Gaiatos no navio
Por André Gabrich Tesch | 11/12/2010 | LiteraturaEu vos declaro... gaiatos no navio?
(20/07/2010)
Hoje, resolvi escrever sobre uma coisa diferente, que ainda não tinha colocado no papel (ao menos de maneira tão direta e explícita): o casamento. Ou melhor: o meu casamento. Esse pronomezinho possessivo faz toda a diferença. Falar olhando de fora é muito fácil. Por falar em posse, ela precisa ficar restrita aos objetos (e entre eles não está o ser humano). Agora, com a licença de Herbert Vianna, "entrei de gaiato no navio", mas não quero entrar pelo cano hehehehe. Brincadeira. Vale lembrar e desmembrar os sabores e dissabores da união a dois, indo da casa à igreja e à chuva de arroz (antes de animar alguém, já vou avisando que entre os sabores não estão bolo, salgadinhos nem docinhos. Não vou fazer festa... quer dizer, só uma festinha particular, proibida para os convidados e pra qualquer menor de 18).
Diz a tradição cristã que o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à esposa. Muitos interpretam isso como "que bom!! Sogro e sogra só atrapalham!!" Sem querer contrariar a tradição, mas já contrariando, eu escolhi não deixar meus pais. Não, não vou morar com eles nem dividir o mesmo teto, mas morar perto, num apartamento com sacada, pequena escada, muito sol e paz. É perigoso morar num raio de cem metros distante dos seus velhos. Logo, faça como eu: fique a uns dez, no máximo.
Sobre o apê, bommmmmm... o apê é alugado, contrato de um ano, um mês adiantado e sem fiador. Todos dizem: o aluguel almoça, janta e dorme com você, é um horror! Por um lado, é verdade, mas pior seria não ter... dinheiro pra pagar ao proprietário, força de vontade pra buscar o sonho imobiliário.
Dentro desse magnífico quarto sala, cozinha, banheiro e área (além, é claro, da vista panorâmica) cabem eu e minha noiva, nossos projetos, badulaques, a cama (hummmm), nossas calmarias e ataques, a TV de 29" (presente da minha irmã), nossos livros, meus (infinitos e benditos) papéis, as caixinhas de neosaldina dela, o eletrodoméstico mais atraente (a geladeira)... estou na dúvida, muito cruel, se vai caber esse micro no qual escrevo agora, parceiro de diversas horas, mecenas da minha literatice. Sem ele o mundo perderia uma grande promessa... de mau escritor. Mas vou tentar adaptá-lo numa mesa menor. Por enquanto ninguém ficará órfão da minha chatice.
A cerimônia, em si, vai ser simples e bonita. O momento é sagrado (em todos os sentidos) e, apesar de reunir algumas centenas de "cabeças", reservado. Não quero ver meu casamento em nenhuma coluna social, tanto que já barrei a presença de todos os (inúmeros) paparazzi da cidade. Vou escolher um fraque bem bacana, pra parecer até mais velho e charmoso. O vestido dela já está escolhido, mas (olha a tradição, de novo!!) só posso vê-lo no dia. Os padrinhos, já convidados e avisados. A lista de casamento é uma coisa à parte, tanto que coloquei em anexo a essa crônica para que você escolha um presente bem legal. Estou pensando em personalizá-la no PowerPoint e enviar para os e-mails conhecidos e os amigos do Orkut, como aquelas correntes ("envie essa mensagem para todos os que você conhecer, etc").
O padre é um amigo de muitos anos, que fazia comigo e com outros camaradas muita farra. Ainda bem que ninguém saiu do bom caminho (com exceção de mim e mais uns três, que viramos professores. Caramba, essa profissão é contagiosa!).
Lua-de-mel, pretendo passar em Cabo Frio. Espero ter como companhia o sol e o calor, para aproveitar as ondas, pegar jacaré (apesar de saber que, de qualquer jeito, estarei em ótima companhia). Engraçado é que essa coisa de petropolitano com a bela cidade da região dos lagos tem um fundo de verdade. Não só serrano, mas pessoas de outros lugares também. A quantidade que se vê de navios, cruzeiros luxuosos, passando por lá...
Aliás, retomando o verso dos Paralamas do Sucesso, entro no navio da vida a dois sem me iludir de que terá o glamour, o luxo e os recursos de um MSC, mas esperando que seja aconchegante e vá longe como um barco de pesca simples, um pequeno veleiro. Se os maiores desastres náuticos aconteceram com as embarcações aparentemente mais seguras, então estou bem servido. Sou marinheiro de primeira (e, queira Deus, de única) viagem. Quando o padre disser "Eu vos declaro...", vou ouvir com tranqüilidade, pois não sou gaiato nem gatuno. Eu escolhi navegar.