Frentes de expansão e estrutura agrária. autor Otávio Velho

Por Sara Mileide da Silva Ribeiro | 19/11/2015 | Resumos

 

 

 

 

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ

 

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE MARABÁ

 

FACULDADE DE GEOGRAFIA

 

 

 

Velho, Otávio Guilherme Cardoso Alves, Frentes de expansão e estrutura agrária. Estudo do processo de penetração numa área da transamazônica- Rio de Janeiro, 2009. Segunda Edição – 1981. Centro Edelstein de Pesquisas Sociais.

 

 

 

 

 

 

Resenha solicitada pela docente Mestre: Michel de Melo Lima, como critério de avaliação da disciplina Geografia dos Processos Agrários, apresentados pela discente: Sara Mileide da Silva Ribeiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Marabá/PA

2015

Velho. Otávio Guilherme Cardoso Alves, nasceu no Rio de Janeiro de 1942 é um antropólogo brasileiro. Bacharel em Ciências Política e Social pela PUC do Rio de Janeiro em 1964, é mestre em Antropologia Social pela UFRJ em 1970, doutor em Filosofia pela Universidade de Manchester em 1973, com pós-doutorado pela Stanford University em 1981, professor titular em 1993 e professor emérito em 2005 de Antropologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é também pesquisador emérito do Departamento de Antropologia/ Museu Nacional/UFRJ.

O primeiro trabalho de Velho sobre Frentes de expansão e estrutura agrária. Estudo do processo de penetração numa área da transamazônica, foi apresentado em junho de 1970 como dissertação de mestrado ao Programa de Pós – graduação em Antropologia Social do Departamento de Antropologia, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

O Estudo do autor tem como objetivo entender como se deu o processo de penetração em áreas da transamazônica e suas transformações, traz informações de suma importância como a frente pastoril, a extração da borracha e da castanha em Marabá bem como a extração de minérios e o crescimento da Agropecuária. 

Velho expõe sua opinião sobre a frente agrícola, englobando o Maranhão, Itacaiúnas, São Domingos das Latas e São Domingos do Araguaia, o autor traz também a questão do Mercado Nacional de Arroz, que por sorte sua tese de mestrado coincidiu com o período de implementação da rodovia transamazônica e traz como se deu o processo de colonização nessa área, bem como, a história da estrada e os efeitos causados na região.

Trata-se de como o próprio autor afirma, de uma “análise descritiva” de diferentes frentes de expansão, pelas quais passou uma região do médio Tocantins, denominada pelo IBGE “microrregião de Marabá, localizada no Estado do Pará e que vem a ser a referência empírica deste estudo. Marabá é lugar privilegiado para esse tipo de análise na medida em que entrecruzaram correntes de povoamento vindas de Goiás, Pará e Maranhão, em momentos descontínuos e nem sempre gerando a fixação do homem em caráter definitivo, o que provocou a renovação até nossos dias de frentes de expansão iniciadas em fins do século XVI. Assim os estudos em vários locais e a implementação da construção da rodovia transamazônica colaboraram para a elaboração do trabalho do autor.

“Como um todo, portanto, o estudo resulta, no que diz respeito ao seu suporte em trabalho de campo, de quatro viagens realizadas ao Brasil Central e à Amazônia Oriental em dezembro de 1966, janeiro-fevereiro de 1969, outubro-novembro de 1969 e em novembro de 1971-janeiro de 1972”. (Velho. Frente de expansão, página 4).

O autor também retrata no livro suas experiências com grupos de pequenos produtores no Pará e no Maranhão se aprimorando a respeito da organização social interna e externa desses grupos que viviam uma espécie de “defesa” do pequeno produtor numa situação individualmente em desvantagem, chegando ao ponto de não ser detentor de muito crédito. O autor enfatiza que o livro vive em constante desatualização por causa de informações nele contidas e pelas devidas mudança a respeito do assunto, então o autor decide que seja a última edição do livro, deixando para o leitores analisarem os assuntos criticamente.

                               I.            CONSIDERAÇÕES:

 

Os limites geográficos do Brasil surgiram em decorrência dos movimentos de expansão ocorridos no Brasil a partir do século XVI que saia do litoral do Atlântico indo ao interior do continente sul-americano. Deste o início do período colonial o objeto que ligava a economia era o da posse, no entanto o Brasil estava ligado a colonização o que fazia em muitos casos com que a posse não se torna-se inteiramente terminante. O Brasil passava por ciclos econômicos o que originava uma marginalização em certas áreas que não conseguiam se adaptar novamente, certamente existem áreas que ainda não possui nenhum atrativo econômico, contudo estas áreas ainda estão sujeitas a frentes de expansão da sociedade.

Dados do incremento demográfico dos Censos de 1950 e 1960 do IBGE poderiam determinar as zonas fisiografias que estariam sujeitas a ação de frente de expansão que significa a abertura de negócio, expandir, aumentar as metas e denunciam a sua existência, dentre essas zonas estavam: Rondônia, Roraima, Pará, Amapá, Maranhão. Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás, apesar disso várias dessas zonas possuíam uma densidade demográfica baixíssima, o que exclui o sentido do incremento demográfico, ou seja, eram áreas gigantescas, mas com pouco habitantes.

“Interessante observar que as frentes de expansão constituem, em matéria de migração, uma alternativa à urbanização.” (Velho. Frente de expansão, página 8).

Como o autor destaca, é devido a migração que se constituem as frentes de expansão, pois com investimentos em regiões mais distantes e implementações de usinas hidrelétricas, ferrovias, lojas, Supermercados, entre outros, aumentam-se as buscam por mão de obras especializadas ou não, o que traz imigrantes de outras regiões do País, constituindo assim as frentes de expansão nessas regiões antes não habitadas.

Objetivo da Obra

 

O antropólogo Otávio Velho, assim como outros antropólogos, se interessaram inicialmente pela história das frentes de expansão, das áreas que se internava, em áreas antes não exploradas e apenas ocupadas por sociedades indígenas. Inicia-se o estudo tendo como polo inicial a cidade de Marabá.

Público alvo

 

Este trabalho se destina a todos os leitores, proporcionando uma análise da história da região e das várias frentes de expansão que a cruzaram, exposta sem qualquer prejuízo e acrescido da previa informação da rodovia Transamazônica.

 

Objetivo do autor

Otávio Velho, não se preocupa somete com um estudo de área, mas principalmente ao tema das frentes de expansão; particularmente ao inter-relacionamento entre frentes diversas e ao estudo da frente de expansão agropecuária que hoje alcança a Amazônia Oriental brasileira.  Como Velho menciona: “Nesse sentido, este estudo é apresentado sob uma ‘forma de história, em que se distinguem períodos representados pela atuação de determinadas frentes de expansão. Essas frentes de expansão, por sua vez, serão caracterizadas e distinguidas de acordo, basicamente, com as relações fundamentais que estabeleçam com a natureza, e conforme as relações de produção e trabalho prevalecentes.

       I.            OS PRIMÓRDIOS

No início da colonização percebe-se que os portugueses demoraram a se interessar pelo Norte brasileiro como um todo retardando sua a exploração e povoamento, mais tarde inicia-se expedições, dentre eles franceses, ingleses e holandeses.  Assim os franceses saem a exploração da terra penetrando no Tocantins e explora-o pelo menos até a cachoeira de Itaboca.

Em 1613 alcança a confluência com o Araguaia, onde se dividiu, subindo uma parte pelo Tocantins e outra pelo Araguaia, enquanto isso, ingleses e holandeses foram se infiltrando na Amazônia ao contrário dos franceses, cujo interesse parece indicar buscarem estabelecer uma ligação interior entre o Pará e a sua colônia no Maranhão. O avanço foi lento. Tendo iniciado a conquista da Paraíba em 1583, só em 1615 tomam o Maranhão aos franceses; e, prosseguindo, fundam próximo ao delta do Amazonas uma fortaleza, origem da cidade de Belém.

A partir daí dá-se a gradativa expulsão dos concorrentes na Amazônia, todas essas expedições tinham pelos menos como um de seus objetivos a descoberta de metais preciosos, então no Pará a formação da zona entorno de Belém na primeira metade do século se desenvolveu de forma lenta, logo a criação de gado em Marajó com importantes consequências para o futuro. Em 1801, ao passo que Belém possuía 12.500 habitantes, Cametá estava vindo a se constituir no aglomerado mais importante do Pará depois de Belém, possuindo cerca de 7.900 habitantes. 

 

    II.            A FRENTE PASTORIL

Velho, destaca a importância da expansão da pecuária no brasil, que antes estavam ligada a economia açucareira, mas tarde o gado, necessários para o funcionamento da plantation, predominando o açúcar, o gado vai-se internalizando. Os dois principais centros de dispersão seriam Salvador e Olinda.

A rapidez da expansão deve-se também à abundância de terras combinada com a sua baixa produtividade. Por outro lado, o autor destaca dentro do sistema produtivo empregado que a exigência de mão-de-obra era pequena, pois cada vaqueiro podia cuidar de duzentas a trezentas reses.

 “Criava-se, desse modo, um princípio dinâmico endógeno, ligado à reprodução do rebanho, às fracas condições naturais, à disponibilidade de terras e às relações de trabalho estabelecidas. As relações com o litoral, agora mais indiretas, vão-se dando através das feiras de gado”. (Velho. Frente de expansão. Pag. 17).

A partir da segunda metade do século XVII, começou a lenta declínio da atividade açucareira, esse princípio interno irá domando a própria demanda de mercado como razão da expansão e as relações com a economia açucareira, especialmente para as fazendas mais afastadas, se enfraquecem e se invertem, com a sua própria decadência lhe trazendo mais um estímulo à medida que expulsa pessoal que se engajará nessa atividade. Isto fará com que haja uma tendência crescente à pecuária fechar-se sobre si mesma, como atividade de sustento, numa espécie de involução econômica que mostrava-se ser o próprio móvel da expansão territorial. Crescia o setor de subsistência da pecuária onde o gado além da carne e do leite oferecia o couro que se torna a matéria prima por excelência dessa frente.

 III.            A EXTRAÇÃO LIVRE

 

A Amazônia esteve isolada durante séculos em relação ao Brasil e ao mundo. O que se podia realizar em meio da orientação colonial e mercantil era a da exploração e dos atrativos que oferecia a região. Entra então o Ciclo da Borracha que registra suas exportações desde o século XIX de uma das drogas do sertão, a borracha amazônica que com o tempo sua extração alcança o Médio Tocantins se torna algo rentável para os colonizadores. A partir da segunda metade do século a exportação toma força devido ao grande aumento de industrias, aumentando a sua exploração e a produção, além uma das consequências é a vinda de cerca de meio milhão de nordestinos para a região, ocasionando a quebra do reservatório de mão-de-obra em que se constituía o Nordeste.

 “Marabá logo prosperou e tornou-se centro de polarização para uma vasta zona, tanto em termos de atração de contingentes populacionais, quanto em face das exigências de abastecimento, dadas as características exclusivistas da atividade extrativa”. (Velho. Frente de Expansão. Pagina 37).

A exploração de borracha e da castanha no Tocantins eram preferencias extrativistas concentrada no seu curso inferior, onde cidades como Baião, A1cobaça e Arumateua conheceram alta prosperidade. Marabá surgi por ação de comerciantes e seus primeiros povoadores inicialmente se situaram na foz do Itacaiúnas, no decorrer do processo o foco de Marabá estava na extração da goma, favorecendo a vinda de mercadorias vindas de fora.

 IV.            MARABÁ DA CASTANHA E DO DIAMANTE

 

Na região de Marabá, os esforços se concentraram na castanha e a zona do Itacaiúnas tornou-se a maior produtora, responsável por mais da metade da produção geral do Estado sendo o maior produtor, ocorrendo o mesmo com a castanha vinda do Norte de Goiás e de Mato Grosso, que é computada como paraense, logo entra a mineração de pedra preciosas como do diamante, do cristal, aumentando o interesse pela agropecuária pois significava o abastecimento das corrutelas, que dizem respeito ao aparecimento de novos aglomerados ou um novo impulso para os antigos, como é o caso de São João do Araguaia que em 1880 possuía 285 habitantes deu uma reduzida e em 1942 conhecem uma movimentação com a descoberta do garimpo, mas pela precariedade se reduz, se tornando com o passar do tempo uma comunidade agrícola, como é o Apinages. Terminando em 1944 a 1946 a construção da Estrada de Ferro do Tocantins, que vai de Tucuruí a Jatobal. Em 1948 surgi com o desmembramento de Marabá, distritos de Itupiranga e jacundá. Em Itupiranga registraram-se também algumas ocorrências de garimpo.

    V.            BOI E CASTANHA

Em 1954 foram introduzidas importantes modificações no arrendamento de terras devolutas do Estado para fins de exploração por indústrias extrativas, esse direito de renovação do arrendamento. Próximo a Marabá, já havia casos de castanhais concedidos em aforamento pela prefeitura em terras do município, por vezes, contribuindo para reduzir os castanhais livres do município, assim o arrendamento poderia ser renovado, e caso não houvesse outro pretendente. Após 1954, tinha-se assegurado o direito de renovação, com pouca margem para disputas. A curto prazo, a lei constituiu-se, porém numa grande manobra política, colocando como arrendatários em grande parte os partidários do agrupamento então no Governo.

Esses investimentos realizados consistiram nas melhorias a que a lei se referiu como a abertura de estradas, construção de abarracamento, plantio de roçado, entre outros, como também no aumento e melhoria do rebanho bovino, com o que se realizava um investimento produtivo de retorno mais lento do que o da castanha, e ao mesmo tempo com algumas características dava uma segurança maior pela própria diversidade.

 VI.            A FRENTE AGRÍCOLA

 

Há uma tendência a identificar o início do seguimento econômico da Amazônia com a construção da Belém-Brasília, os incentivos fiscais, a criação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). Trata-se de uma meia-verdade, já que nenhuma dessas medidas teria efeito considerável se não fosse a existência de certas precondições que vinham lentamente amadurecendo.

Nas duas pontas do que seria mais tarde o traçado da Belém-Brasília, o início da movimentação econômica maior data do final da década de 30 e começo da de 40. Na ponta do Sul, semiabandonada a uma pecuária ultra extensiva desde a decadência da mineração, liga-se à colonização do Vale do São Patrício, passando por cima das áreas estagnadas, pela ação de uma frente agropecuária que se constitui num prolongamento mais fraco do que no Norte do Paraná da expansão da agropecuária paulista e mineira.

Em Seguida tal como no Acre, no Solimões e no médio Amazonas, zonas também tradicionalmente ligadas à extração vegetal, teremos no Itacaiúnas o desenvolvimento da pecuária, que se acrescenta ao crescimento do rebanho já anteriormente existente no eixo Manaus-Santarém.

 O avanço maranhense se deu a partir do litoral, da civilização do babaçu, do arroz e do algodão, até as primeiras décadas deste século apenas alcançava o curso inferior e médio do Itapicuru e a porção inferior do Turiaçu e do Pindaré , até onde se fora pela existência de planícies e graças ao cultivo de algodão relativamente longe do litoral .Depois muitos moradores de áreas do Sudoeste do Maranhão, em especial aqueles que habitavam próximo ao Tocantins , deslocavam-se para o Itacaiúnas por ocasião da safra da castanha , juntamente com moradores do Norte de Goiás e do baixo Tocantins

Em Marabá, após um surto inicial da pequena agricultura no começo da década de 50, a sua atividade desaba, mas de qualquer forma, vai-se criando uma agricultura de terra firme, que acaba por obscurecer a tradicional pequena agricultura de várzea. Vimos não só a zona do Tocantins no Maranhão, mas também, a zona do Itacaiúnas aparecem como zonas de alto incremento demográfico juntamente com o limítrofe Planalto.

Entre 1953 e 1963, a área de cultura e o volume da produção de arroz do Maranhão duplicaram. Ocorre que há uma certa coincidência entre o aumento na pressão da frente agrícola para Oeste e a chegada da estrada, apesar dessa pressão já ocorrer desde o início da década. Basta dizer que apesar das oscilações de curto prazo sua produção tem tendido a aumentar acompanhando o crescimento de nosso mercado interno de tal modo que em meados da década de 60 já se apresentava em primeiro lugar quanto ao valor entre os produtos agrícolas; seguido, no período 1966-68, do milho, com o café vindo então somente em terceiro lugar.

A região em estudo, às vésperas do anúncio da Construção da Rodovia Transamazônica, já atravessava uma fase em que diversos fatores juntavam se no sentido de provocar, como resultado geral, um processo de transformação bastante acelerado. A penetração da frente agrícola era um desses fatores; tal como a pecuária intensiva, existe porém, pelo menos dois outros – um que se liga à frente e outro bastante independente – que já prometiam vir contribuir decisivamente nesse processo.

O fundamental a fixar é como no ramal rapidamente se cristalizou o padrão do binômio diacrônico pequena lavoura-pecuária intensiva, que em São Domingos e arredores com o tempo, tem sido enxergado como uma intenção possível, porém sofre toda uma série de marchas e contramarchas de forma que baseados no mero jogo de forças econômicas é difícil prever o resultado final.

  1. VII.            A TRANSAMAZÔNICA

Com a implementação da estrada, uma serie de novas estradas foram sendo criadas para ligar o trecho. A estrada foi criada para ligar a transamazônica ao nordeste.

“Iniciada a construção da estrada no final de 1970 simultaneamente em trechos diversos, já em outubro de 1971 era entregue ao tráfego o trecho que atravessa a área de nosso estudo e que vai do rio Araguaia, do lado do Pará (a partir de local denominado Porto da Balsa ou Porto Jarbas Passarinho), até Marabá, passando a 5 quilômetros desta cidade. Do outro lado do rio Araguaia, em Goiás, de um ponto situado 8 quilômetros acima de Araguatins (antiga São Vicente) abria-se também a ligação com a Belém-Brasília, com a construção de estrada nova e o aproveitamento do ramal que ligava Tocantinópolis (antiga Boa Vista) à localidade de Estreito, no limite entre Goiás e Maranhão, onde a Belém-Brasília atravessa o rio Tocantins”.Com tudo isto revela-se simultaneamente a enorme transformação ocorrida com o advento da estrada, bem como o fato de que nos anos anteriores já estavam ocorrendo alguns desenvolvimentos em direção semelhante” (Velho. Frente de Expansão. pag. 139)

O aparecimento de firmas do Sul e órgãos governamentais, a exploração do ferro na Serra dos Carajás, a próxima instalação de uma unidade do Exército em Marabá e a presença do campus avançado da Universidade de São Paulo, que é o Projeto Rondon, fazem com que antigos projetos em torno dos quais há longos anos se especulava na região ganhem maior viabilidade.

A Colonização na área de São Domingos estar tornado o problema de terras mais difícil, pois não existem mais extensas faixas de terra livre próximas a São Domingos, e alguns dos mais antigos lavradores começam a ensaiar o plantio em capoeira. Por isso diminui a capacidade de absorver novos lavradores, que terão de se deslocar mais para a lugares mais adiante para encontrar terras. Apesar disso o INCRA não coloca como prioridade o apoio aos lavradores estabelecidos espontaneamente, praticamente todo o seu esforço está centralizado no projeto de colonização de Itupiranga, onde encontrou maior extensão contínua de terras ainda não ocupadas.

A superioridade de São Domingos no conjunto do município se tornou evidente, pois em 1971 instalou-se a primeira beneficiadora de arroz e outra seria inaugurada em 1972. Diversos dos comerciantes maiores de Apinagés têm transferido as suas residências e os seus negócios para a área de São Domingos. Com isso surge em São Domingos do Araguaia, liderado pelos comerciantes locais e camponeses remediados um movimento no sentido de transferir a sede do município para São Domingos ou então para criar se um novo município. Atualmente este município enfrenta uma luta análoga à que levou mais de meio século atrás à criação do município de Marabá. Restará saber até que ponto ainda existe lugar para a sua pequena elite integrar-se aos setores dominantes em escala supralocal.

CONCLUSÕES DO AUTOR

 

O autor mostra em seu livro, como por muito tempo a região em estudo sofreu a influência indireta de várias frentes de expansão, é com a extração da borracha e logo da castanha que ela efetivamente ganha uma história. É importante fixar, nesse processo, as solicitações externas e suas instabilidades, bem como a maneira pela qual se dá a acumulação necessária e se organiza a produção, devendo-se ressaltar a formação de uma camada comercial dirigente e o seu papel, bem como o processo de concentração posterior.

A economia da extração vegetal se desenvolvia com nítido caráter exclusivista. Uma vez se apresentando novas condições no sistema envolvente que levam a uma quebra do isolamento relativo da região, isso virá abalar o caráter exclusivista da economia localmente dominante.  Todavia, isso se dava de modo diferenciado e, nos casos extremos, o papel de reserva de mão-de-obra tornava-se cada vez mais apenas uma possibilidade, realizável ou não conforme as alternativas da economia.

A partir de meados do século XIX, a plantation nordestina, bem como seus subsistemas no agreste e no sertão vão se mostrando incapazes de absorver amplamente os contingentes populacionais gerados nela mesma. Isso porque aos poucos, a marginal idade em relação à plantation deixa de identificar-se com uma marginalização em relação à formação social como um todo dado, particularmente, o crescimento do mercado interno. Isso cria um fato novo que não parece enquadrar-se facilmente em nenhuma das duas vertentes principais em que se tem dividido o pensamento dos estudiosos sobre o desempenho da agricultura brasileira contemporânea.

O exame da frente agrícola maranhense-paraense parece revelar dois fatos que, tomados em conjunto não se ajustam a nenhuma das duas visões, por um lado, se trata de uma agricultura extensiva de baixo nível tecnológico, apoiada basicamente na utilização de terra e mão-de-obra em pequenas unidades produtivas, e que ganha importância considerável no suprimento do mercado interno, o que é atestado pela posição do Maranhão como produtor de arroz.

Teríamos um caso de pronta capacidade de resposta às solicitações do mercado uma vez fornecidas as condições infraestruturas indispensáveis para a comercialização que se dá através de uma pequena produção mercantil, onde o homem continua a trabalhar mesmo quando a sua produtividade marginal é inferior ao seu custo de subsistência, é a “barbárie do Super trabalho”. Mas é exatamente isto que aumenta a capacidade de resistência às condições adversas; o que parece atestar a eficácia do mecanismo clássico da oscilação entre agricultura de subsistência e agricultura de mercado, porém agora no seio de uma economia transformada e fora do âmbito da grande propriedade.

Uma maneira de interpretar o caráter desta pequena agricultura de terras novas seria perceber o seu papel como sendo provisório, à medida que se ligue à passagem da agricultura dominada pela plantation, mas também a negação para uma agricultura caracteristicamente capitalista e em grande escala, todavia há obstáculos ao avanço da modernização, devido à escassez de capital , os custos ainda altos dos insumos agrícolas modernos , a instabilidade do mercado devido especialmente às deficiências ainda existentes na estrutura de comercialização e a entrada de novos produtores no mercado , a pequena absorção da mão-de-obra expulsa do campo na indústria moderna e a propensão marginal relativamente baixa a consumir alimentos criando riscos de superprodução , já que a urbanização sozinha não cria novos consumidores , apenas alterando em certa medida a estrutura de gastos e necessidades.

 Parte superior do formulário

Com a dominação de forças puramente econômicas, o destino da agricultura camponesa no Brasil é incerto, em face de dados que indicam tendências em conflito. Se isto se confirmar , bem como a impossibilidade de absorção total dos novos contingentes de mão-de-obra nos centros urbanos e industriais , mesmo a longo prazo; e se as políticas postas em execução , fugindo tanto a uma concepção de laissez-faire econômico quanto ao de uma onipotência estatal , encontrarem um equilíbrio entre a atividade do Estado e o livre desenvolvimento , então poderemos ter , não apenas uma transição , mas a estabilização relativa de um setor camponês subordinado ao desenvolvimento capitalista principal e um gênero de frente de expansão que fugirá ao padrão até agora usual no Brasil .Parte inferior do formulário

 

AVALIAÇÃO DA OBRA

 

As frentes de Expansão é um tema amplo e muito discutido entre os antropólogos, filósofos, historiadores e os pesquisadores que tentam entender como se dá a formação econômica, social e territorial de uma área. Com as mudanças nas frentes de expansão, também muda-se o espaço, como sua extensão territorial, na estrutura física, na economia, na demografia, e quando há investimentos, nos modos de produção, na organização da cidade, na questão social, na formação de redes urbana, fazendo com que haja uma inter-relação e dependência entre áreas centralizadoras com os pequenos municípios e vilarejo, dando o poder de polarizar várias áreas,  como aconteceu com muitos municípios do estado do Pará, Maranhão e regiões entorno da Estrada da Transamazônica.

A área de Marabá é o que sofreu mais transformações desde o início do ciclo da castanha e da borracha, mas com implementação da Estrada de ferro do Tocantins significou um intenso progresso. Em 1967 segundo o IBGE, Marabá era local de encontro de povoamentos oriundos do Pará, de Goiás e do Maranhão. Marabá foi se tornado metrópole, passando a investir na agropecuária, que é muito importante na sua economia. Atualmente possui industrias, fabrica e também estar voltada na extração de minérios, além de grandes empresas atuando no ramo civil, entre outros, ocasionou uma transformação drástica na cidade.

Segundo Milton Santos o espaço é “A ciência, a tecnologia e a informação estão na base mesma de todas as formas de utilização e funcionamento do espaço, da mesma forma que participam da criação de novos processos vitais [...]. Os espaços, assim requalificados, atendem sobretudo a interesses dos atores hegemônicos da economia e da sociedade, e desse modo são incorporados plenamente as correntes de globalização”. (SANTOS, 2008, p. 48).

Um dos grandes motivos de estudo por parte do autor estar voltado ao ponto de contato entre a Amazônia, Nordeste e Brasil Central, e principalmente a transamazônica, pois a mesma foi o elo de ligação entre vários estados, o que contribui para a infraestrutura que temos hoje, é algo histórico, pois também foi a oportunidade de vários imigrantes terem a chance de ocupar terras para dela tirar sua subsistência, outros, de encontrarem empregos e a chance de melhorar de vida, logico com a urbanização também vieram vários problemas, como por exemplo a falta de organização dos município por causa do crescimento acelerado e desordenado , mas é certo que como disse Velho “a urbanização não cria sozinha novos consumidores”. É realmente o governos ou as grandes elites que atuam à frente dos seus desejos econômicos, fazendo-nos aceitar as mudanças impostas, simplesmente pelo prazer de avançamos frente a globalização ou como podemos posso dizer as frentes de expansão. 

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ

 

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE MARABÁ

 

FACULDADE DE GEOGRAFIA

 

 

 

Velho, Otávio Guilherme Cardoso Alves, Frentes de expansão e estrutura agrária. Estudo do processo de penetração numa área da transamazônica- Rio de Janeiro, 2009. Segunda Edição – 1981. Centro Edelstein de Pesquisas Sociais.

 

 

 

 

 

 

Resenha solicitada pela docente Mestre: Michel de Melo Lima, como critério de avaliação da disciplina Geografia dos Processos Agrários, apresentados pela discente: Sara Mileide da Silva Ribeiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Marabá/PA

2015

Velho. Otávio Guilherme Cardoso Alves, nasceu no Rio de Janeiro de 1942 é um antropólogo brasileiro. Bacharel em Ciências Política e Social pela PUC do Rio de Janeiro em 1964, é mestre em Antropologia Social pela UFRJ em 1970, doutor em Filosofia pela Universidade de Manchester em 1973, com pós-doutorado pela Stanford University em 1981, professor titular em 1993 e professor emérito em 2005 de Antropologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é também pesquisador emérito do Departamento de Antropologia/ Museu Nacional/UFRJ.

O primeiro trabalho de Velho sobre Frentes de expansão e estrutura agrária. Estudo do processo de penetração numa área da transamazônica, foi apresentado em junho de 1970 como dissertação de mestrado ao Programa de Pós – graduação em Antropologia Social do Departamento de Antropologia, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

O Estudo do autor tem como objetivo entender como se deu o processo de penetração em áreas da transamazônica e suas transformações, traz informações de suma importância como a frente pastoril, a extração da borracha e da castanha em Marabá bem como a extração de minérios e o crescimento da Agropecuária. 

Velho expõe sua opinião sobre a frente agrícola, englobando o Maranhão, Itacaiúnas, São Domingos das Latas e São Domingos do Araguaia, o autor traz também a questão do Mercado Nacional de Arroz, que por sorte sua tese de mestrado coincidiu com o período de implementação da rodovia transamazônica e traz como se deu o processo de colonização nessa área, bem como, a história da estrada e os efeitos causados na região.

Trata-se de como o próprio autor afirma, de uma “análise descritiva” de diferentes frentes de expansão, pelas quais passou uma região do médio Tocantins, denominada pelo IBGE “microrregião de Marabá, localizada no Estado do Pará e que vem a ser a referência empírica deste estudo. Marabá é lugar privilegiado para esse tipo de análise na medida em que entrecruzaram correntes de povoamento vindas de Goiás, Pará e Maranhão, em momentos descontínuos e nem sempre gerando a fixação do homem em caráter definitivo, o que provocou a renovação até nossos dias de frentes de expansão iniciadas em fins do século XVI. Assim os estudos em vários locais e a implementação da construção da rodovia transamazônica colaboraram para a elaboração do trabalho do autor.

 

“Como um todo, portanto, o estudo resulta, no que diz respeito ao seu suporte em trabalho de campo, de quatro viagens realizadas ao Brasil Central e à Amazônia Oriental em dezembro de 1966, janeiro-fevereiro de 1969, outubro-novembro de 1969 e em novembro de 1971-janeiro de 1972”. (Velho. Frente de expansão, página 4).

 

O autor também retrata no livro suas experiências com grupos de pequenos produtores no Pará e no Maranhão se aprimorando a respeito da organização social interna e externa desses grupos que viviam uma espécie de “defesa” do pequeno produtor numa situação individualmente em desvantagem, chegando ao ponto de não ser detentor de muito crédito. O autor enfatiza que o livro vive em constante desatualização por causa de informações nele contidas e pelas devidas mudança a respeito do assunto, então o autor decide que seja a última edição do livro, deixando para o leitores analisarem os assuntos criticamente.

 

                               I.            CONSIDERAÇÕES:

 

Os limites geográficos do Brasil surgiram em decorrência dos movimentos de expansão ocorridos no Brasil a partir do século XVI que saia do litoral do Atlântico indo ao interior do continente sul-americano.Deste o início do período colonial o objeto que ligava a economia era o da posse, no entanto o Brasil estava ligado a colonização o que fazia em muitos casos com que a posse não se torna-se inteiramente terminante. O Brasil passava por ciclos econômicos o que originava uma marginalização em certas áreas que não conseguiam se adaptar novamente, certamente existem áreas que ainda não possui nenhum atrativo econômico, contudo estas áreas ainda estão sujeitas a frentes de expansão da sociedade.

Dados do incremento demográfico dos Censos de 1950 e 1960 do IBGE poderiam determinar as zonas fisiografias que estariam sujeitas a ação de frente de expansão que significa a abertura de negócio, expandir, aumentar as metas e denunciam a sua existência, dentre essas zonas estavam: Rondônia, Roraima, Pará, Amapá, Maranhão. Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás, apesar disso várias dessas zonas possuíam uma densidade demográfica baixíssima, o que exclui o sentido do incremento demográfico, ou seja, eram áreas gigantescas, mas com pouco habitantes.

“Interessante observar que as frentes de expansão constituem, em matéria de migração, uma alternativa à urbanização.” (Velho. Frente de expansão, página 8).

 

Como o autor destaca, é devido a migração que se constituem as frentes de expansão, pois com investimentos em regiões mais distantes e implementações de usinas hidrelétricas, ferrovias, lojas, Supermercados, entre outros, aumentam-se as buscam por mão de obras especializadas ou não, o que traz imigrantes de outras regiões do País, constituindo assim as frentes de expansão nessas regiões antes não habitadas.

 

Objetivo da Obra

 

O antropólogo Otávio Velho, assim como outros antropólogos, se interessaram inicialmente pela história das frentes de expansão, das áreas que se internava, em áreas antes não exploradas e apenas ocupadas por sociedades indígenas. Inicia-se o estudo tendo como polo inicial a cidade de Marabá.

 

Público alvo

 

Este trabalho se destina a todos os leitores, proporcionando uma análise da história da região e das várias frentes de expansão que a cruzaram, exposta sem qualquer prejuízo e acrescido da previa informação da rodovia Transamazônica.

 

Objetivo do autor

Otávio Velho, não se preocupa somete com um estudo de área, mas principalmente ao tema das frentes de expansão; particularmente ao inter-relacionamento entre frentes diversas e ao estudo da frente de expansão agropecuária que hoje alcança a Amazônia Oriental brasileira.  Como Velho menciona: “Nesse sentido, este estudo é apresentado sob uma ‘forma de história, em que se distinguem períodos representados pela atuação de determinadas frentes de expansão. Essas frentes de expansão, por sua vez, serão caracterizadas e distinguidas de acordo, basicamente, com as relações fundamentais que estabeleçam com a natureza, e conforme as relações de produção e trabalho prevalecentes.

 

       I.            OS PRIMÓRDIOS

 

No início da colonização percebe-se que os portugueses demoraram a se interessar pelo Norte brasileiro como um todo retardando sua a exploração e povoamento, mais tarde inicia-se expedições, dentre eles franceses, ingleses e holandeses.  Assim os franceses saem a exploração da terra penetrando no Tocantins e explora-o pelo menos até a cachoeira de Itaboca.

Em 1613 alcança a confluência com o Araguaia, onde se dividiu, subindo uma parte pelo Tocantins e outra pelo Araguaia, enquanto isso, ingleses e holandeses foram se infiltrando na Amazônia ao contrário dos franceses, cujo interesse parece indicar buscarem estabelecer uma ligação interior entre o Pará e a sua colônia no Maranhão. O avanço foi lento. Tendo iniciado a conquista da Paraíba em 1583, só em 1615 tomam o Maranhão aos franceses; e, prosseguindo, fundam próximo ao delta do Amazonas uma fortaleza, origem da cidade de Belém.

A partir daí dá-se a gradativa expulsão dos concorrentes na Amazônia, todas essas expedições tinham pelos menos como um de seus objetivos a descoberta de metais preciosos, então no Pará a formação da zona entorno de Belém na primeira metade do século se desenvolveu de forma lenta, logo a criação de gado em Marajó com importantes consequências para o futuro. Em 1801, ao passo que Belém possuía 12.500 habitantes, Cametá estava vindo a se constituir no aglomerado mais importante do Pará depois de Belém, possuindo cerca de 7.900 habitantes. 

 

    II.            A FRENTE PASTORIL

 

Velho, destaca a importância da expansão da pecuária no brasil, que antes estavam ligada a economia açucareira, mas tarde o gado, necessários para o funcionamento da plantation, predominando o açúcar, o gado vai-se internalizando. Os dois principais centros de dispersão seriam Salvador e Olinda.

A rapidez da expansão deve-se também à abundância de terras combinada com a sua baixa produtividade. Por outro lado, o autor destaca dentro do sistema produtivo empregado que a exigência de mão-de-obra era pequena, pois cada vaqueiro podia cuidar de duzentas a trezentas reses.

 “Criava-se, desse modo, um princípio dinâmico endógeno, ligado à reprodução do rebanho, às fracas condições naturais, à disponibilidade de terras e às relações de trabalho estabelecidas. As relações com o litoral, agora mais indiretas, vão-se dando através das feiras de gado”. (Velho. Frente de expansão. Pag. 17).

 

A partir da segunda metade do século XVII, começou a lenta declínio da atividade açucareira, esse princípio interno irá domando a própria demanda de mercado como razão da expansão e as relações com a economia açucareira, especialmente para as fazendas mais afastadas, se enfraquecem e se invertem, com a sua própria decadência lhe trazendo mais um estímulo à medida que expulsa pessoal que se engajará nessa atividade. Isto fará com que haja uma tendência crescente à pecuária fechar-se sobre si mesma, como atividade de sustento, numa espécie de involução econômica que mostrava-se ser o próprio móvel da expansão territorial. Crescia o setor de subsistência da pecuária onde o gado além da carne e do leite oferecia o couro que se torna a matéria prima por excelência dessa frente.

 

 III.            A EXTRAÇÃO LIVRE

 

A Amazônia esteve isolada durante séculos em relação ao Brasil e ao mundo. O que se podia realizar em meio da orientação colonial e mercantil era a da exploração e dos atrativos que oferecia a região. Entra então o Ciclo da Borracha que registra suas exportações desde o século XIX de uma das drogas do sertão, a borracha amazônica que com o tempo sua extração alcança o Médio Tocantins se torna algo rentável para os colonizadores. A partir da segunda metade do século a exportação toma força devido ao grande aumento de industrias, aumentando a sua exploração e a produção, além uma das consequências é a vinda de cerca de meio milhão de nordestinos para a região, ocasionando a quebra do reservatório de mão-de-obra em que se constituía o Nordeste.

 “Marabá logo prosperou e tornou-se centro de polarização para uma vasta zona, tanto em termos de atração de contingentes populacionais, quanto em face das exigências de abastecimento, dadas as características exclusivistas da atividade extrativa”. (Velho. Frente de Expansão. Pagina 37).

A exploração de borracha e da castanha no Tocantins eram preferencias extrativistas concentrada no seu curso inferior, onde cidades como Baião, A1cobaça e Arumateua conheceram alta prosperidade. Marabá surgi por ação de comerciantes e seus primeiros povoadores inicialmente se situaram na foz do Itacaiúnas, no decorrer do processo o foco de Marabá estava na extração da goma, favorecendo a vinda de mercadorias vindas de fora.

 

 IV.            MARABÁ DA CASTANHA E DO DIAMANTE

 

Na região de Marabá, os esforços se concentraram na castanha e a zona do Itacaiúnas tornou-se a maior produtora, responsável por mais da metade da produção geral do Estado sendo o maior produtor, ocorrendo o mesmo com a castanha vinda do Norte de Goiás e de Mato Grosso, que é computada como paraense, logo entra a mineração de pedra preciosas como do diamante, do cristal, aumentando o interesse pela agropecuária pois significava o abastecimento das corrutelas, que dizem respeito ao aparecimento de novos aglomerados ou um novo impulso para os antigos, como é o caso de São João do Araguaia que em 1880 possuía 285 habitantes deu uma reduzida e em 1942 conhecem uma movimentação com a descoberta do garimpo, mas pela precariedade se reduz, se tornando com o passar do tempo uma comunidade agrícola, como é o Apinages. Terminando em 1944 a 1946 a construção da Estrada de Ferro do Tocantins, que vai de Tucuruí a Jatobal. Em 1948 surgi com o desmembramento de Marabá, distritos de Itupiranga e jacundá. Em Itupiranga registraram-se também algumas ocorrências de garimpo.

 

    V.            BOI E CASTANHA

 

Em 1954 foram introduzidas importantes modificações no arrendamento de terras devolutas do Estado para fins de exploração por indústrias extrativas, esse direito de renovação do arrendamento. Próximo a Marabá, já havia casos de castanhais concedidos em aforamento pela prefeitura em terras do município, por vezes, contribuindo para reduzir os castanhais livres do município, assim o arrendamento poderia ser renovado, e caso não houvesse outro pretendente. Após 1954, tinha-se assegurado o direito de renovação, com pouca margem para disputas. A curto prazo, a lei constituiu-se, porém numa grande manobra política, colocando como arrendatários em grande parte os partidários do agrupamento então no Governo.

Esses investimentos realizados consistiram nas melhorias a que a lei se referiu como a abertura de estradas, construção de abarracamento, plantio de roçado, entre outros, como também no aumento e melhoria do rebanho bovino, com o que se realizava um investimento produtivo de retorno mais lento do que o da castanha, e ao mesmo tempo com algumas características dava uma segurança maior pela própria diversidade.

 

 VI.            A FRENTE AGRÍCOLA

 

Há uma tendência a identificar o início do seguimento econômico da Amazônia com a construção da Belém-Brasília, os incentivos fiscais, a criação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). Trata-se de uma meia-verdade, já que nenhuma dessas medidas teria efeito considerável se não fosse a existência de certas precondições que vinham lentamente amadurecendo.

Nas duas pontas do que seria mais tarde o traçado da Belém-Brasília, o início da movimentação econômica maior data do final da década de 30 e começo da de 40. Na ponta do Sul, semiabandonada a uma pecuária ultra extensiva desde a decadência da mineração, liga-se à colonização do Vale do São Patrício, passando por cima das áreas estagnadas, pela ação de uma frente agropecuária que se constitui num prolongamento mais fraco do que no Norte do Paraná da expansão da agropecuária paulista e mineira.

Em Seguida tal como no Acre, no Solimões e no médio Amazonas, zonas também tradicionalmente ligadas à extração vegetal, teremos no Itacaiúnas o desenvolvimento da pecuária, que se acrescenta ao crescimento do rebanho já anteriormente existente no eixo Manaus-Santarém.

 O avanço maranhense se deu a partir do litoral, da civilização do babaçu, do arroz e do algodão, até as primeiras décadas deste século apenas alcançava o curso inferior e médio do Itapicuru e a porção inferior do Turiaçu e do Pindaré , até onde se fora pela existência de planícies e graças ao cultivo de algodão relativamente longe do litoral .Depois muitos moradores de áreas do Sudoeste do Maranhão, em especial aqueles que habitavam próximo ao Tocantins , deslocavam-se para o Itacaiúnas por ocasião da safra da castanha , juntamente com moradores do Norte de Goiás e do baixo Tocantins

Em Marabá, após um surto inicial da pequena agricultura no começo da década de 50, a sua atividade desaba, mas de qualquer forma, vai-se criando uma agricultura de terra firme, que acaba por obscurecer a tradicional pequena agricultura de várzea. Vimos não só a zona do Tocantins no Maranhão, mas também, a zona do Itacaiúnas aparecem como zonas de alto incremento demográfico juntamente com o limítrofe Planalto.

 

Entre 1953 e 1963, a área de cultura e o volume da produção de arroz do Maranhão duplicaram. Ocorre que há uma certa coincidência entre o aumento na pressão da frente agrícola para Oeste e a chegada da estrada, apesar dessa pressão já ocorrer desde o início da década.Basta dizer que apesar das oscilações de curto prazo sua produção tem tendido a aumentar acompanhando o crescimento de nosso mercado interno de tal modo que em meados da década de 60 já se apresentava em primeiro lugar quanto ao valor entre os produtos agrícolas; seguido, no período 1966-68, do milho, com o café vindo então somente em terceiro lugar.

A região em estudo, às vésperas do anúncio da Construção da Rodovia Transamazônica, já atravessava uma fase em que diversos fatores juntavam se no sentido de provocar, como resultado geral, um processo de transformação bastante acelerado. A penetração da frente agrícola era um desses fatores; tal como a pecuária intensiva, existe porém, pelo menos dois outros – um que se liga à frente e outro bastante independente – que já prometiam vir contribuir decisivamente nesse processo.

O fundamental a fixar é como no ramal rapidamente se cristalizou o padrão do binômio diacrônico pequena lavoura-pecuária intensiva, que em São Domingos e arredores com o tempo, tem sido enxergado como uma intenção possível, porém sofre toda uma série de marchas e contramarchas de forma que baseados no mero jogo de forças econômicas é difícil prever o resultado final.

 

 

 

VII.            A TRANSAMAZÔNICA

 

Com a implementação da estrada, uma serie de novas estradas foram sendo criadas para ligar o trecho. A estrada foi criada para ligar a transamazônica ao nordeste.

 

Iniciada a construção da estrada no final de 1970 simultaneamente em trechos diversos, já em outubro de 1971 era entregue ao tráfego o trecho que atravessa a área de nosso estudo e que vai do rio Araguaia, do lado do Pará (a partir de local denominado Porto da Balsa ou Porto Jarbas Passarinho), até Marabá, passando a 5 quilômetros desta cidade. Do outro lado do rio Araguaia, em Goiás, de um ponto situado 8 quilômetros acima de Araguatins (antiga São Vicente) abria-se também a ligação com a Belém-Brasília, com a construção de estrada nova e o aproveitamento do ramal que ligava Tocantinópolis (antiga Boa Vista) à localidade de Estreito, no limite entre Goiás e Maranhão, onde a Belém-Brasília atravessa o rio Tocantins”.Com tudo isto revela-se simultaneamente a enorme transformação ocorrida com o advento da estrada, bem como o fato de que nos anos anteriores já estavam ocorrendo alguns desenvolvimentos em direção semelhante” (Velho. Frente de Expansão. pag. 139)

 

O aparecimento de firmas do Sul e órgãos governamentais, a exploração do ferro na Serra dos Carajás, a próxima instalação de uma unidade do Exército em Marabá e a presença do campus avançado da Universidade de São Paulo, que é o Projeto Rondon, fazem com que antigos projetos em torno dos quais há longos anos se especulava na região ganhem maior viabilidade.

A Colonização na área de São Domingos estar tornado o problema de terras mais difícil, pois não existem mais extensas faixas de terra livre próximas a São Domingos, e alguns dos mais antigos lavradores começam a ensaiar o plantio em capoeira. Por isso diminui a capacidade de absorver novos lavradores, que terão de se deslocar mais para a lugares mais adiante para encontrar terras. Apesar disso o INCRA não coloca como prioridade o apoio aos lavradores estabelecidos espontaneamente, praticamente todo o seu esforço está centralizado no projeto de colonização de Itupiranga, onde encontrou maior extensão contínua de terras ainda não ocupadas.

A superioridade de São Domingos no conjunto do município se tornou evidente, pois em 1971 instalou-se a primeira beneficiadora de arroz e outra seria inaugurada em 1972. Diversos dos comerciantes maiores de Apinagés têm transferido as suas residências e os seus negócios para a área de São Domingos. Com isso surge em São Domingos do Araguaia, liderado pelos comerciantes locais e camponeses remediados um movimento no sentido de transferir a sede do município para São Domingos ou então para criar se um novo município. Atualmente este município enfrenta uma luta análoga à que levou mais de meio século atrás à criação do município de Marabá. Restará saber até que ponto ainda existe lugar para a sua pequena elite integrar-se aos setores dominantes em escala supralocal.

 

CONCLUSÕES DO AUTOR

 

O autor mostra em seu livro, como por muito tempo a região em estudo sofreu a influência indireta de várias frentes de expansão, é com a extração da borracha e logo da castanha que ela efetivamente ganha uma história. É importante fixar, nesse processo, as solicitações externas e suas instabilidades, bem como a maneira pela qual se dá a acumulação necessária e se organiza a produção, devendo-se ressaltar a formação de uma camada comercial dirigente e o seu papel, bem como o processo de concentração posterior.

A economia da extração vegetal se desenvolvia com nítido caráter exclusivista. Uma vez se apresentando novas condições no sistema envolvente que levam a uma quebra do isolamento relativo da região, isso virá abalar o caráter exclusivista da economia localmente dominante.  Todavia, isso se dava de modo diferenciado e, nos casos extremos, o papel de reserva de mão-de-obra tornava-se cada vez mais apenas uma possibilidade, realizável ou não conforme as alternativas da economia.

A partir de meados do século XIX, a plantation nordestina, bem como seus subsistemas no agreste e no sertão vão se mostrando incapazes de absorver amplamente os contingentes populacionais gerados nela mesma. Isso porque aos poucos, a marginal idade em relação à plantation deixa de identificar-se com uma marginalização em relação à formação social como um todo dado, particularmente, o crescimento do mercado interno.Isso cria um fato novo que não parece enquadrar-se facilmente em nenhuma das duas vertentes principais em que se tem dividido o pensamento dos estudiosos sobre o desempenho da agricultura brasileira contemporânea.

 

O exame da frente agrícola maranhense-paraense parece revelar dois fatos que, tomados em conjunto não se ajustam a nenhuma das duas visões, por um lado, se trata de uma agricultura extensiva de baixo nível tecnológico, apoiada basicamente na utilização de terra e mão-de-obra em pequenas unidades produtivas, e que ganha importância considerável no suprimento do mercado interno, o que é atestado pela posição do Maranhão como produtor de arroz.

 

Teríamos um caso de pronta capacidade de resposta às solicitações do mercado uma vez fornecidas as condições infraestruturas indispensáveis para a comercialização que se dá através de uma pequena produção mercantil, onde o homem continua a trabalhar mesmo quando a sua produtividade marginal é inferior ao seu custo de subsistência, é a “barbárie do Super trabalho”. Mas é exatamente isto que aumenta a capacidade de resistência às condições adversas; o que parece atestar a eficácia do mecanismo clássico da oscilação entre agricultura de subsistência e agricultura de mercado, porém agora no seio de uma economia transformada e fora do âmbito da grande propriedade.

 

Uma maneira de interpretar o caráter desta pequena agricultura de terras novas seria perceber o seu papel como sendo provisório, à medida que se ligue à passagem da agricultura dominada pela plantation, mas também a negação para uma agricultura caracteristicamente capitalista e em grande escala, todavia há obstáculos ao avanço da modernização, devido à escassez de capital , os custos ainda altos dos insumos agrícolas modernos , a instabilidade do mercado devido especialmente às deficiências ainda existentes na estrutura de comercialização e a entrada de novos produtores no mercado , a pequena absorção da mão-de-obra expulsa do campo na indústria moderna e a propensão marginal relativamente baixa a consumir alimentos criando riscos de superprodução , já que a urbanização sozinha não cria novos consumidores , apenas alterando em certa medida a estrutura de gastos e necessidades.

 Parte superior do formulário

Com a dominação de forças puramente econômicas, o destino da agricultura camponesa no Brasil é incerto, em face de dados que indicam tendências em conflito. Se isto se confirmar , bem como a impossibilidade de absorção total dos novos contingentes de mão-de-obra nos centros urbanos e industriais , mesmo a longo prazo; e se as políticas postas em execução , fugindo tanto a uma concepção de laissez-faire econômico quanto ao de uma onipotência estatal , encontrarem um equilíbrio entre a atividade do Estado e o livre desenvolvimento , então poderemos ter , não apenas uma transição , mas a estabilização relativa de um setor camponês subordinado ao desenvolvimento capitalista principal e um gênero de frente de expansão que fugirá ao padrão até agora usual no Brasil .Parte inferior do formulário

 

AVALIAÇÃO DA OBRA

 

As frentes de Expansão é um tema amplo e muito discutido entre os antropólogos, filósofos, historiadores e os pesquisadores que tentam entender como se dá a formação econômica, social e territorial de uma área. Com as mudanças nas frentes de expansão, também muda-se o espaço, como sua extensão territorial, na estrutura física, na economia, na demografia, e quando há investimentos, nos modos de produção, na organização da cidade, na questão social, na formação de redes urbana, fazendo com que haja uma inter-relação e dependência entre áreas centralizadoras com os pequenos municípios e vilarejo, dando o poder de polarizar várias áreas,  como aconteceu com muitos municípios do estado do Pará, Maranhão e regiões entorno da Estrada da Transamazônica.

 

A área de Marabá é o que sofreu mais transformações desde o início do ciclo da castanha e da borracha, mas com implementação da Estrada de ferro do Tocantins significou um intenso progresso. Em 1967 segundo o IBGE, Marabá era local de encontro de povoamentos oriundos do Pará, de Goiás e do Maranhão. Marabá foi se tornado metrópole, passando a investir na agropecuária, que é muito importante na sua economia. Atualmente possui industrias, fabrica e também estar voltada na extração de minérios, além de grandes empresas atuando no ramo civil, entre outros, ocasionou uma transformação drástica na cidade.

 

Segundo Milton Santos o espaço é “A ciência, a tecnologia e a informação estão na base mesma de todas as formas de utilização e funcionamento do espaço, da mesma forma que participam da criação de novos processos vitais [...]. Os espaços, assim requalificados, atendem sobretudo a interesses dos atores hegemônicos da economia e da sociedade, e desse modo são incorporados plenamente as correntes de globalização”. (SANTOS, 2008, p. 48).

 

Um dos grandes motivos de estudo por parte do autor estar voltado ao ponto de contato entre a Amazônia, Nordeste e Brasil Central, e principalmente a transamazônica, pois a mesma foi o elo de ligação entre vários estados, o que contribui para a infraestrutura que temos hoje, é algo histórico, pois também foi a oportunidade de vários imigrantes terem a chance de ocupar terras para dela tirar sua subsistência, outros, de encontrarem empregos e a chance de melhorar de vida, logico com a urbanização também vieram vários problemas, como por exemplo a falta de organização dos município por causa do crescimento acelerado e desordenado , mas é certo que como disse Velho “a urbanização não cria sozinha novos consumidores”. É realmente o governos ou as grandes elites que atuam à frente dos seus desejos econômicos, fazendo-nos aceitar as mudanças impostas, simplesmente pelo prazer de avançamos frente a globalização ou como podemos posso dizer as frentes de expansão.