História da Filosofia Contemporânea
Por Thiago Barbosa Soares | 02/10/2017 | FilosofiaThiago B. Soares[1]
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[1] Doutorando (PPGL-UFSCar). E-mail: thiagobsoares@bol.com.br
O homem passou por diversas fases no decorrer da História, de modo que o pensamento crítico-reflexivo o acompanhou, mas poucas, senão nenhuma, foram as correntes filosóficas que se ativeram ao essencial, isto é, a existência do homem. Noutros termos, o existencialismo carrega em seu bojo um objetivo relativamente simples, qual seja, resgatar o demasiadamente humano do próprio homem.
É com o alemão Kierkegaard (1813-1855) que o existencialismo ganha seu primeiro fôlego, sendo esse pensador um para quem o pensamento idealista não cabia. Nesse sentido, Russell diz: “Embora Kierkegaard não entre explicitamente no tema, seu existencialismo, em verdade, pressupõe um teoria do conhecimento realista, no sentido em que se opõe a uma concepção idealista” (2013, p. 397). Quer dizer, o existencialismo, em sua origem, se arroga do sentido de verdade, possibilitando uma crítica contundente a outras formas de pensar dentro e fora da Filosofia.
Os efeitos do pensamento do alemão, são sentidos até os dias atuais. Haja vista sua concepção de angústia, grosso modo, como a mais humana experiência e sensação. Desse modo, Sartre, entre outros, bebe dessa fonte e produz mais reflexões; porquanto é no desenvolvimento crítico do ser humano cujas bases do existencialismo estão pautadas e nelas expandem o que Sartre chama de liberdade.
Ao pensar o existencialismo como um humanismo, o filósofo francês diz que a existência precede a essência na medida em que não poderia haver uma essência sem existência. Nas palavras de Sartre: “Que significa, aqui, que a existência precede a essência? Significa que o homem existe primeiro, se encontra, surge no mundo, e se define em seguida” (2012, p. 19). Portanto, há uma certa negação, ou melhor, uma oposição ao pensamento fundamentalmente materialista, porquanto esse considera, grosso modo, essência e existência unidas sob a égide das condições de produção da sociedade.
Assim, podemos notar um aspecto da contribuição do existencialismo ao se opor a correntes como o materialismo, racionalismo, positivismo e etc.. Além disso, como ressaltamos acima, a reflexão existencial caminha diante da natureza humana desnudada, ou seja, “uma condição amedrontada, insegura, e desamparada” (SARTRE, 2012, p. 50). Assim, a filosofia existencialista se dá conta do homem no mundo, vivendo com o outro, de forma que não se pode deixar de pensar na angústia da vida sem tentar entender as relações das quais estamos atrelados, desde o nascimento até a morte.
Nesse diapasão, Sartre traz à baila diversos problemas, entre eles o da liberdade, da qual todos estão condenados. Sempre escolher é uma imposição da liberdade humana. Posto isso, o homem tem responsabilidade tanto consigo quanto com o outro, à medida que pode prejudicar-se ou fazer um mal a outrem quando escolhe. Portanto, não podemos olvidar a mudança de terreno empreendida pela corrente existencialista, pois sua enfática chamada de atenção para a essencialidade da vida nos proporciona uma compreensão ontológica da existência.
Sendo “Assim, com toda a razão diz Heidegger que a filosofia não é fácil, mas difícil. E mais: que é a maneira de tornar as coisas mais difíceis, porque é o caminho de acesso à densidade do real” (BORNHEIM, 2009, p. 134; grifo nosso). Não se trata, pois, da filosofia existencialista ser algo fácil ou difícil, posto ser, isto sim, complexo tudo o que concerne ao viver, quer dizer, ou real. Em geral,diferentemente de todas as correntes filosóficas, é justamente o real da existência humana de que trata o existencialismo, isto é, o que torna um ser humano.
Referências
BORNHEIM, G. A. Introdução ao filosofar: o pensamento filosófico em bases existenciais. – 3°ed. – São Paulo: Globo, 2009.
RUSSELL, B. História do pensamento ocidental: A aventura dos pré-socraticos a Wittgenstein. Trad. Laura Alves e Aurélio Rebello. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
SARTRE, J-P. O existencialismo é um humanismo. Trad. João Batista Kreuch. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.