GABIROBA

Por Rodolfo Gaspari | 25/11/2009 | Contos

                 G A B I R O B A 

 Um pequeno arbusto, de porte quase rasteiro, nativo de regiões de campo, solo arenoso e seco. Assim era constituída nossa região interiorana, muito campo, areia fina, branca, despropícia ao cultivo agrícola, motivo pelo qual se tornou um antro mais industrial do que voltado 
à agricultura com uma população mais urbana do que ruralista. Por esse motivo que os GABIROBAIS eram famosos, tradicionais no meio do povo da região ribeirinha do vale do rio Moji Guaçú. Na estação outono era a grande atração das pessoas que se rumavam aos campos da cidade na busca da deliciosa frutinha campestre. Amarelinhas, madurinhas, de tamanhos diversos e apetitosas desse gênero. Observavam-se nos campos mais próximos da região urbana da cidade, ainda pequena, trilhos, como verdadeiras marcas, devido ao fluxo contínuo e grande dos transeuntes que iam à busca das procuradas e disputadas GABIROBAS. E, bem próximo desses trilhos, seria meramente impossível encontrar a frutinha. Havia necessidade de se infiltrar campo adentro, nos espaços menos procurados ou talvez pela própria acomodação dos colhedores que se preguiçavam na referida busca mais no interior dos campos. Os mais experientes dessa espécie campestre sabiam classificar as de melhor sabor.   Analisavam com muito detalhe, desde as minúsculas árvores, suas folhas, características das frutas, popas... Era ser bastante inteligente saber fazer esta seleção minuciosa. Sobretudo ativava uma atração enorme entre o povo. Não havia quem deixasse de conhecer os GABIROBAIS desse interior humilde. Pela curiosidade ou atração os infantis das mais variadas idades cronológica, que até causavam enormes preocupações às mães; fugiam em bandos e se direcionavam aos campos das GABIROBAS. Muitos sintomas de intoxicações surgiam, pelo desequilíbrio causado pelo excesso de se comer a tal frutinha do campo sem contar com as palmadas, chineladas, chicotadas... pelo deslize da falha cometida, ira aos campos das GABIROBAS, sem uma prévia autorização dos pais. Sim, corriam enormes perigos, pelo lado de se perderem entre as matas e serem vitimados por picadas de diversos tipos de insetos ou répteis, comuns dessas regiões. Mas os GABIROBAIS, eram realmente um sucesso! Deles surgiam muitos fatos que marcaram época: indivíduos picados por cobras e outros diversos animais peçonhentos ; idosos ou crianças desaparecidos e perdidos nesses matagais; autosuicídios; agressões de inimigos; mortes súbitas, encontros de parentes e velhos conhecidos... Interessante para essa história de época os concursos àquele que conseguisse trazer a MAIOR GABIROBA MADURA, tanto quanto a MENOR e àquele que conseguisse colher a MAIOR QUANTIDADE em unidades dessas frutas. De uma simples fruta considerada do mato, vieram os MITOS, dentre muitos outros comuns de uma cidade pequena: determinados campos não eram recomendáveis, mistérios assombrados faziam-se presentes; vieram figuras como exemplo da DITA PRETA, uma velha senhora que colhia GABIROBAS e depois vendia às pessoas de maior posse as quais também gostavam de saboreá-las, mas não se dirigiam aos campos frutíferos. Essa senhora, vindo a falecer diziam os acreditados que ela atormentava as pessoas que buscassem os respectivos campos em que ela freqüentava para as suas colheitas na busca de comercialização para o seu ganha pão. Muitos afirmavam categoricamente “ver” vultos estranhos, animais sem cabeça, monstros... Comum era encontrar CRUZES, as quais simbolizavam o local de onde eram encontradas vítimas falecidas sobejamente ou por autosuicídio. Haviam aqueles que buscavam os GABIROBAIS durante as noites de luar e céu estrelado e, não acendesse uma vela como oferta; se assim não fizessem corriam o risco de se perderem entre os campos, até que o dia pudesse clarear, eram perseguidos por coisas sobrenaturais. Surgiram os artesanatos na confecção de criativas SACOLAS, feitas de retalhos, crochê, brins... algumas comercializadas para o transporte das tradicionais GABIROBAS. Vieram depois os sucos, licores, pudins, bolos e doces em conserva. Que produto utilíssimo tornou-se tal fruta campestre! Um fato que marcou época: filhos de família desse tradicional povo interiorano, consta que um casal de jovens se encontraram em um dos GABIROBAIS, estabeleceram um amor à primeira vista, contraindo pouco mais tarde o casamento. Como marco romântico no ritual do enlace, deram por preferência arranjos naturais da própria planta de GABIROBA, símbolo do início de um verdadeiro amor, entrelaçado a dois. Como em tudo tem a sua época e passagem, os antigos GABIROBAIS foram desaparecendo com a chegada do progresso da cidade. Vieram os desmatamentos para os importantes loteamentos, como indício do progresso da cidadania de um povo. Foram surgindo os novos bairros, distantes do antigo centro urbanizado. E mesmo assim, os campos dos GABIROBAIS ainda tiveram utilidade, comum neste período com a retirada das gigantescas raízes dos pés de GABIROBA as quais serviam como matéria prima dos tradicionais “fogões à lenha” ou “fogões caipira”. As GABIROBAS sumiram gradativamente, tanto quanto, o lindo verde vem sendo extinto pelo progresso dos grandes centros. Mas eles tiveram uma participação muito ativa nesse desenvolvimento de época e tradições. Todos merecem muito respeito e destaque porque fizeram muito sucesso no processo evolutivo de um povo, dentro das suas próprias famílias e amigos de outrora. Seria de uma importância grande e histórica se nos dias contemporâneos, ainda se conseguissem preservar alguns exemplos das tradicionais GABIROBAS como enfeites dos nossos logradouros públicos, objetivando a conservação como experiência e conhecimento às nossas   novas gerações, também como um grande marco do ontem. Porque as GABIROBAS dos GABIROBAIS interioranos fizeram parte da HISTÓRIA e ESTÓRIA de um povo e de uma cidade. 
           

                               
     
CONTO DESCRITIVO
AUTOR E HISTORIADOR: Rodolfo Gaspari -Rogas-