Gols (e não-gols) bizarros

Por Laércio Becker | 17/01/2011 | Sociedade

            Por: Laércio Becker, de Curitiba-PR 

Final da Copa do Egito, 06.09.2011. Kima Aswan 0x4 Al Ahly. Deu-se que o jogador Amir Saioud, do Al Ahly, conseguiu a proeza de tropeçar na hora de cobrar um pênalti. Um vexame... E ainda ganhou um cartão amarelo, como prêmio pela paradinha frustrada. Se existe o “futebol arte”, existe também o “futebol pastelão”...

Falaremos a seguir sobre outros gols e não-gols como esse, ou seja, um tanto... extravagantes.

O pênalti cobrado de calcanhar

Em 04.10.1925, no campo do 25º Batalhão de Caçadores, de Teresina, o América FC aplicou uma goleada de 9x0 no Paysandu. O jogo foi tão fácil que um dos gols de Soeiro foi marcado de calcanhar, num pênalti cobrado de costas para o gol. Quanta humilhação! Mesmo assim, a atitude não foi considerada antidesportiva: o árbitro Adão Vieira de Carvalho validou o raríssimo gol.

Recentemente, a raridade se repetiu em 17.07.2011. No jogo Emirados Árabes Unidos 6x2 Líbano, o último gol foi um pênalti batido de calcanhar, por Awana Diab. Correu normalmente para a bola mas, na hora de chutar, virou-se e batou de calcanhar. Pego desprevenido, o goleiro deixou passar. Claro que os libaneses não gostaram, nem seu técnico, Srecko Katanec, que o repreendeu. Para completar, o jogador ainda foi premiado com um cartão amarelo.

 

Fonte:

FILHO, Severino. Piauí: 100 anos de futebol. Teresina: ed. do autor, 2005. p. 39.

 

 

O pênalti do presidente

“O pênalti é tão importante que devia ser batido pelo presidente do clube”. Essa famosa frase é atribuída, por uns, a Neném Prancha; por outros, a João Saldanha.

Sandro Moreyra conta um “causo” que nunca se saberá se é lenda ou não. No aniversário da cidade de Jequié, na Bahia, o presidente do Jequié, riquíssimo coronel da região, convidou o Galícia, da capital, para um amistoso. Quando o clube local vencia por 1x0, o árbitro marcou um pênalti que aumentaria o placar favorável.

O coronel não pensa duas vezes: invade o campo gritando “quem bate sou eu”! O árbitro explica que a regra não permite, os próprios jogadores tentam demovê-lo desse capricho quando ele alerta: “ou bato eu, ou ninguém recebe as cotas”. O argumento funcionou e ele bateu. Para fora.

 

Fonte:

MOREYRA, Sandro. Histórias de Sandro Moreyra. Rio de Janeiro: JB, 1985. p. 76.

O pênalti contra

Em 1923, em Limoeiro (PE), durante a partida entre Centro Limoeirense e Treze FC, de Campina Grande (PB), o juiz marca pênalti contra o time da casa. O presidente do Centro vai reclamar ao chefe político local, o coronel Chico Eráclito. A revista Placar reproduz o curioso diálogo:

- Deram pênalti, coroné, e agora?

- Pênalti? Que diabo é isso?

- É bola na marca e dentro do gol.

- Então põe a bichinha na marca deles e manda um dos nossos chutar.

Pois bem, apesar de o pênalti ter sido marcado contra o Centro, um jogador limoeirense chutou e deu a vitória ao time local: 1x0. Como uma coisa dessas foi validada? Fácil: quem vai discutir com o coroné?...

 

Fonte:

PLACAR, nº 1127-A, maio 1997, p. 59.

 

Gols de nuca

Campeonato Brasileiro de 1989, no estádio Pinheirão, Atlético Paranaense e Vitória. Ao repor a bola em jogo, o goleiro Róbinson, do time baiano, acertou-a na nuca do atacante atleticano Manguinha, que marcou sem querer na vitória de 3x0.

Noutro Brasileirão, em 06.04.2003, o Bahia perdia para o Flamengo por 1x0, em Salvador. Aos 28 do segundo tempo, o goleiro Júlio César quis repor rapidamente a bola em jogo, só que ela acertou a nuca do volante Fabinho e, caprichosamente, caiu dentro do gol. Gol contra e de nuca.

 

Fonte:

EMEDÊ. Loucuras do futebol. 3ª imp. São Paulo: Panda, 2005. p. 69.

Gols contra de goleiros

“Autogolo”, no português de Portugal, é o nosso tradicional “gol contra”. Não confundir com “autobol”, uma espécie de futebol jogado com carros e uma bola grande, cuja primeira partida foi disputada no Estádio Luso-Brasileiro (ver nosso artigo “A Portuguesa carioca e o Estádio Luso-Brasileiro”), em 1970. No Brasil, bem que “autogol” podia ser o nome do gol contra de goleiro. Porque, a rigor, frango é que não é. Afinal, segundo os dicionários de futebol (Feijó, Barros, Leonam, Maranhão e Lima), o frango é basicamente uma defesa fácil que falhou. Ou seja, é quando a bola poderia ter sido facilmente defendida. Daí que o frango pressupõe um movimento de defesa. Já nos gols que trataremos neste capítulo, o goleiro não estava praticando nenhuma defesa. É 100% sua a responsabilidade pelo gol marcado. Um “autogol”, por assim dizer. Seja o nome que tiver, os mais famosos são os seguintes.

O primeiro que encontrei foi marcado pelo goleiro paulista Waldemar, revelado pelo São Paulo. Em 10.08.1958, atuando pelo Náutico, numa partida contra o América de Recife (que terminou empatada em 1x1), Waldemar foi fazer aquele tradicional giro de corpo para devolver a bola com a mão, quando perdeu o controle da bola, que caprichosamente caiu dentro da própria meta.

A história se repetiu em 16.03.1969 (o livro de Luiz Fernando Bindi diz que foi em 1964, contrariando os livros do próprio Valdir e do Carlos Molinari, que apontam 1969), no Maracanã, num Vasco x Bangu. Após fazer uma defesa, o goleiro vascaíno Valdir, ao girar o corpo para repor a bola em jogo, perdeu o equilíbrio e, graças ao impulso, ela acabou entrando na própria meta. Abalado pelo ocorrido, o craque foi consolado inclusive pelos jogadores banguenses. O lance é contado em detalhes no excelente livro “Na boca do gol”, escrito por Valdir. Nos livros de Molinari e Bindi, consta que ele teria dito o seguinte, à imprensa: “Vocês podem registrar o gol, porque nunca mais vai haver outro igual. Sinceramente, quando olhei a bola dentro do gol, não acreditei que tinha feito aquilo. Para mim aquele gol não existiu, mas infelizmente tenho que ser realista. Não tive nem coragem para ir buscar a bola; cada vez que olhava para dentro do gol, parecia que estava tendo um pesadelo”.

Bem, se realmente disse isso, Valdir errou na previsão. 1987, Grenal pela Copa União. Taffarel, após fazer uma defesa fácil para o colorado, quis repor a bola em jogo com tanta pressa que se atrapalhou e jogou-a nas próprias redes (cf. Emedê). Placar final, Grêmio 1x0.

Falando em gaúchos, tem esta outra história, contada por Jaime Codinotti a Lino Ceretta: o Guarany de Cruz Alta tinha um goleiro chamado João do Prado, que usava um boné durante os jogos. Certa vez, após uma grande defesa, o acessório caiu dentro do gol. Com a bola ainda nas mãos, foi pegar o boné e, assim, acabou marcando gol contra, é claro.

Também do Rio Grande do Sul é esta lenda contada por Sandro Moreyra e Luiz Mendes: Sacuri x Planaltino, no interior do estado. Pênalti para o Sacuri. Foi bater Zé do Efeito, cujo nome diz tudo, seus chutes eram indefensáveis. Bateu. E, para estupefação geral, o goleiro Berimbau defendeu. Quando o árbitro manda que Berimbau reponha a bola em jogo, o goleiro deu aquela tradicional quicada com a bola no chão. Pra quê! Provavelmente graças a um morrinho artilheiro, a bola pegou um efeito e pulou para dentro do gol. Mas é claro que o mérito foi atribuído a Zé do Efeito – e aí está a lenda.

Luiz Mendes, porém, diz que um lance semelhante aconteceu de verdade, num campeonato brasileiro. Atlético Paranaense e Goiás, em Curitiba, empataram em 1x1 e, pelo regulamento, teriam que disputar pênaltis. Na quinta cobrança do Atlético, por Oliveira, o goleiro Eduardo defendeu parcialmente. Mas a bola, ao quicar no chão, tomou efeito e entrou no gol.

O goleiro Dany Verlinden, do Brugge, conseguiu uma façanha mais bizarra ainda: um gol contra de bicicleta, em favor do Beveren. “Ainda busco resposta para o que ocorreu. Só sei que nunca fiz um gol tão fantástico” (cf. Bindi).

 

Fontes:

APPEL, Valdir. Na boca do gol. Itajaí: S&T, 2006. p. 17-27.

ARAGÃO, Lenivaldo. O goleiro do gol contra. Diário de Pernambuco, 10.08.2009. Coleção “Paixão Traduzida em Cores”, fascículo 20, p. 8.

BARROS, Geraldo Monteiro de. Dicionário ilustrado do futebol. São Paulo: Placar, 1980. p. 70.

BINDI, Luiz Fernando. Futebol é uma caixinha de surpresas. São Paulo: Panda, 2007. p. 71, 74.

CERETTA, Lino. Esporte Clube Guarany: uma história de 94 anos. Cruz Alta: ed. do autor, 2007. p. 132.

EMEDÊ. Loucuras do futebol. 3ª imp. São Paulo: Panda, 2005. p. 67.

FEIJÓ, Luiz Cesar Saraiva. Futebol falado. Rio de Janeiro: ed. do autor, 2010. p. 140, 272.

LIMA, Carlos Alberto de. Novo dicionário de futebol. Rio de Janeiro: ed. do autor, 2006. p. 61.

MARANHÃO, Haroldo. Dicionário de futebol. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 125.

MENDES, Luiz. 7 mil horas de futebol. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999. p. 32-3.

MOLINARI, Carlos. Nós é que somos banguenses. Brasília: ed. do autor, s/d. p. 208.

MOREYRA, Sandro. Histórias de Sandro Moreyra. Rio de Janeiro: JB, 1985. p. 50-1.

PENNA, Leonam. Dicionário popular de futebol. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. p. 111.

TUBINO, Manoel José Gomes; TUBINO, Fábio Mazeron; GARRIDO, Fernando Antonio Cardoso. Dicionário enciclopédico Tubino do esporte. Rio de Janeiro: Senac, 2007. p. 253.

Gol 100% contra

Em geral, todo gol contra tem participação do time beneficiado. Mas há exceções, é claro, como os gols contra marcados por goleiros – ver “Gols contra de goleiros”, acima.

O Canto do Rio protagonizou um gol contra “puro”, em favor do Botafogo, em Niterói. Dado o apito inicial, o Cantusca deu a saída. Geraldino passou a Carango, que atrasou ao zagueiro Luciano, quando o goleiro Ricardo pediu a bola e se adiantou, para encurtar a distância. Quando Luciano chutou, o goleiro já não estava mais lá e a bola entrou. Em resumo: o Canto do Rio deu duas saídas em seguida, sem que o Botafogo tocasse a bola.

 

Fonte:

MENDES, Luiz. 7 mil horas de futebol. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999. p. 33-4.

A bicicleta ao contrário

Pense na jogada de bicicleta como uma cambalhota dada de costas para o gol. OK, não é uma cambalhota, mas o que importa é que o jogador, antes do lance, está de costas para a direção. Agora tente imaginar uma bicicleta com a “cambalhota” de frente para o gol: o jogador precisa acertar a bola com o calcanhar. (Mais ou menos como naquela inigualável defesa de Higuita, em Wembley, num jogo entre Inglaterra e Colômbia, conhecida como “defesa do escorpião”.)

Segundo Ivan Soter, quem inventou esse tipo de jogada foi o catarinense Manoel Pereira, conhecido pelo sugestivo apelido de Leônidas da Selva. Foi num jogo do América na Turquia. Quando a bola estava caindo na área, Leônidas tinha passado um pouco da jogada mas não pensou duas vezes: como que plantou uma bananeira e, com isso, alcançou a bola com o calcanhar e ela foi parar na rede.

Um gol de calcanhar feito de cabeça para baixo.

 

Fontes:

SOTER, Ivan. Quando a bola era redonda. Rio de Janeiro: Folha Seca, 2008. p. 96.

Deus ex machina

No antigo teatro grego existia um expediente cênico chamado deus ex machina, o deus descido da máquina. Funcionava assim: quando menos se esperava, pendurado em cordas, descia no palco o herói da peça, para corrigir um conflito insolúvel.

Pois bem, no final dos anos 50, início dos 60, o Ceará foi jogar contra o Arapoti, na cidade de mesmo nome. Antes de começar o jogo, William, do Ceará, avisou seu capitão Alexandre que o time local estava com um jogador a menos. Como não era problema deles, começaram o jogo assim mesmo.

Lá pelas tantas, escanteio para o time local. Quando a bola foi alçada na área, um rapaz com o uniforme do Arapoti saiu correndo do meio da torcida, entrou em campo e cabeceou para o gol.

O Ceará, evidentemente, protestou. O capitão do time local explicou: o pai do rapaz não queria que ele jogasse, então ele se escondia na torcida e só participava das cobranças de falta e de escanteio. Alexandre reclamou assim mesmo, que isso não era permitido, ao que ouviu o seguinte: “vocês não acharam bom quando a gente entrou em campo só com dez?”

Resultado: foi validado o gol do deus ex machina.

 

Fontes:

BERTHOLD, Margot. História mundial do teatro. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2004. p. 117.

DAMASCENO, Alberto. Futebol cearense: presepadas no mundo da bola. Fortaleza: ed. do autor, 2003. p. 141-2.

 

Gol de bengala

Nova Lima, estádio Castor Cifuentes, 30.09.1934, decisão do campeonato mineiro, entre Villa Nova e Atlético. Aos 24 do segundo tempo, Perácio marca para o Leão do Bonfim. Em meio à comemoração da torcida local, os jogadores do Galo cercam o árbitro e alegam que a bola tinha saído pela linha de fundo, mas que foi colocada para o fundo das redes pela ponta de uma bengala de um cidadão colocado junto ao gol. Só que o tal sujeito teria desaparecido...

Diante da confusão generalizada, o árbitro deu a partida por encerrada. Somente em 18.11.1934 é que foram disputados os 21 minutos finais da partida. O placar não se alterou e o Villa Nova sagrou-se campeão.

 

Fontes:

BARRETO, Plinio. Futebol no embalo da nostalgia. Belo Horizonte: Santa Edwiges, s/d. p. 87-92.

FREITAS, Wagner Augusto Álvares de. Villa Nova: 100 anos de glória em vermelho e branco. Belo Horizonte: ed. do autor, 2008. p. 331-8.

FREITAS, Wagner Augusto Álvares de; RODRIGUES, Rodrigo; RIBEIRO, Henrique. Almanaque do Leão do Bonfim. Belo Horizonte: ed. do autor, 2011. p. 68-70.

Gol de torcedor, ou apesar dele

Essa quem conta é Vicente Baroffaldi, fundador, mantenedor, treinador e jogador do XV de Novembro FC, time varzeano do bairro Carmo, Araraquara (SP). Em 02.03.1969, no campo do EC Quitandinha, durante um jogo contra o time dos Garçons.

Bem, várzea é várzea. Fato é que um torcedor resolveu assistir ao jogo num lugar, no mínimo, curioso. Simplesmente dentro do gol do XV, escorado na trave direita. Haja folga... Pois bem, no segundo tempo, em determinado ataque dos Garçons, a bola bate caprichosamente no pé desse torcedor. O juiz anotou o gol dos Garçons. O XV reclamou que a bola não tinha chegado a entrar totalmente no gol. Mas o próprio Baroffaldi hoje reconhece que ela teria entrado de qualquer jeito.

De qualquer modo, no dia, os quinzistas reclamaram tanto que conseguiram trocar o juiz. Viraram o jogo e venceram por 3x2.

 

Fonte:

BAROFFALDI, Vicente Henrique. O alviceleste do Carmo: histórias da várzea com pitadas de memórias grenás. Campinas: Pontes, 2011. p. 49-50.

 

Os dribles da terra e do gelo

Histórias famosas do irreverente atacante Dé, do Bangu.

A primeira foi na primeira fase da Taça Guanabara de 1970, numa vitória de 2x0 sobre o Vasco. Na cobrança de um escanteio (falta, cf. Molinari) a favor do Bangu, Dé pegou um punhado de terra e grama. Quando Aladim fez a cobrança, lançando a bola no meio da grande área, Dé jogou a terra e a grama nos olhos do goleiro argentino Andrada e chutou, marcando o gol, aos 44 do segundo tempo. Fair-play não estava no vocabulário do atacante. Como os vascaínos reclamaram, o juiz Guálter Portela Filho pediu para Dé mostrar suas mãos. Vendo que estavam limpas, validou o gol. Valdir Appel informa que Andrada correu atrás de Dé, que se trancou no vestiário do Maracanã, para não apanhar.

Dé realmente era terrível... Na goleada de 4x0 aplicada no Flamengo, em 25.04.1970, aos 14 do segundo tempo, com 2x0 no placar, Luís Alberto ia ser socorrido pelo massagista Pastinha, mas o juiz José Mário Vinhas não permitiu. Quando Pastinha saía, Dé foi atrás e pegou uma pedra de gelo grande para se refrescar. Foi então que o goleiro rubronegro, Sidnei, bateu um tiro de meta, rolando a bola para o zagueiro paraguaio Reyes. Dé atirou a pedra de gelo na bola, roubando-a para ele mesmo marcar um gol malandro, validado pelo juiz Vinhas. Com essa habilidade com gelo, Dé teria feito sucesso no time do Atlético Mineiro que foi jogou na neve européia e foi o “Campeão do Gelo”, em 1950.

 

Fontes:

APPEL, Valdir. Na boca do gol. Itajaí: S&T, 2006. p. 90.

EMEDÊ. Loucuras do futebol. 3ª imp. São Paulo: Panda, 2005. p. 66.

MOLINARI, op. cit., p. 211-2.

PLACAR Tira-Teima, nº 1, nov. 1997, p. 95.

 

O drible contra

É famoso o caso (lenda?) de quando Garrincha, depois de driblar três jogadores da defesa mais o goleiro, diante do gol vazio, esperou que um zagueiro retornasse para um último drible antes de entrar na meta com bola e tudo.

Mário Américo considerava Mariozinho, do Vasco, um driblador espetacular, talvez maior que Garrincha. Driblava até a sombra, mas tinha a mania estranha, um tanto sádica, de querer irritar a própria torcida cruzmaltina.

Certa vez, num jogo contra o Botafogo, que teimava em não sair do 0x0, a dez minutos do fim, Mariozinho driblou quatro jogadores mais o goleiro e ficou diante do gol vazio enquanto a torcida vascaína delirava, de pé, gritando gol. Só que... em vez de tocar para as redes, resolveu fazer o caminho de volta, driblando todo mundo de novo em direção ao centro do campo. É possível imaginar a humilhação dos adversários? E a irritação da torcida vascaína? Segundo Mário Américo, provavelmente nunca a mãe de um jogador foi tão unanimemente xingada quanto a de Mariozinho. O técnico Flávio Costa saiu atrás dele com um porrete e, é claro, o expulsou do Vasco.

 

Fontes:

BELLOS, Alex. Futebol: o Brasil em campo. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p. 91.

MATTEUCCI, Henrique. Memórias de Mário Américo. 2ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1986. p. 82-3.