Geotecnologias e o manejo de bacias hidrográficas
Por Ivan Brscan | 21/12/2009 | Adm
O
desenvolvimento das atividades humanas em uma determinada região tem
influência
direta sobre os recursos hídricos locais, uma vez que a retirada de
vegetação
para a implantação da infra-estrutura urbana e rural promove alterações
nas
quantidades de água envolvidas no ciclo hidrológico e reduz a proteção
do solo
à ação erosiva dos eventos climáticos, intensificando o escoamento
superficial,
reduzindo a recarga subterrânea e aumentando o carreamento de
sedimentos, implicando
assim na diminuição das vazões de estiagem e no aumento do assoreamento
da
calha dos rios.
A concentração populacional e a intensificação de atividades
agropecuárias, extrativas e industriais incrementam a produção de
rejeitos
orgânicos e químicos que chegam aos rios por despejos ou durante as
chuvas
provocando a degradação da qualidade da água afetando a biota presente
nos
corpos hídricos.
O manejo de
bacias hidrográficas pode ser conceituado como o processo de organizar
e
orientar o uso da terra e de outros recursos naturais a fim de produzir
bens e
serviços conservando o solo e a água na bacia hidrográfica. Assim, a
eficiência
de uma ação de manejo inicia-se pelo conhecimento do uso da terra e das
características hidrológicas e geomorfológicas da bacia hidrográfica.
Em geral,
a caracterização de bacias hidrográficas é realizada por meio da coleta
de
dados no campo e utilização de informações secundárias, como
levantamentos e mapeamentos
prévios existentes. Neste contexto, as geotecnologias têm surgido como
ferramentas
de elevado potencial de suporte, caracterizando-se pela facilidade de
manipulação de mapas, obtenção de informações e organização de banco de
dados.
Geotecnologias
podem ser definidas como um conjunto de ferramentas que possibilitam a
coleta,
análise e disponibilização da informação com referência espacial, ou
seja, a
informação tem a sua localização geográfica utilizada como fator de
integração
e análise. Dentre estas ferramentas destacam-se os Sistemas de
Informação Geográfica
(SIG), o Sensoriamento Remoto por satélite, a Aerofotogrametria e o
Sistema de
Posicionamento Global (GPS).
Os SIG
constituem-se em um conjunto harmônico composto por uma base de dados,
um ou
mais “softwares” que permitem a manipulação de informações e uma
interface
gráfica para acesso do usuário. Com este tipo de tecnologia é possível,
por
exemplo, produzir um Modelo Numérico do Terreno (MNT) a partir de
cartas
topográficas da bacia ou pontos coletados no campo, que representa em
cada
ponto, aqui estabelecido como célula (pixel)
em uma matriz denominada raster, os
valores de cota da superfície do solo na bacia. O MNT tem inúmeras
aplicações
no manejo de bacias hidrográficas que vão desde a determinação de seus
limites
geográficos até a avaliação de áreas suscetíveis a processos erosivos.
A
utilização de imagens orbitais e levantamentos aerofotogramétricos tem
lugar de
destaque dentre as geotecnologias associadas aos estudos de manejo de
bacias
hidrográficas, uma vez que possibilitam a caracterização do uso e
cobertura do
solo em diferentes épocas. Assim, a partir do sensoriamento remoto pode
ser
identificada a dinâmica das atividades antrópicas desenvolvidas na
bacia
submetendo as imagens ou fotos de períodos distintos ao tratamento
adequado em
um SIG e analisando, por exemplo a evolução das manchas de urbanização,
áreas
agrícolas e supressão de vegetação nativa. Tais elementos são
essenciais na
definição de parâmetros para modelos hidrológicos, que consideram a
cobertura
do solo como um elemento de elevado grau de influência nas respostas
hidrológicas da bacia. Deve-se ressaltar o crescimento neste tipo de
uso das
geotecnologias no Brasil, fruto também da disponibilização gratuita de
imagens
orbitais de satélites como LANDSAT e CBERS, pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), que possibilitam a produção de informações
úteis a um
custo mínimo.
A coleta de
dados no campo ganhou muito em precisão e capacidade de interpretação
com o
desenvolvimento e a disseminação dos aparelhos receptores portáteis de
sinais
do sistema de posicionamento global, mais conhecido como GPS. Com o uso
desta
geotecnologia tornou muito mais simples a visualização e manipulação
dos dados
de campo em um SIG, bem como a realização de análises espaciais e
detecção de
padrões similares, que se constituem em recursos poderosos para o
entendimento
dos fenômenos naturais. Assim, no manejo de bacias hidrográficas toda
informação referente a coletas de amostras de água e solo para análises
laboratoriais, instalação de aparelhos para o registro de variáveis
hidrometeorológicas, identificação de fontes pontuais de poluição
hídrica,
localização de nichos de vegetação nativa, por exemplo, devem estar
associados
a um sistema de referência geográfica, com coordenadas obtidas com
auxílio de
receptores GPS. Logicamente que cada usuário deve avaliar o grau de
precisão
requerida pelo seu estudo, visto que os aparelhos atuais de baixo custo
podem
ainda produzir erros da ordem de
Observa-se
uma grande possibilidade de aplicações das geotecnologias no auxílio a
estudos
de manejo de bacias hidrográficas, ampliadas ainda pela disseminação de
sistemas computacionais gratuitos, como Spring e GvSIG, disponíveis
para
obtenção na rede mundial de computadores e que possuem elevadas
capacidades de
manipulação da informação georreferenciada. Apesar do grande potencial
das
geotecnologias, deve-se ressaltar a necessidade de conhecimento da
ferramenta
utilizada, consciência da limitação das informações disponíveis e
valorização
das visitas de campo, que possibilitam a percepção mais apurada dos
fenômenos
estudados e facilitam o uso das ferramentas.