FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE: OS DESAFIOS DAS REGÊNCIAS VIVIDAS NO SUBPROJETO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA DO PIBID-BIO/FACEDI.

Por Letícia Rodrigues de Moura | 03/03/2018 | Educação

FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE: OS DESAFIOS DAS REGÊNCIAS VIVIDAS NO SUBPROJETO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA DO PIBID-BIO/FACEDI.

Letícia Moura Rodrigues¹, Raylson Francisco Nunes de Sousa², Thaiane Andrade dos Santos³, Isabel Cristina Higino Santana.

¹Licencianda em Ciências Biológicas (Faculdade de Educação de Itapipoca-FACEDI/Universidade Estadual do Ceará-UECE /Itapipoca/Ceará/Brasil) e e-mail:leticia.moura@aluno.uece.br.

²Licenciando em Ciências Biológicas (Faculdade de Educação de Itapipoca-FACEDI/Universidade Estadual do Ceará-UECE /Itapipoca/Ceará/Brasil) e e-mail: raylson.sousa@aluno.uece.br.

³Licenciada em Ciências Biológicas, professora da rede estadual de ensino e supervisora do subprojeto PIBID-Bio/FACEDI (Faculdade de Educação de Itapipoca-FACEDI/Universidade Estadual do Ceará-UECE /Itapipoca/Ceará/Brasil). E-mail: thayanne.an@gmail.com.

Doutora em Educação Brasileira. Professora Adjunta I na Faculdade de Educação de Itapipoca/ Universidade Estadual do Ceará (FACEDI/UECE – Itapipoca/Ceará/Brasil) e coordenadora de área do PIBID-Bio/FACEDI. E-mail: isabel.higino@uece.br.

1 INTRODUÇÃO

O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) tem como principal finalidade a qualificação na formação de professores, inicial e continuada, além da valorização do magistério. É um projeto fomentado pelo Ministério da Educação e gerenciado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (CAPES), que anseia a formação e o aprimoramento de docentes que atuam na educação básica. Trata-se de um programa realizado na parceria entre Instituições de Nível Superior (IES) e Escolas da Educação Básica da Rede Pública de Ensino (BRASIL, 2007), nascido em 2007, a fim de inserir o aluno licenciando para o seu futuro campo de atuação, instigando, especialmente, as seguintes competências, I) o desenvolvimento de experiência prática no contexto escolar e de suas interfaces; II) a familiarização do futuro professor com os aspectos físicos e funcionais da escola e III) a construção da identidade docente dos licenciandos.

A exposição das vivências do cotidiano escolar no contexto educativo esquematizado pelo PIBID provavelmente, admitirá a construção da identidade docente, por parte do aluno licenciando, motivando-o ao aperfeiçoamento de competências que lhe serão necessárias durante a sua larga e variada trajetória profissional.

O ingresso nesse contexto representa um período de descobertas e de transição, no qual o aluno em formação adquiri competências e habilidades que lhes permitirá um ótimo desarticulação da atividade profissional, progredindo no processo construtivo da identidade docente (SOCZEK, 2011). Ao entrar numa instituição de ensino superior (IES), em algumas licenciaturas, os universitários trazem engajado expectativas e credos sobre a profissão e seus incrementos, no qual a crença influencia na forma como os professores aprendem e nos processos de transformação que os docentes possam tentar, expedindo as experiências pessoais, com o conhecimento formal e com a sala de aula. Como Paulo Freire (2002) ressaltou: “o saber que a prática docente espontânea ou quase espontânea, ‘desarmada’, indiscutivelmente produz, é um saber ingênuo, um saber de experiência feito, a que falta a rigorosidade metódica que caracteriza a curiosidade epistemológica do sujeito”.

Assim, estabelecendo parceria com o PIBID, pela terceira vez, no ano de 2014, o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Educação de Itapipoca (FACEDI) da Universidade Estadual do Ceará (UECE) vem desenvolvendo o subprojeto PIBID-Bio/FACEDI, intitulado Formação de professores de Biologia para a abordagem de temas controversos: o uso de estratégias inovadoras em contextos multiculturais.

 Dessa forma o presente trabalho relata uma experiência vivenciada por um dos bolsistas (o primeiro autor) de iniciação à docência (ID) durante uma atividade realizada no supracitado subprojeto, especificamente, na Escola de Ensino Médio Anastácio Alves Braga (AAB). A ação teve como objetivo inserir os bolsistas IDs no contexto de sala de aula, experienciar momentos percorridos pelo profissional docente, atividade concretizada no segundo bimestre escolar do corrente ano.

 

2 METODOLOGIA

O presente trabalho se delineou de acordo com o Relato de experiência, decorrente de uma experiência de regências realizada em uma turma de 2º ano da Escola de Ensino Médio Anastácio Alves Braga (AAB). Vale ressaltar que, essa experiência aconteceu em um anexo da instituição localizado em uma região distrital do município, a saber, Barrentos-Itapipoca/CE, durante o período da noite. Tal ação já estava prevista e inserida no planejamento desde o início no ano letivo, por se tratar de uma atividade a ser executada pelo bolsista e monitorada pela supervisora do subprojeto na escola.

Para a concretização deste relato utilizou-se dos registros dessa experiência formativa alocados no diário de bordo/reflexivo, organizado de acordo com as vivências nas atividades propostas pelo subprojeto. Saucedo, Weler e Wendling (2012) destacam a relevância desses registros reflexivos, ressaltando que neles os bolsistas podem propagar as percepções sobre a importância de discutir e desenvolver melhor suas próprias ideias, sua criticidade, concepções para poder potencializar seus saberes e ter um amadurecimento em sua prática educativa.  Com isso, o diário de bordo/reflexivo é um instrumento que proporciona aos bolsistas ID a oportunidade de relatar suas vivências dentro do contexto acadêmico e suas experiências em sala de aula através dos subprojetos do PIBID-Bio/FACEDI descrevendo suas observações e suas críticas para o seu crescimento como licenciando.

 

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

             Todo o processo teve como mote inicial uma reunião com o supervisor responsável pelos IDs da escola (AAB), onde, nesta foi acordado que cada ID teria a oportunidade de ministrar 4h/aulas em alguma das turmas da professora. Em seguida, após um período de observações da(s) turma(s), ocorreriam os momentos de regência. Então, após esse processo, e em acordo com a supervisora, seriam realizadas duas apresentações para a turma do 2º ano de ensino.

No primeiro dia, o assunto indicado pela professora foi métodos contraceptivos. O planejamento para a realização dessa aula envolveu o uso de equipamento audiovisual, como projetor, som e ainda, alguns modelos de métodos contraceptivos, como por exemplo, a camisinha masculina (por ser de fácil aquisição) e conhecida pela maioria dos estudantes. De acordo com Gomes e Ferreira (2015) é de fundamental importância que o planejamento esteja nas ações cotidianas dos professores, norteando o ato pedagógico para que não se arrastem do desenvolvimento, de sua prática educativa. Abordar sobre sexualidade, mesmo que em termos indiretos no ambiente escolar é um grande desafio, pois o medo de ser mal interpretado por falar algo que dê outro sentindo faz com que o planejamento de aula seja mais rigoroso, uma vez que este se classifica com um assunto delicado (ALTMANN, 2003).

Para dar início a aula e instituir ambiente de interação mais descontraída por partes dos alunos sobre o assunto abordado foi ouvida a música “amor e sexo” da compositora e cantora Rita Lee (Álbum Balacobaco, 2003), no qual ela fala das diferenças entre os dois termos. Foi perceptível no primeiro momento, uma reação de nervosismo por parte dos alunos – adolescentes, na faixa etária entre 16-17 anos – detectada pelas risadas durante o acompanhamento da letra. Além de verem no tema sexualidade motivos de “piada”. Não veem a conotação de seriedade no contexto do assunto, visto que normalmente não se tem diálogo que os envolva com tal conteúdo. Logo após a exposição da música, perguntou-se sobre as concepções e interpretações que eles tiveram da mesma. E se verificou com isso, que embora, tenham feito as “piadas”, sinalizaram entendimento acerca do que ela queria transmitir. Após esse processo, foi feita a exibição do tema através de um modelo de aula expositiva, identificando os modelos de métodos, sua forma de uso e atuação no corpo. Com isso, se percebeu a ausência de elementos constitutivos do conhecimento acerca do tema, a falta de articulação nas respostas dos alunos, com certo tom de timidez. A camisinha parece ser o mais comum para eles, é o método contraceptivo mais conhecido.

Após o término da referida aula foi apresentado ao grupo um jogo didático como forma de complementação ao conteúdo já trabalhado. Embora o referido instrumento lúdico tenha suas características positivas do ponto de vista metodológico, neste momento, se verificou entre os alunos uma pequena parcela de interessados em participar.

No segundo momento do processo formativo do ID, a regência envolveu uma abordagem ao assunto de genética. Apesar de ser um assunto mais amplo, se percebeu uma assimilação satisfatória por parte dos alunos, devido, provavelmente, a articulação que se buscou efetivar entre os assuntos trabalhados. Na ocasião entendeu-se a dificuldade dos alunos em apreender e distinguir, conceitos e definições de alguns termos e conteúdos, como por exemplo, herança dos caracteres, diibridíssimo, alelos, entre outros. Nesse momento, foi necessária a intervenção com intuito de esclarecer e possibilitar uma efetiva compreensão dos mesmos gerando, nesse sentido, a aquisição do conhecimento. Isso foi uma das dificuldades citadas pelo professor, como rotineira e presente no seu cotidiano docente. E acaba contribuindo para um redirecionamento do planejamento pensado e proposto. Tal constatação se articula como a fala de Paulo Freire (2002, p.61) quando diz que: “É um erro decretá-la [a educação] como tarefa apenas reprodutora da ideologia dominante como erro é tomá-la como uma força de desocultação da realidade, a atuar livremente, sem obstáculos e duras dificuldades”; na ideia do autor, são essas dificuldade e experiências que moldam um caráter docente dentro de uma comunidade socioeducativa atribuindo sentido a uma formação qualificativa desse profissional.

E oportuno dizer também que, neste segundo momento de formação pode-se perceber uma maior participação dos alunos na aula, pois, quando explicitado a parte dos cruzamentos dos genes dominantes e recessivos, observou-se sugestões por parte dos alunos em relação a prática do professor. Destaque ao momento em que houve a apresentação do “o azão (A) cruza com todas as outras letras (genes) do quadro (punnett)” nas palavras de alguns alunos; tal participação, acontecendo de forma natural, pode estar relacionada, ao envolvimento gerado entre aluno e professor, contribuindo para uma interação natural, e com isso, instigando ao aluno participar.

No momento da aula, pode-se observar ainda, certa dificuldade em relação ao conteúdo dos resultados dos cruzamentos genéticos. Neste, se exija do aluno domínio de conteúdos além da biologia, como probabilidade e porcentagem, e desse modo, verificou-se outras questões para além do já exposto, ou seja, a questão da interdisciplinaridade. Tal aspecto gerou mais uma vez, a situação de sair do planejado, sendo necessário a intervenção para contextualizar alguns assuntos da matemática no sentido de favorecer a compreensão do assunto.

 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em posterior discussão junto a bolsistas e supervisor, as reflexões demonstraram que as dificuldades e as experiências adquiridas foram de grande importância tendo contribuído na formação inicial dos graduandos como futuros professores, preparando-os de forma mais ajustada para sua prática docente, desenvolvendo e instigando reflexões para uma educação categórica, assim como sugere Soczek (2011), que inserindo os licenciandos no colóquio da escolas de rede pública de educação, proporciona-os a chances de concepção e participação na aquisição de metodologias, técnicas e práticas docentes de caráter inovador e disciplinar na busca da superação de problemáticas e identificados dentro do processo de ensino-aprendizagem.

Com isso, destaca-se a contribuição do PIBID-Bio/FACEDI, que vem proporcionando a seus ID estes momentos de aprendizagem e reflexão com o espaço escolar, e conhecer seus atuantes e os múltiplos fatores que influenciam em a força de organização e funcionamento, e atribui aos mesmos a instigar sua criatividade e buscar meios de obter uma qualificação dentro de um espaço tão declinado como e a educação.

 

REFERENCIAS

ALTMANN, H. Orientação sexual em uma escola: recortes de corpos e de gênero. Cad. Pagu [online].n. 21, 2006, p. 283. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332003000200012>. Acesso em: Abr. 2017.

ATAIDES, A. P. G; MOURA, A. M. L. F. A importância do planejamento para o desenvolvimento das atividades do PIBID.  V Congresso de Educação (COSEMP). (ISSN: 2238-8451)- Goiás, dez. 2015.  Disponivel em:   Acesso em: Abr. 2017.

BRASIL. EDITAL Nº 01/2007. MEC/CAPES/FNDE. Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. 2007.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43 ed., São Paulo: Paz e Terra, 2011.

SILVA, E. L. da; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 4. ed. rev. Atual. Florianópolis: UFSC, 2005.

SAUCEDO, K. R. R; WELER, K. C. N; WENDLING. C. M. O diário de bordo na formação de professores: experiência no PIBID de pedagogia. Revista Espaço Plural. Cascavel, ano 13, n.26, 1º semestre. 2012. Disponível em: . Acesso em: Abr. 2017.

SOCZEK, D. PIBID como Formação de Professores: reflexões e considerações preliminares. Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores. Belo Horizonte. Volume 03 / n. 05 ago.-dez. 2011. Disponível em:< http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br/artigo/exibir/10/39/1>. Acesso em: Abr. 2017.

AGRADECIMENTOS

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (CAPES).

Ao Programa Institucional de Iniciação à Docência, em vinculo com curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Educação de Itapipoca da Universidade Estadual do Ceará (PIBID-Bio/FACEDI). Pela disponibilidade para a concretização desta comunicação.