Há professores e há Educadores

Por sebastião maciel costa | 21/07/2023 | Educação

Há professores e há educadores...

        Viver o universo escolar é um privilégio que oportuniza a qualquer ser humano  experienciar lições que compõem capítulos grandiosos para corações igualmente grandiosos quando a alma vem primeiro  que o corpo. Esse espaço raro precisa produzir emoções, que valem lições para todos quantos desfrutam desse santuário de sentimentos que precisam estar permanentemente fidelizados pelos sonhos dos alunos que, para ali vieram em busca de respostas, acolhimento, “ouvidos” mas principalmente, respeito. Qualquer enfoque que se dê a fatos que estejam associados ao mundo educacional, enquadra-se com uma narrativa que documente passagens da rotina de escola, independente da esfera a que ela pertença. Sigamos:

       “Em uma conhecida escola, em determinada Unidade da Federação brasileira, estava ocorrendo uma situação inusitada: Uma turma de meninas de 12 anos, que usavam batom todos os dias, beijavam o espelho para remover o excesso de batom. O diretor andava bastante aborrecido, porque as zeladoras tinham um trabalho enorme para limpar o espelho ao final do dia. Mas, como sempre, no dia seguinte, lá estavam as mesmas marcas de batom...

       Um dia, o diretor juntou um grupo de meninas no banheiro, explicou pacientemente que era muito complicado limpar o espelho com todas aquelas marcas que elas faziam. Fez uma palestra de uma hora. No dia seguinte as marcas de batom no banheiro reapareceram.

       No outro dia o diretor repetiu a atitude do dia anterior e juntou as meninas e uma das zeladoras no banheiro, e pediu à zeladora para demonstrar o sacrifício e a dificuldade do trabalho. A zeladora imediatamente pegou um pano, molhou no vaso sanitário e passou no espelho. Nunca mais apareceram marcas no espelho”.

       A lição foi dada, de forma equilibrada sem regras, sem abuso de autoridade, sem ameaças ou uso da força. Mesmo sem alcançar o cerne da questão, o diretor não previa o resultado final da “operação”. Na verdade, ele pretendia sensibilizar as meninas quanto aos esforços dispendidos pelas zeladora, mas na prática, nem ele sabia que elas limavam os espelhos com um pano umedecido pela água do vaso sanitário. Não houve culpa, não houve pressão, mas viveu-se um reflexo de rotina de trabalho daquele espaço onde a ideia de pertencimento precisa estar sempre presente: no coração do diretor, das zeladoras, dos alunos e de tantos quantos ali laboram.

       Ao perceber que seus métodos não trouxeram os resultados esperados, com o fim do uso do espelho para retirar o excesso de batom das meninas, que faziam aquilo por opção, “tirar o excesso”, mas desafiavam a disciplina da escola; sem maldade. Com a atitude do diretor que fez valer a força impactante do exemplo, as zeladoras sentiram-se respeitadas e as meninas sentiram, na pele, que estavam sendo “lesadas” pela falta de higiene da forma trabalhada; o diretor não precisou mostrar força ou poder de autoridade... nesse conjunto, temos que reconhecer, isso é dignidade. Quando nos despimos de vaidades e insensatez, usamos a sinceridade, dizemos o que sentimos, fazemos o que precisa ser feito, somos respeitados.

       Assim como no plano imaginário pela busca de ideais de vida, as ideais sempre nos leva a voos mais altos, no pano real das relações sociais de quaisquer níveis, precisamos de atitudes humanitárias de incentivo e de positividade. O outro, independente de suas próprias origens e histórias, não pode ser responsabilizado pelo nosso próprio insucesso. Assim, ocorre com as expectativas que criamos de nós mesmos, do nosso ambiente familiar, escolar ou profissional. Ao outro não cabe responder pelas nossas frustrações ou conquistas; a nós não compete, igualmente, alcançar os anseios do outro.

       Cabe delimitarmos espaços de valorização de sentimentos nobres a fim de que sejam alcançados objetivos que dignificam o ser humano, engrandecem o trabalho e fortificam a alma. Quando, na prática, se destacam as pessoas que acertam e ensinam e aquelas se equivocam mas aprendem.

       A vida é uma escola que precisa ser bem calculada, avaliada e valorizada, antes de ser julgada. Poderemos, enquanto protagonistas da história de muitos que seguem as nossas orientações ampliar, a da novo dia, as possibilidades de garantir a perpetuação das forças, das lições e aprendizado de gerações que atravessam o tempo em busca da  essências do ideal de servir, vier e ser feliz fazendo o outro sentir-se melhor, mais útil e digno de respeito por si mesmo e pelos outros.

        Voltando às meninas que “beijavam” o espelho como forma de melhorar o nível de sua maquiagem, esse fato, nos dias atuais se revestiria do desafio do afrontar, do transgredir, do afrontar, como se quisessem determinar que regras e condutas já não têm espaço entre os jovens. Mas, na verdade, poderias ser outras tantas possibilidades de contrapor-se ao que foi previamente determinado como correto.

        O ser humano, em nome da sua própria evolução precisa rever o seu comportamento diante do momento que tanto exige envolvimento, liderança, moderação e equilíbrio no falar, no agir, no transmitir, no entender, no imaginar-se no lugar do outro para que seja possível entender qual o seu papel enquanto pertencente à construção dos fatos, da verdade e dos valores que tanto fazem falta nas relações que envolvem quem aprende, quem busca aprender; quem ensina e que busca ensinar. O que ensinamos é produto do nosso universo, do nosso ter, do nosso ser.

  •   Sebastião Maciel Costa