FREUD E A CONSTRUÇÃO DO PROCESSO PSICANALÍTICO

Por Flávia Regina Araujo | 24/08/2011 | Saúde

FREUD E A CONSTRUÇÃO DO PROCESSO PSICANALÍTICO

Sigmund Freud, "o grande pai da Psicanálise", foi o grande responsável pela revolução no estudo da mente humana. Nascido em Freiberg, na Morávia, Viena, em 1856, teve como formação acadêmica a medicina, com especialização no tratamento das doenças mentais, a Psiquiatria. O desenrolar de sua vida foi marcado por intensos estudos e descobertas surpreendentes sobre o inconsciente e seus mistérios. Desde pequeno, já fazia anotações sobre os seus próprios sonhos, com o intuito de interpretá-los. Ainda adolescente, em cartas enviadas a um colega, dizia: "Guarde essas cartas, não sabe a importância que podem ter. Nunca se sabe."
De fato, Freud já mostrava desde a mais tenra idade, o seu fascínio pelo inconsciente e um dos meios pelos quais se chegaria até ele, através da interpretação dos sonhos e sua desmistificação.
Em 1885, Freud conhece o francês Jean Martin Charcot, um dos mais brilhantes médicos na área de distúrbios nervosos, que fazia experiência com pacientes histéricos. Este foi um grande acontecimento em sua vida, que o impulsionou a descortinar o mistério fascinante da mente humana.
A histeria e outras doenças mentais, na época, eram vistas como loucura, e os pacientes, por muitas vezes, eram acorrentados. A classe médica acreditava que essas doenças provinham de algum dano nos nervos ou lesão cerebral.
Charcot, então, desmitificou essa afirmação: "As doenças podem ser causadas por idéias".
Através da hipnose, Charcot provou que é possível sugerir ideias ao hipnotizado e daí criar um sintoma físico. Com isso, ele demonstrou que em alguma parte da mente haveria crenças que tinham forte ligação com os sintomas apresentados pelo paciente, ou seja, aqueles sintomas também estavam arraigados a mente. Para Charcot, estes indícios se alojavam na "segunda mente", que logo em seguida Freud o denominou de inconsciente. Após esta descoberta, Freud passou a explorar enfaticamente a psique humana.
Em 5 de abril de 1886, Freud cria o seu próprio consultório, e inicia as análises utilizando-se da hipnose e tendo o divã como um suporte técnico, pois o mesmo imergia e facilitava o transe em seus analisandos. Freud ansiava chegar a "segunda mente" e dar um fim a histeria através de sugestões hipnóticas, no entanto, não funcionaram. Porém, esta técnica e as que se antecederam, sem êxito algum, provocavam em Freud um incrível e maravilhoso fascínio, fazendo-o buscar insistentemente a razão para seus insucessos.
O avanço de Freud, nesta área, se deu a partir da convivência com o Dr. Joseph Breuer. O mesmo lhe apresentou Anna O. (Bertha Pappenheim), uma paciente com histeria grave, a mesma experimentava um método novo "talking cure" a cura pela fala. Na media em que a paciente falava sobre seus sintomas, os mesmos despareciam. Breuer, então conclui que os sintomas neuróticos resultam de processos inconscientes e desaparecem quando esses processos se tornam conscientes. Chamou a esse processo de Catarse. Em parceria, Freud e Breuer, publicam um artigo sobre o método desenvolvido, e o livro que marcou o início da teoria psicanalítica, Studien über Hysterie ("Estudos sobre a histeria").
Após a descoberta deste tratamento, Freud em suas observações, descobre que os sintomas apresentados por suas pacientes provinham de experiências infantis traumáticas, mais precisamente de ordem sexual, ligada a uma fantasia reprimida ou culpada. As neuroses, enfim, tem origem na sexualidade e que para o indivíduo não se tornar neurótico ele deve vivenciar o sexo de maneira livre e sem limites.
Em 1889, Freud resolve se analizar e descobre a "estrada real para o inconsciente" (os sonhos) através da associação livre, ou seja, falar qualquer coisa que viesse a mente sem qualquer censura. Durante um ano, Freud adentrou em seu inconsciente e descobriu uma imensidão de sentimentos reprimidos e dolorosos: "É o destino de todos nós dirigir o primeiro impulso sexual para a nossa mãe e o primeiro ódio e desejo de morte contra o nosso pai." Surge assim o Complexo de Édipo.
Em 1901, Freud escreve sua obra mais importante "A Interpretação dos Sonhos", através do registro de suas descobertas e de seus próprios sonhos, de sua auto-análise. Mais adiante, publica o livro "Sobre a psicopatologia do cotidiano", evidenciando que o ato falho era como sintoma, constituição de compromisso entre o intuito consciente da pessoa e o reprimido.
Em 1920, Freud lança a obra "Além do Princípio do Prazer", revelando que há um instinto nos homens além da libido , um instinto agressivo, de morte. Sendo desenvolvida assim a Teoria de Eros e Tanatos. Tanatos é o instinto agressivo e destrutivo, como parte instintiva do ser humano e Eros o instinto construtivo. Ele afirma que o ser humano tem um instinto natural de morte e que o mesmo deve ser controlado.
Os estudos freudianos leva-nos a refletir sobre nós mesmos: "Qual a nossa verdadeira história?".
A busca pelo verdadeiro "eu" perpassa pelos caminhos obscuros da mente, o chamado inconsciente, que Freud tão bem conceituou em id, ego e superego. O id, como representante dos nossos desejos mais primitivos, o ego está entre o id e o superego, ponderando as suas exigências e o superego que contra-age ao id, representa os pensamentos morais e éticos internalizados.
O processo psicanalítico, tão bem enfocado e estruturado por Freud, nos leva a descoberta de nossa essência, através dos caminhos da hipnose, da associação livre e primordialmente pela interpretação dos sonhos, os quais irão acionar o inconsciente para se chegar a cura das neuroses e o fortalecimento do ego, tendo como pano de fundo um "set analítico".