Grupos Escolares, sinônimo de rigidez: Ainda assim, aprendíamos.
Por Iza Aparecida Saliés | 14/06/2011 | EducaçãoGrupos Escolares, sinônimo de rigidez: Ainda assim, aprendíamos.
Iza Aparecida Saliés
Como muitas meninas da minha época, estudei no antigo Grupo Escolar, fiz parte de uma geração que obedecia às exigências de uma escola preparada para ensinar a ordem e o progresso do país e para sua clientela.
Pautada no pressuposto pedagógico da época, ou seja, de uma escola tradicional onde imperava a disciplina, a rigidezque era impecavelmente exigida das alunas. Então, aprendi obedecer, organizar e ser responsável pelos trabalhos, estudos, tarefas e sabatina, tudo isso era cobrado rigorosamente pelas professoras e respaldadas pelas mães em casa.
Sem dúvida que respaldados nesses conceitos que foram fortemente sedimentados em minha trajetória com pessoa, esses ensinamentos estão latentes até hoje, e inegavelmente dão sustentação a minha formação profissional.
Á luz da modernidade esses pressupostos decadentes,para muitos, mas, confesso que sempre estou buscando referencia nesses ensinamentos do passado, mesmo conhecendo as concepções postas pelo movimento pedagógico contemporâneo.
Grupo Escolar, escola que sustentava sua finalidade social na formação integral dos alunos, conseguia articular educação, ensino e aprendizagem, numa perspectiva de um currículo de ensino com formatação enxuta, com conteúdos rigorosamente selecionados e determinado e que fizesse a interface com uma formação centrada em valores humanos.
Que se atreve a questionar esses valores? São concepções de vida, de sociedade que permanecem até hoje, não deterioram com o tempo, servem para sempre, o que fazia do Grupo Escolar a oferta de um ensino que dispunha de uma qualidade impecável. Sua função era apenas ensinar, pois a de educar era competência da família.
Quando chegava para estudar, sabia que teria que comportar, exigia bons modos, observavam o modo de andar, falar, ou seja, de portar-se, falar era impossível, pedir para ir ao banheiro pior ainda, mas inda assim, éramos obedientes, rezamos na cartilha do bom comportamento, por muito tempo.
Do caminho de casa ao Grupo Escolar era uma viagem, como o bairro que eu morava ficava longe, tinha que tomar lotação , a viagem era do porto à cidade, ou seja, ao centro, tomava o rumo da Rua 13 de junho até chegar ao ponto final, em frente à loja Miglália ao lado do correio. Era um prazer fazer esse roteiro todos os dias, rotina que possibilitou uma infância muito gostosa e divertida.
A chegada ao portão do Grupo era puro prazer, momento de desfrutar do rico cardápio de pirulitos, picolés, balas, cacau, suco de saquinho, e também de disputa por um espaço para escolher as novidades oferecidas pelo vendedor.
Chegou a hora do sino da entrada, hora de cantar o hino, a entrada na sala de aula, sapato boneca, meias três quartas brancas, saias azuis e blusa branca, o uniforme impecável de limpo e ajeitado no corpo. O lanche, hora do leite, do pão com manteiga, do bolo vendido na porta do colégio, a queimada, a amarelinha, as brigas, os acertos.
É inenarrável a dedicação das senhoras professoras, mulheres que deixavam seus lares para o ofício de ensinar, nobres professoras como a Profª Adelaide Fortunato, Elizabeth Sena, Eneida Salla, brilhantes profissionais que ensinaram as primeiras letras e os conhecimentos elementares para o meu letramento escolar.
Ora eram professoras ora eram mães, apesar da rigidez e disciplina, componentes obrigatórios para a formação das escolas da época, exigências do sistema de ensino, ainda assim, agiam com muito carinho.
Chegávamos à escola, educados e comportados jamais poderíamos contestar a professora. Como a formação familiar era rígida, então não havia estranhamento quanto ao comportamento que deveria ter na escola, assim, ficava fácil para a professora dominar os alunos, ainda assim, aparecia de vez em quando, um aluno querendo fazer gracinha, sem muito progresso.
Nos bons tempos em que a escola era o espaço de respeito, considerado como o templo do saber, as professoras eram pessoas dotadas de boa vontade, dedicavam parte do seu tempo em ensinar o melhor, não importava a decoreba, a memorização, não importava se a disciplina era rígida, importava sim, com a formação integral da criança.
Ainda assim, aprendíamos.