Foucault: da sociedade disciplinar à sociedade de controle, do panoptismo ao espaço aberto

Por Jacot Werner Stein | 25/10/2017 | Filosofia

Em um prolongamento do trabalho de Michel Foucault, Gilles Deleuze distingue três tipos de sociedade que se sucedem: as sociedades de soberania [souveraineté], disciplinares e de controle. Cada uma dentre elas é caracterizada por um certo tipo de técnicas de poder e de dispositivos permitindo articularem o funcionamento arranjando o espaço de um modo específico. Para Foucault, o dispositivo que é característico das sociedades disciplinares é o panóptico imaginado por Bentham, de quem a arquitetura e o funcionamento servem de modelo às instituições: «a prisão aparenta às usinas, às escolas, às casernas, aos hospitais, e todas aparentam às prisões» (Vigiar e Punir). Por sua arquitetura, o panóptico organiza o espaço de tal sorte que o supervisor pode ver o supervisionado sem que este possa ver quem ele é efetivamente, nem ver os outros supervisionados. Destes jogos de aparência relata-se possibilidades pela simples arquitetura emanada das relações de poder capazes de assujeitarem os indivíduos, de automatizar e de desindividualisar o poder.

Com as sociedades de controle sucedendo às sociedades disciplinares, um outro dispositivo tomou o lugar do panóptico, reinvestindo o espaço de um modo análogo mais renovado, reformando as antigas disciplinas adaptadas por um novo engenho: o espaço aberto [l’open space].  Frequentemente comparado ao panóptico, o espaço aberto agencia elegantemente o espaço de sorte que os jogos de olhar suficientemente estabelecem as relações de poder. Contudo, ele aporta uma radicalidade nova em que os supervisionados podem doravante, de uma parte serem vistos entre si, e de outra parte serem vistos pelos supervisores. A verticalidade da supervisão acorrenta assim mais lugares em uma horizontalidade do olhar e do poder, a supervisão unilateral do contra-mestre sobre os trabalhadores de antigamente partem do lugar de uma vigilância igualitária de cada um em cada um, podendo mesmo entender-se, por direito, até uma supervisão dos quadros por seus subordinados. As relações de poder, longe de dispararem nesta arquitetura aparentemente mais humana, são simplesmente redistribuídas a fim de continuar mais eficazmente os objetivos de uma natureza diferente. O capitalismo da idade da biopolítica busca com efeito doravante meios de se fundar unicamente sobre a exploração e coerção dos indivíduos, que são sua autonomia, iniciativa e criatividade, e o espaço aberto é pensado por seus teóricos como frente que produz uma tal subjetivação.

O espaço aberto constitui assim um modelo teórico geral, um dispositivo explorado em outros lugares que negociam unicamente, tudo como arquitetura do panóptico das sociedade disciplinares que desenham o diagrama ideal de um mecanismo de poder  polivalente em suas aplicações, reinvestido pelas instituições de outros lugares que eram unicamente  penitenciários. Esta institucionalização do espaço aberto e da sociedade de controle utilizam essencialmente a informática como ferramenta instrumental de tal fiscalização, opondo-se a tais atos de microrresistência já evocados em parte por Deleuze, de quem a finalidade é de subtrair não mais somente ao olhar unicamente do supervisor, mas que é de todos: criptografia, codificação, piratagem, introdução de vírus. Elas são uma reminiscência de que «o poder passa pelo dominado não mais que pelos dominadores», como o nota Deleuze em seu texto sobre Foucault.