Fortalecendo os Alicerces da Educação

Por Maria T. A. Rosas | 15/10/2010 | Educação

Introdução
A violência vem sendo objeto de pesquisas e de reflexão teórica. Especial atenção vem merecendo a violência infanto-juvenil, ora em suas diversas formas de violentar as crianças, adolescentes e jovens (exploração sexual, tráfico, trabalho infantil, desemprego, sobrevivência, fome, desproteção, maus-tratos, mortes), ora nas diversas formas de envolvimento da infância, adolescência e juventude nas redes de tráfico, agressão, roubos, assaltos, mortes. Na pesquisa e reflexão têm despertado atenção especial as diversas formas de violência praticadas nas escolas (Abramovay et al., 2002).

Ao nascer trazemos características individuais, outras herdadas de nossos pais e antepassados. Assim vamos formando nossa personalidade, com características próprias, com as que herdamos e com o que aprendemos nas nossas experiências de vida. Assim, podemos dizer que o comportamento tem componentes genéticos, mas vai depender da predisposição e fatores ambientais.

A educação sempre será a base, o alicerce onde se deve erigir o sujeito-cidadão do mundo. A elas pertence o futuro, mas o futuro da humanidade também dependerá delas. É necessário preparar o terreno fértil para semear e deixar desenvolver.
Assim como uma árvore depende das condições do solo para crescer saudável e dar frutos, todos nós dependemos das condições onde crescemos.
Desde os primeiros meses de vida, essas condições começam a atuar na formação da criança. Os pais, parentes, professores e o entorno dela, podem ser considerados os primeiros jardineiros.
Os maiores desafios serão: reconhecer as condições em que as crianças irão crescer e quais nutrientes faltam para alimentar o solo e fortalecer as raízes, as quais precisam ser bem estruturadas para enfrentar as intempéries que virão. Amor, carinho e atenção, são fundamentais para o sucesso dessa estruturação.
As famílias muitas vezes passam por situações difíceis sejam elas por conflitos conjugais, decorrentes de problemas financeiros, desemprego, infidelidade, vícios e a consequência disso gera abandono, negligência, maus tratos, abuso sexual, trabalho infantil, exercício abusivo de autoridade por parte dos pais e outras situações de risco. Os pais delegam sua função educativa, para a escola. As crianças ficam no meio de toda essa confusão, e agem conforme aquilo que observam e consoantes aos estímulos do ambiente. Uma criança aprende comportamentos muito antes de aprender palavras, porque seguem os modelos que têm como referência.
A criança que vê o pai bater na mãe ou ameaçar de matá-la, terá estímulo violento para resolver seus conflitos de forma agressiva, submetendo seu colega mais fraco, por exemplo, aos seus socos, chutes, puxões de cabelo, mordidas e por aí vai.

"Uma pessoa começa com uma história de maus-tratos e sofrimento, e vai progredindo para uma resposta comportamental cada vez mais hostil" acrescenta o pesquisador Renato Zamoura Flores.

Quem fica exposto a castigos corporais capazes de deixar marcas profundas não só no corpo como na mente, tem propensão a adoecer mais, podendo repetir atitudes violentas na sociedade, quando se tornar um adolescente/adulto. E obviamente isso afetará seu desempenho escolar, até a evasão.
Quando a criança é pequena e vê alguém chorando, ela se preocupa, olha, chega perto, com pena, abraça e às vezes até fala: Chora não!
A criança submetida aos maus tratos, quando cresce, perde esse sentimento puro de sentir pena dos outros. Vemos muitas vezes jovens infratores, matarem sem dó e piedade. Aprenderam a duras penas a se defender e pensam que a sociedade não tem pena deles. Violência gera violência.
O educador deve desenvolver um olhar cuidadoso sobre a criança. Ao menor sinal de maus tratos, deve comunicar à escola e ao Conselho Tutelar. Desde a educação infantil, deve se preocupar mais em trabalhar atividades que contemplem atitudes de solidariedade, participação, oportunidade das crianças se expressarem, desenvolver a arte, limites e responsabilidade.
O que se percebe na prática, na rotina da educação infantil, é um excesso de atividades fragmentadas no tempo; uma preocupação com um fazer constante, como se disso viesse a garantia de um bom trabalho executado.
Para o professor da PUC RS, pesquisador na área da Lógica da Linguagem Natural, Moacir Costa de Araújo Lima, "o educador deve ser o criador de novas paisagens, novos comportamentos, porque nós reproduzimos os ambientes a que estamos acostumados". Segundo ele, apenas dizer que essa realidade pode ser diferente é pouco: para ele, deve-se pensar sobre a nova realidade social e definir ações que criem caminhos para essa mudança: "É preciso planejar e criar caminhos para a construção de ambientes de educação mais efetivos e afetivos".
Importa que a criança tenha seu tempo de "ser criança", respeitado. Tempo de infância, como tempo de ludicidade. Tempo para provar o gosto das coisas, manusear objetos, ouvir diferentes sons, cantar, arrastar pelo chão e ir tateando até conseguir subir e dar seus primeiros passos. Vai cair e levantar muitas vezes, mas esse é o processo: aprender fazendo. Vai desenvolver por si, a curiosidade, a percepção e a busca de soluções dos conflitos.
Os estudos sobre a infância vinham mostrando outras visões da infância-adolescência como não mais in-fans, sem fala, sem opinião, sem pensamento, mas uma infância pensante, sujeito de decisões e escolhas, de valores, de liberdade e de autoria própria. Esta visão vinha se afirmando com o reconhecimento da infância-adolescência como sujeitos de direito e como sujeitos de cultura (Sposito, 1993, Gonçalves, 2006).

A educação sempre será a base, o alicerce onde se deve erigir o sujeito-cidadão do mundo. A elas pertence o futuro, mas o futuro da humanidade também dependerá delas.


A escola, o educador social, a comunidade: na prevenção da violência

O educador social é um profissional que pode agir e interatuar na prevenção e resolução dos problemas de violência. Como "profissional híbrido", pode atuar de diferentes formas, com a família, com os jovens, onde se registre foco de violência e mesmo na escola como elemento mediador. (Fermoso, 1998:93).
Essa perspectiva nos reporta ao profissional híbrido colocado por Nitschke, "O profissional híbrido não abandona sua formação de base, mas vai, sucessivamente, integrando outros aspectos no seu conhecimento e no seu agir".
A educação social atua concomitantemente com outros trabalhadores sociais de modo interdisciplinar na proteção e promoção sociais. Esse trabalho é realizado em parceria com a escola e com outros trabalhadores sociais e nunca poderá ser um trabalho solitário. Após o diagnóstico, a solução deverá centrar-se na intervenção para a erradicação da violência na comunidade, enfim, no entorno: "(?) Detectar mecanismos que possam desencadear num processo de marginalização, pobreza ou desenraizamento social e atuar"; englobar "todos os implicados na comunidade "instituições, amigos, famílias" no projeto de erradicação da violência. A quem intervém é necessária prudência, como profissional, salvaguardando os direitos da criança e sua família. Pino Juste, (1998: 136).

Considerações Finais

A valorização do ser humano deve acontecer desde os primeiros anos de vida e acompanhá-lo por toda vida. A auto-estima é muito importante para desenvolver o amor e sem ele não construímos nada, a começar pelo amor a si próprio.
Profissionais da educação infantil precisam propiciar momentos de acolhimento, de vínculo com as crianças. Através de atividades lúdicas, arte, desenhos, teatro é possível oportunizar a elas resolver seus conflitos brincando. O que dói e faz sofrer não deve ficar aprisionado, precisa ser exteriorizado, como um desabafo. O diálogo deve ser construído quando a criança começa a balbuciar as primeiras palavras.
Parafraseando Paulo Freire, "o diálogo representa um início da construção da escola democrática, sendo a democracia a própria essência do diálogo".

A escola deve interagir com a comunidade; aproximar a família da escola. Proporcionar oficinas de arte, palestras educativas com profissionais da área da saúde, da psicologia, da música e outros. Propiciar momentos de reflexão, de ajuda coletiva em eventos, relaxamento e conhecimento do corpo, pois agindo assim vai ajudando as pessoas a se sentirem valorizadas, úteis, afastando o ócio, a fuga através das drogas; agindo preventivamente.
O trabalho coletivo acontece dentro da dinâmica das relações sociais, com seus conflitos e acordos. É nesse movimento que os alicerces são fortalecidos; no convívio com as diferenças, da aceitação no grupo e no sentimento de pertencimento.
A criança deve construir sua personalidade e constituir-se como sujeito histórico, transformando sua realidade, em uma convivência saudável e feliz.

Bibliografia

ABRAMOVAY, M. et al. Juventude, violência e vulnerabilidade social na América Latina. Brasília, DF: UNESCO; Cortez, 2002.

FERMOSO, P. (1998). La violencia en La escuela: El educador ? pedagogo social escolar. In PANTOJA, L. (Org.). Nuevos espacios de la educación social. Bilbao: Universidad de Deusto.
FLORES, R. Z. A BIOLOGIA NA VIOLÊNCIA. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 197-202, 2002.
LIMA, M. C. A. Construir Soluções para a Violência Escolar. Infância e Juventude, Rio Grande do Sul, 27/08/2010 http://www.mp.rs.gov.br/noticias/id22244.htm
Nitschke RG. Mundo imaginal de ser família saudável: a descoberta dos laços de afeto como caminho numa viagem no quotidiano em tempos pós-modernos. Florianópolis: UFSC; 1999.

PINO JUSTE, M. R. (1998). La violencia como respuesta en algunos problemas de inadaptación social: campos de acción de la educación social. . In PANTOJA, L. (Org.). Nuevos espacios de la educación social. Bilbao: Universidad de Deusto.
SPOSITO, M. A sociabilidade juvenil e a rua: novos conflitos e ação coletiva na cidade. Tempo Social, São Paulo, v. 5, n. 1-2, p. 161-178, 1993.