"Geléia Geral" do JB, agora só na net!
Por Edson Terto da Silva | 31/08/2010 | TecnologiaEdson Silva
Dia 31 de agosto circulou a última edição impressa de um dos mais tradicionais jornais brasileiros, o Jornal do Brasil. Fundado em 9 de abril de 1891, época do Brasil com "z", o JB foi fechado por um ano, em 1893, pelo marechal presidente Floriano Peixoto, que acusou o jornal de incitar Revolta Armada. Se no fim dos anos 60, os tropicalistas Gil e Torquato ressaltavam "a geléia geral brasileira que o Jornal do Brasil anuncia", o JB mostrava-se importante órgão de imprensa que utilizaria todos artifícios para driblar a censura imposta pelo golpe militar de 64.
Inovação parece sempre ter sido a marca do JB. A jornalista global Miriam Leitão (a mesma que foi destratada pelo candidato à presidência Serra) lembrou, no Bom Dia Brasil, que em 1961, com Alberto Dines, o JB foi pioneiro em ações que influenciaram jornais do país inteiro, como criações de Caderno B e do Departamento de Pesquisa. Aliás, Departamento que Fernando Gabeira iniciou a carreira. Miriam foi editora de Economia do JB na época da hiperinflação e citou alguns notáveis que passaram pela redação do jornal centenário, tais como: Joaquim Nabuco, Rui Barbosa (era editor quando Floriano Peixoto mandou fechá-lo), Carlos Drummond de Andrade, Zózimo Barrozo do Amaral, João Saldanha, Armando Nogueira, Clarice Lispector, Alceu Amoroso Lima, Ziraldo, Fernando Sabino e Carlos Castello Branco.
Entre as edições memoráveis do JB lembradas por Miriam está a 14 de dezembro de 1968, sobre o Ato Institucional No. 5 , que em linhas gerais censurou toda forma de manifestação da imprensa e do povo brasileiros. Para burlar a censura imposta pelos militares, o jornal publicou na primeira página, esta fictícia previsão do tempo: "Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máx.: 38º em Brasília. Mín.: 5º, nas Laranjeiras." Na mesma edição, à direita, uma chamada para uma efeméride: "Ontem foi o Dia dos Cegos".
O JB de papel finda sua história de 119 anos e o primeiro JB on line oficialmente dito foi publicado dia 1º. de setembro e trouxe um artigo de Lula, o operário eleito e reeleito para ser o melhor presidente de seu país, o Brasil, falando da modernidade. Esta começando algo que previ certa vez como o "apocalipse" do jornal impresso, assim como houve fim para fitas, discos, fotos e filmes, tudo engolido pela era digital. Há quem diga que o fim do JB impresso significa salvar 72 árvores por dia, as quais virariam papel. Isto alenta e até imagino uma namorada lendo jornal no laptop, enquanto o romântico parceiro grava iniciais no tronco que sustenta a copa que lhes dá sombra.
Edson Silva, 48 anos, jornalista nascido em Campinas e trabalha como assessor de imprensa em Sumaré.
edsonsilvajornalista@yahoo.com.br