Groelândia um Beco Sem Saída Para os Vikings
Por Julio Cesar Souza Santos | 10/11/2016 | SociedadeQue Fatos Nos Ajuda a Compreender o Caminho Percorrido Pelos Vikings? Quem Conduziu o Movimento Para Colonizar a Groelândia? Os Vikings Foram – de Fato – os Primeiros Colonos Europeus na América?
Os Vikings que viajavam para ocidente eram errantes e inquietos e, uma vista nos mapas nessas latitudes, para onde a história nos deu poucos motivos para olhar com interesse, nos ajuda a compreender o caminho percorrido dos Nórdicos. Pois, nas águas entre o círculo ártico a 60º de latitude norte e as costas americanas, encontra-se terras praticamente de 800 em 800 km.
Cerca do ano 700 d. C. os vikings tinham chegado às Ilhas mais ou menos a 300 km a norte da Escócia e, depois do ano 770, prosseguiram adiante para colonizar a Islândia. E, ao largo da costa da escócia, os Nórdicos seguiram para a Irlanda, onde fundaram Dublin em 841. Quando os homens instruídos da Europa cristã tomaram conhecimento de que os Vikings tinham se fixado na Islândia, chamaram essa terra de “Tule” (“meta mais distante de qualquer empreendimento humano”).
Parece que no ano 930 a maior parte da terra habitável da Islândia estava ocupada
completamente e, a escassez de terra e a esperança de obterem melhores coisas, originaram outra expansão. E, 40 anos depois disso, a fome aumentou a pressão para que os islandeses nórdicos se pusessem de novo a caminho.
O movimento para colonizar a Groelândia (a última “Tule”) foi conduzido por um criminoso (Eric, o “Machado Ensanguentado”) que, em 982 quando foi expulso da Noruega, acabou fugindo para a Islândia. Novamente posto fora da lei por mais assassinatos, Eric foi para uma península na costa ocidental islandesa de onde resolveu ir mais para ocidente. Rumou, então, para uma terra avistada meio século antes por um navegador norueguês chamado Gunnbjörn.
Após navegar 800 km para ocidente, Eric descobriu que os boatos eram fundados e, depois de encontrar um enorme subcontinente, navegou pela Groelândia abaixo até o cabo Farewell e lá encontrou convidativas encostas e fiordes tão impressionantes que lembravam sua Noruega.
A terra era rica em animais de caça (ursos, raposas e caribus), o mar cheio de peixes e grandes mamíferos como focas e morsas. Mas, o melhor de tudo é que não havia qualquer sinal de anterior habitação humana.
Eric chamou essa terra de Groelândia ([1]). Após 3 anos ele voltou a Islândia a fim de recrutar colonos e, em 986, voltou com uma frota de 25 barcos, cerca de 450 homens e mulheres, além de vários animais domésticos. Somente 14 barcos sobreviveram a tempestuosa viagem e, chegando a nova terra, alguns ficaram na baía e outros foram mais para o norte. E, embora o clima não fosse muito bom para a agricultura, as pessoas passaram a criar vacas, cavalos, ovelhas, porcos e cabras que lhes forneciam manteiga, leite e carne.
Encontramos repetidamente esse cenário dos vagabundos vikings em busca de qualquer lugar para desembarcar e, quando encontravam por acaso, ficavam lá como colonos. A história dos vikings colonos na América começa com o barco de Bjarni Herjolfsson que, ao receber uma carga completa para a Islândia em 986, achou que passaria o inverno lá com seu pai. Desolado, após verificar que seu pai vendera sua propriedade na Islândia, Bjarni e seus tripulantes resolveram segui-los até a Groelândia.
Mas, eles jamais haviam feito essa viagem anteriormente e também não tinham carta de navegação e nem mesmo uma bússola. De repente viram-se cercados de nevoeiro, sem saber onde se encontravam, quando avistaram uma terra plana e coberta de florestas. Bjarni soube que não podia se tratar da Groelândia e por isso não deixou seus homens irem á terra, virando a proa do seu barco para o mar e após 4 dias chegou à ponta sudoeste da Groelândia.
As sagas groenlandesas conservam o registro do vislumbre por Bjarni daquela terra não procurada e não identificada que viria a verificar-se ser a América. E, durante os 15 anos seguintes, não existe registro de que quaisquer outras pessoas da Groelândia tenham encontrado o que Bjarni descortinara.
No entanto, quando escalavam as montanhas atrás dos seus povoados, eles viam no horizonte o que parecia ser terra, ou pelo menos o tipo de nuvens que geralmente encontravam por cima da terra.
Segundo Leif Ericson, que fora para a Groelândia com o pai (Eric, o Machado Ensanguentado), comprou o barco de Bjarni e no ano de 1001 reuniu 35 homens e rumou para a terra que aquele avisara, mas não tivera a curiosidade de explorar.
Navegando para leste, Leif e seus homens deram com aquela terra que Bjarni tinha sido o último a chegar. O fundo era todo de glaciares e do mar até lá acima, aos glaciares, como se fora tudo uma só placa de rocha.
Mas, a terra pareceu-lhe estéril e inútil. Tratava-se da ilha de Baffin, ao norte do estreito de Hudson que eles chamaram de “Terra da Pedra Plana”. Seguindo a costa para sudoeste eles viram uma região plana (hoje conhecida como Labrador) coberta de florestas e, mais adiante, encontraram um aprazível lugar que eles chamaram de Vinland (Terra do Vinho), por causa das suas abundantes uvas.
E, achando a terra atraente, Leif manobrou o barco pelo rio acima até o lago de onde ele corria e passaram ali o Inverno. A Groelândia – de onde eles tinham acabado de vir – não era nenhum Éden, o que ajuda a explicar o seu entusiasmo.
No verão seguinte Leif regressou à Groelândia, pois seu pai (Eric) havia morrido e as responsabilidades da família caíram sobre seus ombros. Emprestou o barco ao seu irmão (Torvard) que, junto com 30 tripulantes, não tiveram dificuldades em encontrar o acampamento de Leif.
Lá passaram o Verão e, quando encontraram pela 1ª vez um grupo de nativos, Torvard foi ferido mortalmente por flechas envenenadas e seus homens regressaram à Groelândia.
Os Vikings ainda não tinham nenhuma colônia permanente e o passo seguinte foi dado por um parente de Leif (um islandês, chamado Torffin), que rumou para a Groelândia com uma carga para vender. Vinland acabou se tornando uma espécie de negócio de família, embora tenha se revelado uma fraqueza fatal.
Não foi necessário muito tempo para que o coração de Torffin se prendesse a atraente viúva de Torvard, com quem acabou se casando. Juntos, chegaram a Vinland e se instalaram numa baía agradável não muito longe do lugar do acampamento de Leif Ericson.
Os Vikings foram provavelmente os primeiros colonos europeus na América, o que não quer dizer que descobriram a América. Sua colonização através do oceano foi um ato de coragem, mas o que eles fizeram na América não modificou a visão do Mundo e nem deles próprios. Jamais houve uma viagem tão longa, que tenha feito tão pouca diferença.
Praticamente não se verificou nenhum feedback em resultado das viagens a Vinland e, o mais extraordinário, não é que os Vikings tenham realmente chegado à América, mas sim que lá tenham chegado – e até se tenham fixado durante algum tempo – sem terem descoberto a América.
Os Vikings não tinham cartas marítimas nem bússola quando chegaram à América e, sua técnica de navegação habitual, dependia do conhecimento dos mares a atravessar. Isso não ajudava muito e dificilmente poderia ser utilizado sequer em latitudes estranhas. Para viagens mais longas utilizavam uma espécie de “navegação por latitude” em que o marinheiro se colocava na latitude do seu destino e depois fazia o que podia para nela se manter.
Por exemplo, um escandinavo que fosse de Bergen para a Islândia navegaria ao longo da costa da Noruega até chegar a um ponto onde a latitude da Estrela do Norte – acima do horizonte – e a declinação do Sol ao meio-dia fossem as que ele sabia serem no seu destino, na Islândia.
Essa forma primitiva de navegação tinha de ser complementada com a familiaridade com as águas em que navegavam e, embora os Vikings possuíssem uma extraordinária percepção onde tinham navegado, foi somente saltando de ilha em ilha que chegaram às costas da América. A distância a navegar da Groelândia à América do Norte era apenas a metade da distância entre a Islândia e a Groelândia, ou entre a Noruega e a Islândia – que há tempo percorriam.
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