GOVERNOS SEM ENGAJAMENTO
Por Marcelo Diniz | 28/07/2015 | PolíticaGOVERNOS SEM ENGAJAMENTO
Por Marcelo C. P. Diniz*
A organização relevante caracteriza-se por criar um sentimento de pertença entre ela e a sociedade. Este sentimento surge mais facilmente quando a sociedade é protagonista da ação liderada pela organização, ultrapassando o ciclo assistencialista ou o aspecto paternalista. É o chamado “empreendedorismo político”.
(Cf. Lindolfo Paoliello, consultor em Comunicação Empresarial e presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas)
Desde o Império, nossa população não foi habituada a tomar decisões. Negros e índios escravizados não tinham o direito de se manifestar e os de melhor posição social dependiam do rei, que lhes dava benesses em troca de apoio. Junte-se a esta inércia a tradição Cristã: existe um Pai que tudo vê, premia e castiga. A reza absolve e a fé dá esperança de proteção e melhores dias.
Ao longo dos séculos, o brasileiro acreditou, mesmo que subjetivamente, que o Governo era um Pai.
__ Eu pago meus impostos, isso é problema do Governo.
A postura é clara quando confrontada por um alemão que morava em Ipanema, no Rio de Janeiro. Certo dia estourou um cano da CEDAE na quadra dele. E ficou dias jorrando água, aguardando a boa vontade da empresa pública.
__ Se fosse na Alemanha a gente tinha reunido os vizinhos e feito o conserto.
Essa é a grande diferença. Existem bons exemplos de quem trabalha voluntariamente, comunitariamente, existem até cooperativas com esta finalidade. Mas quantos exemplos você conhece? Num país com mais de 200 milhões de habitantes, quantos exemplos significativos a TV consegue identificar e mostrar?
O Brasil não é uma pátria educadora, nem um país sem miséria, nem um país com saúde, coisa nenhuma. O Brasil é um país de carências, algumas muito sérias. E o povo se limita a pagar tributos, nem o informal se livra dos impostos sobre o consumo. Depois fica de boca aberta, esperando o Governo resolver uma infinidade tão grande de problemas que não é pessimismo dizer que eles jamais serão resolvidos.
De vez em quando tem um protesto maior: Diretas Já, Fora Collor, estão ensaiando um novo, mais articulado, contra a Dilma, o PT e a corrupção. Mas aqueles protestos de julho de 2013, que começaram com os R$0,30 da passagem de ônibus, traziam tantas reivindicações diferentes que alguns personagens de bom humor tascaram lá uma faixa; “Abaixo o sutiã com enchimento”. Havia outros conteúdos.
Vamos reparar que nenhuma daquelas manifestações tinha a consciência coletiva de que os protestantes podiam resolver boa parte do que estavam pedindo. Mas não: eles queriam substituir um Pai por outro. Ou por muitos, no caso do Legislativo. Abaixo toda a “santidade”, mas vamos eleger outros e permanecer no conforto das nossas residências, aguardando as soluções.
Enquanto isso, os governantes de todas as esferas arrecadam 5 meses do nosso trabalho por ano, a corrupção e a incompetência andam soltas, a máquina pública está inchada e a propaganda é dirigida, em boa parte, para que eles falem bem de si mesmos.
Engraçado que os seus assessores não falem em experiência de marca, como faz o SESI e sua Ação Global, que ninguém fale em plataformas de voluntariado montadas a partir da internet, como fez Obama em sua primeira eleição: a internet lhe deu pontos de apoio e adesão em centenas de cidades, onde seus eleitores multiplicaram suas mensagens e, fisicamente, promoveram eventos, recolheram doações. Com raras exceções, também não vejo os comunicadores de rádio, contratados pelos governos, motivando seus ouvintes para ações locais. Sem falar no poder da televisão, que pode manter o sucesso do Criança Esperança há décadas.
Se o povo e as empresas estiverem bem direcionados pela comunicação, muitas realizações de valor serão realizadas, nas pequenas comunidades, nas cidades, nos estados, no país. Por exemplo, com a efetiva participação popular não seria tão difícil assim reduzir consideravelmente o lixo que as empresas, as prefeituras e o povo joga nos rios brasileiros e nas suas margens. Um mutirão pela água. Onde está a campanha? Propaganda, mídias digitais, ativação, onde estão?
Os Governos precisam se convencer que é preciso criar engajamento, que os cidadãos devem se sentir protagonistas do que pode ser feito em conjunto, no seu próprio benefício e do próximo. Os Governos precisam entender que é preciso agir com empreendedorismo político, que não podem continuar fazendo apenas comunicação “emissor - mensagem” e esperar que o receptor acredite.
*Marcelo C. P. Diniz é publicitário e escritor. Tem site em www.conscius.com.br