HISTÓRIA DA INFORMÁTICA EDUCATIVA NO BRASIL

Por OSMARINA DE OLIVEIRA CARDOSO FILHA | 15/02/2017 | Tecnologia


    A informática no Brasil teve seus primórdios por volta das décadas de 50 e 60, onde o enfoque principal era detectar um meio ou instrumento mais eficaz para ensinar, pois os altos investimentos na área educacional tiveram grande repercussão no desenvolvimento das tecnologias educacionais. Esse interesse pela informática educativa no Brasil foi motivado pelo que já estava acontecendo em outros países como Estados Unidos e a França. Entretanto, somente a partir da década de 70 a tecnologia ganhou espaço limitado á utilização dos computadores para mais tarde ampliar-se num conjunto de procedimentos que atendessem aos problemas educacionais.

   Em 1971 aconteceu a “Primeira Conferência Nacional de Tecnologia em Educação Aplicada ao Ensino Superior” (I CONTECE), realizada na Universidade Federal de São Carlos, que enfatizava o uso dos computadores no ensino da Física.

   Algumas experiências começaram a ser desenvolvidas em outras universidades, a partir de 1973 usando computadores de grande porte como recurso auxiliar dos professores de ensino e avaliação em Química (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ) e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS houve desenvolvimento de software educativo.

Ainda em destaque, nos anos 70, as experiências do Laboratório de Estudos Cognitivos do Instituto de Psicologia - LEC, da UFRGS, fundamentadas nas teorias de Piaget e Papert, voltados para crianças com dificuldades de aprendizagem, principalmente, leitura, escrita e cálculo.Em 1975, a Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP criou um grupo interdisciplinar que pesquisou o uso do computador com linguagem LOGO[1] direcionada para a educação infantil.

   A partir dos anos 80 teve início a “Cultura Nacional de Informática” através de dois seminários internacionais que discorria sobre o uso do computador como ferramenta de auxílio no processo de ensino-aprendizagem.  Tais seminários deram origem ao Projeto de Informática na Educação (Educom) através das reivindicações da comunidade acadêmica que teve como base projetos-piloto da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPe).

   Com os resultados do Projeto EDUCOM, em 1986, o MEC criou o Programa de Ação Imediata em Informática na Educação de 1º e 2º graus, destinado a capacitar professores (Projeto FORMAR) e a implantar infraestruturas de suporte nas Secretarias Estaduais de educação, escolas técnicas federais, e universidades. Cabia a cada secretaria de educação e a cada instituição de ensino técnico e/ou superior definir sua proposta pedagógica. Portanto, a inclusão dos computadores nas escolas transformou-se numa situação problemática nacional, porém sua base teórica possibilitou ao MEC instituir o Programa Nacional de Informática na Educação – PRONINFE, cujo objetivo era:

[...] desenvolver a informática educativa no Brasil, através de atividades e projetos articulados e convergentes, apoiados em fundamentação pedagógica, sólida e atualizada, de modo a assegurar a unidade política, técnica e científica imprescindível ao êxito dos esforços e investimentos envolvidos. (MEC, 1989)

   O PRONINFE apoiado às Leis relativas à educação, ciência e tecnologia, almejava o uso e o desenvolvimento da informática educativa nos sistemas públicos de ensino desde a educação básica até a educação especial. Na visão de Tajra (2005, p.28) para entendermos a situação do Brasil diante desta realidade, ela relata os principais momentos da Política da Informática no Brasil, de acordo com as datas abaixo relacionadas:

  • 1965 - O ministério da Marinha brasileira tinha interesse em desenvolver um computador com “Know-How” próprio;
  • 1971 – O Ministério da Marinha, por intermédio do Grupo de Trabalho Especial – GTE – e o Ministério do Planejamento tomaram a decisão de construir um computador para as necessidades navais no Brasil;
  • 1972 - As questões de importações e exportações da Informática foram transferidas para a CAPRE – Coordenação de Atividade de Processamento Eletrônico, ligada ao Ministério do Planejamento.
  • 1977 – Primeiro confronto entre Brasil e interesses estrangeiros, pela falta de uma definição explicita da reserva de mercado em relação aos mini e aos microcomputadores – IBM e Burroughs.
  • 1979 – As ações da CAPRE – foram transferidas para a SEI (Secretaria Especial de Informática) ligada ao CSN (Conselho de Segurança Nacional). Esta decisão acarretou inúmeras discussões pelo de a CSN estar ligada às opressões da ditadura militar.
  • 1984 – É aprovada a Lei de Informática, a qual impôs restrições ao capital estrangeiro, tornou legal a aliança do Estado com o capital privado nacional. Essa lei tinha uma previsão de 8 anos, tempo estimado para que a industria nacional alcançasse maturidade, visando à competitividade internacional.
  • 1985 - Faltam recursos humanos capacitados para o sistema de ciência e tecnologia. A partir daí, o governo passou a intensificar os investimentos na área da educação de 1º e 2º graus.

   Ressalta-se ainda que a informática no Brasil no período de 1984 a 1987 apresentou um crescimento significativo nesta área abrangendo 60% da indústria brasileira, trabalhando com equipamentos desenvolvidos no próprio país. A partir de 1995 foi criado o PROINFO que vigora até os dias atuais, seu objetivo principal era a criação de Núcleos de Tecnologias Educacionais em todos os Estados do Brasil, composto por professores pós-graduados em Informática Educacional para exercerem o papel de multiplicadores desta política.

   No entanto, a informática obteve um espaço maior na educação amparada pela Lei nº 9394/96 das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que no Art. 35 faz referencias especificas sobre tecnologia, como: o domínio dos princípios tecnológico que presidem a produção moderna; Incentivo ao trabalho de pesquisa e investigação científica (art.43); determinação de uma educação profissional integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e á tecnologia (art.39). Na Declaração Mundial sobre Educação Superior, também encontramos referências acerca da Informática na educação enfatizando a ampliação do conhecimento através das tecnologias. Afirma Bastos (1997 apud GRINSPUN, 2001, p. 231) que:

A educação no mundo de hoje tende a ser tecnológica, o que, por sua vez, vai exigir o entendimento e interpretação de tecnologias. Como as tecnologias são complexas e práticas ao mesmo tempo, elas estão a exigir uma nova formação do homem que remete à reflexão e compreensão do meio social em que ele se circunscreve. Esta relação – educação e tecnologia – está presente em quase todos os estudos que têm se dedicado a analisar o contexto educacional atual, vislumbrando perspectivas para um novo tempo marcado por avanços acelerados.)

   Diante do exposto, percebe-se a importância da tecnologia dentro do contexto educacional na formação e qualificação do homem enquanto ser pensante e social na sociedade em que está inserido. A educação tecnológica passa a ocupar um lugar central em termos de qualificação do indivíduo exigido pelo novo sistema de desenvolvimento educacional que busca valores subjacentes ao individuo que pode até fascinar e seduzir, mas não pode ocultar os desafios e a suscetibilidade que pode ocasionar. Hoje, percebemos a importância da tecnologia em todas as áreas do conhecimento, sendo cada vez mais implementadas, tanto no sistema educacional como profissional, cabe a nós buscarmos esse conhecimento, já que estamos na era da globalização.

 

[1] Linguagem de programação elaborada por Seymour Papert.

 

 

REFERÊNCIAS

 

ALMEIDA, F.J.Educação e Informática.2ed.São Paulo: Cortez,1988.

 

ALMEIDA, F e FONSECA Junior, F. Criando ambientes inovadores.. Brasília: MEC. Secretaria de Educação à Distancia,1999.( Coleção Informática para a Educação)

 

ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de. Informática e formação de professores. Disponível em: <http://escola.200.net/eduardo/páginas/textproinfo.htm>. Acesso em: 15 abr.2009.

 

 

KENSKI, Vani Moreira. Educação e Tecnologias: O novo ritmo da informação. Campinas - S.P: Papirus, 2007. – (coleção Papirus/educação).

 

LUCENA, M. W. F. P. O Uso das Tecnologias da Informática para o Desenvolvimento da Educação. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, jun. 1994.Relatório Técnico n.ES-301/94.

 

MORAES, Raquel de Almeida. Rumos da Informática no Brasil. Brasília: Plano Editora,2002.

 

MIRIAN, P.S. Zippin Grispun (org). Educação Tecnológica: Desafios e Perspectivas. 3ed. São Paulo: Cortez, 2002.

 

PAPERT, Seymour. A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Tradução: Sandra Costa, - Ed.rev. –Porto Alegra: Artmed,2008.

 

PAPERT, Seymour. Logo: computadores e educação. São Paulo: Brasiliense, 1988.

 

 

TAJRA, Sanmya Feitosa. Informática na Educação: novas ferramentas pedagógicas para o professor na atualidade. 7. ed. São Paulo: Érica, 2007.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      

VALENTE José Armando (org). O computador na sociedade do conhecimento. Campinas, SP:UNICAMP/NIED, 1999.

 

VALENTE, José Armando. Diferentes usos do computador na educação. Disponível em: <http://edutec.net/Textos/Alia/PROINFO/prf_txtie02.htm> . Acesso em 19 maio 2009