Gin & Tônica IV: 1. AQUI O MAR ACABA E A TERRA PRINCIPIA
Por Jacot Werner Stein | 02/03/2021 | Sociedade
Gin & Tônica IV
1. AQUI O MAR ACABA E A TERRA PRINCIPIA.
1. Há uma sonoridade, um melancolia e uma abrangência de sentimentos que são impulsionados pela música, embora não seja qualquer música, Sim, desta que agora toca, não ao fundo, mas que toma todo o ambiente, embora e no entanto não se diga – uma interrupção, um abalo, uma volúpia, Não, apenas uma música, agora outra música – um e outro Deep House, similiforme, com chopp, um bela caneca, a música intensa, o sabor do chopp também intenso esperam ou simplesmente rememoram a Intensidade já perdida, ainda não esquecida, mas pretensamente intrigante, saborosa, tênue, lânguida, esguia, similiforme as deusas gregas, às deusas egípcias e às deusas nórdicas. O desejo desejante deseja desejá-la, cheirá-la.1
2. Aqui já estive com ela, aqui nesta mesma mesa já estive com Ela, aquelas asas já me fizeram voar, aquelas asas já me fizeram desejar e sorrir, intensamente, Intensamente, muito diferente de hoje à tarde, triste, quase apático, quase só, estive só e mais só ainda quando ela, não Ela, chegou, não é mais uma busca, mas uma procura, uma triste e melancólica procura que em nada ou mesmo sobre nada enseja a vida, enseja essas intensidades sem fim ou sem fins, uma pausa, um gole, um olhar em torno, sem girar, sem buscar outras perspectivas, sem mesmo perceber que o que se busca não é sua presença, mas o seu cheiro, não o seu perfume, o seu cheiro seu suave e persistente e quase uma brisa, seu cheiro, sua suavidade que se perde na intensidade de seus cabelos quase negros, quase meus, mas nunca meus, jamais foram ou serão meus, jamais, jamais, triste, jamais. 2
3. Já não sei quantas músicas se passaram, o ambiente continua cheio, prenhe de possibilidades, aqui, sozinhos já não chegam, aqui, sozinhos já não escrevem, aqui, ver a escrever já assusta, causa pavor e talvez até medo, sem intensidades, sem amalgamas, somente na presença da cerveja, esta doce presença que amiúde vai embora, e em seu lugar deixa-nos não Morfeu, mas a saudade, essa doce e singela princesa, Sim, jamais uma rainha, jamais chegará à rainha, princesa, somente princesa a Saudade consolida-se entre os homens, ninguém quer viver de saudade, ninguém quer viver, Ninguém, Saudade e Intensidade presenças amargas quando consolidadas conjuntamente, quando espectralmente juntas, unidas pelo doce aroma da noite, pela brisa da chuva ao longe que sequer levá-los ou lava-nos da saudade da intensidade, da melancolia e destemida melancolia da saudade, da tênue saudade já dita.3
4. Ao longe, muito ao longe, vemos, não, não será possível ver ao longe, pois mesmo na planície a noite encobre a todos, esconde-se nela mesma, sim, a noite pode vir a ser ela mesma sem se mostrar, assim como ocorreu-me em relação à Semi-Deusa, intensa e lânguida como a noite, aqui, nesta mesa de lounge bar, sem ter marcado com ela, sem que ela saiba sequer que estamos em sua cidade, espera-mo-la, Sim, Não, Sim, Não, Intensa, livre, sim, ela é livre como o espírito livre que aos poucos liberta-se da Intensidade para tornar-se ela mesma em intensidade, livre, arguta, trágica e sorridente, segue seus dias dormindo e nas noites extenuando-se em Intensidade e já no dia e na noite seguintes provocando, causando, possibilitando-se como Saudade, como Intensidade perdida, como livre pássaro que não voa por saber poder voar e esperar que já não tenha expectadores para sair em voo solo.4
5. Aqui sem saberem que aqui estou, sequer eu sei porquê aqui estou, mas estou, triste, triste não descreve-me, o que descreve-me quando só quero descrevê-la, sim, e assim será até que essa ilusão se vá, se assim for possível, uma ilusão se vai ou se esvai algum dia, ou mesmo deixa de sê-lo ilusão, mas em que ela se transmuta, em realidade existente ou efetiva já não pode, pois se assim fosse, não seria ilusão, mas possibilidade, e em efetividade ela quer transmutar, mas a efetividade da ilusão em ilusão ela retorna, em ilusão, pausa, não quero, não devo, mas quando o olhar gira, em ilusão ele retorna, em saudade do que nunca fora ele retorna, em triste fim ele retorna, em tristeza de sê-lo apenas olhar quando o que se quer, o que se deseja é desejar e para desejar em desejo ele já não pode sê-lo ou mesmo coexistir com sua melancolia, com sua triste e doce saudade, da certeza da Intensidade perdida, distante, triste e pálida.5
6. Outra música, já foram várias, ainda na segunda caneca de chopp, ainda na Saudade e sobre a Saudade tornada companheira, quase vejo-a, quase posso tocá-la tamanha a sua presença, tamanha a intensidade de sua presença, tamanha a melancolia de sua triste e tênue presença, sempre ao lado, sempre por dizer algo, mas sempre calada, pausa, muitas, muitas são suas formas, muitos são seus modos, mas poucos ou simples é seu modo de ser: intenso, belo e amargo, mesmo sem o sabe-lo ou mesmo sem querer, somente em desejo se consome, somente em desejo existe, somente em espera não do efetivar-se, mas da saudade que sequer lembra da vida, da intensidade da tristeza triste e solitária, ela saudade de sentir saudade e em mensagem tornar-se a escrever, tornar a rever, mesmo sem se encontrar, mas na certeza do poder ...6
7. Finalmente os efeitos da cerveja começaram a se manifestar, finalmente senti algo distinto de Saudade, finalmente volto-me pra algo que é eu mesmo, que não é minha espera, que não parte de mim, mas escolha de outrem. Belíssima! Nunca, na presença dela, tive porque contar a quantidade de pétalas das asas, hoje sei, distante dela, embora nunca tenhamos sido próximos o suficiente para que Ela soubesse o quanto a mim, de mim, ela levou. Hoje espero, quando não deveria esperar, quando não deveria sequer escrever, quanto mais beber para escrever. Sim! Beber e escrever tornaram-se algo que me aproxima não dela, mas da Saudade dela, sem seu cheiro, sem sua intensidade, sem saber de seu sorriso, movido pela música, movido pela caneta, movido pela presença do papel, movido pela intensidade da lembrança convertida, transubstanciada ...7
8. El Segredo de Karina Cristina – conozco tu secreto, conozco tu mensaje, Te espero cono nunca llegué a esperar a nadie, con una jarra de cerveza de barril, junto al anhelo, Te espero, hoy, para que mañana pueda soñar con no esperarte o ni sequiera recordarte, Je t’espère, aujourd’hui, pour que demain je puisse rever de ne pas t’attendre ni même de te souvenir, Ti auguro, oggi, così che domani possa sognare di non aspettarti e nem meno di ricordarti, I hope you, today, so that tomorrow I can dream of not waiting for you or even remembre you, Ich hoffe du heute, damit ich zu warten oder micha na dich zu erinnern. Digo o que sequer espero, algum dia, dizer, verbalizar tamanha loucura, sim, loucura, sentir o que sinto sem saber o que é o que sinto, embora tudo se converta em vontade de beber cerveja ... ser ...8
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