Greve geral

Por Jacques Tulio | 25/04/2009 | Contos

Expedito Pacífico de Oliveira Souza e Silva, mais conhecido como Dito era motorista de caminhão em uma estatal. Adorava a profissão e, claro, o cheirinho de óleo diesel queimando. - Pobre pulmão!

Entrou como auxiliar de serviços gerais, galgando em seguida, o cargo de assistente administrativo I.

Porém, antes que chegasse a III, tirou a carteira de habilitação e não pensou duas vezes: - Pulou como menino pra boléia de um “seminovo como se novo fosse” Mercedão 1513 Espicinè - como gostava de dizer.

Era daqueles que se entusiasmam com um volante nas mãos, ainda mais daquele tamanho. Baixinho, se sentia um gigante ali dentro:

- Aqui, mando eu! - Dizia orgulhoso.

Com o tempo se transformou em um bom motorista, nunca tendo se envolvido em acidente de maior gravidade. Ás vezes um esbarrãozinho, um amassadinho aqui, outro ali...

Só tinha um defeito: adorava uma greve. Principalmente das passeatas pelo centro da cidade. Seus olhos brilhavam absorvendo cada movimento dos colegas, as faixas, o carro de som, perto do qual gostava de ir, ali, meio do ladinho do escapamento. “Marchava” empinado como se estivesse em desfile de 7 de setembro.

Seria frustração por não ter prestado o serviço militar? Talvez. Era a primeira das doze barrigadas de Dona Zizinha. Tinha que ajudar a mãe no sustento dos irmãos.

- Nunca fui pelego! Gabava-se.

Nem bem o sindicato convocava assembléia, já ligava pra mulher e dizia com um canto da boca, já que do outro sempre pendia um palitinho desfiado, fosse antes ou depois do almoço: - Mulher, tô parando. O bicho ta pegando!

O cara gostava tanto de greve e passeata, mas tanto, que um dia ao chegar a duas quadras da empresa, deu de cara com trabalhadores empunhando faixas onde se liam em letras vermelhas, duas palavrinhas que o deixaram em verdadeiro êxtase: GREVE GERAL.

Zás. Dito foi logo se intrometendo no meio da galera a gritar, pedindo revisão no plano de cargos e salários, redução da jornada, aumento do vale refeição, tudo o que achava ter direito.

Foi quando passou um colega e ao vê-lo naquela animação, perguntou:

- Uai, Dito. O que é que tu ta fazendo aí homem? Pirou?

- Ora, pois. To de greve, num ta vendo?

- Ah, é? E desde quando ocê é motorista de ônibus?