Goiânia: a cidade dos muros

Por Renato Medeiros de Souza Mendes | 19/10/2016 | Engenharia

Pensar a expansão urbana sem o seu planejamento remete-nos a observar as características das cidades, cujo espaço cenográfico acena para a valorização do arquitetônico. Neste sentido, há, na temática deste livro, a preocupação de Renato Medeiros de Souza, a cidade de Goiânia, por seu espaço urbano e crescimento, a qual, passou a deflagrar, a partir dos anos 1990, o fenômeno dos “condomínios fechados horizontais” A pesquisa de Souza já sinaliza que nos EUA, desde os anos 1950, que o aumento desses condomínios tem alterado significativamente, o “modus vivendi”, posto que, este estilo de habitação trouxe uma nova ideia de habitação, no mundo e particularmente no Brasil. Porquanto, essa nova composição do urbano perpassa pela acessibilidade e a própria valorização do visual da imagem, a qual, é historicamente aqui demonstrada, diligentemente, pelo autor por sua narrativa fundamentada, e que, nos exemplos das cidades medievais, os mecanismos de segurança, crível, já tinham, a mesma similaridade aos atuais condomínios fechados. Percebe-se que já nesse período as cidades passaram a ser idealizadas, o que se tornou fundamental, desde o Renascimento, a importância do espaço arquitetônico. Dentre os elementos a serem considerados, o fator da segregação espacial é enfatizada, quando o leitor é levado a refletir sobre as transformações econômicas ocorridas, especificamente, em Goiás, desde o período aurífero. Neste particular, com a mudança, providencial, da antiga capital deste estado, Cidade de Goiás, para Goiânia, pelo então interventor federal Pedro Ludovico Teixeira e, a sua inauguração em 1933, a cidade experimenta um forte fluxo migratório; é quando o autor nos alerta que Goiânia se posiciona como a terceira capital do país no ranking do número de condomínios fechados, segundo dados da ONU para 2009. A inquietação de Souza nos envolve, a todos, na tentativa de compreender a motivação principal desse crescimento substancial dos condomínios fechados na capital de Goiás. Ao se debruçar sobre vários autores, dentre eles Castells (2000), observa-nos que esta é uma forte tendência mundial, desde seu surgimento nos EUA. Sua popularização tem ampliado, sobremaneira, as transformações nas cidades, principalmente, pelos muros altos que dão a sensação de proteção; uma vez que se instalam tais condomínios nas zonas periféricas, o que deflagra um forte processo segregacionista. É possível, de imediato, compreender o aspecto da segurança, mas o autor nos apresenta outras motivações nesta relação do homem urbano e o condomínio: seja por fugir do stress e congestionamento, ou mesmo, um novo estilo de habitar; segundo ele, esta última, é representativa da busca pelo mais forte, junto a seus “iguais”, da homogeneidade. Nesse sentido, cita (Begossi,1993),que, ao analisar esses condôminos, confere-lhes, em seus traços econômicos,a busca pelo status e o reconhecimento, além de um ambiente bonito e agradável por sua proximidade com a natureza. Esses elementos se consubstanciam na pesquisa de Souza, referente à implantação dos condomínios fechados em Goiânia, vinculando a essa proposta, uma análise do grau de satisfação dos moradores. Para tanto, os entrevistados, moradores desses empreendimentos, ao responderem os seus principais motivos de sua opção por condomínios horizontais, estão demonstrando o tipo de política pública desejada; tanto pelo que se faz, quanto, se tem deixado de fazer. Nesse sentido, vale ressaltar que o Canadá e a China, entre os países pesquisados, se diferenciam por não terem a segurança como fator determinante. Enquanto naquele sobressai a privacidade, estilo de vida e senso de comunidade, este,busca um melhor serviço existente no interior, prestígio, status e qualidade das casas. Temse, assim, o mérito da pesquisa ao abordar as expectativas dos moradores dos condomínios, ao sinalizar um mercado imobiliário, sempre sentencioso por atuar nesta direção: oferecer a eles, o que não está disponível pelo poder público; conquanto este, de forma (in) direta, promove a diferenciação social, e a violência; o que acaba por comprometer à todos os estratos sociais, o direito à cidade; direitos à educação, saúde, cultura, lazer, ao trabalho o que traria a inclusão social e novas práticas e espaços de sociabilidade, na medida de uma intervenção, no sentido de saneamento e moralização. Parabenizo o autor pela relevante pesquisa empreendida, por trazer um alerta sobre a importância do planejamento e espaço urbano, e, diremos nós, uma necessária reforma dos diplomas que regulam o planejamento e ordenamento do território; é quando teremos uma cidadania legitimada por um plano diretor participativo e legitimador de nossa cidadania. Temos aqui, portanto, um contributo para as políticas públicas, posto que, está claro e evidente, pelo que foi evidenciado na pesquisa, a nefasta relação do aumento dos condomínios, com o aumento do percentual de incidência criminal em Goiânia. Uma leitura importante. Como pesquisa, imprescindível; tanto pelos marcos teóricos, quanto pelas riquezas das ilustrações, gráficos e tabelas, aos quais recorre Souza para fundamentar o que se poderíamos aqui chamar de cultura do medo, uma vez que nesta se efetiva uma mercadorização na forma de pensar e agir e, cuja privatização dos espaços, além de segregar, retira-nos o bem maior: o direito à liberdade em viver e circular pela cidade.

Introdução

Este livro apresenta uma abordagem sobre as mudanças nos modelos de ocupação urbana, no contexto da cidade de Goiânia, destacando “os condomínios fechados horizontais” como fator de transformação espacial na capital de Goiás. Para tanto, o eixo central da argumentação procura analisar o crescimento desse fenômeno urbano, que vem se consolidando nessa cidade. A cidade de Goiânia, desde sua construção, partiu de um projeto político marcado pela intervenção do Estado, e representa hoje a efetiva modernização do Centro-Oeste. Apesar de uma cidade nova se comparada a outras metrópoles brasileiras, apresenta uma expansão urbana marcada por processos de alta segregação, redes formadas por condomínios horizontais fechados, que se localizam em bairros periféricos. Essas formas de ocupação são típicas de processos segregatórios no contexto da cidade, sobretudo, a partir dos anos 1990, como é elucidado no decorrer deste trabalho. A polarização social e a busca por segurança instauram, nas médias e grandes cidades, os chamados condomínios fechados, assim como é crescente a tendência de auto-segregação nos bairros das classes média e alta. Essa tendência se expressa por meio da expansão do mercado que comercializa vários sistemas sofisticados de segurança (grades, muros altos, cães adestrados, cercas elétricas, circuitos fechados de TV, vigilância privada), além do mercado dos Condomínios Fechados para o Setor de Serviços..............79 3.9.2 A privatização dos espaços Públicos em Goiânia............79 Considerações Finais.......................................................85 Referências bibliográficas ...........................................89 - 14 - - 15 - imobiliário voltado para os que possuem alta renda. Ao mesmo tempo, a configuração da cidade reflete transformações próprias daquilo que os teóricos chamam de “cidade global” ou cidade da pósmodernidade ou seja, a concepção de que cidades e regiões resultam da ação de atores econômicos, políticos e sociais, nacionais e globais. Com o intuito de verificar e compreender o nascedouro e o crescimento desse comportamento social que se manifesta através da criação dos condomínios fechados, foram realizadas pesquisas bibliográficas, documentais e pesquisas de campo, com aplicação de questionários sobre o tema investigado, objetivando a realização desse trabalho. Diante das considerações apresentadas, a questão central que norteou o desenvolvimento dessa pesquisa questiona-se: Qual o principal motivo que justifica a existência e o crescimento dos condomí- nios horizontais fechados em Goiânia? Diante do constante crescimento e envolvendo uma significativa parcela da população goiana, os condomínios fechados transformam não somente os aspectos físicos da cidade, com a construção de muros altos, que geram contrastes apresentáveis de segregação social, mas também acrescentando mudanças na cultura do povo goiano. Dessa forma, a realização do presente trabalho foi imprescindível para a compreensão desse fenô- meno que se consolida e está em constante crescimento nessa cidade.

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