GOLD IN THE AMAZONIAN DO GARIMPO DE OURO NA AMAZÔNIA PARA O APRENDIZADO DA EVOLUÇÃO

Por Alexandre Schorn | 13/12/2009 | Crônicas

 

 

GOLD IN THE AMAZONIAN

DO GARIMPO DE OURO NA AMAZÔNIA PARA O APRENDIZADO DA EVOLUÇÃO

 

Nos relatos que seguem quero compartilhar com meus irmãos de jornada algumas experiências que pessoalmente pude vivenciar e participar.

De 1989 a 1990 em minha cidade, como em grande parte do Brasil ocorreu à grande corrida do ouro ao Rio Madeira. Para lá foram milhares de jovens, pessoas de todos os tipos e raças. Alguns foragidos da justiça, outros em busca de aventura e fortuna; e outros ainda como eu que nem sabiam o que lá foram fazer.

Como a maioria dos jovens de minha época era um pouquinho arrogante, atrevido, achava que sabia tudo do mundo, mas na verdade eu era extremamente ingênuo, despreparado, sem um foco centrado de objetivo na vida. É claro que sempre tive meus dons, meu bom coração e bons amigos físicos e espirituais que praticamente quase nunca os escutava. Mas a espiritualidade é tão suprema e misericordiosa que fez de minha aventura desbravadora um ensinamento que me deixou cicatrizes físicas e ensinamentos de nobreza e humildade inquestionáveis. Lembro-me bem do que lá aprendi. Aprendi o trabalho físico (braçal) que enobrece o espírito e amansa os esnobes. Descobri que um homem vale pelo seu conhecimento, mas acima de tudo pela sua sabedoria. Lembro-me também, do desprazer das três malárias que tive de enfrentar e do doce casal que me acolheu nos momentos de enfermidade e desconforto (Carlos Alberto Leite “in memorian” e sua eterna companheira Tiana). Aprendi a respeitar as pessoas e ouvi-las. Descobri a dor que existe por de trás das mulheres que vivem na prostituição, mas compreendi também a importância social, o alento físico e maternal que as mesmas trazem aos corações selvagemente endurecidos. Mas a grande aventura da selva amazônica que transformou a minha vida foram os encontros e ensinamentos que o mundo espiritual me mostrou.

 

 

                                   O GRANDE ANJO AZUL

 

Era um dia como outro qualquer, estávamos ancorados com nossa draga que pertencia à companhia de extração do Senhor Urumi Santiago. Tudo transcorria normalmente até que nossa pequena draga “Aninha-Aniha” teve mais um de seus piripaques e degringolou geral. Era época das chuvas e estávamos no meio do Rio Madeira na famosa corredeira do Mutum. Com o rio cheio a lança de perfuração quebrada, o guincho da poita (âncora) também quebrado sobre um lençol d’água de apenas 80 metros de profundidade. Logo começou a subir a maré e nossa draga desceu à deriva até ancorar em algum banco de areia. Já que estávamos assim, suspendemos o trabalho. Fizemos um lanche e um dos colegas puxou a viola e num desafinado bater de cordas premiou nossos ouvidos com uma melodia do Maranhão. Depois nosso amigo Ceará, Marcos de Dourados e eu cantávamos algo parecido com música.

Nisto já passavam das 22 horas. O céu estava negro e escuro. Não se enxergava uma só estrela no céu. Essa escuridão era refletida nas águas do rio, formando-se uma noite do mais alto breu que foi iluminada com a chegada de uma voadeira (lancha de pequeno porte).

Mal ancorou e vimos que se tratava de um colega da mesma empresa que veio nos pedir ajuda, pois havia acontecido um pequeno acidente, onde uma das lanchas da empresa estava afundada e à deriva no rio, sustentada apenas pela ponta com uma espécie de bolsão de ar e isopor. De imediato, nos prontificamos a ajudá-lo. Embarcamos na lancha juntamente com um “brabo” (novato que não entende nada de garimpo) e nós éramos os “mansos” (garimpeiros experientes).

Logo a uns 4 km à frente avistamos o bico da lancha e fomos realizar uma operação interessante. Estávamos bem no meio do nada, no meio do rio à deriva. De chegada, Ceará, segurando-se em nossa lancha, e na lancha afundada mergulhou confirmando que o motor estava ainda preso à lancha. Então amarramos uma lancha à outra e começamos a puxar a que estava acidentada, não tardando a emergir emborcada, sendo rebocada contra a correnteza que costuma correr de 60 a 80 km em dias normais. Todos nos lançamos na água, nos colocando estrategicamente espaçados ao longo da lancha segurados apenas pelas rêmiges. Lembro-me de ter perguntado ao jovem “brabo” se ele sabia como iria se proceder à operação. O mesmo disse que não me preocupasse, pois sabia tudo.

Tudo bem parece fácil desemborcar uma embarcação desde que se leve em conta a velocidade da água e a força do motor que está rebocando a embarcação naufragada. Isto cria uma velocidade contrária e uma onda contra nossos corpos.

Dito e feito. No primeiro puxão conjunto que demos nas rêmiges, a embarcação desemborcou, perdeu o controle e deu de duas a três voltas em cima de nós que estávamos na água. O cidadão que sabia tudo se assustou e perdeu o controle e saiu a esmo afogando-se. Eu percebendo a situação de desespero do mesmo soltei-me da posição que estava na lancha e aproveitei a velocidade da correnteza e fui atrás do indivíduo. Com um braço alcancei-o pelos cabelos e com outro o ancorei em um cabo de aço. O coitado não parava de engolir água e se debatia desesperadamente, subiu pelos meus ombros para cima da outra lancha. Sem se importar se estava eu cansado ou não, com este pequeno “pisão” no meu ombro e cabeça, somados aos meus 130 kg, afundei como uma rocha. Quem não conhece o Rio Madeira, deve saber que é um rio de água escuras carregado de muita terra e lama nas áreas de garimpo e visibilidade zero debaixo d’água. Pois nestas horas de desespero acontecem as atitudes da ânsia pela vida por si mesma. E com esforço que me restava nadei para a superfície. Lá entre golfadas de ar e água, consegui gritar, no melhor sotaque sulino (gauchesco) por socorro. O que nada adiantou. A correnteza me levara a pico, e a escuridão do rio cada vez maior. Lembro-me de afundar novamente e neste momento, eu que nunca tinha sido devoto de Nossa Senhora; vislumbrei a imagem de uma Nossa Senhora com o leme de uma embarcação em suas mãos. Não conseguia abrir meus olhos, nem mover meu corpo, mas lembro de sentir e enxergar uma energia azul muito forte próxima a mim, e consegui raciocinar e pensei: “preciso nadar se não vou me afogar”; lembro-me de ter feito isso com muito esforço, e, de repente com uma braçada emergi, e com pequenos movimentos sutis, conseguia me manter sobre o rio. Estava tudo meio estranho, o local onde me encontrava boiando com facilidade estava muito escuro e lembro-me de ter avistado a uns 200 metros uma claridade que parecia ser os meus amigos me procurando com lanternas e celibins. Quando pensei em chamá-los, algo extraordinário me chamou atenção nas margens do rio. Com três braçadas avancei uns 300 metros à margem. Na hora não me importei em ver o que estava acontecendo. Fui me aproximando lentamente da margem, quando fiquei realmente espantado ao observar uma pessoa com água batendo na altura das canelas (o rio oscila em suas margens de 20 a 30 metros de profundidade). Quando estava a 50 metros parei e fiquei boiando, ou melhor, dizendo, flutuando sobre as águas, pois o que vi me deixou confuso.

Era como se eu estivesse vendo uma imagem minha – ou melhor, um EU em sua melhor perfeição. Ele falava com alguém usando uma linguagem, dialeto que eu não entendia e apontava para mim e para o meio do rio. Levantei o semblante para ver com quem ele estava falando e confesso que o susto e admiração foram muito grandes, pois em minha frente, no meio da floresta, à beira do rio, estava uma luz verde e de grande poder, e o meio dela como se fosse um grande tronco de uma árvore secular, emergiu um ser dotado de um aspecto de extrema força e poder, medindo uns 3 metros de altura, braços enormes com veias que mais pareciam cipós. Um corpo digno de dar inveja ao mais forte dos mortais. Vestia uma roupagem branca e azul. Seu rosto era angelical, cabelos compridos como uma espessa vegetação e um par de enormes asas brancas em suas costas. Neste instante entre o tudo e o nada, olhei para seus olhos e percebi que eram diferentes, posso dizer que eram dois buracos negros e quando firmei o olhar, enxerguei milhares de estrelas e o universo e fui tomado de um sentimento de ínfima insignificância diante de tal criatura. O mesmo movimentou-se de maneira incompreensível para minha mente. Levantando seu braço direito, pensei ter visto emergir algo de dentro do rio que ficou flutuando em torno de 1 metro e meio de altura sobre o mesmo (era o meu corpo inerte e sem vida, pois ainda não tinha percebido que tinha me afogado). Nesse instante como se estivesse sendo guiado por uma força incompreensível fui puxado para trás. Senti quando bati violentamente em algo, mas ao invés de dor, o que fiz foi aspirar e encher meus pulmões de ar. Logo em seguida cai dentro do rio novamente. Meio tonto comecei a dar braçadas desconexas. Nisto pareceu passar por mim uma enorme cobra em grande velocidade. No desespero, em busca de salvação me agarrei a este vulto que para minha surpresa materializou-se em uma corda.

Eu mal conseguia me manter em cima do rio, pois não tinha forças físicas, era como se estivesse sido sugada toda minha energia física. Com a mão esquerda na corda eu tentei me segurar. Nesta fração de tempo ultra veloz apareceu bem em frente a meu rosto um círculo escuro que começou a aumentar de tamanho e quando percebi tomou conta de todo o rio que eu me encontrava, cadáveres podres em decomposição, nos mais variados estágios, os quais não consigo descrever, boiavam em minha volta. Quando de repente, um desses, saindo da mais densa escuridão umbralina nadou em minha direção e abraçando-se em mim como se fosse um velho conhecido chamou-me pelo nome e disse: “Alexandre larga essa corda. O que tu queres com essa vida. Onde eu estou não tem sofrimento, dor, não tem nada. Vem ficar com a gente até o final da eternidade”.

E eu, bastante debilitado abri a mão que estava segurando a corda e novamente num espaço de tempo que não sei medir. Só sei dizer que antes que a corda se movimentasse de minhas mãos pensei ter enxergado através de minha nuca (clarividência), lá longe, no meio da floresta folhas cair das árvores como se algo muito grande tivesse levantado vôo em extrema velocidade. Só percebi que se tratava daquele grande ser quando o mesmo me segurou por trás das orelhas como se tivéssemos um órgão desconhecido e sussurrou aos meus ouvidos: “Você que já andou no meio de reis, que já comandou na terra, fez parte de nossa raça; vai morrer aqui no meio destes”. Como se o ambiente fosse tomado por um suspense muito grande, senti-me observado e buscando forças sobrenaturais e primarias muito primitiva; agarrei-me a corda e quando consegui, através de um esforço descomunal que meu outro braço segurasse na corda aquele ambiente de escuridão e maldades foram sugadas para dentro de um pequeno círculo negro e sumiu. Aí então sim, pude enxergar com clareza onde estava. Eu estava agarrado a uma corda e esta amarrada na lancha que havíamos resgatado. Estava tão exaurido que não tinha forças para gritar. Sentia-me gelado, num estado de hipotermia. Meus queixos tremiam sem que eu pudesse emitir nenhum som, e, em cima da lancha, meus companheiros de garimpo já estavam desistindo de me procurar, pois apontavam as lanternas e os celibins para o lado oposto de que eu estava. Não sei dizer bem como, mas sei que fui até conseguir me pendurar em um dos lados da lancha. Nisto um dos meus amigos me puxou para dentro da mesma. Eu não conseguia parar em pé. Voltamos para a draga, todos muito assustados. Chegando lá Marcos me confessou: “Cara, achei que tu tivesses morrido”. Após ouvir essas confortáveis palavras, tomei um banho e troquei de roupa, me sentindo como se tivessem me virado do lado avesso. Era como se fossem três Alexandres num só corpo.

Alguns dias após, ao retornar a minha cidade, fui visitar uma velha e querida professora de escola. Grande estudiosa de conhecimentos esotéricos A senhora Leda Hildenbrand.. Não podia ter escolhido melhor dia, pois estava em visita a casa desta professora, uma Senhora, Psiquiatra vinda de Porto Alegre. Contei essa história para elas sem compreender exatamente o que se passava. Após ouvirem atentamente, a visitante me disse: “Olha Alexandre, tu estás de parabéns porque sobre a morte se conhece muito pouco, mas o que eu sei é que todos podemos e devemos lutar pela vida. Doenças incuráveis, acidentes fantásticos, salvamentos incríveis, vitória sobre situações dramáticas. Tudo isso é possível, pois o ser humano em sua essência divina tem poderes incríveis inclusive para superar o que chamamos de morte. E você é uma dessas provas, pois no momento da morte você decidiu viver”.

Parabéns e aproveite esta oportunidade ímpar para realizar a sua missão na terra.