Gordon - o besouro rola-bosta - quinta parte

Por Vicente Ivo | 13/02/2012 | Contos

QUINTA PARTE

 

Voando

 

O céu estava claro, nuvens pairavam soltas carregadas para o sul por uma corrente de vento. Em grandes alturas, entrando e saindo de dentro das nuvens em círculos concêntricos grandes aves negras como à noite bailavam no ar. Ao longe se ouvia o cantar de aves. Mosquitos zumbiam insistentemente. Grandes pernilongos com suas longas pernas se equilibravam pousados nos capins. No vespeiro a agitação era grande, pois um grupo de vespas se reunia para sair. Alguns deles seguiriam com Gardenio e Bombar, acompanhariam os quatro até a metade do caminho.

Já passava da metade da tarde quando o grupo alçou voo. Desta vez, Gordon e Antenor iriam voando. Cerca de uns trinta zangões foram na frente, enquanto os outros voavam junto dos quatros amigos.

Gordon e Antenor estavam impressionados com o mundo que se abria aos seus olhos pela primeira vez. Passaram a uma altura de uns dois metros de uma grande cobra que deslizava seu corpo entre os capinzais.

 O grupo voava em linha reta, direto para o sul. Após terem passado pelo tronco não viram mais nada, a não ser água e capim.  Em certo ponto, o capim crescera tão junto que para ver o solo só era possível quando o vento abria caminho, fazendo pequenos buracos. O sol, no horizonte, estava começando a descer lentamente deixando o céu avermelhado, nuvens formam um conjunto de figuras estranhas iluminada pela luz do sol.

Já passava das oito horas da noite, estrelas brilhavam como um grande pisca-pisca quando resolveram dar uma parada. Ao longe, o grupo viu uma grande árvore com dois longos galhos grossos em forma de braços abertos com galhas nodosas sem nenhuma folhagem, no topo um grande buraco em forma de boca que se abria em um grito de desespero - uma imagem de uma figura solitária e espectral no meio do nada. Para os viajantes um refugio naquela vastidão. Cada um foi entrado e se acomodando, de tão cansados deitaram e dormiram.

Logo cedinho, com os primeiro raios, um a um começou a sair e pousar nas galhas. Por um bom tempo ficaram olhando aquela vastidão de mundo. Em quanto, Gordo e Gardenio planejavam a viagem, os outros ficaram a espera. Quando iam se preparando para ir embora, ouviram gritos alucinantes, pancadas fortes de grandes animais no lamaçal, logo à frente, viram uma grande serpente esmagando todo capinzal por onde girava e no meio de vários anéis esmagadores um jacaré, também muito grande, lutando desesperadamente para se livrar dos anéis. Alguns minutos depois, nenhum movimento do jacaré fora visto. A serpente tinha vencido a contenda e, agora, se deliciava com seu premio. Abrindo sua enorme boca começou a engolir, sem mastigar, o jacaré aos poucos. No topo da árvore todos viram o animal a cada minuto sumir dentro da cobra e, logo depois, a serpente sair se arrastando e sumir dentro do matagal. Um olhava para o outro em silêncio, nada foi dito. Um a um mergulhou no ar e seguiram em direção ao sul.

 Alguns anos depois, Gordon e Antenor voltariam a comentar sobre o que tinham visto.

Ao final da manhã, ou longe, se viu um grande paredão de árvores que se estendia por grandes extensões de leste ao oeste. Era uma floresta velha, antiga como o tempo. Muitas das árvores possuíam grandes troncos grossos com raízes que saltavam do solo como grandes rolos nodosos. A floresta parecia ser um lugar úmido, abafado. Os raios solares penetravam com dificuldade pelas folhagens criando um jogo de luzes. Ao final da floresta, a léguas de distância, no final da floresta, começava as dunas que ficava a leste e se estendiam por léguas e mais léguas de terras formando um grande deserto de areia.

Antenor virou para Gardenio e disse.

___ Uma coisa me deixa confuso. O louva-a-deus nos disse que depois do cajueiro era só virá para o norte e segui em frente que chegaríamos ao Campo das Flores. No entanto, desde que encontramos vocês estamos andando muito. Até floreta encontramos. Floresta que não foi mencionada em momento algum pelo louva-a-deus.

___ Vocês encontraram o louva-a-deus, aquele trapaceiro. Ele é um grande mentiroso não conhece lugar nenhum. Vive mentindo e ensinando tudo errado. Eu conheço muitos lugares e lhe digo: estou levando vocês para o lugar certo. E para chegar ao Campo das Flores teremos que atravessar está floresta.

No inicio da tarde tinham atravessado todo o pântano sem problema. Quando chegaram as portas da floresta puderam vê-la melhor.

Ao redor de algumas árvores, formigueiros em forma de grandes cones, enchiam a terra. De dentro dos formigueiros saiam e entravam grandes formigas negras como a noite em grades filas indiana.

Antes de seguir caminho o grupo pousou em uma árvore de porte médio. No topo de um galho, Bombar, viu um amigo, uma formiga preta, com a cabeça larga, pernas longas, dois pares de antenas em eterno movimento. Ela era um dos guardas do formigueiro – soldado -.

__ Beoriano! Beoriano! __ Gritou Bombar.

Na entrada do formigueiro Beoriano vigiava a entrada do formigueiro. Ao ouvir seu nome levantou à cabeça e viu Bombar.  Acenou. Desceu devagar atravessando uma touceira e parou em baixo da planta.

__ Como vai meu amigo! Faz tempo que não o vejo!

__ Sim, já faz muito tempo!

__ Estais indo para onde?

__ Para o Campo das Flores. E este é o único caminho que conheço. E pelo que sei o mais seguro.

__ Sim, mas tenho que discordar de você meu amigo. Este caminho já foi seguro.  No entanto, desde a chagada das Gondonores – as aranhas caçadoras – deixou de ser. Elas transformaram a região na Cidade das Aranhas, e, para passar no território dela é quase impossível. Eu os aconselho a retornarem, o caminho para o Campo das Flores não é mais seguro.

Gordon escutava tudo com atenção. Pensa: “Não vou desistir, não cheguei até aqui para voltar. Vou seguir. Mesmo que estas Gondonores cubram a mata com suas teias. Vou rasgar uma por uma.” __ Sem perceber falou alto. __ Não retornarei, irei nem que isso custe a minha vida. Ninguém irá me impedir. Com aranha ou sem aranha eu vou em frente.

Todos ficaram surpresos com a reação de Gordon. Antenor baixou a cabeça.

Nada mais foi dito, Beoriano e Bombar se sentaram em uma pedra e foram conversar. Gordon e Antenor encostaram-se a uma pedra sem falar nada. Enquanto isso, Gardenio manda a escolta de volta.

Nos formigueiros, as formigas pararam e olharam para o céu. Grandes nuvens escuras estavam chegando carregadas pelo vento. Neste momento, uma agitação enorme começou, muitas formigas vinham rapidamente em filas indianas de vários pontos de dentro dos matos, algumas carregando grandes pedaços de folhas, caules entre outras coisas. Corriam para fugir da chuva que no horizonte já deixava seus pingos caírem na terra.

Já passava da metade da tarde quando uma chuva forte começou a cair. Grandes pingos caiam ao solo jogando a areia em grandes altitudes. Beoriano os levou para um buraco em uma árvore seca, distante do solo para se protegerem da chuva.  Gordon se encostou a parede interna da árvore e ficou pensativo. Uma grande indecisão começou a tomar conta de seu ser. Pensa se valia a pena levar seus amigos para uma aventura louca.  

A tarde já estava chegando ao fim quando a chuva parou.

Todos saíram e quando iam se despedir de Beoriano ele os olhou e disse que iria com também.

Quando o sol começou a aparecer o grupo seguiu caminho, pelo menos, até o manto da noite cair. Lá fora alguns pingos finos caiam das folhagens com o balançar do vento. Os viajantes, agora, com mais um membro, alçaram voo. Por um bom tempo voaram baixo, quase rente ao chão.  Desviavam e contornavam pedras, troncos ocos, raízes, entre outros obstáculos que encontravam no caminho. Voaram a tarde toda.

Quando o manto da noite começou a ser descoberto no horizonte o grupo chegou a um grande paredão vermelho com algumas gramíneas dependuradas. No meio do paredão mergulhado seguro por um emaranhado de raízes entrelaçadas um tronco oco forma um tipo de cornetas.

Quando Gordo posou, Gardenio se jogou no chão e começou a beijar o solo. Gordon e os outros começaram a ri.

___ Ficou louco Beoriano?  __ Perguntou Antenor.

___ Não! É que eu adoro terra firme. Se eu fosse feito para voar tinha nascido uma borboleta.

___ Ouviu isso Gardenio?

___ Sim ouvi, como ele disse: “... se... fosse feito para voar tinha nascido uma borboleta.” E, só entre nós, seria uma borboleta muito feia, pra começo de história.

___ Tá certo seus gaiatos, zombem da pobre formiga. Eu queria que fossem vocês, só assim, vocês veriam o que é ser formiga.

___ Tudo bem meu amigo, só estamos brincando.

___ Vamos à noite já está chegando e não conseguiremos continuar nesta escuridão. Procuremos um abrigo para passarmos esta noite. ___ Disse Gordon sorrindo.

___ Aquele tronco parecer ser um bom lugar. ___ Disse Antenor.

__ Certo! __ Disse Antenor.

 

Gordon resolveu dar uma olhada em quanto dos outros esperam lá embaixo. Ao chegar quase na entrada notou que muitas centopeias se amontoavam lá dentro. Lá no alto viu, a uma distância de um metro em um ponto íngreme no barranco, uma grande árvore dependurada que formava um grande arco com seu tronco. No meio do tronco um buraco se abria em forma de boca. Parecia um lugar bom para passar a noite.

 

Beoriano não quis voar  com Gordon preferiu subir pelo barraco. Gordon e os outros subiram voando e chegaram rápido. Enquanto isso, Beoriano vinha subindo vagarosamente olhava para todos os lados. Ao entrar viu que seus amigos já se aconchegavam no canto da parede.

À noite chegou com seu manto negro. Lá fora as criaturas noturnas saiam de suas tocas para caçar. Morcegos gritavam no ar. Alguns animais cheiravam o chão em busca de presas. Nas árvores, insetos: aranhas, centopéias, besouros caçadores, entre outros que caçam a noite estavam caminhando por entre as folhas secas depositadas no solo.

O lugar parecia seguro, no entanto, para má sorte deles, aquela toca – buraco – era a casa de um aracnídeo, caçador implacável.

Continua.......................