Hegemonia X Autonomia
Por Leila Angélica O. M. de Andrade | 13/04/2011 | EducaçãoA educação brasileira sempre é posta como prioridade de governo, independente da sigla partidária sustentada pelo executivo. No entanto, num breve balanço educacional das duas últimas décadas o que vemos é uma entrada maciça de programas educativos de cunho empresarial nas escolas públicas (a exemplo dos programas Se Liga, Acelera, Alfa e Beto) que não contribuem para a melhoria da educação, mas apenas servem como modelos burgueses de formação do "bom cidadão" (leia-se o indivíduo que recebe educação formal sem potencialização crítica e questionadora da sua condição social).
A chamada pedagogia da hegemonia ? burguesa, alienante e conservadora - expressa em si a idéia de manter a supremacia do projeto neoliberal por meio de políticas públicas de qualificação profissional para a população jovem que se inserem no conjunto de políticas de conformação das camadas subalternas com a finalidade de mediar os conflitos de classe. Para ser mais exato, as políticas carregam em si uma pedagogia que inculca nos sujeitos por ela atendidos uma espécie de conformação ética e moral que os tornam sujeitos ativos na construção do consenso em torno do projeto dominante de sociedade. Seria a explicação do surgimento de programas federais de inclusão de jovens, apesar das contradições que tal prática social possa comportar.
Essa pedagogia burguesa se contrapõe a Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire que apresenta propostas de práticas pedagógicas necessárias à educação como forma de construir a autonomia dos educandos, valorizando e respeitando sua cultura e seu acervo de conhecimentos empíricos junto à sua individualidade, além de valorizar a curiosidade dos educandos e educadores, condenando a rigidez ética que se volta aos interesses capitalistas, que deixam à margem do processo de socialização os menos favorecidos.
Uma outra proposta educacional - não estimulada pelas políticas públicas - é a Pedagogia do Oprimido, também de Paulo Freire, que se dedica aos "esfarrapados do mundo" e apresenta a opressão contida na sociedade e no universo educativo, em especial no processo de educação/alfabetização de adultos. A opressão é dada como problema crônico social, visto que as camadas menos favorecidas são oprimidas e terminam por aceitar o que lhes é imposto, devido à falta de conscientização, o que levaria a buscar a chamada Pedagogia da Libertação. Visto que a libertação é um "parto" conforme afirma Freire, uma vez que a superação da opressão exige o abandono da condição "servil", que faz com que muitas pessoas simples apenas obedeçam a ordens, sem ao menos questionar ou lutar pela transformação da realidade, fato motivado especialmente pelo medo.
A partir de tudo exposto vimos que a educação brasileira engatinha para um processo de superação da dominação burguesa, uma vez que o capitalismo vigente é imperialista e opressor e remete ao medo da mudança e do questionável. Entretanto, profissionais da educação cada vez mais combatem o imposto e transformam em suas salas de aula os programas enlatados do governo ensinando seus educandos a lerem as entrelinhas dos contextos e subcontextos intrínsecos a nossa realidade.