HISTÓRIA DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA: DISPUTA PELA DELEGACIA-GERAL (1999 – 2000) – O FATOR DELEGADO MAURÍCIO ESKUDLARK E AS DISPUTAS COM OS DELEGADOS MOACIR RACHADEL E JOÃO MANOEL LIPINSKI (Felipe Genovez)
Por Felipe Genovez | 18/09/2017 | Economia
Na reunião do Conselho Superior da Polícia Civil de 03/08/99, o Delegado Maurício deu a impressão que andava com as relações estremecidas com o Delegado Moacir Rachadel, justamente porque ambos disputam uma futura substituição do Delegado Evaldo Moreto à frente da Delegacia-Geral da Polícia Civil. Para tanto os Delegados Maurício e Rachadel precisavam disputar uma vaga no final da carreira (Delegado de Entrância Especial), considerando disposição constitucional que determinava essa condição. O problema era que na época Rachadel constituía-se o principal opositor às pretensões de Maurício para que isso acontecesse, considerando que o mesmo precisaria contabilizar sessenta dias de tempo de serviço para fechar o decênio necessário de exercício à frente de uma Delegacia de Polícia (LC 154/97).
Maurício Eskudlark havia requerido a averbação do tempo relativo ao curso de formação para a carreira (cento e vinte dias) realizado na Acadepol (art. 260 da Lei n. 6.843/86 - Estatuto da Polícia Civil/SC). Todavia, o Conselho Superior (órgão supremo da instituição), presidido pelo Evaldo Moreto, havia rejeitado a informação jurídica que lhe era favorável (reconheceu o tempo do curso de formação realizado na Academia como tempo de serviço para todos os efeitos legais), tendo o sufrágio sido de seis votos contra três. Votaram contra o parecer jurídico os Delegados: Moacir Rachadel, Dirceu Silveira, Lourival Mattos, João Manoel Lipinski, Renato Ribas Pereira e Optemar Rodrigues. Votaram a favor os Delegados: Felipe Genovez (este autor), Mauro Dutra e Maurício Eskudlark.
Na reunião seguinte do Conselho (10/02/99), Maurício comunicou que o Deputado Heitor Sché (Delegado de Polícia) estava apresentando projeto de lei com vistas a revogar o parágrafo único do art. 67, da LC 98/93, com a nova redação da LC 154/97, no sentido de assegurar que os Delegados Regionais de Polícia contassem o período que exerceram seus cargos para efeito de contabilização dos dez anos necessários à promoção à Entrância Especial. Na reunião o Delegado Rachadel mostrou indignação e retrucou que se fosse assim, afinal, que se “rasgasse a lei de uma vez” e que se colocasse no projeto que qualquer Delegado de Polícia pudesse assumir a Delegacia-Geral. Maurício assumiu a palavra e relatou que o projeto do Heitor pretendia ir mais além, isto é, que qualquer pessoa pudesse ser nomeada para o comando da Polícia Civil. Dito isso, os Delegados Rachadel, Lourival e Lipinski se levantaram retumbante e aos risos estrondosos com misto de incredulidade, vaticinaram que aquilo era o fim do mundo e que depois dessa poderiam acabar com tudo. Maurício, bastante convicto do que estava dizendo, reafirmou o que já tinha dito anteriormente. Apesar de Maurício na época estar vinculado à Heitor Sché, no entanto, não havia participado de projeto algum na área de Segurança Pública na administração do Delegado-Geral Lipinski, mesmo porque estava envolvido com a campanha eleitoral daquele parlamentar (Deputado Heitor Sché – candidato à reeleição) para quem levantou milhares de votos no extremo oeste do Estado.
Na reunião do Conselho Superior de 20.01.2000 Maurício submeteu pedido de reconsideração ao indeferimento de seu recurso para contar o tempo de Academia para efeito de decênio à graduação Especial (LC 154/98), tendo obtido aprovação. Votaram a favor de seu pleito, além deste autor, os Delegados Lourival Mattos, Mauro Dutra, Renato Ribas e Eloi Gonçalves. Votaram contra: Moacir Rachadel. João Lipinski, Dirceu Silveira e Optemar Rodrigues. Maurício se absteve de votar e Evaldo Moretto, presidente o Conselho deixou de votar porque só se manifestaria em caso de empate na votação. Assim, no mês de fevereiro/2000, após votação favorável ao recurso, foi assegurada a promoção de Maurício para a graduação Especial, passando a se constituir um forte candidato ao cargo de Delegado-Geral, contanto com apoio do Deputado Heitor Sché. Registro que minha gratidão com Maurício (além de realmente reconhecer seu direito a contagem do tempo de "Acadepol") se deveu também em razão do apoio que prestou na criação da Associação dos Policiais Civis de São Miguel do Oeste e sua participação eficaz na construção da sede social da entidade regional durante a minha gestão na Presidência da Federação Catarinense dos Policiais Civis (final da década de noventa), cuja meta que estabeleci na época envolvia a criação de 'APOCs" em todas as regiões do Estado para dar substância a própria criação do órgão sindical federativo.
Durante o segundo governo Esperidião Amim (1998 - 2002) a luta de Maurício para chegar ao comando da Polícia Civil, o mesmo acabou perdendo peso para seu principal concorrente (Moacir Rachadel que tinha apoio de diversos segmentos):
“Novo Comando da Polícia Civil em especulações – Florianópolis – O delegado Evaldo Moretto não é mais o chefe da Polícia Civil. Ao confirmar sua aposentadoria ontem de manhã, Moretto desligou o celular e despediu-se. Em seu lugar assume, interineamente, o corregedor-geral João Manoel Lipinski, que está viajando pelo interior do Estado a serviço da corregedoria. Provavelmente, Lipinski começará a despachar como delegado-geral segunda-feira. Há especulações sobre o nome do novo chefe da Polícia, cujo cargo é ocupado por um delegado de final de carreira. Estão na briga o diretor de Polícia do Interior, Maurício Eskudlarck, e o assessor do secretário da Segurança Pública Antenor Chinato Ribeiro, o delegado José Antônio Peixoto, mas é bem mais provável que durante o final de semana surjam outros nomes (...)” (A Notícia, 27.05.2000).
Maurício não ficou de fora do poder no âmbito da Polícia Civil:
“Ato n. 0619, de 01.06.2000 – designar, de acordo com o art. 39, da Lei n. 6.745/85, Maurício José Eskudlark, matrícula n. 167.405-6-01, Diretor de Polícia do Interior, da SSP, para responder, cumulativamente, pelo cargo (5137) de Diretor de Polícia do Litoral, nível AD-DGS-1, da SSP” (DOE n. 16.435, de 15 de junho de 2000).
Também correram comentários que em razão das questões do coração, Maurício ficou com sua reputação abalada no Gabinete do Secretário Chinato e que por isso dificilmente viria a ocupar o cargo de Delegacia-Geral, se é que na época ainda acalentava ainda essa aspiração.
Lipinski x Maurício:
“Policiais falam em greve – (...) O governo do Estado, entrentanto, não acredita que policiasi civis e militares entrem em greve, de acordo com o diretor de Polícia do Interior, Maurício Eskudlark. ‘Não haverá greve devido ao alto grau de profissionalismo da polícia catarinense’. Ele destaca, porém, que as reinvindicações são justas e que a situação já chegou ao conhecimento da Secretaria de Segurança Pública. Eskudlark diz que a reposição salarial será feita assim que o Estado tiver condições (...)” (A Notícia, 9.11.2000).
Nessa época o movimento grevista no meio policial civil (mês de dezembro/2000) e Maurício tinha sido visto sempre despachando no Gabinete do Secretário Chinato. Na Polícia Civil respirava-se ares que tudo estava na mais perfeita ordem. Maurício entrou no novo milênio com algumas dúvidas, como por exemplo, que viesse a conquistar o cargo de futuro Delegado-Geral, o que talvez nunca viesse a ocorrer, todavia tinha nas mãos todos as Delegacias Regionais de Polícia para fazer o que quisesse:
“Segurança: Ação e eficiência – O balanço do Carnaval de Florianópolis este ano teve dois destaques: a excelente organização de toda a proramação, com ênfase para o desfile das escolas de samba da Prefeitura e o êxito do sistema de segurança pública do governo estadual (...). O sucesso da Operaçào Alegria está sendo atribuído ao trabalho competente de planejamento, prevenção e integração das polícias Civil e Militar de Santa Catarina (...). O coordenador das duas operações, delegado Maurício Escudlark, destacou ações específicas, bem programadas, executadas por policiais militares e civis (...). O sistema de segurança mostrou eficiência. E excelentes resultados” (A Notícia, Moacir Pereira, 1.3.2001).
Também, nesse contexto, Maurício não ficou acomodado e mais uma vez mexeu as pedras no tabuleiro:
“Eskudlark troca o PFL pelo ninho tucano no Oeste – São Miguel do Oeste – O ex-vereador, ex-candidato a prefeito e atual diretor de Polícia do Interior da Secretaria de Segurança Pública, Maurício Eskudlark, anunciou ontem sua saída do PFL e o ingresso no PSDB, sigla pela qual deve concorrer a uma vaga na Assembléia Legislativa pelo Extremo-oeste. Eskudlark diz que deixa o PFL porque o partido anunciou o lançamento de dois nomes para concorrer a deputado estadual pela microrregiã, sem que as bases em São Miguel do Oeste tenham sido consultadas. Ele afirma que não há votos suficientes para eleger dois candidatos de um mesmo partido no Extremo-oeste e por isso foi buscar espaço dentro de outra sigla. O delegado informou que seu ingresso no PSDB foi a conviute do presidente das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), Francisco Küster, e do secretário-geral do partido, Jacó Anderle. Segundo Esludlark, o diretório tucano de São Miguel do Oeste também está apoiando a sua filiação e a candidatura única na região pela sigla (...). ‘Com a saída de Eskudlark, o PFL fica sem candidato à Assembléia no Extremo-oeste’, lamenta o presidente do PFL de São Miguel” (A Notícia, 2.4.2001).
Certamente que no ninho do PSDB ficava mais fácil para Maurício se eleger ao parlamento estadual, isso porque era bem provável que iria precisar menos que a metade dos votos, caso viesse a concorrer pelo PFL:
“Revoada – Diversos políticos estão se embicando para assinar ficha no PSDB no dia 2 de junho. Além do prefeito de Balneário Camboriú, Leonel Pavan, que deixou o PDT, fala-se também que o deputado federal Fernando Agustini é outro possível tucano. Em Joinville, o secretário do Desenvolvimento, Ademir Machado, que é vereador licenciado, está na mira do PSDB. As próximas semanas serão de intensa movimentação, porque, para concorrer no próximo ano, o candidato terá de contar um ano de filiação pelo menos” (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 15.5.2001).
Na época, comentava-se nos corredores das Delegacias de Polícia a informação de que Maurício havia se separado de sua esposa e vivia com a Escrevente Policial Gislane (conhecida no meio policial como “Gis”). A ex-Inspetora de Polícia "Jô Guedes" (ingressou na Polícia Federal como Escrivã de Polícia) e sua amiga Escrevente Policial Rejane – segundo soube – vez por outra comentavam o assunto dando a nítida impressão que sabiam todos os passos do "Diretor Maurício" detentor também do magnetismo de despertar atenções femininas.
Dia 17.6.2001, por volta de dezenove horas, estava no Shopping Itaguaçu quando escutei uma voz: “Boa-noite doutor”. Ao olhar naquela direção percebi que se tratava de Maurício caminhando de mãos dadas com uma mulher que deveria ser sua jovem companheira que também deveria ser a policial civil "Gis".
Maurício não conseguiu seu intento, porém, no governo Luiz Henrique da Silveira (2003 – 2009) conseguiu, finalmente sua nomeação para o Cargo de Delegado-Geral e, mas que isso, elegeu-se e reelegeu-se Deputado Estadual. Os Delegados Rachadel e Lipinski se aposentaram, recolhendo-se as suas vidas, procurando cada qual seguir seu caminho e virar a página.
*Fontes: acervo do autor.