Governo e desgovernos

Por josé maria couto moreira | 06/11/2015 | Política

Governo e desgovernos 

                                               José Maria Couto Moreira* 

         O Brasil, sem que muitos o queiram admitir, está se tornando o país dos abusos, por isso do desgoverno. O cidadão, que está longe de ser aquele ente de respeito inserido na Constituição, e nela constante como de resgate a direitos pessoais intransigíveis, está cada vez mais oprimido. Quando não é o governo o agente opressor, são as elites que o garroteiam.

         Exemplo ilustrativo desta denúncia são os lucros exorbitantes e ilegítimos dos banqueiros, os tiranos modernos, que estão mais para uma horda de loucos do que para administradores responsáveis. Ou julgam-se acima do bem e do mal ?Nesses se pode investir em seu futuro, pois é a única categoria que não resvala, sequer, para o risco, embora seja o risco um elemento presente em toda atividade negocial. Nunca perdem, na crise ou na fartura navegam eles em franca calmaria, pois sabem como e onde atracar. As entidades oficiais de crédito lhes dão régua e compasso, com balanços mensais de resultados também estratosféricos. Quem estiver hesitante em aplicações, façam-nas nos bancos, onde, como se disse, não há riscos, só presentes em países conturbados, quer-se dizer, quando o Estado não os podem garantir.

         Está assim no Brasil. Os bancos (e seus satélites, isto é, aqueles que repassam o crédito), não se envergonham em anunciar ou declarar que a taxa de juros anual para este ou aquele serviço é de 400% !!! Aí está o desastre. Ora, se o governo, de um lado, tanto se esforçapara não nos surpreender com inflação anual superior a 10%, como confiar na sinceridade deste governo, se os juros alcançam níveis sobre-humanos estimulados pelo próprio governo? E porque o governo taxa os serviços bancários oficiais em patamares insuportáveis ? Decididamente, este procedimento não é republicano, não é leal ao brasileiro, não condiz com nosso esforço desenvolvimentista, provado que o crédito carodesampara os agentes promotores do crescimento, antes o retraem. Os EUA, sempre copiados por nós, possuem uma rede bancária múltipla, e lá atuam centenas de bancos, promotores de uma economia pujante, operando com taxas justas.

         Fossem outros os tempos, o anúncio de juros escorchantes tipificava usura, crime contra a economia popular, e o autor era tratado nos estreitos limites da lei penal. Hoje não. A agência menos cruelse exalta quando mostra uma taxa inferior a 10% de seu competidor !

         Em síntese: governo e banqueiros, os únicos donos do país, em nome do povo dão-se as mãos ! E nós, assistentes desta tragédia surreal, a tudo observamos, sem protestos, senão estas brincadeiras de rua que, eventualmente, também dela participamos, antegozo do carnaval. Esta cena de liberdade trivial para os banqueiros, que dormem felizes, sem atropelos, completa o escárnio que o país e o governo apresentam à nação. O povo é o destinatário deste desatino, e coletivamente, paga a conta que o governo (ou o desgoverno) lhe apresenta.

         Não é este o Brasil que queremos.Livrêmo-nosda tirania bancária.

 * Advogado

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