Fotos compartilhadas na Web: é o fim da fotografia profissional?
Por Antonio LimaJr | 04/12/2010 | CrescimentoCerta vez li um Tweet que refletia a preocupação com a abundância de fotos disponibilizadas gratuitamente na Web, acusando os fotógrafos amadores de ameaçarem o trabalho dos fotógrafos profissionais. Possivelmente, porquê hoje encontramos, com grande facilidade, inúmeras belas imagens, obtidas com equipamento profissional, compartilhadas gratuitamente na WEB.
Comentei que, de forma análoga, os processadores de texto fizeram sumir a datilografia, assim como a imprensa fez sumirem escribas e glosadores. Sinal dos tempos?
É preciso encontrar caminhos.
Fotógrafos profissionais destacam o fato da tríade técnica, conceitual e filosófico serem elementos indissociáveis no aprendizado e no próprio fazer do fotógrafo.
Um fotógrafo profissional temer a multidão de amadores, que hoje têm facilidade de adquirirem ótimas câmeras, capturarem lindas imagens em ótimas fotos e utilizarem softwares de processamento de imagem de ponta, é o mesmo que um sábio temer a multidão que tem acesso a milhões de livros e documentos, atualmente acessíveis para qualquer pessoa na internet. Há espaço para todos, neste mundo. Entretanto, só alguns poucos serão sábios, assim como não tantos serão gênios ou profissionais da fotografia.
O processo criativo é único e alguns chegam muito mais longe do que outros. Talento? Creio que sim, também, embora não só isso. Mas o exercício permanente do ofício abraçado, a busca continuada pelo saber, a reflexão aprofundada sobre essa práxis, a paixão pela sua atividade?
O que faz com que um rosto se destaque em meio à multidão? Talvez o sorriso, o olhar, as suas linhas e curvas, as cores, os movimentos. Também é assim com as flores, e com as pinturas. Quem deixaria de se aperceber da exclusividade dos Girassóis de Van Gogh? E há tantos milhões de girassóis pelos campos. Inclusive, há muitas fotos de girassóis compartilhadas em sites como o Flickr. Da mesma forma com a fotografia e com alguns fotógrafos.
Não é só o domínio da semiótica, da teoria ou da prática diária, que constitui a síntese do saber fotográfico. Embora a prática, associada a outros elementos, tenda a conduzir à perfeição. É o que dizem.
Assim como a mescla de cores, pinceladas e ritmo se juntam ao olhar do pintor e contribuem para a feitura de uma tela, creio que o saber fotográfico ocorre quando o indivíduo constrói uma das possíveis combinações dos diferentes elementos que tornarão distinta a sua fotografia. Neste ponto, a criação não mais passará despercebida em meio à multidão de imagens que povoam o nosso mundo. Talvez seja isso o que denominamos arte.