FUKUSHIMA (IN)FELIZMENTE CONTINUA SENDO A BOLA DA VEZ...
Por Efren Fernandez Pousa Junior | 12/04/2011 | AmbientalJá tivemos a oportunidade de nos manifestar em artigo anterior acerca do sensacionalismo midiático no evento japonês (1) . Perpetua-se a indignação. Decorrido mais de três semanas do trágico evento da natureza que se abateu sob a cidade de Fukushima (11 de março passado) as ponderações da imprensa continuam a alarmar a população mundial, incluindo a brasileira.
Esta semana matérias veiculadas em vários meios de comunicação informaram que "o iodo radioativo (2) na água do mar, a 300 metros da usina, subiu para 4,4 mil vezes o teor aceitável no dia 31 (de março)" (3) . - inclusive revista Carta Capital de 06 de abril de 2011, fls. 19. Em 05 deste mesmo mês a imprensa fala em um aumento de fabulosos cinco milhões de vezes! Para o leitor leigo que índice assustador seria este?
Em que pese toda a tentativa de impingir medo e descrédito com a utilização da energia nuclear, como freio à alternatividade de produção elétrica, por exemplo, a crise levantada não consegue ser instaurada com efetividade. Por quê?
Porque segurança de instalação nuclear é impensável para o entendimento do homem médio. Os estudos em que se baseiam a proteção radiológica nestes ambientes, sequer podem ser comparados com quaisquer outras estruturas de engenharia, ainda que de grande porte, como acontecem em construções de pontes, viadutos ou estruturas faraônicas da arquitetura mundial. (4)
Onde, portanto, começa a realidade dos fatos e onde terminam as suposições levantadas pela mídia?
Por primeiro, há de se lembrar, que atualmente no Japão encontram-se autoridades e agências internacionais capacitadas para analisar todos os dados gerados pela energia nuclear deslocada pela região (5) ; logo, informações de que não há mortos ou doentes em decorrência do vazamento de energia nuclear, efetivamente, não pode ser mentiroso ou camuflado.
Em função destas ordinárias avaliações, há nas colocações midiáticas uma apresentação de informações com responsabilidade?
Quer nos parecer que não.
Ilustremos. Aristóteles já tratava do assunto da responsabilidade há aproximadamente 500 anos a.C. Na época em que escreveu sobre a República entendia a necessidade do fator res-publica x virtù. Guardadas as proporções, épocas e principais vertentes do estudo avocado, desde a conscientização de a república aristotélica sempre houve a necessidade do imperativo absoluto da garantia, ou de que os "informadores" dentro de um estado republicano (democrático em nossos dias) devesse respeitar e preservar de maneira plena e integral os direitos fundamentais dos cidadãos. E o direito à informação verdadeira, como um deles, desde os mais remotos tempos, sempre foi evidenciado.
Claro que todos estes critérios sócio-jurídicos evoluíram com o decorrer do tempo, como é o caso da cidadania em suas diversas fases, partindo das idéias de Marshall e alcançando uma cidadania "forte", que luta por seus direitos. Em nossos dias, ciente estamos, de nossa realidade muito mais complexa. De qualquer maneira, como podemos contrapor dignamente veracidade e atuais informações veiculadas sobre o tema, cotejando-as com um direito consagrado constitucionalmente à informação? Onde fica a tal virtude aristotélica em nossos dias?
A virtude, como idéia maior de responsabilidade, talvez possa sim ser aplicada aos moradores idosos da região do acidente, que se negam a sair de suas residências pelo simples fato de acreditarem que se assim o fizerem estarão agindo contra a própria consciência nacional. Em seu íntimo, o afastamento da região ensejaria um descrédito no governo e na proteção que confere o atributo democrático ao regime nipônico. (6) Aristóteles haveria de se contentar com estes moradores!
Se em território japonês a manifestação do pensamento se reveste de intrínseco caráter de responsabilidade, a mídia ao redor do mundo continua esperando a oportunidade de informar degeneração humana (7) advinda do rompimento da estrutura física da usina nuclear japonesa.
Esta hipótese, é claro, sabemos ser bastante possível de acontecer, logicamente não nos escapa, não seriamos ingênuos a tal nível, mas os estudos dosimétricos efetuados pela AIEA vêm corroborando dia a dia com nossa postura de que a radiação está em um nível perigoso, mas não será capaz de causar problemas de saúde à população local nem a curto, médio ou longo prazo. (8)
Informações alarmantes à parte, o fato de serem encontrados alimentos com níveis de radiação alterados do outro lado do país também, não necessariamente, deve ser causa de alarme da população (9) . Isto porque tais níveis não ensejam, pelo menos até o momento, quaisquer problemas de saúde aos consumidores. Todos os níveis medidos até o momento, a par de elevados, não ensejam intervenção medicamentosa ou hospitalar alguma na população envolvida.
Felizmente não somos voz única em meio aos acontecimentos atuais. Richard Wakeford, epidemiologista da universidade de Manchester assevera: As pessoas estão preocupadas com o que até o momento são níveis baixos de radioatividade, mas os problemas reais são lidar com o terremoto e o tsunami. Conforme nossa colocação em diversas oportunidades: o pânico gerado pela questão nuclear no Japão está desviando a atenção das autoridades de uma possível crise humanitária, que pode envolver as mais de 500 mil pessoas que estão vivendo em abrigos temporários, que enfrentam chuva, neve e temperaturas de abaixo de zero em ginásios lotados, templos e escolas públicas e que não possuem sistemas de aquecimento suficientes, conseqüentemente, continuam morrendo.
Por fim, ao contrário do que se possa parecer, em decorrência do lastimável incidente natural ocorrido, mantemo-nos firme em nossa postura acerca da utilização da energia nuclear no território brasileiro pelos inúmeros fatores apontados anteriormente, dentre eles, apresentamos, agora, um outro: - a segurança redobrada que se impõe quando de sua aplicação, seja a que título for. ? Lembremo-nos: A energia nuclear tem um histórico invejável de segurança se comparada com as mortes de outros setores energéticos.
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(1) Fukushima: a valoração midiática e a tragédia humana. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2831, 02 abr. 2011.