Gripe A: Factos e Mitos

Por Andreia Monteiro | 26/08/2009 | Saúde

Na actual sociedade de informação, não há tema que o comum dos cidadãos não possa dominar, bastando para isso fazer algumas pesquisas na internet, assistir aos jornais televisivos, trocar informação com familiares e amigos. Ainda que isso seja positivo, não é incomum haver confusão de dados, ouvir informações incorrectas ou incompletas e tomá-las pela verdade. A questão é que nos são fornecidas tantas informações que acabamos por apreender incorrectamente alguns conceitos. O medo em relação a algo ajuda, claro, a que inconscientemente acabemos por ouvir só aquilo que nos interessa, aquilo que pensamos ser mais capaz de nos preservar.
A pandemia do vírus H1N1 é sintomática do exposto anteriormente. Talvez se os organismos oficiais não se limitassem a debitar indicações e explicassem qual o sentido prático dessas indicações não se tivesse originado tanta confusão.
Vejamos então algumas das questões que têm levantado mais dúvidas na população.

– As máscaras
A maioria das máscaras que encontramos à venda nas farmácias não oferece uma protecção efectiva contra o vírus. O seu objectivo não é proteger do contágio, é impedir que um contagiado espalhe o vírus até se recolher em local de quarentena apropriado. É, portanto, inconsequente a afluência em massa às farmácias em busca de máscaras. Claro que oferecerá alguma protecção, mas não esperem estar 100% livres do contágio por usarem uma máscara cirúrgica no transporte público. As máscaras que oferecem essa protecção não se vendem habitualmente em farmácias e são bem mais dispendiosas.

–A forma de contágio
O vírus não anda no ar. É transmissível pelo ar. Encontra-se no sistema respiratório dos infectados, pelo que é expelido através de espirros ou tosse. Depois disso precipita. Sobrevive durante cerca de oito horas fora do corpo humano, nas superfícies onde precipitou. O uso de luvas de látex é uma barreira eficaz, desde que os indivíduos se recordem que não devem tocar em boca, nariz, olhos com essas luvas. Devem ser posteriormente descartadas, nunca repetidas.

–A vacina
Não podemos esquecer que uma vacina é uma solução que contém o próprio vírus a prevenir, normalmente atenuado, para ensinar o corpo a combatê-lo. Haverá, como há sempre, casos de má tolerância à vacina. No entanto, os riscos, se forem cumpridos todos os trâmites de produção, transporte e aplicação, são diminutos em relação aos benefícios. NÃO há dados que permitam afirmar que a vacina para a gripe sazonal protege contra esta nova variante.

–Grupos de risco
As grávidas e as crianças serão os principais recipientes da vacina. NÃO há dados que comprovem que os idosos sejam imunes à doença!

–Taxa de transmissão
Os dados actuais não permitem afirmar que esta gripe se propague mais facilmente que as outras. A gripe sazonal também é de propagação relativamente fácil. O que não podemos esquecer é que se há mais infectados, esses infectarão mais pessoas, num ciclo vicioso.

–Perigosidade
As pessoas têm esquecido que é uma gripe. Todos os anos a gripe sazonal mata cerca de 2000 pessoas em Portugal. Tudo aponta para que esta variante seja mais agressiva mas os dados ainda não permitem confirmá-lo. O que sabemos é que os imunodeprimidos e portadores de doenças estão mais susceptíveis a reacções mais fortes, que poderão redundar em morte. São poucos os casos de complicações graves decorrentes da gripe em indivíduos saudáveis.

–Hospitais
Em Portugal, as pessoas são aconselhadas a NÃO acorrer aos hospitais. Está disponível um número para acompanhamento dos casos suspeitos, o 808 24 24 24. Os potenciais contagiados deverão permanecer em casa. Em caso de necessidade, será enviada uma unidade especial ao domicílio do infectado, para proceder ao seu transporte ao hospital em condições de segurança.

–A higiene
É importante lavar regularmente as mãos, principalmente depois de tossir ou espirrar. Os especialistas aconselham a que não espirremos para as mãos pois é com elas que poderemos espalhar ainda mais o vírus pelas superfícies. É aconselhada a utilização de lenços de papel que devem ser descartados em seguida. Os desinfectantes que não necessitam de enxaguamento podem ser usados em situações em que não seja possível proceder à lavagem das mãos, mas alguns especialistas afirmam que a utilização prolongada destes produtos pode diminuir a capacidade imunitária a certos microrganismos. Desde que efectuada de forma correcta, e sempre que for possível, a lavagem das mãos com água e sabonete é suficiente. Tenha o cuidado de fechar a torneira com papel.

–As empresas
As empresas têm já delineados planos de contingência, para o caso de os seus funcionários serem infectados, que passam pelo isolamento do potencial infectado e pela limpeza posterior do seu posto de trabalho. Uma vez que estamos numa época em que se encontram muitas partículas alérgicas no ar, não há necessidade de entrarmos em pânico porque o colega do lado espirrou. Há é que respeitar os preceitos de higiene, tal como a utilização de lenços descartáveis para espirrar ou tossir. Esta doença pressupõe o aparecimento súbito de febre alta, acima dos 38˚, pelo que seria aconselhável que estivesse disponível um termómetro em cada empresa, que terá de ser desinfectado após cada utilização.

–Os sintomas
Febre
Sintomas respiratórios (tosse, nariz entupido)
Dor de garganta

Outros sintomas possíveis:
Dores corporais ou musculares
Dor de cabeça
Arrepios
Fadiga

Vómitos ou diarreia. Não são comuns da gripe sazonal mas têm sido verificados em alguns casos de gripe A. São os únicos sintomas que oferecem alguma diferenciação em relação aos sintomas da gripe sazonal.

Os especialistas já avisaram que a fase mais crítica da gripe em Portugal chegará com o Outono e as temperaturas mais frias e mais amigas do vírus. O nosso contributo para mitigar o contágio terá de passar pelo cumprimento das regras que as direcções de saúde locais e nacionais ditarem. Os casos relatados de pessoas que fazem festas com contagiados para também serem infectados, ou que tentam contagiar propositadamente outros indivíduos apenas revelam ignorância. Não há dados que indiquem que ser infectado impeça novo contágio. A característica mais gritante desta gripe é mesmo a nossa falta de conhecimento sobre ela. Ninguém sabe até que ponto será perigosa, mas todos sabemos que mais vale prevenir.

Andreia Monteiro
Traduções Técnicas e Jurídicas