FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA PARA O ENSINO DE MÚSICA

Por Vanderlei Varoto Ferreira | 27/07/2016 | Educação

Sua importância e contribuição no desenvolvimento da criança

RESUMO 

Este trabalho tem como objetivo levar a reflexão do ensino de música obrigatório nas séries iniciais, incorporados no conteúdo de Arte na educação básica. Nosso referencial teórico foi principalmente o material elaborado pelo Ministério da Cultura em parceria com a Vale: A Música na Escola, onde estudiosos como Carlos Kater, Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo, Marisa Trench de O. Fonterrada e Teca de Alencar Brito discutem sobre as contribuições do ensino da música no desenvolvimento integral da criança e sobre formação do profissional que irá atuar diante dessa obrigatoriedade. Diante dessa discussão ressaltam que a música pode contribuir em vários aspectos no desenvolvimento dos alunos; como nos aspectos: físico, social, intelectual e psicológico. Durantes as reflexões precisamos pensar e questionar como a formação e as experiências vivenciadas pelos educadores podem, de fato, proporcionar práticas pedagógicas musicais significativas, fazendo desta linguagem mais uma ferramenta para formação de adultos saudáveis e principalmente cidadãos.

PALAVRAS-CHAVE: Educação musical, Formação de professores, Música nas séries iniciais, Musicalização.

1.   INTRODUÇÃO

A música é uma linguagem universal, aceita por todas as faixas etárias, tendo em vista este senso nato do ser humano. Ela é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. (RCNEI, 1998, p. 45). É uma das formas importantes de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação, tornando-se assim um poderoso recurso educativo a ser utilizado.

Esse trabalho se justifica porque com a música a criança é capaz de desenvolver e aprimorar o aprendizado e áreas do cérebro que precisa para tornar um adulto bem sucedido. Para isso é preciso que a criança seja habituada a expressar-se musicalmente desde os primeiros anos de sua vida, para que a música venha a se constituir numa faculdade permanente de seu ser. “A prática do cantar auxilia no desenvolvimento afetivo, social, na aquisição da linguagem e ativa a memória. Associada a movimentos (como a dança), desenvolve também a coordenação motora”. (AVALLONE, 2012).

Assim o aluno que recebe aulas de música ou de algum modo integra este universo, tem uma estrutura emocional e psicológica mais desenvolvida que poderá fornecer bases sólidas para ter uma vida saudável.

E o nosso objetivo central é o de lembrar que a educação musical escolar não visa à formação de músicos profissionais nas salas de aula, pelo contrário, pois o trabalho consiste em mostrar, entre outras coisas, o auxílio às crianças, adolescentes e jovens no processo de apropriação, transmissão e criação de práticas músicos-culturais como parte da construção da cidadania. (HENTSCHKE E DEL BEN, 2003, p. 181).

O educador musical, Sérgio L. F. de Figueiredo, fez uma pesquisa sobre o preparo do profissional e o “principal objetivo foi examinar o tipo de preparação musical que vem sendo oferecido em cursos de pedagogia no Brasil” (FIGUEIREDO, 2004, p. 56).

Diz o autor:

Embora se pretenda que o professor generalista seja responsável por todas as áreas do currículo escolar, a preparação artística, em geral, e a preparação musical, em particular, têm sido abordadas de forma superficial e insuficiente pelos cursos formadores desses profissionais.  As artes tendem a ser consideradas como áreas específicas demais para serem assimiladas pelos profissionais generalistas, perpetuando uma série de equívocos e preconceitos em torno dessas áreas na educação em geral (FIGUEIREDO, 2004, p. 56).

Também verificamos que o RCNEI recomenda “uma formação bastante ampla” (BRASIL, 1998, p. 41) para o profissional que vai trabalhar na Educação Infantil. Isso diz respeito às linguagens artísticas, porém a realidade aponta em outra direção.

Encontram-se propostas separadas para as Artes Visuais e para a Música, significando uma opção pelo resgate de seus conteúdos específicos; por outro, a própria organização curricular da Educação Infantil, cujo caráter é polivalente, favorece que um mesmo professor trabalhe com essas duas linguagens. Essa ideia aparece explicitamente no capítulo O Professor de Educação Infantil (Volume 1: Introdução), quando trata do perfil do professor para esse nível da Educação, afirmando que:           

O trabalho direto com crianças pequenas exige que o professor tenha uma competência polivalente. Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes de diversas áreas de conhecimento (BRASIL, 1998, p. 41).

Por fim, como objetivo específico, não poderíamos deixar de falar da Lei 11.769/ 2008, que obriga o ensino de música em toda a Educação Básica, e cujo prazo final para implantação foi agosto de 2011. No artigo 2º da lei aprovada em agosto de 2008 consta a necessidade de formação específica na área, para os professores de ensino musical, mas, porém foi vetado. Portanto questionamos: o profissional estará realmente preparado para atender os alunos? Os Professores Polivalentes terão preparo pra atuarem? Os especialistas de música, muitas vezes reconhecidos nacionalmente, mas sem licenciatura também serão recebidos para atuarem na Educação Infantil e nas séries iniciais?

2.   O ENSINO DE MUSICA EM UMA TRAJETÓRIA HISTÓRICA

  • Breve panorama sobre Arte (Artes Visuais, Dança, Música e Teatro)

Na Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96, a arte é reconhecida como disciplina escolar obrigatória, e na proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a música é uma área curricular com conteúdo específico e uma função tão importante quanto às outras áreas de conhecimento. O documento de arte dos PCN’s indica a necessidade de variação das formas artísticas ao longo da escolaridade, podendo ser trabalhados o teatro, as artes visuais, a dança e a música: “é desejável que o aluno, ao longo da escolaridade, tenha oportunidade de vivenciar o maior número de formas de arte; entretanto, isso precisa ocorrer de modo que cada modalidade artística possa ser desenvolvida e aprofundada” (PCN’s Arte 2000, p.55).

Nestas Diretrizes, o conhecimento em arte é alcançado pelo trabalho com os elementos formais, a composição, os movimentos e períodos, tempo e espaço, e como eles se constituem em quatro dimensões: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. Esse conhecimento se efetiva quando os três momentos da metodologia são trabalhados, sendo imprescindível que o professor considere a origem cultural e o grupo social dos alunos e o trabalho nas aulas com conhecimentos originados pela comunidade.

No PCN se reforça que nas aulas de Arte também é importante que discuta como as manifestações artísticas podem produzir significado de vida aos alunos, tanto na criação como na fruição de uma obra. Além disso, é preciso que ele reconheça a possibilidade do caráter provisório do conhecimento em arte, em função da mudança de valores culturais que pode ocorrer através do tempo nas diferentes sociedades e modos de produção. A arte é um campo do conhecimento humano, produto da criação e do trabalho de indivíduos, histórica e socialmente datados, de modo que cada conteúdo deve ser contextualizado pelo aluno, para que ele compreenda a obra artística.

No processo pedagógico, os alunos devem ter acesso às obras de Música, Teatro, Dança e Artes Visuais para que se familiarizem com as diversas formas de produção artística. Trata-se de envolver a apreciação e apropriação dos objetos da natureza e da cultura em uma dimensão estética. A percepção e apropriação das obras artísticas se dão inicialmente pelos sentidos. De fato, a fruição e a percepção serão superficiais ou mais aprofundadas conforme as experiências e conhecimentos em arte que o aluno tiver em sua vida.

O trabalho do professor é o de possibilitar o acesso e mediar à percepção e apropriação dos conhecimentos sobre arte, para que o aluno possa interpretar as obras, transcender aparências e aprender, pela arte, aspectos da realidade humana em sua dimensão singular e social. Ao analisar uma obra, espera-se que o aluno perceba que, no processo decomposição, o artista imprime sua visão de mundo, a ideologia com a qual se identifica, o seu momento histórico e outras determinações sociais, além do artista ser um sujeito histórico e social, é também singular, e na sua obra apresenta uma nova realidade social.

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