Frívola fama

Por Gabriela Plaza | 02/09/2014 | Filosofia

A aspiração à fama caminha ao lado do ser humano desde os tempos mais remotos. E talvez o faça pois provém de um famoso pecado capital, tão presente no homem: a vaidade. Antes, porém, a fama era quase inatingível, pois a imprensa era quase inexistente. Para se ter seu legado marcado nas páginas dos livros, eram necessários feitos extremamente grandes, sejam eles extremamente bondosos, ou extremamente cruéis. Já no século XXI, a Era da Alta Tecnologia, a imprensa invadiu a internet, abrindo o caminho da fama para a estupidez sem tamanho, e para a mesquinhez e pequenez da vaidade. “Quando o reconhecimento de muitos por um único afasta qualquer pudor, nasce assim a fama.”, Nietzsche.

O novo século tem como base a publicidade, o marketing. O ser humano, então, tem a ideologia da fama fortemente inserida em seu cérebro. O anonimato virou sinônimo de infelicidade, e a fama, de essencial realização. Acredita-se na premissa de que morrer no anonimato significa, basicamente, ter vivido uma vida perdida, irrelevante. A fama virou uma necessidade humana. Assim surge uma nova síndrome compulsiva: a incessável busca pela fama. Incessável até o último sopro de vitalidade. Um dilúvio de anônimos insatisfeitos inunda a internet, com as maiores e mais impactantes burrices. Vídeos de cunho sexual, exposição exagerada do corpo, opiniões radicalizadas e rasas, culto exagerado à imagem, atitudes inconsequentes e ofensivas, vida privada exposta, dentre outras, são as atuais artimanhas para se atingir a fama. A inteligência, neste caso, perde sua força, e esta doentia aspiração “emburrece” os doentes. O resultado: uma fama efêmera, desmerecida, superficial, sem nexo, estúpida. “Feliz aquele que superou seu ego”, dizia o famoso Buda. Não só feliz, como também inteligente. Por outro lado, a internet abre portas para os bons, os criativos, críticos; e estes, talvez sem ela, nunca teriam suas ideias propriamente difundidas. O maniqueísmo não existe. Qualquer artefato pode ser benéfico ou danoso, tudo depende de sua utilização, e do bom senso de quem a utiliza. Neste caso, porém, a procura não é pela fama, e sim pela socialização de uma ideia, talento ou descoberta.

Segundo Hegel, uma tese sempre gera uma antítese. A procura doentia pela fama gera, então, a procura por uma solução, que resgate valores reais. “Fama” e “reconhecimento” são erroneamente interpretados como sinônimos, quando na realidade têm conceitos praticamente contrários. Uma tese e uma antítese. Reconhecimento é o combustível que estimula a prática de bons e autênticos feitos, já a fama estimula a desumanização e o emburrecimento do homem. Reconhecimento gera o sentimento de honra e merecimento, e a fama, de satisfação supérflua. O ser humano, quando reconhecido, vira um exemplo que instigará outros a ser igual e excepcionalmente bons. O que seria da sociedade sem os grandes filósofos, médicos, políticos, escritores, artistas, cientistas? Completa estagnação. Por tal motivo, a humanidade tem sempre a possibilidade e a esperança de se alavancar para o futuro: devido aos grandes exemplos, aos grandes homens. Ao reconhecimento, e não à frívola fama.