Gordon - o besouro rola-bosta -continuação

Por Vicente Ivo | 31/01/2012 | Contos

QUARTA PARTE

 

Encontros

 

 

 

Já passava da metade da manhã, cansados de tanto dar volta resolveram parar para poder ver se conseguiam encontrar um caminho.  Gordon sentou em uma pedra, em quanto, Antenor ficou de pé. Seus olhos percorriam o mato fechado sem esperança. Quando ia senta-se ao lado de Gordon viu uma árvore com tronco grosso com muitos galhos ressecados e entrelaçados, no meio dos galhos balançando ao sabor do vento um grande vespeiro, parecia estar vazio, mas um grande zumbido começou a ecoar no ar.

O som vinha do meio do matagal, rapidamente, Antenor viu a sua direita, a uns dez metros, um grande enxame de vespa chegando. Gordon estava distraído que não percebeu a chegado do exame. Mas, Antenor o puxou para uma moita de capim que forma um túnel. Escondidos viram as vespas entrarem com exceção de duas vespas que pousaram em um galho mais em cima e ficaram olhando para onde, Antenor e Gordon estavam escondidos. Uma dela alçou voo e pousou em frente do esconderijo.

__ Vocês dois ai dentro saiam agora mesmo.

Quando Gordon e Antenor saíram, para a surpresa deles, a vespa que estava lá parada era Gardênio um amigo. Eles o conheceram quando trabalhavam no campo. 

__ Gardênio é você! __ Disse Gordon todo contente.

 Antenor olhou para seu amigo e deu um grande sorriso e disse:

__ Quem bom encontrar um amigo neste fim de mundo.

__ O que vocês estão fazendo por aqui?

__ Para começo, estamos perdidos. __ Disse Antenor. __ Em segundo, estamos querendo ir para o Campo das Flores.

__ É vocês estão perdidos mesmo. Vamos sentar e me contem tudo desde o inicio.

Eles sentaram em uma pedra e Gordon começou a narrar toda a história, desde quando tinham saído da Bisouratec. Gardênio escutava a narrativa em silêncio.  Algum tempo depois, Gardênio olhou para os seus amigos e com um ar preocupante falou calmo e compassadamente.

___ Meus amigos, o que vocês estão fazendo é uma loucura, no entanto, não serei eu que os vai impedi-los. Eu conheço toda esta região. Moro aqui e voo para todos os lugares. E posso ajudá-los. Entretanto, antes de disso vou apenas dizer algumas coisinhas.  O caminho é muito perigoso.

__ Já me disseram isso várias vezes, mas estou decidido a ir, com perigo ou sem perigo. Passei uma boa parte de minha vida preso naquele campo. Chega! Tenho que mudar meu destino. __ Disse Gordon.

__ Mudar?! Podemos mudar nosso destino em nosso mudo sem precisar de aventuras. Somos donos dele. Senhores de nossas escolhas. Não importa onde estamos, seremos diferentes quando quisermos ser diferente. Veja! Eu sou um soldado, vivo para cima e para baixa, caçando e defendendo o vespeiro, enfrentei inimigos diversos. Se me perguntar se gosto, posso te dizer que sim! Um dia, um grande vespão, me disse. Meu garoto, onde você estiver seja diferente. Não importa qual serviço lhe for dado, mas o faça com perfeição única. Seja diferente, original. Seja o mais perfeito que puder ser. Seja o melhor, sem precisar passar por cima dos outros. Seja um artista no que faz. __ Disse Gardenio.

__ Muito bonitas as palavras. Mas, em que posso ser diferente? Sou apenas um pequeno besouro que rola uma bola de bosta de um lado para o outro. Só faço isso e nada mais.

__ Tudo bem. Pelo que notei você não vai desistir. Então, deixemos estás discursos para depois. Vocês, pelo que me contaram estavam perdidos e presos neste lugar. Só uma coisa que não consegui entender.  Por qual motivo não voaram e saíram daqui?

__ Como assim? Nunca voamos em nossas vidas. Pelo menos na Bisouratec, nenhum dos besouros sabe voar. Nosso campo fica colado a Bisouratec nunca precisamos voar, acho que foi por isso que eu, como também os outros nunca atinamos para isso.

 __ Ei Bombar, você está ouvindo isso? Besouros que não sabem voar.

__ Então era esse o motivo. Eu sempre achava meio estranho, quando ia ao campo e não via nenhum dos besouros voando. Todos sempre iam de um lado para o outro andando. __ Disse Bombar. 

__ Sim, sempre tivermos estas asas, mas a distância entre o campo e as nossas casas é mínima, e, além do mais, comida farta, ou seja, nunca precisamos procura em outros lugares, penso eu que isso é o que criou essa não preocupação em voar. Um comodismo meio inocente. __ Disse Antenor.

__ Tudo bem, meu amigo, mas agora vocês dois precisam apreender a voar, pois, para ir, para onde vocês querem ir, terão que utilizarem outros meio de locomoção. Sendo assim, teremos que ver como vocês dois se comportam em voo.

Bombar e Gardenio cruzaram os braços e ficaram a olhar para os dois besouros que esticavam as asas. ”Incrível, besouros que não sabiam voar.” Pesavam os dois zangões.

Gordon tomou fôlego, deu um passo a frente, esticou toda a sua asa e começou a movimentá-la. Em poucos segundo começou a sair do solo, meio desajeitado, mas conseguiu subir um pouco, mas seu pouso foi um desastre.

Logo após, foi à vez de Antenor, ele fez a mesma coisa, sendo que se manteve mais tempo no ar e seu poso foi mais tranquilo. Tentou outra vez e alcançou uma altura maior, conseguiu ficar por cima do matagal. Lá em cima o vento batia em seu rosto e ele sentia uma sensação que nunca tinha sentido em sua vida de besouro. Sentiu-se, neste momento, livre. Sabia que era capaz de ir a onde bem quisesse, sem limites para nada. Lá de cima gritava para Gordon subir. Gordon tomou coragem e deu mais um impulso e subiu, agora com mais graciosidade. Chegou perto de Antenor e ficou deslumbrado com o bater do vento, do mundo que descobria. O capinzal balançava ao sabor do vento. As galhas das árvores deixavam suas folhas caírem ao solo. Do alto viu, ao longe, em uma pequena lagoa plantas aquática com folhas largas em forma de um grande tapete.

Virando para o sul da lagoa, grandes árvores imponentes ostentavam uma arrogância única com seus grossos troncos e longas raízes que submersas se estendiam por distâncias. Senhoras do mundo. Com seus longos galhas que formavam copas exuberantes balançando ao sabor do vento. Ao norte, grandes capinzais formavam uma longa colcha verde de tão junto que tinham crescido. De dentro dos capinzais grandes aves batiam asas em voos repentino. O pântano visto de cima era diferente do pântano visto do solo com suas figuras tétricas.

Ao descerem, os zangões indagaram.

__ E ai senhores, virão um mundo diferente.           

__ O mundo é uma graça, quando olhamos de baixo, só vemos sombras e lama, mas de cima tudo é luz. __ Disse Gordon com um brilho mágico em seus olhos.

Gardenio olhava a alegria de seus amigos com grande admiração, pois, em toda a sua vida de inseto, nunca tinha visto uma satisfação de liberdade como o que se viu nos olhos de Gordon.

__ Meus amigos! __ Chamou Bombar, com um sorriso e todos olharam para ele. Menos Gordon que ainda fita o céu com admiração.

__ Gardenio e eu resolvemos, em quanto vocês voavam, acompanhá-los até o Campo das Flores. Vamos, alcemos voo para o grande mundo a ser descoberto, tão desejado por nosso aventureiro Gordon.

Continua........................