinete do governador o senhor Ataíde foi logo reconhecido, pois o governador relembrou do episódio ocorrido durante sua viagem a Tabatinga e então seqüestrado e levado ao Marco.
Governador - Senhor Ataíde estou numa encruzilhada, por que eu já lhe conheço eu sei da situação do Marco, mas estou enfrentando forte oposição dos militares, pois os mesmos não querem a criação do Município de Tabatinga, pois se trata de uma área de segurança nacional, lamentavelmente Tabatinga vai ficar de fora desta criação dos nove municípios do Alto Solimões, segundo os militares, não é aconselhável uma cidade nesta área de fronteira.
Então o senhor Ataíde ponderou!;
Ataíde ? Excelência a nossa situação no Marco é de calamidade, somos 18.000 habitantes, Benjamin Constant não tem condições de nos oferecer a estrutura necessária, os militares não tem condições também, estamos como cão abandonado.
Então o governador ficou refletindo um pouco e chamou o seu assessor, que era um Capitão da PM.
Governador ? Capitão você sabe aquela mensagem que vai para Assembléia, sobre a criação dos nove municípios do Alto Solimões?
Capitão ? Sim excelência, está pronta.
Governador ? Você inclua Tabatinga também.
E continuou.
Governador ? Senhor Ataíde você me deu muita coragem, vamos torcer pra que a assembléia não se oponha e seja o que Deus quiser.
ANEXO A ? PLANTA DE TABATINGA...
ANEXO B
TEXTO SOBRE A PASSAGEM DE PAUL MARCOY POR TABATINGA
Paul Marcoy tradução de Antonio Porro
Tabatinga , ou mais ou mais propriamente Tauatinga, é um posto fortificado que data de 1776. Sua criação deve-se aos alferes Francisco Coelho, que na época comandava a aldeia de São José do Javari, fundada pelos carmelitas portugueses na foz do Javari e povoada com índios Ticunas. Essa aldeia havia sido elevada à vila por decreto do gevernador-geral do Pará Fernando da Costa de Ataíde Teive e provida de uma respeitável guarnição porque se destinava a substituir a Ilha da Ronda, abandonada havia alguns anos (a ilha fora abandonada pela localização desvantajosa, pois era facilmente acessível a partir da margem direita do rio, mas estava demasiado afastada da margem esquerda para podê-la controlar).
Apesar do aspecto aguerrido, o lugar era inútil para controlar os filibusteiros, saqueadores e contrabandista do Peru, que continuavam suas incursões em território brasileiro. Como no tempo em que a Ilha da Ronda era guarnecida, eles podiam tranqüilamente ignorá-la bem como aos decretos e ordenações brasileiras, bastando para isso acompanhar a margem esquerda do rio, onde não os alcançavam nem os gritos nem as balas das sentinelas.
Para colocar em choque esses ladrões e obrigá-los a acertar as contas com o fiscal da alfândega ou juiz, dependendo das infrações cometidas, o alferes Coelho decidiu estabelecer na margem esquerda do rio, no lugar denominado a tauatinga, o posto que agora existe. Aqui portanto instalaram-se um sargento e nove soldados, destacados da guarnição de São José, com suas bagagens e com objetos de suas paixões, constituídos de mulheres Ticuna. A pequena colônia cresceu e multiplicou-se sob a gloriosa invocação de São Francisco Xavier de Tabatinga.
Este posto militar, agora centenário, situa-se numa elevação de uns trinta pés que arremata uma ampla planície nua. Uma escadaria rústica cavada no barranco lhe dá acesso desde o rio. Duas casas de madeira cobertas de palha, voltadas para oeste e dispostas em ângulo reto, eram os alojamentos do comandante. A caserna era um edifício estreito e longo distante um tiro de espingarda das duas casas e que, sendo-lhes fronteiriço, recebia os primeiros raios de sol. Na extremidade da elevação, uma estrutura que parecia um saleiro, mas que outrora havia servido de guarita e agora se tornara um pombal, com um mastro para a bandeira do Brasil e, para a defesa, quatro pequenas peças de artilharias de bronze esverdeadas pelo tempo ? aerugo noblilis ? dava ao modesto cenário um toque marcial e militar ( veiros, pombal e Sousel são, respectivamente, as antigas Itacuruçá, Piraviri e Aricarí).
Atrás dos alojamentos do comandante, uma descida abrupta levava a uma ravina coberta de moitas de figueiras, mamonas e miritis. Essa ravina seca é o caminho que leva ao povoado de uma dúzia de cabanas onde vivem as parceiras morenas dos defensores do posto junto com alguns casais ticunas. Marte e Vênus estão separados aqui somente pela largura do barranco.