HIERARQUIA E DISCIPLINA

Por Roberto Oliveira Hermesdorff | 10/03/2015 | Sociedade

HIERARQUIA E DISCIPLINA [04092011]

 Por sua natural essência social, o homem, desde os primórdios dos tempos, buscou se agrupar aos semelhantes que com ele guardassem traços comportamentais de afinidade. Constituíram-se, a partir de então, as primeiras comunidades, cujos integrantes passaram a interagir, pois notaram, desde logo, que dependiam um do outro para a satisfação e a complementação de suas necessidades básicas de sobrevivência.

 Embora se completassem na seara material, descobriram, já no nascedouro da associação, que haveriam de se organizar de forma a que tal convivência fosse administrada por parâmetros que a todos atendessem na busca do bem-comum. Essa necessidade deu-se porque cada um dos que compunha aquela comunidade arvorou-se de competência para dar resolução aos litígios que se erguiam entre eles, em especial àqueles reveses que o atingiam direta e desfavoravelmente.

 Para resolver tais contendas, os desentendimentos eram “administrados” pelo instituto da chamada lei do mais forte. Tal metodologia não entregava a justiça social que cada caso requeria, muito menos a quem a merecia. Então, o mais fraco armou-se para promover a defesa das suas resistidas pretensões. Depois de muitas mortes em duelos e emboscadas, o grupo associado entendeu necessário se organizar, estratificar camadas de competência e distribuir cargos e encargos a determinadas pessoas do grupo, segundo o preenchimento de certos requisitos.

Os expoentes intelectuais da época esboçaram um organograma que a todos atendesse. E, como Nação que se tornaram, criaram a figura do Estado, a cujo ente abstrato deliberaram entregar a condução e o gerenciamento dos interesses conexos. O Estado não tinha, no passado, a capa contemporânea da geopolítica atual. E naqueles tempos, da caverna aos gladiadores, a evolução desse regramento deu-se no âmago do Império, em várias regiões do planeta, desde o antes ao depois de Cristo.

 Por esta veia de dominação organizada os reis constituíram seus exércitos em defesa agora, não só das suas fronteiras territoriais, mas da sua expansão e também das tratativas e condutas sociais dos seus vassalos. Estes passaram, pois, a serem administrados pela clava militar dos impérios. As normas e regulamentos que os Conselhos Militares dos palácios delinearam para controlar os seus exércitos foram, ao longo dos séculos, tido por suficiente modelo de controle, obediência e suficiência operacional por parte dos centuriões que comandavam as tropas no campo de batalha.

 Por mais que os séculos se tenham passado, o espectro militar se manteve presente nos mais modernos sistemas e regimes de governo que se transmutaram daquela época a esta. E esta manutenção deu-se devido ao largo reconhecimento de que os primados militares, fundados na hierarquia e na disciplina, foram postulados inarredáveis do sucesso das hoje conhecidas Organizações Militares. Daí a eterna frase de que a hierarquia e a disciplina são os pilares do militarismo. E poderíamos acrescentar, da ordem.

 No final do século XX e, mais notadamente neste, tais pilares foram cortejados pelos defensores dos Direitos Humanos que buscavam estender sua filosofia para o intramuros da vida em caserna, mercê de alguns abusos que órgãos da imprensa propalaram ter havido pontualmente em alguns cursos de formação e em reações de enfrentamentos marginais. Diz-se que a hierarquia verga, mas não quebra. Não importa qual, mas todo regulamento é sábio, embora mereçam algum aprimoramento e atualização.

 Ouvida a corrente dos Direitos Humanos, os organismos militares – especialmente os estaduais – lustraram seus regulamentos com o verniz da Deontologia Militar, tornando-lhes intrínsecas várias condutas militares já consentâneas com a contemporaneidade pretendida pela comunidade, sem as quais entendiam não ser possível conquistar dela a confiança esperada pelos cidadãos dos densos aglomerados urbanos.

Defende-se que com maior reconhecimento interno o militar irradie essa tratativa ao público externo, angariando “feed-back” de positividade para a instituição à qual pertença, à Nação como um todo e perante os Organismos Internacionais alinhados com o respeito aos interesses da pessoa humana. Sem a presença da disciplina qualquer hierarquia é inepta, sendo aquela o esteio mais forte de toda estrutura organizacional, seja ela militar, ou não. Contudo, tem sido a militar a que melhor polimento tem sabido dar a estas colunas. Enquanto for mantido esse brilho, a ordem estará assegurada.