GESTÃO PARTICIPATIVA E INTEGRAÇÃO ESCOLA-COMUNIDADE

Por Antonio Ribeiro Filho | 10/09/2016 | Educação

 

Antônio Ribeiro Filho[1]

Mirian Elaine Fernades Caçula[2]

RESUMO:

A relação escola-comunidade, hoje em dia, é um aspecto essencial para o bom funcionamento do processo educativo em qualquer instituição escolar. É o espaço ou ambiente que se dá entre a escola e a comunidade, gerido de forma organizacional pela instituição escolar para expressar e trocar ideias, planos e/ou projetos relativos à matéria educativa e ao desenvolvimento integral dos membros da comunidade. Nesta perspectiva, o presente artigo tenciona abordar os fundamentos teóricos da relação escola-comunidade; em busca de um sistema de ações que desde sua contextualização, permite definir e sustentar conceitualmente esta relação. Para tal contextualização deste tema que se torna cada vez mais importante na sociedade, fez-se como metodologia de pesquisa um levantamento bibliográfico para se situar neste tema. Para corroborar estes conceitos, recorreu-se de alguns especialistas no assunto, a saber: Freire (1999), Gadotti (1995), Gandin (2004), Hora (1994), São Paulo (1990), Weffort (1995) e westrupp (2003).

INTRODUÇÃO

Segundo Westrupp (2003), a palavra gestão provem do latim gestio, que faz referência à ação e a consequência de administrar ou gerir algo. Gerir é realizar as diferentes aplicações para tornar possível a realização de uma operação comercial ou de uma aspiração qualquer, enquanto que a administração compreende as ideias de governar, dispor, dirigir, ordenar ou organizar determinada coisa ou situação.

O termo aparece durante os anos 60 na Inglaterra, como o desenvolvimento de um conjunto de ideias sobre a eficiência e a eficácia dos diferentes modelos organizacionais e as teorias sobre a administração científica no manejo das escolas e logo se estendeu a outros países e continentes.

De acordo com Hora (1994), na década dos anos 70, as novas ideias sobre a gestão educativa se difundiram por toda a Europa, o Canadá e os Estados Unidos e na década dos anos 80, chegou-se com influência na América Latina e o Caribe durante a chamada década perdida.

Do desenvolvimento e sistematização das novas ideias nasce um novo campo do conhecimento que já se torna conhecido como gestão da educação ou gestão pedagógica da educação, que logicamente em seu início, os novos fundamentos teóricos não evitaram a incidência das teorias da administração científica sustentada por Max Weber, Henri Fayol e Fredericck W. Taylor (HORA, 1994, p. 53).

A palavra gestão, como pode ser observado nos parágrafos precedentes, é atualmente uma das mais utilizadas quando se trata de descrever ou analisar o funcionamento das escolas. Assim frequentemente, se lê e se ouve frases como:

  • Os professores e as famílias dos alunos deveriam envolver-se de maneira comprometida na gestão da escola.
  • Uma gestão eficaz requer que as pessoas que ocupam cargos diretivos tenham uma formação específica
  • A gestão da escola deve ser participativa e democrática.

Em todo caso, a palavra gestão sugere imediatamente atuação. Tem sempre uma dimensão dinâmica e, além disso, tem necessidade ser acompanhada de um referente, uma especificação que a complemente, cujo papel deve ser dentro e fora da escola, no cumprimento do trabalho educativo e de sua função socializadora adquire uma transcendência fundamental, e nela é decisivo o sistema relações e atividades que têm lugar para o cumprimento de seus fins nas condições concretas (históricas, locais, específicas) nas quais se desenvolve a sua tarefa.

A concepção da gestão na escola, deve ser tomando em consideração as suas próprias condições , e a comunidade, deverá trabalhar para cumprir sua função social e de ir progressivamente para níveis superiores de qualidade educativa, expressadas num processo educativo ativo, reflexivo, regulado, que permita o máximo desenvolvimento das potencialidades de todos os centros educativos, num clima participativo, de pertencimento, cuja harmonia e unidade contribua para a realização dos objetivos propostos com a participação de todos.

A transformação da cultura organizacional das instituições escolares deve produzir um clima, que contribua para a melhoria da gestão escolar, adquirindo a mesma, uma direção mais participativa, aberta, dialogada e centrada na realização de aprendizagens de qualidade para todos os implicados, o que é posto em evidência, no é posto no Projeto Regional de Educação, convocados pela UNESCO, ao referir-se: “Não há uma educação de sucesso sem escolas eficazes que envolvem a comunidade, e estas não são uma realidade sem diretores capazes de conduzir a comunidade escolar e de gerar um clima propício à aprendizagem” (GADOTTI, 1995, p. 27).

Os novos cenários que deve confrontar a educação escolar vão mais além que o desafio de promover uma escola flexível, democrática, conectada ao ambiente social comunitário. A escola deve garantir uma aprendizagem na comunidade e para a comunidade, como acionar não somente o currículo escolar, mas também com as atividades extracurriculares, dando sentido e coesão a todas as atividades, desde um clima institucional harmonioso, tornando propícios novos espaços de comunicação e intercâmbio.

A Gestão Participativa

 Provavelmente é um termo novo, que traz este estudo, e refere-se aos níveis de integração, que pode obter a gestão da escola, dos atores diretos e indiretos do processo educativo na gestão da mesma. Isto implica conseguir que o sistema de gestão educacional seja mais inclusivo, participativo e democrático, gerando a focalização na escola como espaço fundamental de desenvolvimento integral e participação social.

Através do tempo a gestão e a administração das escolas estiveram como algo de competência dos órgãos centrais dos governos e em grande medida enquadrada nos quadros fechados do centro escolar onde somente se distribuía acerca de conhecimentos; que em muitos dos casos não têm aplicabilidade no contexto onde se desenvolvem os indivíduos.

Isto fez da escola uma instituição débil, com pouco identificação com o seu ambiente e um tanto descontextualizada, fenômeno que se torna muito mais complexo no Brasil, onde os planos e os programas educativos sempre tiveram um selo europeu ou americano. Ademais, os enfoques aplicados na gestão educacional estiveram, além disso, próprios da administração empresarial, enfoques de uma administração tradicional tecno-burocrática e clássica já superada (WEFFORT, 1995, p. 46).

Contudo, durante os últimos anos fez-se um grande esforço nos processos de reformas educativas para visualizar com clareza a crescente necessidade de elevar a qualidade da educação como via para melhorar as condições de vida dos cidadãos; qualidade da educação que é associada aos níveis de participação e transformação dos atores inseridos no processo educativo, com uma proposta de integração da escola e da comunidade. Este fato faz que na gestão educacional tome-se em consideração os outros sujeitos sociais, não somente os estudantes, pais e educadores, mas também a sociedade civil, o setor das mulheres, as igrejas e outros atores sociais.

A educação não somente se visualiza como um elemento transformador dos estudantes, no interior da escola, mas, como elemento de ação cooperativa para o desenvolvimento social e integral da comunidade, isto porque a gestão participativa no nível institucional requer uma grande importância na atualidade.

É assim que se visualiza a escola como centro do desenvolvimento educativo comunitário, por conseguinte, deverá redefinir os seus planos, dar respostas ao entorno social, orientar os recursos que estão ao seu alcance a serem mais independente, isto implica a colaboração ativa de pais, professores, alunos, organizações da comunidade e do diretor como líder da escola em geral.

De acordo com Weffort (1995), a participação na gestão educacional se produz quando as pessoas e os grupos têm espaços, não somente para expressar as suas ideias, mas também para influenciar nos rumos da instituição, em suas formas de funcionamento.

Por isto se faz viável neste estudo a participação de todos os agentes que intervêm no processo educativo, porque permitem influenciar nas mudanças institucionais com convicção. De acordo com a UNESCO citada por Hora (1994), a participação implica da criação de sistemas educativos mais flexíveis e mais heterogêneos, onde se respeite a diversidade assim como os ambientes culturais e naturais de cada indivíduo.

O que implica que a comunidade constitua um processo que se inicia quando o profissional e a comunidade, desde seus lugares, saberes e poderes se relacionem para construir o saber social. “Ao ser este um processo de investigação ação, esta participação tem a particularidade de ser transformativa, de conduzir a novas descobertas e ao gerar alternativas de transformação” (WEFFORT, 1995, p. 39).

Estas reflexões, oferecem argumentos para poder ter uma compreensão de papel que joga a participação no trabalho da comunidade e ao desenvolvimento da política educacional para o vínculo comunitário.

Paulo Freire em seu poder e experiência da atividade prática concernente à comunidade expressou: "qual tem que ser esta atividade?". Não há aqui prescrições ou receitas prévias nem pré-fabricadas.

Convivendo com os indivíduos em seu bairro é como iremos descobrindo com eles o que é necessário fazer, e entregando-nos aos afazeres e pensando sobre isto e como iremos conhecendo mais e melhor.

A escola deve ser um local tanto de elaboração e construção do conhecimento e organização política das classes populares, quanto da solidariedade de classe; um espaço onde se incentive a participação do povo na criação do saber, que é instrumento de luta na transformação da história; um centro irradiador de cultura, para que a comunidade não só se aproprie dela, mas também a recrie. (SÃO PAULO, 1990, p. 4).

A citação acima chama a reflexionar sobre o que significa hoje a prática coletiva, que implica sentir a necessidade de fazer trabalho comunitário, e para isto é fundamental reconhecer a comunidade como um sistema cuja atividade se desenvolve objetivamente, e, por conseguinte pode ser analisada de acordo com diferentes dimensões que são interdependentes e se sustenta em determinados princípios e objetivos.

Integração Escola-Comunidade

“Em todas as escolas e centros escolares se fomentará a participação da comunidade educativa na gestão da escola e na solução dos problemas, tanto da escola como da comunidade à qual serve” (WEFFORT 1995, p. 54).

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