GATTACA, Engenharia Genética
Por Maria Anunciação Souza | 15/02/2009 | ResumosGATTACA, Engenharia Genética
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René Descartes
Platão acreditava que a justiça era um sentimento inato, portanto verdadeiro, para ser justo uma sociedade deveria cuidar da manutenção hierárquica das classes sociais e que entre outras acabava sendo o domínio da inteligência sobre os instintos, interesses e paixões tanto no indíviduo quanto na sociedade.
Para Descartes, estas idéias inatas, claras e distintas, não são inventadas por nós mas produzidas pelo entendimento sem recurso à experiência.
Elas subsistem no nosso ser, em algum lugar profundo da nossa mente, e somos nós que temos liberdade de as pensar ou não.
Representam as essências verdadeiras, imutáveis e eternas, razão pela qual servem de fundamento a todo o saber científico.
Como Descartes escreve:
"(...) quando começo a descobri-las, não me parece aprender nada de novo, mas recordar o que já sabia. Quero dizer: apercebo-me de coisas que estavam já no meu espírito, ainda que não tivesse pensado nelas. E, o que é mais notável, é que eu encontro em mim uma infinidade de ideias de certas coisas que não podem ser consideradas um puro nada. Ainda que não tenham talvez existência fora do meu pensamento elas não são inventadas por mim. Embora tenha liberdade de as pensar ou não, elas têm uma natureza verdadeira e imutável."
Meditations Metaphysiques, "Meditation cinquieme", p. 97-99.
O inatismo, supõe a existência de alguma força interior inata, potencial capaz de promover, por si mesma, o desenvolvimento do indivíduo, de forma tal que caberia à sociedade apenas estimular o "dom", paraele aflorar em toda a sua plenitude.
Fora de uma relação social, nenhum "dom" desabrocha, nenhuma aprendizagem se realiza.
Supor preconceito inato no indivíduo, é abandoná-lo à própria sorte, é abandoná-lo nos seus limites; é negar-lhe a chance de superar seus limites, de forma a ganhar em possibilidades e dignidades humanas.
Tal comportamento já é pernicioso com indivíduos que não apresentam nenhum grau de deficiência, profundamente dramático será seu efeito sobre aqueles que apresentam essas condições.
O filme Gattaca,faz uma alerta sobre o futuro possível onde o destino de todo o ser humano depende do seu DNA, o drama tem como centro da análise a vitória de um "DNA imperfeito", sobre a estrutura social dominante biológica.
Contextualizando o filme Gattaca, pelos postulados da teoria inatista-maturacionista, a teoria enfatiza os fatores maturacionais e hereditarios, essa perspectiva entende que o ser humano é um sujeito fechado em si mesmo, nasce com potencialidades inatas, com "dons" e aptidões que serão desenvolvidos de acordo com o amadurecimento biológico, de que o ser humano é dotado de uma perfeição inata, ou seja, essa teoria postula que o ser humano vem programado biologicamente para o desenvolvimento da perfeição, essa proposta procura dar conta da competencia e criatividade do individuo.
Os princípios do maturacionismo são a primazia, a maturação, o período crítico e a universificação, quanto a universificação é poder segundo estudos fazer um juízo de uma população.
O filme Gattaca, traduz um pensamento inato, porque procura-se um aperfeiçoamento da espécie, erradicando o máximo de doenças e imperfeições possíveis e aumentando a esperança média de vida, nada depois do nascimento é importante, visto que o homem já nasce pronto, incluindo a personalidade, os valores, os hábitos, as crenças, os pensamentos, as emoções e a conduta social.
Concebendo seres perfeitos, biologicamente determinados, remetendo a uma sociedade harmônica, hierarquizada, que impossibilita a mobilidade social, a programação genética do ser humano reflete-se na estrutura social, formando uma sociedade desumana e fria.
Consequentemente gera uma sociedade capitalista que valoriza o individual em detrimento do social, gerando competitividade, acirrando as diferenças de classe, gênero e etnia, neste caso, o capital tende a se apropriar do desenvolvimento das forças produtivas sociais para aprofundar seu controle de classe.
Uma visceral contradição entre as imensas potencialidades de desenvolvimento humano genérico e da plena socialização da sociedade humana, e a aguda vigência de determinações de controle social estranhado e de exploração de classe.
Ao lado do admirável mundo novo, subexiste velhos valores estranhados e sociabilidades corrompidas pela lógica do capital, o que se observa é que o tema da técnica de manipulação genética perpassa todo o drama do filme Gattaca,apesar do mais alto controle social garantido pelo registro genético, a espécie humana continua a mesma: dividida em classes sociais e se utilizando de sub terfugios escusos e clandestinos para atingir seus interesses egoístas.
Um fraco destinado à derrota, porque, "Pau que Nasce Torto Morre Torto", pode-se aprimorar um pouco aquilo que é ou, inevitavelmente, virá a ser, nasceu com aptidão "dom", prontidão para a invalidez, para as doenças genéticas e para a incapacidade intelectual.
A personagem do filme Gattaca, criado pela engenharia genética, reforça a idéia do Inatismo, ele nasce com o potencial da perfeição, com dons e aptidões que serão desenvolvidos de acordo com o amadurecimento biológico, pré-estabelecidos pelo DNA perfeito.
O inatismo rotula, discrimina, gera estigmas, estereotipa, julga, evoluí para uma conduta rígida e prol das aptidões, da prontidão e do coeficiente de inteligência.
Esta linha de pensamento foi o fator para a criação de uma sociedade perfeira, criada pela ciencia, isto é programada geneticamente, naquele estrutura de estratificação social biológica, se podemos pela ciencia ter a geração de "super-homens" perfeito, por quênão?
Gattaca, expõe as falhas contra a técnica de DNA, que desumaniza o homem, na verdade, já desumanizado pelo capitalismo, desumaniza pela razão universal, razão universal que separa o homem da natureza, faz uma interesante reflexão sobre os caminhos a que a engenharia genética pode levar e aos impactos que esta tecnología do "super-homem", e a ciência de um modo geral poder ter na sociedade.
(…) a razão é tão poderosa quanto ardilosa, o seu ardil consiste em geral nessa atividade mediadora que, deixando os objetos agirem uns sobre os outros conforme à sua própria natureza, sem se imiscuir diretamente na sua ação recíproca, consegue, contudo, atingir unicamente o objetivo a que se propõe, a razão governa o mundo e, consequentemente, governa e governou a história universal, em relação a essa razão universal e substancial, todo o resto é subordinado e serve-lhe de instrumento e de meio, ademais, essa razão é imanente na realidade histórica, realiza-se nela e por ela.
O ser humano tem limitações em diversos aspectos: é mortal, tem uma série de necessidades fisiológicas, a sua força e inteligência são medianas, porque não desenvolver o ser perfeito, que seja melhor que o homem normal com os seus defeitos biológicos?
A sociedade pós-moderna, chegou ao ponto em que tem que começar a reformular as suas questões iniciais, e em vez de encontrar as características que diferenciam os diversos tipos de criaturas não-humanas, seja interessante encontrar, os pontos comuns, e mais em particular, em que peso, que os problemas abordados pelos filmes de ficção científica são na realidade questões bem mais antigas, embora inseridos num ambiente novo,assim, encontramos com os filmesMatrix, Blade Runner, Inteligência Artificial e outros.
A dependência humana em torno da escravatura, para construir as suas sociedades, nos indivíduos perfeitos gerados pelo genoma, revendo os mitos dos super-homens; mas também revendo antigos temores das criaturas malignas, que hoje é base da nossa sociedade atual.
O filme Gattaca, transcreve no seu enredo a Eugenia Social, isto é, a tentativa de "purificação" e "aperfeiçoamento" genético da espécie humana, através da engenharia genética.
CONCLUSÃO
O filme Gattaca, retrata o pensamento inato, em que as pessoas já nascem com o seu destino predeterminado: não só suas características físicas, mas seus talentos, aptidões "dom", quem não foi programado para uma determinada profissão não pode exercê-la, há dois tipos de humanos: os que nascem de reprodução natural e por isso ainda padecem de doenças e limitações, exercendo dessa forma funções mais simples dentro da sociedade; e aqueles que nasceram por reprodução artificial, submetidos às técnicas da engenharia genética, e tiveram, portanto, seu material genético selecionado e determinado.
Na "Eugenia Social", a exclusão terá ainda mais elementos que o mero poder aquisitivo, a raça, a etnia; ela dependera das capacidades que a pré-modelação genética conferiu ao indivíduo antes mesmo de nascer.
Hoje vivemos um problema ético, político e social bem mais complexo que um reles robô industrial ou um indivíduo programado geneticamente.
ReferênciaSBibliográficaS
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